Entrego o meu currículo para ela, que olha, avalia, pensa e, depois de um tempo, olha para mim e coloca o papel sobre o seu colo.
— Gabrielly Ferreira, você realmente fez todos esses cursos que descreveu no seu currículo? — Sim, senhora. Pode me perguntar qualquer coisa sobre eles que eu te respondo. — Fala italiano, inglês e francês. Você está apta para trabalhar em uma de nossas filiais fora do Brasil, principalmente na Itália, onde precisamos de projetista. — Olha, só teria essa vaga? Tipo, como pode ver, eu também fiz faculdade de administração, e estou querendo mudar um pouco de profissão, sabe? — Se eu não for projetista na Itália, a Victória vai se ferrar sozinha. — Temos uma vaga de assistente do CEO, mas ele é bem exigente. Nenhuma fica mais de um mês trabalhando com ele. Quer tentar assim mesmo? — Se não der certo, posso optar pelo cargo de projetista? Sabe, voltar para o Brasil vai ser bem complicado. — Pode sim. Então, por enquanto, vou deixar você na vaga de assistente. Essa não é concorrida. Pagamos em euros. Você tem alguma conta bancária no exterior? — Nego com a cabeça, e ela anota tudo em uma folha pregada na prancheta. Em seguida, ela me entrega a folha e me mostra onde eu tenho que assinar. E assim que assino, ela sorri. — Seja bem-vinda ao grupo M.A.I, e espero que você se dê muito bem na Itália. Vou dar entrada no seu passaporte e nos vistos, e assim que estiver tudo certo, aviso para que você possa viajar. — Ela se levanta, e eu também. Ela estende a mão para mim. — Foi um prazer conhecê-la, e espero que dê tudo certo para você. — Muito obrigada. Posso ir embora? — Ela assente com a cabeça, e eu volto para casa. Minha mãe já não está mais em casa. Com certeza foi fazer faxina. Começo a arrumar a mala, coisas mais importantes que eu vou levar para não esquecer depois. Meu celular começa a tocar. Pego sem olhar a tela e atendo. — Senhorita Ferreira, eu já agendei para você ir na polícia federal para tirar o seu passaporte. Assim que sair, vou dar entrada em todos os trâmites para você já sair daqui, só do Brasil, indo direto trabalhar na Itália. — Quanto tempo dura isso, mais ou menos? — Daqui a trinta dias você estará viajando legalmente para a Itália. Então, já começa a se organizar. — Vamos conversando mais um pouco. Ela vai me explicando tudo que eu preciso. Depois que desligo a chamada, ligo para o meu chefe para saber se vou continuar trabalhando lá nesse tempo, ou se já estou dispensada. — Gabrielly, eu vendi a empresa para o senhor Montelli. Se você foi chamada para trabalhar na Itália, então está dispensada. — O senhor vendeu? Por isso falou de mim para o senhor Montelli? — Eu sei que não fui justo com você. Eu tô me sentindo mal pelo que te fiz, e isso foi o jeito de me desculpar. Você é uma ótima projetista, mas minha carne deu fraca. Me perdoe. — Do que você... — Paro para pensar, e agora eu sei como a Victória fez para roubar o meu projeto. — Você deu para ela? Como pode ter sido tão injusto? — Me perdoe. Sei que lá você vai... — Desligo o telefone na cara dele. Não acredito que esse velho safado fez isso comigo. Eu achando que ele era do bem, e olha só. Filho de uma... boa mãe. Solto um suspiro e passo a mão no rosto. Vou deixar isso passar. Não vou perder o meu réu primário, não agora que estou indo para a Itália. Me levanto, faço o almoço para quando a minha mãe chegar, está tudo pronto. Ela chega achando estranho eu estar em casa uma hora dessa. Explico tudo para ela, e ela sobe para tomar banho para poder almoçarmos juntas. — Então, você vai mesmo para a Itália? — Ela pergunta, se sentando à mesa. — Se a senhora não quiser, eu não vou. Mas pensa que eu vou ganhar em euros, e é muito mais dinheiro que o real. Mil euros dá mais de seis mil reais. — Nossa, isso é muito bom! — Ela fala com os olhos arregalados. — Então vai, minha vida, assim terminaremos todas as nossas dívidas rapidinho. Mas estou me sentindo mal, parece que estou te colocando para trabalhar. — Não se sinta. Vou fazer o mesmo trabalho que faço aqui. E mãe, eu vou deixar a vizinhança de olho na senhora. Vai trabalhar só o primeiro mês, até o meu salário cair. Depois a senhora vai parar e vai cuidar da casa, está bem? — Com um sorriso no rosto, ela concorda com a cabeça. Os dias vão se passando. Resolvo o assunto na polícia federal, e ficou tudo certo. Falta apenas o visto para que eu possa viajar a trabalho. Tirei esses dias para ficar com a minha mãe, matando a saudade antes de partir. E com um mês certinho, a advogada do senhor Montelli me liga falando que já tenho o visto. Minha saída do Brasil para a Itália foi na base do choro. Essa é a primeira vez que eu me desgrudo da minha mãe. Essa sim é a vez que cortaram o meu cordão umbilical dela. — Que Deus te acompanhe, meu amor. Vou te ligar todos os dias. — Abraço ela bem forte, até que escuto o meu nome. — Gabrielly Ferreira? — Olho para trás, e é um homem me esperando. — Me chamo Bernardo, e vou levar você até a M.I.A. — Dou um último abraço bem forte na minha velhinha e sigo ele, olhando toda hora para trás. — Difícil deixar a mãe, mas quando você pegar o primeiro pagamento, vai ver que vai valer a pena. — É só por isso que estou indo. Estamos muito endividadas. Estou com medo de perder até a nossa casa para o banco. Se não fosse isso, eu jamais sairia do Brasil. — Aposto que você vai pegar sua mãe e lavar para lá. Itália é totalmente diferente do Brasil, você vai ver. — Entramos no avião, e seguimos rumo à Itália. — São muitas horas de voo. Pode dormir se você quiser. Nego com a cabeça. Jamais iria dormir e deixar de me despedir do meu país, que nem sei quando vou voltar novamente para cá. Só fico triste por não ter visto o rosto do homem que tirou a minha virgindade, e sei que nunca mais vou vê-lo novamente. Esse sentimento é tão estranho. Sempre ouvi dizer que a primeira vez da mulher tem que ser especial, mas eu nunca vou saber como foi.Bernardo e eu conversamos o voo todo, ele vai me contando como é na Itália, as comidas de lá, onde encontrar as coisas mais baratas, e onde ficam os homens mais ricos. Nunca fui uma mulher que busca em um homem o financeiro, sempre gostei de trabalhar para ter o meu próprio dinheiro.Talvez seja por isso que eu me guardei durante 25 anos, minha meta era me entregar para o amor da minha vida, aquele que faria o meu coração palpitar, que me trataria de um jeito carinhoso e educado. Mas acho que esse homem não existe, já que o destino fez eu me entregar para qualquer um, e ainda não me lembrar do que aconteceu.— Olha, tem coisas que você não pode fazer na Itália, eles tem algumas regras, e mesmo não querendo você tem que seguir.— Não é igual ao Brasil? — Ele nega com a cabeça. — Graças a Deus. Apesar de morar no Rio de Janeiro, eu nunca subi nas favelas para dançar pancadão. Meu negócio sempre foi ficar em casa, e para ir a festas, era muito difícil.— Acredito eu que você vai se adapt
Uns dias antes,Quando eu acordo, não vejo a mulher ao meu lado. Achei estranho, pois sou eu que sempre vou embora antes delas acordarem. Me levanto para fazer a minha higiene e procuro pela minha camisa que usei ontem na balada, mas não a encontro em lugar nenhum.Ontem rasguei o vestido dela. Será que ela levou a minha camisa? A camiseta que ela vestiu para dormir está em cima da cama. O vestido dela também não está pelo quarto, então, ela com certeza roubou a minha camisa.Desço para ir à empresa, e quando vou passando pela recepção, a moça me chama para falar que a moça bonita pagou a diária de ontem.— Ela fez o quê?— O senhor tem um dia pago aqui no Plaza.— Ela deixou telefone ou endereço? — Ela nega com a cabeça. Apenas me diz que ela mora em São Paulo. Droga! Porque ela tem que ser tão escorregadia? Eu adorei a nossa noite de ontem, e queria vê-la mais uma vez antes de voltar para a Itália. Agradeço à recepcionista, mas fazendo cara de quem não gostou. Ela nem deveria ter re
Quase dois meses depois, a minha advogada do Brasil me liga falando que já está com os vistos prontos das meninas para o trabalho. Mando embarcar as duas imediatamente. Como ela tem que vir para cá, ela irá trazer a Victória, a minha projetista, já a tal da Gabriella... Gabrielly, sei lá, vai vir para cá com o Bernardo. Ela pediu a vaga de assistente. Espero que essa tenha mais paciência que as outras, pois eu já estou cansado de trabalhar com quem não quer fazer o que eu mando.As duas vão começar a trabalhar amanhã na empresa. Já separei a sala da Victoria, e a Gabriella ficará comigo por um tempo, até mostrar que será uma boa funcionária. Caso contrário, nem vou perder o meu tempo arrumando uma sala para ela.Sophie ficou um mês todo de cara virada, mas quando sai com ela para jantar e fazer compras, voltamos a ficar de bem. Ela adora quando eu a mimo. Aliás, todas elas gostam de presentes caros. A felicidade da mulher é o dinheiro. Comprei um carro novo para ela também. Minha mãe
Paro de rir, e olho para ele. Eu que chamo as pessoas que não conheço de moça ou moço bonito. Ele sorri e volta a fazer a pergunta sobre eu ter achado algo engraçado.— Porque me chamou assim, senhor Montelli?— Conheci uma brasileira que falou isso para mim. Mas porque estava rindo?— Por nada! Lembrei de uma coisa, mas não é nada importante.— Sério? Então me conta para que eu possa rir também? — Como vou dizer para ele que esse projeto é meu? Não, melhor eu não dizer nada e deixar a Victória se embaralhar, pois esse é um armário de limpeza. Deixei ele reservado exatamente embaixo da escada, como se fosse uma porta invisível.— Deixa para lá. Eu já nem me lembro mais.— O senhor Boss me pediu para contratar duas projetistas dele. Uma é a Victória, e a outra é você?— Sou assistente, senhor. Só isso. — Ele ergue uma das sobrancelhas e volta a olhar para o pedreiro. Ele manda eles trabalharem em outra área, para que essa seja resolvida apenas amanhã, quando a Victória estiver aqui. Vo
Chegamos à casa de Bernardo, ela é moderna, porém não grande como a outra, mas parece ter sido bem planejada, já que cada cômodo é acoplado a outro.— Essa casa eu fiz do zero, paguei uma projetista para fazê-la do jeito que eu queria, depois paguei o engenheiro e, por último, contratei uma empresa para os móveis planejados. Cada detalhe eu que escolhi. Essa é a casa dos meus sonhos — Ela é muito bonita, é bem aconchegante, meus parabéns. — Ele sorri e me leva até o quarto onde eu irei dormir, e me mostra a porta do quarto dele. Antes de sair do meu quarto, ele fala:— Olha, eu acho que vai dar problema se você falar para o senhor Montelli que está morando aqui. Eu nunca o tinha visto daquele jeito como estava na empresa. Vocês já se conhecem?— Não, eu nunca o vi na minha vida, e estou tão confusa quanto você por tê-lo visto se metendo daquele jeito. Nunca tive um namorado na vida, para não ter que dar satisfação a ninguém, somente à minha mãe.— Sei não, mas acho que ele não vai go
Seus olhos parecem se lembrar de algo, mas quando ela abre a boca para falar, alguém bate na porta.— O que é? — Pergunto bem irritado por estarem me atrapalhando.— Senhor, a sua esposa está na empresa, e está subindo para falar como senhor. — Mesmo contra gosto, eu solto a Gabrielly, ela solta um suspiro, e caminha até a mesinha que eu mandei colocar aqui para ela. — Essa conversa ainda não acabou. — Ela abaixa a cabeça e a porta se abre com tudo. — O que você quer, Sophie? — Que você tire a sua mãe da nossa casa, já deu o que tinha que dar, eu não aguento mais.— Eu já falei mil vezes, a minha mãe não vai sair de lá.— Está bem, então, vamos morar em outro lugar, deixa aquela casa para ela, já que ela decide tudo. — Me sento na cadeira e olho para ela sem responder, porque ela já sabe da minha resposta quanto a isso. — Por favor, Riccardo, a sua mãe não me trate bem, não é como ela trata você. Eu sei que... — Ela olha para trás e vê a Gabrielly. — Quem é você?— Minha assistente!
Imagina se ela tivesse roubado! Quero só ver como vão colocar um sanitário embaixo da escada. Pelos meus cálculos, dava certinho a parte de baixo dos degraus para colocar cada coisa, mas um sanitário e uma pia, acho que será impossível... Bom, se a pessoa for gordinha, não vai caber.— Então vamos fazer como a Gabriela disse. Esse espaço será um quartinho para produtos de limpeza. Pois pela largura e comprimento, não tem como ser um lavabo. — O senhor Riccardo fala, rodando o dedo na planta. Os pedreiros confirmam com a cabeça e chamam nós duas para irmos almoçar. — Gabriela, você vai atrás agora.— Sim, senhor! — Parece que ele me chama de Gabriela só para me irritar, pois tenho certeza que ele já sabe o meu nome.Victoria senta no banco da frente, sorridente, e eu até reviro os olhos. Tomara que a mulher dele os veja e dê uma surra bem dada nela.— Vocês eram amigas no Brasil?— Não! — Respondo logo, e ele olha pelo retrovisor. Ela olha para trás e sorri sem graça.— Nós éramos, mas
Ela se senta na cadeira dela, e começamos a comer em silêncio. O senhor Riccardo não volta a se sentar ao lado dela. Fica sentado ao meu lado mesmo, e ela toda hora fica olhando para ele. Já vi que estava certa: ela vai tentar conquistá-lo para ganhar as coisas também.Se ela não me prejudicar, ela pode fazer o que ela quiser, mas como sou assistente dele, tenho certeza que vou ver ela dando em cima dele, e a esposa dando uma surra. Bom, se fosse no Brasil, seria uma surra de esfregar a cara no asfalto. Não sei como as italianas brigam.Depois do almoço, seguimos de volta à empresa. Victória vai para a sala que o senhor Riccardo separou para ela, e ele e eu vamos para a dele. Pego os contratos que ele mandou eu revisar e volto a trabalhar. Isso só pode ser um castigo. São tantos contratos, que será impossível eu revisar tudo até o fim do expediente.— Gabriela, me traga um café. — Sou obrigada a parar o trabalho para ir pegar o café amargo do amargurado. Coloco a xícara na máquina e e