Roma, Itália.
Estou terminando de arrumar as minhas malas para viajar para o Brasil. Uma das projetistas de lá fez um projeto que me deixou muito satisfeito. Era o que eu precisava para começar a fundação da casa do senhor Nevil. Mas minha amada esposa está me desconcentrando. — Você tem que falar com a sua mãe. Já chega, eu já não aguento mais. — Eu não tenho que falar nada para ela. Se vira vocês duas. — Riccardo, você não pode dar autonomia de uma casa para suas mulheres. Eu sou a sua esposa, e tenho que ter a maior autoridade aqui. — Vamos por partes, Sophie. Primeiro, nosso casamento foi mais por contrato do que por sentimentos. Nossos pais quiseram, e fizemos o último gosto deles. Minha mãe é a minha rainha. Sem você, eu estaria ainda aqui. Sem ela, não. Você é minha esposa e é dona da casa. Ela é a minha mãe e também é dona da casa. Fim de papo. — Ela já está de idade. Porque não colocamos ela em uma casa de idosos? — Olho bem feio para ela. Nunca que eu deixaria a minha mãe em um lugar desse. — Tá bom, desculpa. Então coloca ela em uma casa que seja só dela. Eu não aguento mais. Ela sabe que eu odeio peixe, e advinha qual vai ser o cardápio de hoje de novo? Minha mãe nunca foi a favor desse casamento. Sophie não é aquela mulher que batalha junto com o marido para conquistar as coisas. E minha mãe foi um pilar para o meu pai. Sempre esteve com ele até deixar a empresa no topo. — Vou falar com ela, mas não sei se vai adiantar muito, pois ela ama peixe. Pega o cartão e vai comprar algum presente para você. — Estou falando sério, Riccardo. Para de ficar pensando que presente arruma tudo. Ou você dá um jeito nisso, ou eu vou embora hoje mesmo. — Tenho que ir para o Brasil. Dá para esperar eu voltar? — Não, resolva antes de ir, ou se considere um homem solteiro. — Ela sai batendo a porta com tudo, e eu reviro os olhos. Olho no relógio e tenho menos de 30 minutos para pegar o avião. Como vou resolver esse problema em tão pouco tempo? Pego a minha mala, deixo na porta e peço para o segurança colocar no carro. Pergunto da minha mãe para a governanta, mas ela diz que a minha mãe teve que sair. Vou deixar as suas se virarem sozinhas, eu que não vou me meter no meio disso. Entro no carro e mando o motorista seguir para o aeroporto. Antes que eu possa embarcar no avião, meu celular apita, e quando eu olho na tela, é a Sophie. "Vou atrás dos meus direitos no divórcio. Não quero ver sua cara nunca mais, seu filhinho de papai, ou melhor, de mamãe." Ah, isso já está me irritando. Nem respondo à sua mensagem, apenas embarco e deixo o meu celular no modo avião. Me ajeito na poltrona e fecho os meus olhos para poder ter um pouco de descanso, já que são horas de voo. Desperto algumas horas depois com a discussão de dois passageiros do banco da frente. Parece que eu só atraio coisas ruins para mim. Me levanto e fico olhando para eles. — Quanto vocês querem para calarem a boca e ficarem em silêncio? — Eles me olham assustados. — Porra, eu pago a primeira classe para ter sossego. Querem fazer arruaça, vão para a classe econômica. A aeromoça se aproxima de um deles e o leva para trás. Eu me sento novamente na poltrona. Olho no relógio e ainda faltam cinco horas de voo. Pego o meu notebook, abro e começo a olhar o projeto da brasileira. Ele é perfeito, e para que eu não tenha que voltar aqui de novo, vou fazer uma oferta de trabalho para ela. Sei que ela vai gostar bastante. Sou bem generoso quando quero algo. (...) Enfim, Brasil! Desço, já indo direto para um táxi e dou o endereço do hotel para ele. Mas quando ele pega a via principal, o trânsito está todo parado. Olho para o lado e parece estar bem divertido do lado de fora. — Desculpa, senhor, vai demorar um pouco. Tem muitas casas noturnas aqui e nesse horário sempre trava tudo. — Que maravilha! — Faz o seguinte, leva a minha mala para o hotel Plaza. — Tiro dinheiro da minha carteira e dou para ele. — Eu já fiz a minha reserva no hotel. Dê o meu nome lá e eles vão levar minha mala para o quarto. Toma o meu cartão que tem o meu nome. Ele confirma, e eu desço do carro. Quero ver como os brasileiros se divertem. Já vim aqui duas vezes, mas sempre foi durante o dia, e hoje a cidade parece mais movimentada. Entro em um salão que tem a fachada roxa, bem caliente. As mulheres andam praticamente sem roupa, mostrando uma boa parte do seu corpo. Me sento no banquinho e chamo o barman. Peço uma dose de whisky e passo os olhos pelo salão todo. — Quero mais uma garrafa. — Ouço uma voz doce, mesmo com o som alto da balada, me chamou atenção. Me viro, olhando para ela, e parece até um anjo. Mas está cambaleando de bêbada. — Não vou dar mais, você já está bêbada. — Eu tô pagando e quero outra. Sabe o que eu passei? Não sabe, então me deixa morrer de álcool, por favor. — Sorrio com suas palavras. Ela parece bem doida. Fora que é bem convincente. Ela consegue outra garrafa, e eu vou olhando para ela até a mesma se sentar em uma mesa. Me levanto do banquinho e me aproximo dela. — Boa noite! — Boa noite, quem é você? — Ela pergunta, áspera. — Eu sou o seu subconsciente, e acho melhor você não beber mais. — Não beber? Porque não me ajudou quando eu precisei? Fui roubada, enganada, e estou toda ferrada. Só quero beber e não me ser incomodada por ninguém. — Então, vamos apostar? Vamos ver quem cai primeiro? — Mostro meu copo de whisky para ela, e ela balança a cabeça concordando. E nessa, ela vira tudo de uma vez. As horas vão se passando, e ela vai ficando cada vez mais solta. Ela é espontânea, engraçada e me faz querer ficar aqui com ela. Não deixar que ninguém se aproxime para machucá-la. — Vamos embora agora? — Pergunto, e ela concorda com a cabeça. — Ah, não, eu não posso ir para casa. Se a minha mãe me ver assim, vai ter um treco. — Podemos ir para um hotel. Você toma um banho, relaxa, e depois que estiver melhor, você vai embora. — Ela começa a dar risada sem parar. — Disse algo engraçado? — Moço bonito, não é porque eu sou virgem que eu sou tapada. Não vou pro hotel com você, tá louco? — Ela fala isso, revira os olhos, e começa a vomitar sem parar no chão do salão. Eca, nojenta!Ela se levanta e pede para eu me levantar junto. Ela sai na frente, quase caindo, cambaleando para todos os lados.— Qual é o seu carro? — Ela para no estacionamento e pergunta.— Eu não tenho carro aqui. Eu sou da Itália, vim para cá de táxi.— Eu falo italiano, fiz vários cursos. Ai... — Ela tropeça no pé dele, e eu a seguro. Olho para os lados para ver se alguém está vendo isso. — Temos que ir embora logo, ou os seguranças vão vir até aqui e me botar para limpar o chão lá dentro.Começo a dar risada e a levanto para que ela fique em pé. Um táxi passa, e eu estendo a mão. Ele vem bem em nossa direção, e eu coloco ela dentro e me sento ao seu lado. Ela é o tipo de mulher que não deixa você cair na depressão. A pouco tempo que eu estou com ela, já dei mais risada do que na minha vida toda.Mando o taxista nos deixar no hotel Plaza. Mesmo ela achando que eu vou atacá-la à noite, eu não faria isso, não com ela bêbada. Mas, quem sabe quando ela acordar, poderemos fazer um bom negócio. O
Rio de janeiro, Brasil.Desperto do meu sono com tudo, sentando-me na cama. Não me lembro de nada da noite anterior, pelo menos, não depois que entrei no bar e comecei a beber sem parar uma garrafa de uísque. Passo a mão pelo meu rosto e olho ao redor, não conheço este quarto, até que escuto um som que parece um resmungo masculino.Olho para o lado e me deparo com um homem deitado e pelado de bruços. Aproximo-me lentamente dele, sem tocá-lo, mas não consigo ver seu rosto. Assusto-me com ele dando outro resmungo e me afasto. Não, eu não fiz isso, não dei a minha virgindade assim para um estranho, eu não seria tão louca, ou seria?Levanto o lençol e vejo a marca da minha virgindade ali, jogando na minha cara que sim, eu fui uma louca. Lentamente, levanto-me da cama e procuro pela minha roupa. Vejo meu vestido todo rasgado e não acredito nisso. "Como eu vou embora agora?" Passo os olhos pelo quarto e vejo uma camisa branca. Pego ela e me visto. Se ele rasgou o meu vestido, que vá embora
Alguém bate na porta, mas eu finjo demência. Não quero abrir e muito menos participar dessa reunião frajuda. Mas, quando escuto a voz do meu chefe, não tem como eu me fazer de sonsa. Me levanto e abro a porta para ele.— Estamos te esperando na reunião.— Me deixe ficar aqui. Estou com aquele projeto importante que você pediu, e estou com muita dor de cabeça. Se eu for para a reunião, eu não vou conseguir terminar a tempo.— Tem certeza, Gabrielly? É uma boa oportunidade para você, ainda mais que sabe falar italiano. Seria bom o engenheiro te conhecer. — Nego com a cabeça. O que eu vou mostrar para ele, se o meu projeto está na mão da vaca? — Então, tá. Você quem sabe.Ele vira as costas, e eu fecho a porta, me encostando nela. Hoje era para ser o dia mais feliz da minha vida, mas está um saco. Volto para a minha mesa, pego meu caderno de desenho e começo a fazer o desenho da casa com piscina do Senhor Melo.As horas vão se passando. Nem parei para almoçar. Tirei um cochilo no sofázin
Entrego o meu currículo para ela, que olha, avalia, pensa e, depois de um tempo, olha para mim e coloca o papel sobre o seu colo.— Gabrielly Ferreira, você realmente fez todos esses cursos que descreveu no seu currículo?— Sim, senhora. Pode me perguntar qualquer coisa sobre eles que eu te respondo.— Fala italiano, inglês e francês. Você está apta para trabalhar em uma de nossas filiais fora do Brasil, principalmente na Itália, onde precisamos de projetista.— Olha, só teria essa vaga? Tipo, como pode ver, eu também fiz faculdade de administração, e estou querendo mudar um pouco de profissão, sabe? — Se eu não for projetista na Itália, a Victória vai se ferrar sozinha.— Temos uma vaga de assistente do CEO, mas ele é bem exigente. Nenhuma fica mais de um mês trabalhando com ele. Quer tentar assim mesmo?— Se não der certo, posso optar pelo cargo de projetista? Sabe, voltar para o Brasil vai ser bem complicado.— Pode sim. Então, por enquanto, vou deixar você na vaga de assistente. E
Bernardo e eu conversamos o voo todo, ele vai me contando como é na Itália, as comidas de lá, onde encontrar as coisas mais baratas, e onde ficam os homens mais ricos. Nunca fui uma mulher que busca em um homem o financeiro, sempre gostei de trabalhar para ter o meu próprio dinheiro.Talvez seja por isso que eu me guardei durante 25 anos, minha meta era me entregar para o amor da minha vida, aquele que faria o meu coração palpitar, que me trataria de um jeito carinhoso e educado. Mas acho que esse homem não existe, já que o destino fez eu me entregar para qualquer um, e ainda não me lembrar do que aconteceu.— Olha, tem coisas que você não pode fazer na Itália, eles tem algumas regras, e mesmo não querendo você tem que seguir.— Não é igual ao Brasil? — Ele nega com a cabeça. — Graças a Deus. Apesar de morar no Rio de Janeiro, eu nunca subi nas favelas para dançar pancadão. Meu negócio sempre foi ficar em casa, e para ir a festas, era muito difícil.— Acredito eu que você vai se adapt
Uns dias antes,Quando eu acordo, não vejo a mulher ao meu lado. Achei estranho, pois sou eu que sempre vou embora antes delas acordarem. Me levanto para fazer a minha higiene e procuro pela minha camisa que usei ontem na balada, mas não a encontro em lugar nenhum.Ontem rasguei o vestido dela. Será que ela levou a minha camisa? A camiseta que ela vestiu para dormir está em cima da cama. O vestido dela também não está pelo quarto, então, ela com certeza roubou a minha camisa.Desço para ir à empresa, e quando vou passando pela recepção, a moça me chama para falar que a moça bonita pagou a diária de ontem.— Ela fez o quê?— O senhor tem um dia pago aqui no Plaza.— Ela deixou telefone ou endereço? — Ela nega com a cabeça. Apenas me diz que ela mora em São Paulo. Droga! Porque ela tem que ser tão escorregadia? Eu adorei a nossa noite de ontem, e queria vê-la mais uma vez antes de voltar para a Itália. Agradeço à recepcionista, mas fazendo cara de quem não gostou. Ela nem deveria ter re
Quase dois meses depois, a minha advogada do Brasil me liga falando que já está com os vistos prontos das meninas para o trabalho. Mando embarcar as duas imediatamente. Como ela tem que vir para cá, ela irá trazer a Victória, a minha projetista, já a tal da Gabriella... Gabrielly, sei lá, vai vir para cá com o Bernardo. Ela pediu a vaga de assistente. Espero que essa tenha mais paciência que as outras, pois eu já estou cansado de trabalhar com quem não quer fazer o que eu mando.As duas vão começar a trabalhar amanhã na empresa. Já separei a sala da Victoria, e a Gabriella ficará comigo por um tempo, até mostrar que será uma boa funcionária. Caso contrário, nem vou perder o meu tempo arrumando uma sala para ela.Sophie ficou um mês todo de cara virada, mas quando sai com ela para jantar e fazer compras, voltamos a ficar de bem. Ela adora quando eu a mimo. Aliás, todas elas gostam de presentes caros. A felicidade da mulher é o dinheiro. Comprei um carro novo para ela também. Minha mãe
Paro de rir, e olho para ele. Eu que chamo as pessoas que não conheço de moça ou moço bonito. Ele sorri e volta a fazer a pergunta sobre eu ter achado algo engraçado.— Porque me chamou assim, senhor Montelli?— Conheci uma brasileira que falou isso para mim. Mas porque estava rindo?— Por nada! Lembrei de uma coisa, mas não é nada importante.— Sério? Então me conta para que eu possa rir também? — Como vou dizer para ele que esse projeto é meu? Não, melhor eu não dizer nada e deixar a Victória se embaralhar, pois esse é um armário de limpeza. Deixei ele reservado exatamente embaixo da escada, como se fosse uma porta invisível.— Deixa para lá. Eu já nem me lembro mais.— O senhor Boss me pediu para contratar duas projetistas dele. Uma é a Victória, e a outra é você?— Sou assistente, senhor. Só isso. — Ele ergue uma das sobrancelhas e volta a olhar para o pedreiro. Ele manda eles trabalharem em outra área, para que essa seja resolvida apenas amanhã, quando a Victória estiver aqui. Vo