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Porque ele está fazendo isso?

Gabrielly,

Paro de rir, e olho para ele. Eu que chamo as pessoas que não conheço de moça ou moço bonito. Ele sorri e volta a fazer a pergunta sobre eu ter achado algo engraçado.

— Porque me chamou assim, senhor Montelli?

— Conheci uma brasileira que falou isso para mim. Mas porque estava rindo?

— Por nada! Lembrei de uma coisa, mas não é nada importante.

— Sério? Então me conta para que eu possa rir também? — Como vou dizer para ele que esse projeto é meu? Não, melhor eu não dizer nada e deixar a Victória se embaralhar, pois esse é um armário de limpeza. Deixei ele reservado exatamente embaixo da escada, como se fosse uma porta invisível.

— Deixa para lá. Eu já nem me lembro mais.

— O senhor Boss me pediu para contratar duas projetistas dele. Uma é a Victória, e a outra é você?

— Sou assistente, senhor. Só isso. — Ele ergue uma das sobrancelhas e volta a olhar para o pedreiro. Ele manda eles trabalharem em outra área, para que essa seja resolvida apenas amanhã, quando a Victória estiver aqui. Vou estar junto para ver a cara dela de desentendida.

Ele pega dois capacetes e coloca um em sua cabeça, e me entrega o outro. Entramos na obra, e a parte de baixo já está quase completa. Me afasto um pouco dele e vejo cada pedacinho do que eu projetei. É um sonho realizado. Pena que o meu nome não estará nos documentos, mas ainda sim, eu sei que fui eu quem fez.

— Vamos embora. Ainda temos que encontrar uma casa para você morar.

— Não precisa. Eu vou ficar com o Bernardo mesmo. Assim eu economizo e mando o dinheiro para a minha mãe. — Ele ergue uma sobrancelha e fica me olhando bem sério.

— Ele é o seu namorado, então?

— Não... Eu conheci ele no dia que estava vindo para cá. Ele é só um amigo.

— Tem certeza, Gabriela?

— É Gabrielly! — Falo um pouco irritada, porque a maioria das pessoas sempre confundem o meu nome. Sempre me chamam de Gabriela.

Ele sorri e mexe os lábios, sem deixar a voz sair, as palavras: "Moça bonita". Vou parar de chamar as pessoas assim. Já vi que isso não é só uma mania minha. Depois de olhar todos os detalhes da obra, seguimos para o carro dele.

Me sento no banco do passageiro, mas fico incomodada, porque ele fica sempre olhando para as minhas pernas. E olha que eu estou de calça social. Imagina se eu estivesse de saia?

Paramos em uma casa. Ele pega o telefone e fala que já está aqui. A porta se abre, e uma mulher aparece. Ele desce e me chama para descer junto com ele para conhecer a minha nova casa. Esse cara é dois, só pode. Será que todos os italianos são tão prestativos assim? E porque ele está fazendo isso?

— Boa tarde, senhor Montelli. Boa tarde, senhorita. — A cumprimentamos juntos. — Bom, vamos entrar para olhar a casa?

Ele passa na frente, e eu o sigo. A casa é bonita, já está toda mobiliada, mas é muito coisa para mim. Deve custar o meu salário todo.

— Gostou, Gabriela? — Reviro os meus olhos e nego com a cabeça. — Do que você não gostou?

— Senhor, eu vou morar sozinha. Isso é muito exagerado para mim. Fora que vou passar a semana toda para fazer a faxina na casa. E deve custar todo o meu salário.

— A casa é minha. Não vai sair tão caro para você. Mora aqui nesse mês até você receber o seu salário, e depois encontra outra da forma que você quiser. Mas é melhor morar aqui do que com um homem solteiro, não acha?

— Porque está fazendo isso? Faz com todos os seus funcionários? — Ele nega com a cabeça, dando um sorriso malicioso. Eu sei bem o que isso significa. Se ele acha que eu vou ficar aqui para ele vir se divertir, está enganado. — Não quero. Pode me deixar na casa do Bernardo?

Ele coloca as mãos no bolso e solta um suspiro bem forte. Ele pega o papel da mão da moça e assina.

— Você vai morar aqui. Fica perto da empresa, e não quero discussão. — Ele parece ser controlador, e isso não é nada bom. — Eu odeio discutir sobre esse tipo de assunto. Sempre que eu precisar, você tem que estar na empresa, não importa horário ou dia. Você, como minha assistente, tem que estar ao meu dispor, e daqui você vai chegar mais rápido na empresa. Vou mandar o Bernardo trazer as suas malas para cá, e amanhã não se esqueça, às 7:30 na empresa, sem atrasos.

A moça entrega a chave para ele, e ele me entrega, segurando na minha mão. Sinto uma coisa estranha quando sinto o seu toque, e ele fica parado, segurando ela por um tempinho. Olho para as nossas mãos, e a puxo, me livrando dessa sensação estranha.

Ele e a moça vão embora, e eu fico olhando ao redor da casa. Puxo o ar e solto um suspiro longo. Começo a caminhar pela casa. Mesmo que eu vá ficar só um mês aqui, seria desastroso eu não saber onde fica cada coisa. Com alguns minutos, a campainha toca, e eu vou abrir a porta.

— O chefe mandou eu entregar as malas aqui.

— Ele é louco e perturbado. Não me deixou falar não.

— Ele não gosta do não, a não ser que ele quem diga. Bom, pelo menos é aconchegante a casa? — Ofereço para ele entrar, e ele entra. — Nossa, aconchegante e bonita.

— Sim, mas só vou ficar aqui um mês. Não sei qual é a intenção dele, mas espero que não venha me fazer visitas noturnas.

— Pode ser que venha. Ele é casado, mas há boatos que ele vive traindo a esposa. Não sei se é verdade, já que ninguém da empresa nunca conseguiu se deitar com ele. Por isso disse que são boatos.

Ele estava agindo de uma forma estranha comigo, mas agora que eu sei que ele é casado, quando ele vier com graça, vou logo perguntar se a esposa dele não se importa das liberdades dele.

— Bernardo, será que ela vai vir aqui nessa casa e pensar que eu sou amante dele? Isso pode custar a minha vida, não pode? — Ele me olha como se concordasse com as minhas suspeitas. — Quer saber, eu que não vou pagar para ver. Ainda posso ficar na sua casa até receber o meu salário? — Ele concorda e me ajuda a levar as malas de volta para o carro dele.

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