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Capítulo 2

Priscila Barcella

— O que eu faço com o bebê? — perguntei a mim mesma, sem saber o que fazer.

Assim que entrei no quarto, coloquei-a na cama e a cercou de travesseiros, pois precisava tomar um banho. Fui para o banheiro e deixei a água tirar o suor e, junto com ele, as lágrimas. Eu precisava manter uma postura firme, mas minha irmã era toda a família que eu tinha. Enquanto começava a me ensaboar, ouvi um chorinho que se intensificava a cada minuto. Sem saber o que fazer, parei o banho, coloquei uma toalha rapidamente e peguei o bebê no colo, mesmo ainda estando molhada.

— Eu não sou a mamãe — falei quando ela tentou pegar meus seios desesperadamente. Ela estava com fome e eu não tinha o que ela queria.

Mesmo sendo uma e meia da manhã, decidi ligar para Natália, minha única amiga que sempre me ajudava. Embora não nos víssemos muito desde que ela se casou, teve filhos e se mudou para o litoral, ela sempre arranjava tempo para se envolver na minha vida, principalmente na parte amorosa. Como ela tinha filhos, eu imaginei que saberia o que fazer.

Ela atendeu prontamente no primeiro toque, o que me surpreendeu.

— Se não for uma emergência, eu te mato — ela falou assim que atendeu, e o choro de Nina aumentou ainda mais. — Você está com um bebê, não é? — ela perguntou, histérica.

— Eu não sei o que fazer, me ajuda por favor — implorei, sentindo a emoção transbordar.

— Você sabe que eu não sou boa com crianças, quem foi o louco que deixou um bebê com você? — ela falou, claramente chocada. Ela me conhecia muito bem. E pelo som da sua voz, eu podia dizer que ela estava se levantando.

— Minha irmã faleceu em um acidente com o marido e agora sou a única responsável pelos quatro filhos dela. Ela era louca por ter tantos filhos e eu estou perdida. Este bebê não para de chorar e se recusa a comer...

— Calma, amiga, estou a caminho. Para sua sorte, estou em São Paulo. Tive uma reunião que se estendeu até tarde, até te liguei, mas você não atendeu. Chegarei em quinze minutos — ela disse antes de desligar o telefone. Realmente, havia duas chamadas perdidas dela.

Quase dez minutos depois, consegui vestir um vestido que nem sabia que tinha e fui para a sala com o bebê ainda chorando no colo.

— Por favor, pare de chorar, pequena. Eu não sei o que fazer. Acho que o melhor seria deixá-los em um abrigo. Não tenho jeito com essas coisas. Eu não nasci para ser mãe — desabafei para o bebê que não cessava o choro.

A campainha tocou e fui atender. Natália estava de pijama com um sobretudo por cima.

— Que bom que você chegou. Olha, acho que ela está com defeito — brinquei, entregando o bebê para ela.

— Ah, que menininha linda. Deixe a Dinda ver essa fralda — ela falou, entrando.

— Dinda? — perguntei, confusa, enquanto ela examinava a fralda.

— Como a sua nova mãe não viu isso? — ela falou, e eu revirei os olhos. — Sério, amiga, ela deve estar toda assada por causa do tanto de xixi aqui.

— Eu sou a tia dela — corrigi, percebendo que o choro da bebê aumentava desde que ela a pegara no colo.

— Vou te ensinar a trocar. Onde estão as coisas dela? — mostrei a bolsa em cima do sofá e ela me ensinou a trocar, mas a pequena continuou chorando. — Ela está assada. Vou dizer o que você tem que comprar para tratar. Ela é muito pequenininha e tão linda. Você sabia que eu sempre quis uma menina.

— Você pode levá-la. Ela tem mais dois irmãos e um menino.

— Sua mãe é uma figura. Ela fala assim, mas é só da boca para fora. Viu, princesa da Dinda, eu sou a madrinha, não é? Sou sua única amiga — ela disse, e eu olhei para ela incrédula.

Tanta coisa estava acontecendo e ela continuava com essa história de que eu era a mãe.

— Você sabe que ela não é minha filha.

— Você não vai adotá-la? — ela perguntou e eu não sabia o que responder. Não sabia se queria ficar com essas crianças e apenas olhei para ela, o que ela interpretou como uma afirmativa. — Então você é a mãe. Será melhor assim do que ficar dizendo para ela que você não é a mãe. Quando ela crescer, você explicará tudo. Agora, em que momento você a alimentou? — ela perguntou.

— Já faz mais de sete horas. Ela nem pegou a mamadeira que dei. Veja, sou péssima nisso. O melhor para eles seria ficarem longe de mim...

Eu estava frustrada e exausta. Não aguentaria por muito tempo. Eu sentia isso.

— Não diga isso. Se você está com eles é porque, caso contrário, iriam para um abrigo. E veja, realmente é desafiador criar crianças, mas você é capaz. Você pode providenciar um futuro melhor para eles. Você pode contratar alguém para ajudar. Tem mães famosas com três, quatro babás, mal veem os filhos. Basta você seguir o mesmo caminho,e as babás te ajudarão muito. Você verá que será capaz. Vamos, vamos fazer a mamadeira dela — ela disse, me entregando a bebê que parou de chorar ao chegar nos meus braços. "Parece que ela gosta de você."

— Não, ela não gosta de mim. Ela me vê como a mãe dela, mas na verdade, eu sou a vilã — respondi, sorrindo, lembrando que eu era a Raquel das gêmeas.

— Você não é vilã, e ela gosta de você. Mas também está com fome. Henrique, com essa idade, estava sempre mamando. A pobrezinha está passando fome...

— Veja que isso não é para mim. Diga-me o que fazer com essas crianças. Nunca consegui manter um peixe vivo por mais de dois dias. Eu não sei lidar com isso...

— Mas você aprenderá. Sempre foi esforçada. Olhe onde chegou, Pri. Você aprenderá. Na verdade, é algo que terá que aprender, porque, queira ou não, é a única família deles agora — disse, revirando os olhos, embora soubesse que era a pura verdade.

Fomos para a cozinha e ela me ensinou a fazer o leite e colocar na mamadeira, na temperatura adequada. No entanto, a bebê não mamava, recusava a mamadeira.

— O que estou fazendo de errado? — perguntei a Natália, que me olhou com pena, expressão que eu detestava.

— Amiga, acho que sua irmã nunca deu mamadeira, chupeta ou qualquer coisa do tipo. Meu filho também só mamava no peito.

— E agora, o que faço? Deixo a menina morrer de fome?

— Calma um pouco. Realmente não sei o que você pode fazer. Que tal agendar uma consulta com o pediatra para explicar a situação? Ela saberá o que fazer. A pediatra do Henrique é muito boa. Vou marcar uma consulta para mais tarde.

— E até lá, ela ficará assim, chorando? Com fome?

— Não. Vamos tentar resolver a situação. Bebês choram, então, quando ela chorar, você precisará verificar se é cólica ou fome. Sei que você não gosta de crianças, mas agora terá que fazer um esforço. Você não é vilã...

— Eu sou, e não ligo para o que os outros pensam. Mas como conseguirei minha promoção com essas crianças? Nunca quis ter filhos porque não sei cuidar de outro ser vivo. Você mesma sabe quantos peixes eu já matei.

— Até eu desisti de ter peixes — ela disse, rindo e mexendo no celular.

— O que está fazendo? Não me diga que vai me dar um peixe.

— Pri, estou comprando um conta-gotas. Quem sabe assim ela se alimente. E estou comprando o remédio para assaduras e outras coisas de que você precisará na farmácia 24 horas. Vamos dar um jeito.

— Tem certeza de que não quer adotá-los? Você é boa com crianças, e eu não sei o que estou fazendo.

— Mas agora você aprenderá. Você sempre foi esforçada. Veja, você pode dar um ótimo futuro para eles, não será fácil, mas se você consegue gerenciar uma grande empresa, poderá gerenciar sua vida com seus "filhos" também — eu estava prestes a corrigi-la quando ela colocou a mão na minha boca. — Querendo ou não, agora são seus.

Eu ia dizer a verdade, mas ela me abraçou e naquele momento não consegui mais manter a pose, ela me conhecia muito bem e sabia que eu estava sofrendo.

— Não sei se consigo, Natália. Não tenho experiência em lidar com crianças. Eles sentirão falta da mãe, da família. Não sei se consigo preencher esse vazio.

— Você não precisa fazer isso de uma vez. Apenas esteja presente por eles, cuide deles, dê-lhes amor e carinho. Eles entenderão, mesmo sendo tão pequenos. E nós vamos te ajudar, eu, meu marido e os seus funcionários ... Todos juntos, vamos dar um jeito.

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Continua.....

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