Dizendo... não!

Chegamos à casa de Bernardo, ela é moderna, porém não grande como a outra, mas parece ter sido bem planejada, já que cada cômodo é acoplado a outro.

— Essa casa eu fiz do zero, paguei uma projetista para fazê-la do jeito que eu queria, depois paguei o engenheiro e, por último, contratei uma empresa para os móveis planejados. Cada detalhe eu que escolhi. Essa é a casa dos meus sonhos

— Ela é muito bonita, é bem aconchegante, meus parabéns. — Ele sorri e me leva até o quarto onde eu irei dormir, e me mostra a porta do quarto dele. Antes de sair do meu quarto, ele fala:

— Olha, eu acho que vai dar problema se você falar para o senhor Montelli que está morando aqui. Eu nunca o tinha visto daquele jeito como estava na empresa. Vocês já se conhecem?

— Não, eu nunca o vi na minha vida, e estou tão confusa quanto você por tê-lo visto se metendo daquele jeito. Nunca tive um namorado na vida, para não ter que dar satisfação a ninguém, somente à minha mãe.

— Sei não, mas acho que ele não vai gostar nada, Gabi.

— É difícil encontrar um emprego por aqui, Bernardo? — Ele nega com a cabeça. — Bom, eu preciso saber, porque se ele me demitir, eu procuro outro trabalho.

— Se ele te demitir, eu te ajudo a procurar outro trabalho. Agora, fique a vontade e boa noite.

— Boa noite! — Fecho a porta e começo a arrumar minhas roupas no armário. Quando termino, aproveito para tomar um banho e relaxar o corpo.

Troco-me, deito-me na cama e ligo para minha mãe. Aqui são 22h, lá, ainda devem ser umas 18h.

— Oi, minha filha. — Ela atende animada. — Que bom que chegou bem!

— Oi, mãe, como a senhora está? — Ela responde que está bem, e eu conto como foi meu dia hoje aqui na Itália, e que, principalmente, já comecei a trabalhar hoje mesmo.

Como não escondo nada dela, conto também sobre a crise de loucura do senhor Montelli. Conversamos por uma hora, mas como eu tenho que dormir para chegar à empresa cedo, dou boa noite para ela, e me viro para dormir.

Acordo às 5:30 com o Bernardo batendo em minha porta. Faço a minha higiene matinal, me troco e coloco a chave da casa do chefe na bolsa. Eu vou devolver, porque não vou ser amante de ninguém. Seguimos para a empresa juntos, no carro do Bernardo. Chegamos às 7:10. Pelo menos o senhor Montelli não vai poder dizer que eu estou atrasada.

— Como ele ainda não chegou, vou te dar uma lista de tarefas que você tem que fazer para quando ele chegar, está tudo pronto. — Vamos até a sala dele, e ele me entrega. — Faça exatamente nessa ordem, pois essas coisas que estão em cima, ele sempre chega pedindo.

— Fazer o café, arrumar a mesa deixando os contratos pelas cores das pastas... — Vou lendo, ficando atordoada até com tanta coisa a fazer antes que ele chegue.

— Vai, se não você perde tempo. — Ele me mostra onde é a cafeteira e me fala que o chefe gosta do café sem açúcar. Meu corpo até arrepia. Se o café com açúcar já é ruim, imagina puro?

Começo a seguir a lista de tarefas. Uma a uma, vou colocando tudo no seu devido lugar. As pastas, coloco nas cores que também estão na lista, e por último, ajeito as canetas. Às 8:00 em ponto, ele chega. Olha para a sala e depois para mim. Não diz uma palavra, nem que está certo ou errado.

Saio da sala e vou buscar o café dele. Vou caminhando com o corpo todo arrepiado, só de imaginar que não tem um pingo de açúcar. Mas os dois combinam: são dois amargos. Coloco a xícara de frente para ele, e ele me olha e dá um sorriso de lado. Até que é bonito esse moço.

— Como foi dormir na casa nova? — Ele pergunta, colocando a xícara em seus lábios.

— Então, eu... — Vou até a minha bolsa e pego as chaves para entregar para ele. — Desculpa, senhor Montelli, mas eu não vou ficar naquela casa.

Ele coloca a xícara sobre a mesa e me olha franzindo as sobrancelhas. Lá vem bomba, eu sei que ele vai explodir a qualquer momento.

— Porque não?

— O senhor é um homem casado, tem uma esposa, e eu não vou aceitar aquela casa para depois ela vir tirar satisfação achando que sou sua amante. Fora que a casa é sua, então você tem a cópia da chave, e eu também não quero visitas noturnas lá. Por esses motivos, eu decidi não aceitar a casa. — Falo rápido, e ele vai fechando a cara para cada palavra que eu falo.

— Eu te dei uma ordem, não é capaz de obedecer? — Nego com a cabeça, mas quando ele se levanta da cadeira, minhas pernas até bambeiam de medo. — Como ousa me dizer não?

— Dizendo... não! — Ele começa a piscar um dos olhos, como se estivesse tendo um chilique.

— Odeio quando as pessoas me desobedecem, mas odeio mais ainda quando elas me dizem não. Você vai ficar naquela casa, e ponto final.

— Não, eu não vou. Estou morando com o Bernardo, e prefiro ficar lá. — Ele fecha as mãos, e com medo, eu corro até a porta, mas quando eu consigo tocar na maçaneta, o corpo dele me prende nela.

Ele segura em meu cabelo e puxa para trás. Como estou de costas para ele, não consigo nem me defender. Sinto o seu nariz roçando em meu pescoço, o que faz o meu corpo arrepiar.

— Dormiu na cama dele?

— O senhor está sendo abusivo. Pode me soltar?

— Vamos parar com esse jogo, Gabriela? Sei que você sabe quem eu sou.

— Que... que jogo? Eu... eu não estou entendendo. Eu...

— PARA DE FINGIR! — Ele grita, e eu começo a me tremer todinha. Ele vira o meu corpo para ficar de frente para ele. Seus olhos estão tão perto do meu, que eu sinto até uma leve sensação de que já vi em algum lugar, mas onde?

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