Priscila Barcella Nunca ninguém foi tão espontâneo perto de mim, não sei quando foi a última vez que alguém me abraçou assim como a Belinha, muito menos um beijo. A princípio não sabia o que fazer, mas logo a abracei de volta e dei um beijo na bochecha. A peguei no colo e coloquei ela sentada na cama, fui até o banheiro, peguei a Nina que estava na sua cadeirinha e as deixei na cama. — Fiquem aí às duas quietinhas que eu vou tomar banho — falei, e a Belinha sorriu para mim. Tomei banho rapidinho e me arrumei. Quando sai do banheiro, a Nina começou a reclamar. — Eu não fiz nada. — a Belinha falou levantando os braços como quem se rende. — Eu sei, né meu amor? Fala para a sua irmãzinha que você fica enjoadinha quando está longe dessa mamãe postiça — falei pegando a bebê no colo, que logo se calou. — Vamos, você tem que ir para a escola, meu amor. — Eu gostei disso — a Belinha falou me dando a mão. — Do que? — Meu amor, o babá estava certo, você não é uma bruxa malvada. — Você ac
Priscila Barcella O caminho foi tranquilo. A Nina chorou um pouco, mas logo parou quando comecei a conversar com ela. Chegamos ao shopping, e ele a tirou da cadeirinha, pegando também a bolsa dela. Peguei minha bolsa, e fomos andando juntos.— O que você quer fazer primeiro? — ele perguntou.Eu simplesmente odiava não ter um plano. Sempre gostei de ter tudo organizado para não perder muito tempo.— Eles precisam de roupas, e temos que ver tintas e papéis de parede. Você acha que vamos demorar quantos dias para terminar? — perguntei, pensativa.— Sinceramente, não sei. Mas acho que dois dias. Você vai contratar um pintor?— Não, pensei em fazermos isso nós mesmos. Mas, se eu ver que não vai dar certo, eu contrato.— Certo, então vamos primeiro nas roupas? — ele sugeriu. — Acho que é o mais urgente, principalmente porque o frio está chegando e eles não estão acostumados — ele disse, e não argumentei, afinal, estamos em abril.— Sim, depois os móveis e as tintas, papéis de parede, essas
Priscila Barcella Passei a tarde toda no meu escritório. Assim que a Nina acordou, eu a trouxe para o escritório e pedi ajuda ao Sebastião para colocar o cercadinho dela. Já eram quase 20h quando recebi uma vídeo chamada do Max.— Oi, Priscila, você pode falar? — ele perguntou, e eu ajeitei o celular na mesa para poder ajeitar a Nina.— Oi, posso sim. Eu estava terminando a campanha daquela loja de móveis e analisando as que recebi da equipe.— Eu pensei que você ia tirar o dia para descansar.— Eu me distraio trabalhando e não quero acumular serviço, mas o que aconteceu?— Nada, eu só queria saber como você está. Você não é de pedir ajuda e notei ontem que você não estava bem. Na verdade, há dias eu noto isso.A porta do escritório abriu, e a Belinha entrou chorando, correndo até mim.— O que foi? — perguntei, preocupada.— A Íris me bateu — ela falou chorando e se agarrou ao meu colo.— Como assim a Íris te bateu?— Eu não queria tomar banho ainda porque eu gosto quando a senhora m
Priscila Barcella Eu já estava quase dormindo quando meu celular começou a tocar, e dei um jeito de sair e entrar no meu closet para não acordar as meninas.— Alô.— Está muito ocupada, amiga? — Era a Natália, e pelo jeito que ela estava falando, não estava muito bem.— Não, na verdade eu estava na cama, quase dormindo.— Às 11 da noite? — ela perguntou impressionada.— Sim, fui colocar as meninas para dormir e já estava quase dormindo, mas você não ia me ligar para perguntar se estou ocupada. Eu sei que você não está bem...— Nos conhecemos muito bem, né? — ela falou, suspirando. — Eu estou em São Paulo.— O que foi? Você brigou com o Ramon?— Como você sabe?— Eu te conheço. Não é qualquer um que te abala deste jeito — Priscila fez uma pausa, hesitando antes de continuar. — E você infelizmente ama muito aquele...— Vai falar o que do meu marido, Priscila?— Venha para cá. Não tenho como sair de casa; A Josefa, com seu entusiasmo contagiante, foi para o forró esta noite, e à noite e
Priscila Barcella No sábado, eu acordei com a cama vazia e levei um susto. Como a Nina não estava comigo, saí correndo da cama.— JOSEFA! — gritei, desesperada.Saí do quarto correndo, o coração disparado, chamando por Josefa. Quando alcancei a escada, meus olhos se fixaram em Isabela e Nina brincando tranquilamente no tapete da sala.Não sei por que pensei que alguém tinha levado minha bebê.— Senhora, aconteceu alguma coisa? — perguntou Josefa, preocupada, vindo da cozinha e enxugando as mãos em um pano de prato.— Eu quase morri do coração — admiti, sentando-me no tapete. Peguei Nina no colo e a abracei com força, sentindo um alívio profundo me invadir. — Acordar sem ela ao meu lado foi um susto terrível.— Você estava cansada, titia. Eu vi ontem — disse Isabela, e eu a abracei, beijando sua cabeça. Não imaginava que uma menininha de 4 anos fosse reparar nessas coisas.— Eu encontrei as duas brincando no outro quarto e as trouxe para cá. Achei estranho, mas... — começou Josefa.—
Priscila Barcella Ao entrar no meu quarto, avistei a Belinha e a Josefa, rindo e brincando animadamente com uma boneca de pano. O som de suas risadas ecoava pelo ambiente, trazendo uma sensação momentânea de paz.— Titia, você está bem? — A voz suave de Belinha, com um toque de preocupação infantil, interrompeu meus devaneios. Ela se aproximou, segurando minha mão, os olhos grandes e questionadores refletindo a inocência e o cuidado que sempre me desconcertavam.— Estou — menti, forçando um sorriso enquanto minha mente vagava longe.— Josefa, vou sair com as meninas. Pode tirar o dia para você, volto só perto do jantar. Avise a Ana também.Josefa me lançou um olhar cheio de preocupação antes de sair. Afundei na cama, os olhos fixos no vazio. Belinha, com toda sua energia, exibiu o macacão e a blusa rosa que havia escolhido, mas sua voz parecia distante, perdida no eco dos meus pensamentos tumultuados.Belinha falava animadamente, mas meus pensamentos retornavam às palavras de Max. Er
Priscila Barcella Eu fiquei muito calada o resto do dia, e a Natália percebeu que eu precisava desse tempo. Quando voltei para casa, entrei com a Nina para deixá-la com o babá e nem falei com ele. Só deixei as meninas e saí. Peguei o meu carro e dirigi até um lugar afastado onde fazia anos que eu não vinha. Estava longe da confusão de São Paulo, mas ao mesmo tempo podia ver as luzes e o agito no horizonte. O céu estava começando a escurecer, pintado com tons de laranja e roxo, criando um cenário melancólico que combinava com meu estado de espírito. Quando cheguei no meu canto, vi um homem lá sentado, sua silhueta desenhada pela luz suave do crepúsculo. Já estava pronta para ir embora quando reconheci a voz. — Priscila — chamou Max, com um tom calmo e acolhedor, sorrindo quando me virei. — Sério que até aqui? Você está me perseguindo? — perguntei, cruzando os braços e estreitando os olhos. Ele revirou os olhos em resposta. — Até onde eu sei, fui eu quem te trouxe aqui pela pr
Priscila Barcella Não dormi preocupada com as minhas meninas, sentindo o peso da responsabilidade esmagando meu peito. Era como se cada suspiro delas fosse um lembrete da minha necessidade de ser forte.Ainda bem que comprei as fraldas para a Belinha, pois ela só não fez xixi na cama porque estava usando-as. Quando a Nina acordou, eu dei um banho nela e a arrumei.A Belinha acordou com o barulho, e resolvi arrumá-la também com a roupa que estava no meu quarto. Coloquei uma calça e uma blusa de botão e saí com as meninas antes das 7 da manhã. O sol ainda estava nascendo, tingindo o céu com tons suaves de rosa e laranja, enquanto uma brisa fresca trazia o cheiro de terra molhada.A Belinha ainda estava meio sonolenta; coloquei ela e a Nina nas cadeirinhas e fiquei esperando a Natália e o Henrique, que não demoraram a chegar.— Não vai ser difícil para você me levar em casa? — ela perguntou enquanto eu colocava a bagagem dela no porta-malas do carro e, em seguida, o Henrique, que também