Priscila Barcella O restante do caminho foi tranquilo, ouvindo música. Estacionei o carro perto da cafeteria e, ao sair com minha bolsa e pasta, percebi que ela estava toda grudenta. Peguei um lenço umedecido para limpar e entrei na cafeteria, onde logo avistei Max olhando para o relógio e para mim com um sorriso no rosto.— Desculpe pelo atraso de 5 minutos, foi por causa do trânsito — me justifiquei.— Não se preocupe, Priscila. Pensei que algo tivesse acontecido, já que você sempre chega antes do horário — respondeu ele com bom humor.— Desculpe, não vai se repetir... — comecei a me desculpar, e ele começou a rir.— Não estou reclamando, isso acontece. Eu também costumo me atrasar — admitiu Max, e eu achei estranho, mas era verdade que ele sempre se atrasava. — Onde está a pequenina?— Minha filha? — perguntei naturalmente, percebendo que tinha chamado Nina de filha.— Sim — respondeu ele com um sorriso encantador, levantando-se. — Já estou com saudades daquela fofura.— Nem me fa
Priscila BarcellaMas nada me preparou para aquela cena. Assim que abri a porta, meu mundo caiu. Eu simplesmente não podia acreditar no estado em que aquele lugar estava. Havia manchas de tinta no meu carpete e várias penas. Mas o que me chocou foi o estado do babá: ele estava cheio de penas e com farinha na cabeça. Ele segurava a minha bebê no colo, e a Nina estava chorando e completamente suja, enquanto a Isabela agarrava a perna dele com medo e suja. Foi então que vi a própria imagem do caos: a Iris tentava pegar algo, e o Ítalo estava tendo um ataque de raiva no sofá, com farinha espalhada no tapete e nos móveis.Tudo estava completamente sujo, e eu nunca tinha visto minha casa daquela forma.Não podia acreditar no que estava presenciando. Senti meu rosto queimar e uma raiva começou a tomar conta de mim. Como era possível? Eu havia conseguido a melhor escola para eles, e eles não foram. Tinham tudo o que eu queria quando era criança e se comportavam daquele jeito. Minha irmã não s
Priscila Barcella Josefa veio rapidamente e pôde ver Ana tentando entender do que se tratava a conversa.Eu estava tentando me recompor a Iris precisa aprender que o mundo não gira as vontades deles.— Sim, senhora — ela respondeu, vindo até a sala e ficando de boca aberta ao ver o estado em que tudo estava. — Não se preocupe, senhora. Vou pedir para limparem.— Não, eu só te chamei para você entregar o material de limpeza para eles. Quero a casa brilhando, quero os três com shorts, com os joelhos no chão, escovando com uma escova. Não é só a sala, quero que limpem cada cantinho que sujaram, cada manchinha — falei olhando para os três. — Depois, separe para mim alguns livros relacionados à série da Íris. Ela fará a leitura e, em seguida, quero uma redação com no mínimo 15 páginas escritas à mão. Por fim, quero uma dissertação sobre como devo tratar os superiores. E você, Italo, quero que escreva 500 vezes: "Eu não vou maltratar o meu babá".— As crianças vão limpar? — perguntou Josef
William Rodrigues Não sei se foi reflexo ou sorte, mas ainda bem que consegui chegar até ela a tempo de segurá-la, caso contrário, a bebê teria se machucado. O que mais me chamou a atenção foi o olhar dela, além dos seus olhos azulados, havia algo indefinível neles. Ajudei-a a sentar no sofá e saí para tomar outro banho. Josefa me deu uma roupa de motorista para vestir, mas ficou muito grande e folgada. Fui para a sala com os cabelos ainda molhados, pensando que se não precisasse desse emprego, já teria ido embora. Ao chegar na sala, vi os três ajoelhados esfregando o chão com escovas, e a senhora Priscila não estava mais lá. Ajoelhei ao lado de Belinha, peguei a escovinha de sua mão e ela parecia prestes a chorar. Quando a ajudei a levantar, vi suas mãos e joelhos vermelhos. — Deixa eu te ajudar — falei, esfregando a mancha no tapete e estava muito difícil de sair. — Babá, por que você está me ajudando? Nós que fizemos isso e te machucamos — ela disse, com uma expressão triste,
Max Fos Eu voltei decidido a apagar a Priscila da minha vida, mas ao vê-la novamente, a dúvida me assombrou: estaria sendo um idiota ao querer excluí-la? Quando a vi com aquele bebê no colo, só tive uma certeza: sou pai, tenho uma filha linda. Conheço a Priscila, ela não vai admitir a verdade tão facilmente. Sempre foi meio egocêntrica e se achar que me afastar da nossa filha é o melhor para a Nina, jamais vai revelar a verdade. Sei que confrontá-la pode ser um tiro no meu pé, então preciso reconquistar a confiança dela aos poucos. Estava no apartamento da minha irmã, precisando desabafar. Cheguei da reunião na cafeteria e encontrei minha irmã sentada no sofá, assistindo televisão. — Chegou cedo — ela disse, e me joguei no outro sofá. — Reunião com a Frozen? — brincou. — Estava com a Priscila e dei mais uma mancada. Falei da mãe dela… — E o que tem demais em falar da mãe dela? Ou você xingou a mãe dela? — ela perguntou, se ajeitando e desligando a TV. — Nunca xingaria a mãe de
Wiliam Rodrigues Limpamos tudo calmamente, em meio a brincadeiras e risadas e foi até bom para conhecer o Italo e a Isabela.— Acabamos! — a Belinha anunciou, jogando-se em meus braços. Eu realmente tinha conquistado a menina, e ela, com seu jeito meigo, me conquistou também. Era diferente das outras crianças que já conheci. Eu sempre me dedicava a cuidar dos menores no orfanato, e com certeza faria o mesmo por eles. — Sim, acabamos — Ítalo concordou, se jogando no chão. — Mas temos que arrumar lá em cima ainda. A Cida está sempre com raiva da gente por causa da bagunça. — Viu que dá trabalho? — comentei, e nesse momento, a senhora Priscila surgiu descendo as escadas com a pequena Nina no colo. A bebê estava impecável em um macacão vermelho com um laço charmoso. Priscila, por sua vez, usava um vestido tubinho formal e chinelos. Era evidente que o salto alto estava a incomodando. Iris, logo atrás dela, revirou os olhos.— Pelo visto vocês conseguiram. Então vão já para o banho
Priscila Barcella Pedi para a Ana trazer a Nina para mamar antes de voltar para o trabalho. Queria evitar olhar para o babá. Não sei, mas algo naquele olhar me trouxe uma sensação que eu nunca senti, e não sei porquê isso me deixou aterrorizada. Sai para o trabalho sem nem me despedir das crianças. Só coloquei a Nina adormecida na cama. Eu até queria ficar lá com ela e dormir um pouquinho, mas tinha que trabalhar, e sinceramente, esta é a primeira vez que vou sem querer muito. Sai de casa e fui para a empresa. Foquei única e exclusivamente no trabalho. Pelo menos por duas horas tentei esquecer das crianças e do babá, e as horas se passaram tão rápido que eu nem senti. — Senhora, tem um senhor querendo te ver, disse ser sobre um bebê. — a nova secretária falou. — Certo, você pode trazer a minha bebê e a bolsa dela. — pedi, e ela assentiu, se retirando. Mas, quando ouvi o choro da Nina, me levantei e sai da minha sala o mais rápido possível. Assim que sai da sala, vi a nova secre
Priscila Barcella Nunca ninguém foi tão espontâneo perto de mim, não sei quando foi a última vez que alguém me abraçou assim como a Belinha, muito menos um beijo. A princípio não sabia o que fazer, mas logo a abracei de volta e dei um beijo na bochecha. A peguei no colo e coloquei ela sentada na cama, fui até o banheiro, peguei a Nina que estava na sua cadeirinha e as deixei na cama. — Fiquem aí às duas quietinhas que eu vou tomar banho — falei, e a Belinha sorriu para mim. Tomei banho rapidinho e me arrumei. Quando sai do banheiro, a Nina começou a reclamar. — Eu não fiz nada. — a Belinha falou levantando os braços como quem se rende. — Eu sei, né meu amor? Fala para a sua irmãzinha que você fica enjoadinha quando está longe dessa mamãe postiça — falei pegando a bebê no colo, que logo se calou. — Vamos, você tem que ir para a escola, meu amor. — Eu gostei disso — a Belinha falou me dando a mão. — Do que? — Meu amor, o babá estava certo, você não é uma bruxa malvada. — Você ac