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Sim, seu dia estava péssimo. Culpa dos Freitas e do noivado forçado. Sim, desejava bater e jogar seu notebook pela janela. Culpa da caixa de mensagem lotada de felicitações pelo noivado forçado e ridículo. Sim, foi apática e descortês com quem a felicitou pessoalmente. Culpa do noivo forçado, ridículo e abusado que aproveitava qualquer oportunidade para alardear o falso amor deles. Sim, segurava a vontade de desmenti-lo. Culpa do medo do julgamento alheio por aceitar tamanha insanidade. A soma de tudo isso a deixava sem concentração, irritadiça e a ponto de tacar algo em alguém, de preferência em certo arrogante sentado a sua frente observando-a o tempo todo. Evitando erguer os olhos da tela do notebook, passou a mão nervosamente pelo cabelo, empurrando para trás da orelha uma inexistente mecha solta, uma vez que enrolou o cabelo e o prendeu na força do ódio assim que Diego se apossou de sua sala. Concordava que, enquanto não aprontassem a dele, teriam de dividir o espaço. O que dem
Penélope trabalhou obstinadamente o restante do expediente, apesar das dúvidas interferindo sua concentração e o sono. Quase não dormiu a noite, nem nas anteriores, por culpa das tramoias de ambos os Freitas. Quando enfim deu seu horário, desligou ansiosa o notebook e, segurando a vontade de olhar para o homem a sua frente, recolheu suas coisas. — Já vai? Apertou o botão lateral de seu smartphone, pousado na escrivaninha, e, quando o horário reluziu na tela, o virou apontando as horas. — Trabalhei exatas nove horas — resmungou ao captar um tom reprovativo na voz dele. — E tenho de buscar o Samuel na escola. Normalmente saia dez minutos antes, mas, com Diego de olho em todos os seus movimentos, segurou-se. — Nem vi o passar das horas. — O comentário irritou Penélope, que sentiu cada segundo de estar na mesma sala que ele, e torcera o tempo todo pelo fim do dia. — Só um minuto que já te acompanho — ele disse fechando os arquivos em que mexia para desligar seu notebook. — Não é nece
Durante o jantar, sentado de frente para Penélope e Samuel, Diego obteve uma miríade de informações sobre todos na mansão. O menino não parava de falar quando tinha ouvidos atentos a suas palavras. Penélope tentou conte-lo de início, mas Diego incentivou o garoto a continuar, tanto para conhecê-lo, quanto por se ver na criança. Na idade de Samuel gostava de ser o centro das atenções e expor suas impressões sobre o que o cercava. Seu pai constantemente o repreendia pela tagarelice. Não faria o mesmo. Aproveitaria cada detalhe revelado, até o mais inútil, para captar a confiança de Penélope. Surpreendeu-se quando Samuel o fitou intensamente e perguntou fazendo Penélope engasgar: — Posso te chamar de papai? Vovô disse que você vai ser meu papai — o menino contou, a ansiedade brilhando em seu rosto redondo. Diego titubeou, incerto de ir tão longe naquela brincadeira de casinha. Olhou para Penélope, que bebia vários goles de água por causa do engasgo, fruto do espanto com a pergunta ine
Morar em uma cidade pequena tinha muitas vantagens, mas poucos agraciavam uma pessoa com reputação manchada, caso em que Penélope se enquadrava desde os dezessete anos. Fora da fábrica, poucas eram as pessoas que a cumprimentavam ou eram educadas com ela. O tratamento frio, e por vezes grosseiro, se estendia para Samuel. O que só mostrava o nível de fervor pela moral e bons costumes dos cezarianos. Por isso, Penélope estranhou os milhares de sorrisos que se abriram ao caminhar pela cidade ao encontro das amigas. Mulheres que desviavam os olhos quando ela passava, agora a cumprimentavam como se fossem amigas de longa data. Os homens, que costumavam assediá-la na menor oportunidade, nem sequer lhe dirigiram a palavra, se limitando a um sorriso educado quando ela os pegava olhando-a. Ao entrar no único bar da cidade, e ponto de encontro dos maiores de dezoito anos, longe dos galanteios inconvenientes, os poucos homens presentes evitaram olha-la. Somente um, que estava bêbado, esticou a
Mudou repetidamente os canais da televisão, abriu e fechou os aplicativos de filmes, desligou o televisor e tentou dormir. Tudo em vão. Penélope não saia de sua mente, ou melhor, os lábios vermelhos, as calças justa e o top minúsculo não saiam. Ligou o celular e verificou as horas. Sete e cinquenta. Nem tinha se passado quinze minutos desde a saída dela, mas parecia muito mais. Tempo suficiente para outros admirarem as curvas marcadas, os seios fartos, aquele cabelo macio e a boca destacada em vermelho. Levantou, calçou os sapatos e correu escada a baixo até a garagem da mansão. Em minutos estacionava na frente do único bar da cidade, o que diminuía as chances de não encontra-la. Não precisou procura-la, ao passar pela porta do estabelecimento a voz dela chegou aos seus ouvidos em alto e furioso som. — Podem criar a realidade que preferirem. Estou pouco me fudendo pra opinião de vocês. Perguntando-se o que causara tamanha indignação, ficou levemente divertido por notar que de algu
Assim que estacionou na ampla garagem, Diego correu para abrir a porta para Penélope, chegando no momento em que ela saia do carro, seu tórax sendo acariciado pelos seios dela. Automaticamente segurou-lhe a cintura e a puxou para perto, a excitação retornando com força e a beijou. Não por causa de sua meta de seduzi-la, mas por necessidade de tê-la novamente em seus braços, beija-la, possui-la. Ela era uma pequena feiticeira envolvendo-o e prendendo-o com seus feitiços, mergulhando em suas veias um veneno que o mantinha cativo. — Fique comigo esta noite — pediu entre os beijos, as mãos não conseguindo parar de toca-la, deslizar por sua pele quente, acariciar os seios intumescidos, senti-la. — É uma péssima ideia — ela murmurou, a cabeça inclinada deixando o pescoço entregue aos lábios exigentes dele. — Sua boca diz uma coisa e seu corpo diz outra — ele argumentou abrindo o botão das calças dela e descendo o zíper. Penélope pensou em para-lo, mas seu corpo traidor – confirmando a d
Outra noite péssima, por causa do momento de fraqueza na garagem da mansão. Diego estava entranhado em sua pele mesmo após deixa-lo, literalmente. Ela o queria com a mesma intensidade que quis quando não passava de uma adolescente desmiolada. O que tornava a decisão de casar com ele potencialmente perigosa. Ele disse que seria fiel a ela, e a fez garantir que seria fiel de volta. Algo coerente para o histórico amoroso, e familiar, de ambos. O problema era que, sendo fiéis um ao outro, e com a tensão sexual crescente entre eles, resistir à tentação seria uma prova diária. Sua suposição se confirmou naquela mesma manhã, ao seguir para tomar café da manhã com o irmão. Diego fez questão de lhe puxar à cadeira só para se inclinar e sussurrar em seu ouvido: — Minha vontade é dobra-la sobre essa mesa e fodê-la até que implore perdão por ontem. — Seus lábios acariciaram a orelha de Penélope, causando um tremor sensual pelo corpo da jovem. Aturdida e com a face em chamas, Penélope o observo
Um vulcão em erupção representava com perfeição Penélope ao entrar na cafeteria e se aproximar das amigas. Ana, sentada junto ao balcão tomando seu desjejum, foi a primeira a ver Penélope, os olhos azulados arregalando-se ao reparar na aparência cansada e, ao mesmo tempo, irada da amiga. Olheiras sombreavam o olhar dela, deixando-a com aspecto cansado, e as feições carregadas deixavam evidente que desejava agredir alguém. Consciente da situação delicada em que deixou Penélope na noite anterior supôs que a agredida acabaria sendo ela. Mesmo assim, comentou: — Está péssima. Jéssica, do outro lado do balcão, se viu obrigada a concordar, engolindo em seco ao receber uma encarada faiscante da Teixeira. — Tive mesmo uma péssima noite. Minha vida está péssima — Penélope lamentou com fúria, respirando fundo para alinhar seus pensamentos e não pular nos pescoços das amigas. — E tenho péssimas amigas. Como puderam chamar o Lucas para o nosso encontro? — Eu disse que ela reclamaria de deixa