O Capotamento
Alexandro.
A sensação de velocidade é como um turbilhão, o vento cortando meu rosto enquanto os pneus do carro grudam na estrada. Tudo parece normal, até que a freada, de repente, se torna uma necessidade desesperadora.
O pedal afunda no chão, mas o carro não responde. O freio falhou. O pânico é instantâneo, e um grito de desespero escapa dos meus lábios.
Tento controlar o volante, mas é inútil. O carro continua deslizando descontrolado pela pista, as rodas girando sem freno, a estrada embaçada pela velocidade e pela iminência do impacto.
O carro começa a virar, primeiro de leve, depois com força, e o som de lataria se retorcendo e os pneus rangendo é ensurdecedor. Cada segundo é uma eternidade.
Eu tento segurar no volante com toda a força que tenho, mas nada pode impedir o capotamento que parece inevitável.
O carro gira de forma violenta, uma espiral de metal e vidro quebrando. O som de estilhaços me atinge em cheio, mas não tenho tempo de reagir, nem de me proteger.
A cada volta, a sensação de perda de controle aumenta, e o mundo se torna um turbilhão de sons e imagens distorcidas.
O vidro estilhaçado se espalha pelo interior do carro, como se estivesse em câmera lenta, cortando minha pele enquanto tudo ao redor se torna um caos.
A lataria amassada ecoa no meu cérebro, a força do impacto me fazendo ser atirada para o lado, meu corpo batendo contra o cinto de segurança e contra os painéis. O barulho do carro capotando é ensurdecedor, um estrondo que parece nunca ter fim. Meu último pensamento é se Aria está ferida, e a escuridão me engole.
Aria
O cheiro de combustível começa a invadir o ambiente, uma mistura de metal retorcido e o vapor quente que sobe da lataria amassada.
Um calor crescente toma conta de tudo, e minha mente grita, alertando para o perigo iminente.
Quando o carro finalmente para de girar, o mundo ao meu redor ainda parece rodar. Meus olhos tentam focar, mas tudo é uma mistura de flashes e dor.
O estômago revirado, a cabeça latejando. Sinto uma pressão crescente na testa e, quando levo a mão até lá, encontro o sangue escorrendo.
A dor me atinge em ondas, e por um momento me sinto desorientada.
O som do carro desligando é uma tentativa desesperada de voltar ao silêncio, mas o que se segue é o caos.
Meu primeiro instinto é olhar para Alexandro, e quando vejo, ele está ali, imóvel, o corpo caído contra o assento, com a testa ensanguentada.
O pânico me invade, e grito seu nome, mas ele não responde. Meu coração dispara e, com a mente nublada pela dor, me esforço para agir.
O cheiro de gasolina fica cada vez mais forte, o risco de explosão parece real. A adrenalina corre nas minhas veias, me forçando a agir.
Tento abrir a porta, mas está travada. Minha mão, trêmula e cheia de dor, procura desesperadamente pela chave, mas nada funciona. Olho para o lado e vejo uma ferramenta de emergência.
Com um esforço imenso, consigo alcançá-la, e com o peso do corpo e a força da necessidade, bato contra o vidro do carro, quebrando-o em pedaços.
Os estilhaços caem ao meu redor, mas isso não importa. Com as mãos tremendo e o corpo pesado pela dor, eu saio do carro, sentindo cada músculo doer.
Minha cabeça gira, mas a necessidade de tirar Alexandro daquele veículo me faz ir além dos meus limites.
Com esforço, consigo abrir a porta do motorista. Ele está ali, imóvel, e a dor no meu peito aumenta.
A cada segundo, a ansiedade cresce, e o desespero toma conta de mim. Eu não posso deixá-lo ali, exposto ao risco.
Com as mãos trêmulas, puxo seu corpo, e, com um esforço sobre-humano, arrasto-o para longe do carro.
Cada passo parece uma eternidade, minha visão embaçada, o cansaço tomando conta de mim. Mas eu não posso parar. Não agora. Não quando ele precisa de mim.
Quando finalmente chegamos a uma distância segura, meu corpo parece desmoronar, mas eu sei que preciso fazer mais. Tiro o celular do bolso da calça e com o celular nas mãos, ainda trêmulas, ligo para a emergência, minha voz rouca e desesperada.
–Por favor, preciso de ajuda, tivemos um acidente na BR. Minha voz falha, mas eu tento transmitir toda a urgência.
Eles respondem rapidamente, e em poucos minutos, posso ouvir a sirene da ambulância. O alívio vem de forma lenta, mas necessária.
A ambulância chega, e os paramédicos começam a agir rapidamente, imobilizando Alexandro com cuidado. Eles me prestam os primeiros socorros, mas, mesmo com o atendimento, minha mente está focada em Alexandro.
Quando finalmente somos levados para o hospital, a sensação de impotência ainda me corrói. Não sei o que vai acontecer, mas não posso deixar de me preocupar com ele.
O tempo parece arrastado enquanto ele é levado para o atendimento, e eu sou direcionada para outro setor.
Os paramédicos continuam trabalhando, e eu tento, com todas as minhas forças, controlar o medo que consome meu peito.
No hospital, sou atendida rapidamente pela enfermeira, que começa a tratar dos meus ferimentos.
Sinto uma dor insuportável na cabeça, mas é a preocupação com Alexandro que me faz perder o foco. Cada segundo longe dele é uma tortura.
O som das máquinas e das vozes médicas me atinge como um pano de fundo distante
enquanto eles trabalham. Eu só quero uma coisa. Saber se ele vai ficar bem!
Quem é você?Ariapós horas no atendimento e vários exames de trauma o médico me medicada com remédio para dorApós pergunta sobre Alexandro o médico responsável pelo atendimento dele me comunica que qualquer informação sobre o paciente somente a familiares.Alexandro não tem família, o que se torna um problema.–Doutor, eu sou noiva do paciente! Afirmo em um impulso de desespero.– Nesse caso posso te informar que os exames não deram nenhuma alteração, e estamos observando o paciente que acordou desorientado sem lembranças, ele ficou muito agitado e foi medicado com um sedativo está inconsciente. Relata o médico! –Posso vê-lo? Pergunto.–Sim quarto 25. Se o quadro persistir você precisará de muita paciência e deixar que a memória dele volte por si só sem pressões.–Claro doutor, farei como recomendado Ao chegar à porta do quarto à visto a cama posicionada no meio do cômodo e Daniel dormindo, uma enfermeira se preparando para sair do local. –Houve alguma alteração no quadro do pacie
Adriano.--Como assim, cara?! Quem sou eu? Não tá me reconhecendo? Sou seu amigo de infância, Alexandro!Alexandro fixa seu olhar, franzindo a sobrancelha.––Não, não estou te reconhecendo!––E ela, quem é?––Ela é sua assistente pessoal e sua noiva!––Como minha noiva? Você está de brincadeira, né, Adriano?––Claro que não, Alexandro.Adriano vira-se na minha direção, trocamos um olhar intrigado. Ele me entrega a mala com os meus pertences, e eu agradeço com um gesto de cabeça.––O que está acontecendo? Por que estou no hospital? E por que não me recordo de vocês?––Calma, Alexandro! Vou chamar o médico que te atendeu. Nós sofremos um acidente, estávamos indo para o aeroporto quando o carro capotou.––Alguém mais se machucou? Tem alguém grave?––Não, Alexandro, só nós nos ferimos. Mas espera, o médico vai conversar com você.Vou em direção ao balcão no corredor falar com a enfermeira.––Boa noite, o doutor ainda se encontra? O paciente do quarto 25 acordou.––Sim, ele ainda está no ho
Entre Razão e SentimentoO dia amanhece na casa de Alexandro, e os raios de sol tímidos que entram pelas frestas da cortina me diz que um novo dia está nascendo e eu me pergunto como ainda estou suportando isso?Há um mês convivendo sob o mesmo teto, ouvindo suas ironias constantes, sua forma debochada de me chamar de "noivinha" e suportando seu olhar que me analisa como se tentasse decifrar algo em mim.Saio do quarto e caminho até a cozinha. Catarina já está ali, sentada à mesa, tomando seu café com uma expressão serena.— Bom dia, Aria. Dormiu bem? Ela me olha com gentileza.— Bom dia, Catarina. Sim, dentro do possível. E você?— Bem também. Mas acho que alguém não teve uma noite tranquila.Ela inclina levemente a cabeça e aponta sutilmente para Alexandro, que entra na cozinha com um olhar sombrio. Ele sempre tem essa presença forte, dominadora, mas hoje há algo diferente. Algo mais intenso.— Bom dia, noivinha. Ele solta com aquela ironia já conhecida, sentando-se à mesa e pegan
O Líder TemporárioAdriano me recebe com um sorriso assim que entro na sala de reuniões.— Bom dia, Aria. Tudo bem?— Bom dia, Adriano. Sim, e com você?— Sobrevivendo. Assumir o posto de Alexandro está me dando trabalho, mas confesso que estou gostando do desafio.Dou um sorriso. Ele é um ótimo líder. E, ao contrário de Alexandro, sabe ser acessível e colaborativo.As reuniões começam, e vejo o quanto Adriano conduz tudo com precisão. Os chefes de setor expõem os relatórios, e ele escuta atentamente, tomando decisões rápidas e firmes.— Aria, o que acha desse planejamento para os próximos meses? Ele me pergunta, mostrando um documento.Analiso por um momento e respondo:— Está bem estruturado, mas acho que podemos melhorar a estratégia de marketing. Posso trabalhar nisso e trazer algumas sugestões.— Ótimo. Sei que posso contar com você.Troco um olhar cúmplice com Adriano, e por um instante me sinto valorizada. É diferente trabalhar ao lado de alguém que reconhece meu potencial sem
Ciúme Não AvisadoDe volta à casa, encontro Alexandro sentado na sala, me esperando.— Como foi sua reuniãozinha com Adriano? Ele pergunta, cruzando os braços.— Produtiva. Respondo, caminhando até o sofá.— Ah, que bom. Imagino que tenha sido um ambiente muito agradável, cheio de sorrisos e troca de olhares.Franzo a testa.— Qual é o seu problema?Ele se inclina para frente, os olhos estreitados.— Meu problema, noivinha, é que parece que você anda muito confortável ao lado do meu vice-presidente.Solto uma risada incrédula.— Você está com ciúmes?Ele aperta a mandíbula.— Não seja ridícula. Eu só acho que você está se esquecendo do seu papel.Me aproximo, cruzando os braços.— Meu papel? Eu sou sua assistente pessoal, Alexandro, e estou cumprindo meu trabalho. Se você tem algum problema com isso, deveria ter pensado antes de decidir que eu ficaria aqui.Ele me encara, e por um momento, algo mais intenso passa por seus olhos.— Eu só não gosto de ver minha noiva sendo tão... prestat
A Cumplicidade com CatarinaCatarina entra no meu quarto naquela noite, trazendo um chá.— A convivência com meu menino não está fácil, né?Solto um suspiro.— Ele me tira do sério. Mas... ao mesmo tempo, ele me confunde.Ela sorri, sentando-se na beira da cama.— Alexandro sempre foi um homem de controle. Ele não lida bem com coisas que não pode comandar. E você, Aria, está fora do controle dele.Engulo em seco.— Você acha que ele realmente está com ciúmes?Catarina ri.— Absolutamente. Meu menino pode ser orgulhoso, mas não consegue esconder quando algo o afeta.Sinto meu coração acelerar.— E o que eu faço?— Isso depende de você. Quer provocar mais? Ou quer descobrir até onde isso pode ir?Fecho os olhos, respirando fundo.— Eu não sei.Catarina me observa por um momento, o sorriso suave nos lábios enquanto segura sua xícara de chá. O silêncio entre nós não é desconfortável, pelo contrário, é acolhedor. Há algo nela que me faz sentir segura, como se pela primeira vez desde que
A Cumplicidade com CatarinaCatarina entra no meu quarto naquela noite, trazendo um chá.— A convivência com meu menino não está fácil, né?Solto um suspiro.— Ele me tira do sério. Mas... ao mesmo tempo, ele me confunde.Ela sorri, sentando-se na beira da cama.— Alexandro sempre foi um homem de controle. Ele não lida bem com coisas que não pode comandar. E você, Aria, está fora do controle dele.Engulo em seco.— Você acha que ele realmente está com ciúmes?Catarina ri.— Absolutamente. Meu menino pode ser orgulhoso, mas não consegue esconder quando algo o afeta.Sinto meu coração acelerar.— E o que eu faço?— Isso depende de você. Quer provocar mais? Ou quer descobrir até onde isso pode ir?Fecho os olhos, respirando fundo.— Eu não sei.Catarina me observa por um momento, o sorriso suave nos lábios enquanto segura sua xícara de chá. O silêncio entre nós não é desconfortável, pelo contrário, é acolhedor. Há algo nela que me faz sentir segura, como se pela primeira vez desde que pi
O Controle PerdidoEu tento ignorar o efeito das palavras de Catarina, mas a verdade é que elas ficam ecoando na minha mente. Alexandro tem ciúmes? Ele sente algo além de irritação e deboche por mim?Mas que diferença isso faz? Eu não posso e não devo me deixar levar.No dia seguinte, acordo cedo e me preparo para ir à empresa. Antes de sair do quarto, dou uma olhada rápida no espelho e me surpreendo ao perceber que estou me preocupando mais do que deveria com minha aparência. É ridículo.Desço as escadas e, para minha surpresa, Alexandro já está na sala, recostado no sofá. Ele não devia estar repousando?— Achei que você ia dormir até tarde. Comento, pegando minha bolsa.— E perder a oportunidade de ver minha noivinha indo toda arrumada para o trabalho? Nunca.Reviro os olhos e continuo andando, mas ele se levanta rapidamente e fica na minha frente.— Está muito animada ultimamente. Imagino que Adriano seja um excelente chefe para você.Ele está jogando verde, tentando me provocar.