Priscila Barcella Depois de apresentar a campanha das fraldas BABYPOM, Max fez questão de me levar para conhecer o colégio. É uma instituição conceituada e muito bonita, com uma grade curricular que era o meu sonho na época da escola. No entanto, quando vi o valor que ficaria para os três, quase caí para trás. Mesmo assim, aceitei porque Max conseguiu uma bolsa de 50%, o que me permitiu matricular os três na mesma escola. Trata-se de um colégio tradicional britânico, e espero que um ambiente assim proporcione os limites e a educação de que eles precisam. Logo após sairmos da escola, Max se ofereceu para me ajudar, o que achei muito estranho.Ele estava muito solícito e passava bastante tempo olhando para a Nina, mas não vou julgar, afinal, ela é muito linda, parecendo até uma boneca de tão perfeita. Às vezes, até eu fico admirando.— Então, quer me entregar a Nina? Eu posso ficar com a menininha mais linda do mundo — ele falou de forma boba — E você pode ir comprar os materiais escol
William RodriguesMais um dia de luta como sempre. Acordo às três da manhã, me arrumo e tomo um copo de café. Moro em uma pensão e divido o quarto com Manuel, meu amigo do orfanato. Viemos juntos do Ceará para cá há seis meses e até agora não encontrei emprego. Manuel trabalha em um mercadinho e paga o aluguel do quarto, mas não posso depender dele. Coloco meu currículo em vários locais todos os dias, às vezes arrumo bicos temporários, mas nada dura mais do que dois dias. Às vezes me arrependo de ter vindo para cá, mas meu maior sonho é trabalhar na FOS, a maior empresa de publicidade do país. Entrar lá é um desafio, mas no momento, só quero um emprego, qualquer um.Hoje tenho duas entrevistas e estou torcendo para desta vez conseguir um emprego.— Bom dia, Liam — a dona Marta me cumprimenta quando me vê. Sempre a ajudo com o carrinho de salgados em uma escola de ricos.— Bom dia, vovó Marta, vamos?— O que seria de mim sem um anjo como você — ela diz, empurrando o carrinho, e conver
William RodriguesAcordei cedo e me arrumei, não podia chegar atrasado no meu novo emprego. Saí de casa às três e meia da manhã, a casa dela fica longe, então tive que ir a pé por alguns quilômetros, depois peguei o metrô e, em seguida, o ônibus. Andei cerca de mais dois quilômetros e finalmente cheguei no condomínio chique onde a senhorita Priscila mora. — Bom dia — falei para o porteiro. E ele me respondeu até com um bom ânimo para as seis da manhã. — Sou William Rodrigues... — ele olhou um papel e sorriu. — O novo babá da cobertura? — Sim — falei e ele sorriu. — O elevador de serviço fica à esquerda — ele falou e fui para lá. Eram exatamente 6:20h da manhã. Peguei o elevador de serviço, estava um pouco nervoso para conhecer essa criança, só espero que ela seja calma. Assim que toquei a campainha, uma senhora com o braço quebrado abriu a porta, me dando espaço para entrar. — Como vai? Meu nome é Josefa — ela me cumprimentou estendendo a mão. — Tudo bem, eu sou o William, ma
William RodriguesDepois de me arrumar com uma roupa estilo chofe de madame, que ficou no tamanho certo, fui até o quarto dos santos diabinhos. Não posso desistir assim tão facilmente.Assim que cheguei no quarto, vi a Isabela chorando e me aproximei dela, que agarrava uma boneca de pano.— Por que você está chorando, princesa? — perguntei ao me aproximar.— Eu quero a minha mãe — ela falou chorando, e eu passei a mão em seu cabelo.— Você quer que eu ligue para sua mãe? — perguntei, mas ela apenas chorou mais — Não precisa chorar, princesa, a mamãe foi trabalhar. Você quer ir para a escolinha, brincar com os amiguinhos?— Eu não tenho amigos. Eu quero a mamãe e o papai — ela disse chorando, e entendi a dor de querer alguém que nunca mais veremos, ou que nem sequer conhecemos.— Se você não for, não vai fazer amigos...— E se eles nunca quiserem ser meus amigos? Eu gostava da minha outra casa, eu tinha amigos lá... eu quero voltar para a casa do papai.— Quer que eu te conte um segred
Priscila Barcella Hoje seria o primeiro dia do babá e espero que ele consiga cuidar bem das crianças, pois preciso voltar à minha rotina normal. Não posso perder essa oportunidade de promoção na história da FOS, onde uma mulher nunca foi tão longe, provando que nós podemos. Mas para isso, é essencial que alguém cuide das crianças.Falando em crianças, a noite passada foi longa. Nina não saiu do meu seio por nada, estou exausta. Já passei tantas noites em claro, mas nunca me senti tão cansada. Ela parecia sugar a minha alma, e ainda tenho uma reunião marcada para as 07:30h com Max e o dono da padaria "Hora Pães", em uma de suas cafeterias.Estava com tanta pressa que mal olhei para o babá. A verdade é que nunca olho direito, a maioria dos meus funcionários trabalha comigo há anos, então sempre fiz questão de conhecê-los. Mas as babás, cansei de perder meu tempo. Na segunda, já sabia que não duraria muito, mas algo nele me intrigou. Quando entreguei Nina, ela não chorou. Pode ser egoís
Priscila Barcella O restante do caminho foi tranquilo, ouvindo música. Estacionei o carro perto da cafeteria e, ao sair com minha bolsa e pasta, percebi que ela estava toda grudenta. Peguei um lenço umedecido para limpar e entrei na cafeteria, onde logo avistei Max olhando para o relógio e para mim com um sorriso no rosto.— Desculpe pelo atraso de 5 minutos, foi por causa do trânsito — me justifiquei.— Não se preocupe, Priscila. Pensei que algo tivesse acontecido, já que você sempre chega antes do horário — respondeu ele com bom humor.— Desculpe, não vai se repetir... — comecei a me desculpar, e ele começou a rir.— Não estou reclamando, isso acontece. Eu também costumo me atrasar — admitiu Max, e eu achei estranho, mas era verdade que ele sempre se atrasava. — Onde está a pequenina?— Minha filha? — perguntei naturalmente, percebendo que tinha chamado Nina de filha.— Sim — respondeu ele com um sorriso encantador, levantando-se. — Já estou com saudades daquela fofura.— Nem me fa
Priscila BarcellaMas nada me preparou para aquela cena. Assim que abri a porta, meu mundo caiu. Eu simplesmente não podia acreditar no estado em que aquele lugar estava. Havia manchas de tinta no meu carpete e várias penas. Mas o que me chocou foi o estado do babá: ele estava cheio de penas e com farinha na cabeça. Ele segurava a minha bebê no colo, e a Nina estava chorando e completamente suja, enquanto a Isabela agarrava a perna dele com medo e suja. Foi então que vi a própria imagem do caos: a Iris tentava pegar algo, e o Ítalo estava tendo um ataque de raiva no sofá, com farinha espalhada no tapete e nos móveis.Tudo estava completamente sujo, e eu nunca tinha visto minha casa daquela forma.Não podia acreditar no que estava presenciando. Senti meu rosto queimar e uma raiva começou a tomar conta de mim. Como era possível? Eu havia conseguido a melhor escola para eles, e eles não foram. Tinham tudo o que eu queria quando era criança e se comportavam daquele jeito. Minha irmã não s
Priscila Barcella Josefa veio rapidamente e pôde ver Ana tentando entender do que se tratava a conversa.Eu estava tentando me recompor a Iris precisa aprender que o mundo não gira as vontades deles.— Sim, senhora — ela respondeu, vindo até a sala e ficando de boca aberta ao ver o estado em que tudo estava. — Não se preocupe, senhora. Vou pedir para limparem.— Não, eu só te chamei para você entregar o material de limpeza para eles. Quero a casa brilhando, quero os três com shorts, com os joelhos no chão, escovando com uma escova. Não é só a sala, quero que limpem cada cantinho que sujaram, cada manchinha — falei olhando para os três. — Depois, separe para mim alguns livros relacionados à série da Íris. Ela fará a leitura e, em seguida, quero uma redação com no mínimo 15 páginas escritas à mão. Por fim, quero uma dissertação sobre como devo tratar os superiores. E você, Italo, quero que escreva 500 vezes: "Eu não vou maltratar o meu babá".— As crianças vão limpar? — perguntou Josef