Priscila Barcella
— O que eu faço com o bebê? — perguntei a mim mesma, sem saber o que fazer. Assim que entrei no quarto, coloquei-a na cama e a cercou de travesseiros, pois precisava tomar um banho. Fui para o banheiro e deixei a água tirar o suor e, junto com ele, as lágrimas. Eu precisava manter uma postura firme, mas minha irmã era toda a família que eu tinha. Enquanto começava a me ensaboar, ouvi um chorinho que se intensificava a cada minuto. Sem saber o que fazer, parei o banho, coloquei uma toalha rapidamente e peguei o bebê no colo, mesmo ainda estando molhada. — Eu não sou a mamãe — falei quando ela tentou pegar meus seios desesperadamente. Ela estava com fome e eu não tinha o que ela queria. Mesmo sendo uma e meia da manhã, decidi ligar para Natália, minha única amiga que sempre me ajudava. Embora não nos víssemos muito desde que ela se casou, teve filhos e se mudou para o litoral, ela sempre arranjava tempo para se envolver na minha vida, principalmente na parte amorosa. Como ela tinha filhos, eu imaginei que saberia o que fazer. Ela atendeu prontamente no primeiro toque, o que me surpreendeu. — Se não for uma emergência, eu te mato — ela falou assim que atendeu, e o choro de Nina aumentou ainda mais. — Você está com um bebê, não é? — ela perguntou, histérica. — Eu não sei o que fazer, me ajuda por favor — implorei, sentindo a emoção transbordar. — Você sabe que eu não sou boa com crianças, quem foi o louco que deixou um bebê com você? — ela falou, claramente chocada. Ela me conhecia muito bem. E pelo som da sua voz, eu podia dizer que ela estava se levantando. — Minha irmã faleceu em um acidente com o marido e agora sou a única responsável pelos quatro filhos dela. Ela era louca por ter tantos filhos e eu estou perdida. Este bebê não para de chorar e se recusa a comer... — Calma, amiga, estou a caminho. Para sua sorte, estou em São Paulo. Tive uma reunião que se estendeu até tarde, até te liguei, mas você não atendeu. Chegarei em quinze minutos — ela disse antes de desligar o telefone. Realmente, havia duas chamadas perdidas dela. Quase dez minutos depois, consegui vestir um vestido que nem sabia que tinha e fui para a sala com o bebê ainda chorando no colo. — Por favor, pare de chorar, pequena. Eu não sei o que fazer. Acho que o melhor seria deixá-los em um abrigo. Não tenho jeito com essas coisas. Eu não nasci para ser mãe — desabafei para o bebê que não cessava o choro. A campainha tocou e fui atender. Natália estava de pijama com um sobretudo por cima. — Que bom que você chegou. Olha, acho que ela está com defeito — brinquei, entregando o bebê para ela. — Ah, que menininha linda. Deixe a Dinda ver essa fralda — ela falou, entrando. — Dinda? — perguntei, confusa, enquanto ela examinava a fralda. — Como a sua nova mãe não viu isso? — ela falou, e eu revirei os olhos. — Sério, amiga, ela deve estar toda assada por causa do tanto de xixi aqui. — Eu sou a tia dela — corrigi, percebendo que o choro da bebê aumentava desde que ela a pegara no colo. — Vou te ensinar a trocar. Onde estão as coisas dela? — mostrei a bolsa em cima do sofá e ela me ensinou a trocar, mas a pequena continuou chorando. — Ela está assada. Vou dizer o que você tem que comprar para tratar. Ela é muito pequenininha e tão linda. Você sabia que eu sempre quis uma menina. — Você pode levá-la. Ela tem mais dois irmãos e um menino. — Sua mãe é uma figura. Ela fala assim, mas é só da boca para fora. Viu, princesa da Dinda, eu sou a madrinha, não é? Sou sua única amiga — ela disse, e eu olhei para ela incrédula. Tanta coisa estava acontecendo e ela continuava com essa história de que eu era a mãe. — Você sabe que ela não é minha filha. — Você não vai adotá-la? — ela perguntou e eu não sabia o que responder. Não sabia se queria ficar com essas crianças e apenas olhei para ela, o que ela interpretou como uma afirmativa. — Então você é a mãe. Será melhor assim do que ficar dizendo para ela que você não é a mãe. Quando ela crescer, você explicará tudo. Agora, em que momento você a alimentou? — ela perguntou. — Já faz mais de sete horas. Ela nem pegou a mamadeira que dei. Veja, sou péssima nisso. O melhor para eles seria ficarem longe de mim... Eu estava frustrada e exausta. Não aguentaria por muito tempo. Eu sentia isso. — Não diga isso. Se você está com eles é porque, caso contrário, iriam para um abrigo. E veja, realmente é desafiador criar crianças, mas você é capaz. Você pode providenciar um futuro melhor para eles. Você pode contratar alguém para ajudar. Tem mães famosas com três, quatro babás, mal veem os filhos. Basta você seguir o mesmo caminho,e as babás te ajudarão muito. Você verá que será capaz. Vamos, vamos fazer a mamadeira dela — ela disse, me entregando a bebê que parou de chorar ao chegar nos meus braços. "Parece que ela gosta de você." — Não, ela não gosta de mim. Ela me vê como a mãe dela, mas na verdade, eu sou a vilã — respondi, sorrindo, lembrando que eu era a Raquel das gêmeas. — Você não é vilã, e ela gosta de você. Mas também está com fome. Henrique, com essa idade, estava sempre mamando. A pobrezinha está passando fome... — Veja que isso não é para mim. Diga-me o que fazer com essas crianças. Nunca consegui manter um peixe vivo por mais de dois dias. Eu não sei lidar com isso... — Mas você aprenderá. Sempre foi esforçada. Olhe onde chegou, Pri. Você aprenderá. Na verdade, é algo que terá que aprender, porque, queira ou não, é a única família deles agora — disse, revirando os olhos, embora soubesse que era a pura verdade. Fomos para a cozinha e ela me ensinou a fazer o leite e colocar na mamadeira, na temperatura adequada. No entanto, a bebê não mamava, recusava a mamadeira. — O que estou fazendo de errado? — perguntei a Natália, que me olhou com pena, expressão que eu detestava. — Amiga, acho que sua irmã nunca deu mamadeira, chupeta ou qualquer coisa do tipo. Meu filho também só mamava no peito. — E agora, o que faço? Deixo a menina morrer de fome? — Calma um pouco. Realmente não sei o que você pode fazer. Que tal agendar uma consulta com o pediatra para explicar a situação? Ela saberá o que fazer. A pediatra do Henrique é muito boa. Vou marcar uma consulta para mais tarde. — E até lá, ela ficará assim, chorando? Com fome? — Não. Vamos tentar resolver a situação. Bebês choram, então, quando ela chorar, você precisará verificar se é cólica ou fome. Sei que você não gosta de crianças, mas agora terá que fazer um esforço. Você não é vilã... — Eu sou, e não ligo para o que os outros pensam. Mas como conseguirei minha promoção com essas crianças? Nunca quis ter filhos porque não sei cuidar de outro ser vivo. Você mesma sabe quantos peixes eu já matei. — Até eu desisti de ter peixes — ela disse, rindo e mexendo no celular. — O que está fazendo? Não me diga que vai me dar um peixe. — Pri, estou comprando um conta-gotas. Quem sabe assim ela se alimente. E estou comprando o remédio para assaduras e outras coisas de que você precisará na farmácia 24 horas. Vamos dar um jeito. — Tem certeza de que não quer adotá-los? Você é boa com crianças, e eu não sei o que estou fazendo. — Mas agora você aprenderá. Você sempre foi esforçada. Veja, você pode dar um ótimo futuro para eles, não será fácil, mas se você consegue gerenciar uma grande empresa, poderá gerenciar sua vida com seus "filhos" também — eu estava prestes a corrigi-la quando ela colocou a mão na minha boca. — Querendo ou não, agora são seus. Eu ia dizer a verdade, mas ela me abraçou e naquele momento não consegui mais manter a pose, ela me conhecia muito bem e sabia que eu estava sofrendo. — Não sei se consigo, Natália. Não tenho experiência em lidar com crianças. Eles sentirão falta da mãe, da família. Não sei se consigo preencher esse vazio. — Você não precisa fazer isso de uma vez. Apenas esteja presente por eles, cuide deles, dê-lhes amor e carinho. Eles entenderão, mesmo sendo tão pequenos. E nós vamos te ajudar, eu, meu marido e os seus funcionários ... Todos juntos, vamos dar um jeito. ©©©©©©©©©©©©©©©© Continua.....Priscila Barcella Natália teve que ir para casa às cinco da manhã para uma reunião em Campinas. A Nina chorou quase o tempo todo. Com um conta-gotas, conseguimos que ela comesse um pouco, mas era muito complicado. De acordo com Natália, ela estava com sono. Como não sabia o que fazer, a Nina tentava a todo custo pegar meu seio e desistia. Ela só dormiu no meu peito. Eu dei para ela ver que não havia nada lá, mas não imaginei que ela usaria isso como chupeta. Era uma sensação tão estranha e dolorosa. Tive que escolher entre a dor de cabeça causada pelo choro incessante ou a dor física, e o simples fato de ela ter parado de chorar já era um avanço.Eu acabei não dormindo, mas como não podia faltar a reunião de hoje, fui me arrumar para ir à empresa. Coloquei a Nina na cama mesmo ela choramingando. Desci com a bebê no colo e a Josefa estava na cozinha. Pelo som do forró, sabia que ela estava cozinhando. Justamente hoje era o dia de folga da moça da limpeza, e a minha cozinheira já tinha
Priscila Barcella Não consegui falar nada, nem consegui tirá-la de perto de mim. Eu estava assustada, o bebê chorava ainda mais alto e eu a peguei no colo com medo de ela também ter se machucado. Os paramédicos fizeram os primeiros socorros, colocaram-na na maca e eu estava em choque ao vê-la naquele estado. A bebê parou de chorar e quando olhei, ela estava sugando o meu seio, mas não tinha chegado no bico do peito porque estava vestida. Apenas começou a me babar e acho que ouviu o meu coração. Neste mesmo minuto, Josefa abriu os olhos e estava com uma expressão de dor. — Meu braço está doendo — ela falou com a voz rouca. — Vamos levá-la para o hospital — um dos socorristas falou, olhando para mim. — Você não deveria ter deixado sua mãe sozinha com seus filhos — ela continuou, e pude ver o julgamento em seu olhar. E quem ela pensa que é para se meter na minha vida? — Eu trabalho aqui — Josefa tentou se explicar como se quisesse me defender. — Não fale, Josefa, sei que você está
Priscila Barcella Semanas depois Já tem cinco semanas que os meus sobrinhos estão aqui, a minha vida está um caos, literalmente um inferno.Comecei a seguir o tratamento recomendado pela médica, mas a primeira vez foi assustadora e a sensação de medo persiste. A Nina rejeita a mamadeira e a chupeta, fazendo um escândalo quando não é o seio. Com a responsabilidade de cuidar dos meus outros três, especialmente Iris e Italo, juntamente com o trabalho, acabo cedendo e amamentando a Nina para acalmá-la, já que não tenho ajuda durante a noite. Após mamar, a Nina se acalma e se torna um bebê tranquilo. Às vezes, fico com ela no escritório de madrugada, onde ela dorme no meu colo ou me observa trabalhar. Mesmo quando chora, emite apenas um chorinho suave. Inicialmente, a Nina sofria com cólicas, mas graças aos conselhos da Natália, aprendi a lidar melhor com a situação. Preocupada em evitar o retorno do choro, iniciei um tratamento para aumentar a produção de leite, mas até o momento não
Priscila Barcella Quando Nina terminou de mamar, ajeitei as coisas com ela no colo e me sentei novamente, sentindo as lágrimas escorrerem. Ultimamente, minhas emoções estão descontroladas, devido aos hormônios que tomo para amamentar Nina. — Me desculpa, pequenininha. Eu não sou como ela. Você é meu amorzinho. Me promete que não vai me odiar, como seus irmãos, porque você é a única criança que gosta de mim — falei, beijando Nina e logo sentindo um cheiro forte. — Ai, meu amor, você fez o número dois. Isso eu nunca vou entender. Como uma coisinha dessas pode fazer um estrago tão grande?Ela ia começar a choramingar, mas comecei a beijar sua barriguinha depois de limpá-la. — Você quer ouvir uma música? Sua vovó cantava para mim, sabia? — falei, arrumando a roupinha dela. — Meu anjinho, meu anjinho — comecei a cantar calmamente. E não sei por que Nina é a única pessoa que consegue me trazer paz. Estava cantando com um sorriso no rosto, pois ela sorria para mim, quando alguém bateu
Priscila Barcella Depois de apresentar a campanha das fraldas BABYPOM, Max fez questão de me levar para conhecer o colégio. É uma instituição conceituada e muito bonita, com uma grade curricular que era o meu sonho na época da escola. No entanto, quando vi o valor que ficaria para os três, quase caí para trás. Mesmo assim, aceitei porque Max conseguiu uma bolsa de 50%, o que me permitiu matricular os três na mesma escola. Trata-se de um colégio tradicional britânico, e espero que um ambiente assim proporcione os limites e a educação de que eles precisam. Logo após sairmos da escola, Max se ofereceu para me ajudar, o que achei muito estranho.Ele estava muito solícito e passava bastante tempo olhando para a Nina, mas não vou julgar, afinal, ela é muito linda, parecendo até uma boneca de tão perfeita. Às vezes, até eu fico admirando.— Então, quer me entregar a Nina? Eu posso ficar com a menininha mais linda do mundo — ele falou de forma boba — E você pode ir comprar os materiais escol
William RodriguesMais um dia de luta como sempre. Acordo às três da manhã, me arrumo e tomo um copo de café. Moro em uma pensão e divido o quarto com Manuel, meu amigo do orfanato. Viemos juntos do Ceará para cá há seis meses e até agora não encontrei emprego. Manuel trabalha em um mercadinho e paga o aluguel do quarto, mas não posso depender dele. Coloco meu currículo em vários locais todos os dias, às vezes arrumo bicos temporários, mas nada dura mais do que dois dias. Às vezes me arrependo de ter vindo para cá, mas meu maior sonho é trabalhar na FOS, a maior empresa de publicidade do país. Entrar lá é um desafio, mas no momento, só quero um emprego, qualquer um.Hoje tenho duas entrevistas e estou torcendo para desta vez conseguir um emprego.— Bom dia, Liam — a dona Marta me cumprimenta quando me vê. Sempre a ajudo com o carrinho de salgados em uma escola de ricos.— Bom dia, vovó Marta, vamos?— O que seria de mim sem um anjo como você — ela diz, empurrando o carrinho, e conver
William RodriguesAcordei cedo e me arrumei, não podia chegar atrasado no meu novo emprego. Saí de casa às três e meia da manhã, a casa dela fica longe, então tive que ir a pé por alguns quilômetros, depois peguei o metrô e, em seguida, o ônibus. Andei cerca de mais dois quilômetros e finalmente cheguei no condomínio chique onde a senhorita Priscila mora. — Bom dia — falei para o porteiro. E ele me respondeu até com um bom ânimo para as seis da manhã. — Sou William Rodrigues... — ele olhou um papel e sorriu. — O novo babá da cobertura? — Sim — falei e ele sorriu. — O elevador de serviço fica à esquerda — ele falou e fui para lá. Eram exatamente 6:20h da manhã. Peguei o elevador de serviço, estava um pouco nervoso para conhecer essa criança, só espero que ela seja calma. Assim que toquei a campainha, uma senhora com o braço quebrado abriu a porta, me dando espaço para entrar. — Como vai? Meu nome é Josefa — ela me cumprimentou estendendo a mão. — Tudo bem, eu sou o William, ma
William RodriguesDepois de me arrumar com uma roupa estilo chofe de madame, que ficou no tamanho certo, fui até o quarto dos santos diabinhos. Não posso desistir assim tão facilmente.Assim que cheguei no quarto, vi a Isabela chorando e me aproximei dela, que agarrava uma boneca de pano.— Por que você está chorando, princesa? — perguntei ao me aproximar.— Eu quero a minha mãe — ela falou chorando, e eu passei a mão em seu cabelo.— Você quer que eu ligue para sua mãe? — perguntei, mas ela apenas chorou mais — Não precisa chorar, princesa, a mamãe foi trabalhar. Você quer ir para a escolinha, brincar com os amiguinhos?— Eu não tenho amigos. Eu quero a mamãe e o papai — ela disse chorando, e entendi a dor de querer alguém que nunca mais veremos, ou que nem sequer conhecemos.— Se você não for, não vai fazer amigos...— E se eles nunca quiserem ser meus amigos? Eu gostava da minha outra casa, eu tinha amigos lá... eu quero voltar para a casa do papai.— Quer que eu te conte um segred