Desculpa a demora, vou tentar ser mais rápida
Max Fos Fiquei com as minhas filhas até a hora em que o Marcelo chegou da escola. Hoje, ele parecia mais animado do que o normal.— Tio! — Ele gritou assim que entrou, os olhos brilhando, o corpo pulando sutilmente no mesmo lugar, como se a energia precisasse sair de algum jeito.Sorri, já acostumado com essa recepção calorosa.— Oi, amigão. Como foi a escola hoje? — perguntei, mantendo o tom de voz leve, sem pressa, sabendo que ele gostava de responder no seu próprio ritmo.Ele mexeu os dedos no ar, como se estivesse contando algo invisível, antes de falar:— Foi muito divertido! Eu fiz uma amiga. A Ayumi. — Ele pausou, franzindo levemente a testa, organizando os pensamentos antes de continuar. — Ela gosta de EA Sports FC 25! E disse que eu posso jogar na casa dela!O entusiasmo na voz dele era contagiante, mas o que mais me chamou atenção foi o jeito como seus olhos brilhavam. Ele olhava para a estante de jogos, os dedos se mexendo no ar, como se estivesse revivendo a conversa com
Max Fos Saí de casa com o peito ardendo, a raiva pulsando tão forte que parecia um tambor incessante dentro de mim. Minhas mãos tremiam ao girar a chave na ignição, e o carro rugiu como se respondesse à tempestade dentro de mim. O ar parecia denso, pesado, como se o próprio mundo conspirasse para me sufocar.A imagem de Marina — não, ela não merecia mais que eu a chamasse de mãe — invadia minha mente como um fantasma que eu nunca conseguiria exorcizar. Seu sorriso sempre tranquilo, seu olhar afetuoso, seu toque delicado… tudo agora se revelava uma farsa grotesca, um teatro bem ensaiado para esconder a monstruosidade que pulsava por trás de cada palavra mansa.Eu confiava nela.Eu a amava.E ela matou minha filha.Ela destruiu um pedaço de mim antes mesmo de eu saber que existia.A lembrança desse crime me atravessava como uma lâmina quente, queimando até os ossos. O celular tremia na minha mão enquanto eu bloqueava cada cartão ao qual ela tinha acesso. Cada clique era uma sentença, c
Priscila BarcellaDepois do banho e de finalmente conseguir me acalmar um pouco, vesti uma roupa confortável e prendi o cabelo ainda úmido em um coque frouxo. Liam fez o mesmo, e descemos juntos para o almoço.Assim que entramos na cozinha, parei no meio do caminho, estreitando os olhos.As crianças já estavam sentadas à mesa, todas arrumadas, sem vestígios dos uniformes. A comida fumegava nos pratos, e o cheiro do tempero caseiro preenchia o ambiente. Até aí, tudo normal. O estranho era o comportamento deles.Quietos demais. Comendo direitinho demais. Sem brigas, sem implicâncias, sem nenhuma tentativa de fugir dos legumes.Isso só podia significar uma coisa: estavam aprontando alguma.Cruzei os braços e os encarei um por um. Íris desviou o olhar, fingindo estar concentrada no prato. Ítalo tomou um longo gole de suco, como se quisesse desaparecer atrás do copo. Mas Belinha… bem, Belinha era a única que parecia alheia a tudo.— Mamãe! — exclamou animada, saindo da cadeira e correndo a
Rafaela Carvalho O mundo ao meu redor parecia um borrão indistinto, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. O zunido do motor do carro ressoava alto, mas o único som que realmente ecoava dentro de mim era o martelar frenético do meu coração. Minhas mãos ainda tremiam. O peso da minha bebê em meus braços era real, quente, mas nem mesmo o calor do corpinho frágil de Laurinha conseguia me ancorar no presente. O medo enroscava-se na minha garganta como uma corrente invisível, apertando, sufocando. A simples ideia de que Max pudesse estar gravemente ferido me deixava à beira do desespero. Eu não sabia de nada. Não sabia se ele estava consciente. Se estava respirando. Se estava... Fechei os olhos com força, tentando afastar os pensamentos catastróficos. O pânico consumia cada parte de mim, uma chama devoradora que subia pelo meu peito, queimando. — Rafa, olha pra mim. — A voz de Priscila soou firme, mas carregada de um carinho que eu não sabia se mereci
Priscila BarcellaFoi bom demais ver que o Max estava bem. Eu vinha me culpando tanto pelo acidente, sentindo um peso esmagador no peito, mas vê-lo ali, inteiro, apesar de tudo, me trouxe um alívio que nem sabia que precisava.Me acomodei no sofá ao lado de Liam, observando Josefa com Laurinha no colo e Léo brincando com Nina. Os dois eram avós babões de um jeito que aquecia o coração. A cena me fez sorrir, mesmo com tudo ainda embaralhado na minha mente.Suspirei, encostando a cabeça no peito de Liam. O calor do seu abraço foi imediato, forte e seguro, e por um segundo fechei os olhos, tentando absorver aquela sensação.— Ainda bem que ele não teve nada grave… — minha voz saiu baixa, um misto de alívio e culpa. — Mas eu deveria ter contado sobre a Mavie antes. Se eu tivesse dito a verdade, nada disso teria acontecido.Liam deslizou os dedos suavemente pelo meu braço, seu toque gentil contrastando com o peso das minhas palavras.— Você não pode carregar essa culpa, Pri. O que acontece
Priscila Barcella Era mais um dia normal. Como sempre, acordo às 6:23 da manhã, levo aproximadamente 20 minutos para me arrumar e escolho roupas que transmitam o quanto sou poderosa.Saio do meu quarto preparada para enfrentar o mundo machista das torres de metal.Assim que chego no andar inferior, vejo a minha governanta terminando de organizar o meu café da manhã na mesa da sala de jantar, junto com duas funcionárias. Gosto das coisas sempre perfeitamente alinhadas, e ela me conhece muito bem.Antes de chegar à mesa, olho pela grande janela de vidro da minha cobertura, de onde posso ver a enorme cidade cinza. Assim como lá fora, dentro do meu apartamento a decoração é toda em tons frios, pois tenho um amor pelo tom cinza e não queria nada convidativo.Quem gosta e tem peso morto é a minha irmã. Eu nunca a entendi, a Barcella sempre se contentou com pouco. Diferente de mim, ela não foi para a faculdade e muito menos quis sair daquele lugar no meio do nada. Na primeira oportunidade q
Priscila Barcella Depois de um voo de três horas e meia, aluguei um carro e dirigi por mais cinco horas, finalmente chegando em um pequeno povoado do município de Santo Antônio dos Milagres. A estrada era de terra e parecia que o tempo naquele lugar passava em câmera lenta e pouquíssimas coisas tinham mudado em 16 anos. As casas eram simples e a única diferença era nos fios de energia e novas construções, mas mesmo assim parecia existir apenas uma rua e uma praça como novidade.Fui devagar pela estrada de terra batida até chegar na casinha onde crescemos. Pouquíssimas coisas tinham mudado, mas a única diferença era que, além do reboco, a pequena casa estava pintada de branco, que já estava amarelada, com dois quartos. Apesar de ser bem diferente da minha cobertura, estar naquele lugar me causava arrepios, como se as paredes pudessem falar ou apenas de ver sentir os arrepios pelo meu corpo me pedindo para fugir daquele lugar.A casa estava cheia, e respirei fundo antes de sair do carr
Priscila Barcella — O que eu faço com o bebê? — perguntei a mim mesma, sem saber o que fazer. Assim que entrei no quarto, coloquei-a na cama e a cercou de travesseiros, pois precisava tomar um banho. Fui para o banheiro e deixei a água tirar o suor e, junto com ele, as lágrimas. Eu precisava manter uma postura firme, mas minha irmã era toda a família que eu tinha. Enquanto começava a me ensaboar, ouvi um chorinho que se intensificava a cada minuto. Sem saber o que fazer, parei o banho, coloquei uma toalha rapidamente e peguei o bebê no colo, mesmo ainda estando molhada. — Eu não sou a mamãe — falei quando ela tentou pegar meus seios desesperadamente. Ela estava com fome e eu não tinha o que ela queria. Mesmo sendo uma e meia da manhã, decidi ligar para Natália, minha única amiga que sempre me ajudava. Embora não nos víssemos muito desde que ela se casou, teve filhos e se mudou para o litoral, ela sempre arranjava tempo para se envolver na minha vida, principalmente na parte am