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Capítulo 1

Priscila Barcella

Depois de um voo de três horas e meia, aluguei um carro e dirigi por mais cinco horas, finalmente chegando em um pequeno povoado do município de Santo Antônio dos Milagres. A estrada era de terra e parecia que o tempo naquele lugar passava em câmera lenta e pouquíssimas coisas tinham mudado em 16 anos. As casas eram simples e a única diferença era nos fios de energia e novas construções, mas mesmo assim parecia existir apenas uma rua e uma praça como novidade.

Fui devagar pela estrada de terra batida até chegar na casinha onde crescemos. Pouquíssimas coisas tinham mudado, mas a única diferença era que, além do reboco, a pequena casa estava pintada de branco, que já estava amarelada, com dois quartos. Apesar de ser bem diferente da minha cobertura, estar naquele lugar me causava arrepios, como se as paredes pudessem falar ou apenas de ver sentir os arrepios pelo meu corpo me pedindo para fugir daquele lugar.

A casa estava cheia, e respirei fundo antes de sair do carro. Pedi coragem e dei ré indo até o pequeno cemitério ali perto.

Ele, diferente da minha antiga casa, me trazia alívio e como estava vazio, não demorei a ir até o túmulo da minha mãe e me sentei em cima dele.

— Oi mainha — falei, mas perdi a minha voz quando vi o túmulo da minha irmã ainda recém mexido. — Isso não é justo.

Falei tentando não chorar, eu não podia demonstrar fraqueza.

— Estou conseguindo, sabe mainha, estou vencendo na vida como eu te prometi, e sem chorar, eu não vou ser fraca — falei olhando para uma pequena foto e peguei o meu celular para tirar uma foto, não era nítido, mas conseguia ver alguma coisa. — Eu não lembrava como era o seu rosto, como a senhora era linda, cuida da Pilar, por favor. — uma lágrima teimosa insistia em cair, mas logo a limpei.

Voltei para o carro pouco tempo depois e precisei me recompor para voltar para aquele lugar.

Ao descer do carro, sujei meu salto em uma bolsa de lama, o que me deixou irritada, afinal, meu salto com certeza custava mais do que todos os bens daquela casa. A expressão de surpresa das pessoas ao me ver era clara. Haviam cerca de dez pessoas na porta e mais algumas na sala. Tirei meus óculos de sol, e uma menininha de cabelos castanhos, com um vestidinho simples, correu até mim com um sorriso enorme no rosto.

— Mainha, eu sabia que você não tinha morrido — a menininha falou correndo até mim e me abraçando. Eu simplesmente paralisei naquele momento, não estou acostumada com crianças, muito menos com abraços.

— Isabela, está aí, não é a mainha — disse uma garota que com certeza era a Iris, a filha da minha irmã, ela parecia muito com a minha irmã.

— Iris — falei quase em um sussurro.

— O que você veio fazer aqui, Priscila? — a vizinha e amiga da minha irmã perguntou. Eu nunca fui com a cara dessa garota e sinceramente não queria ver ninguém, mas todos os olhares estavam em mim.

— Oi, Amanda. Eu vim por causa dos meus sobrinhos — respondi. Ela tentou me olhar com desdém, mas eu a observei de cima a baixo. Realmente, esses anos não foram gentis com ela.

— Nós podemos cuidar deles — uma senhora disse. Eu a conhecia, e ela nunca me ajudou. — Eles não merecem viver como uma pessoa como você — ela falou tentando pegar a Isabela, que ainda estava segurando a minha perna.

— Priscila — ouvi meu nome em murmúrios, as pessoas me olhavam como se eu fosse um animal de zoológico. Eu simplesmente odiava isso.

— Então você é a Priscila — uma senhora de uns quarenta anos, um pouco acima do peso e baixa, falou. Eu não a conhecia. — Sou Samara, a assistente social responsável pelo caso dos seus sobrinhos. Falei com a sua secretária sobre o assunto.

— Sim, minha secretária já me explicou a situação. Podemos conversar em particular? — perguntei, e entramos no quarto que eu e minha irmã dividíamos. Agora, havia duas beliches e vários desenhos na parede.

Eu já estava ficando sufocada naquele lugar. Eu prometi a mim mesma que jamais voltaria ali, e nunca quebrei uma promessa.

— Sua secretária disse que viria para levar as crianças e explicou que você não poderia ficar aqui...

— Eu realmente sou a única parente deles? — perguntei, ainda incrédula. Ela fez que sim com a cabeça. — Eu sinceramente não sou a pessoa certa para cuidar de crianças. Eu trabalho muito, não tenho tempo para outro ser vivo.

— Se você não quer ou não pode, é um direito seu. Ninguém está te obrigando a nada. Preciso da sua decisão. Se não puder, eles serão levados hoje mesmo para o abrigo. Infelizmente, não posso mantê-los no mesmo lugar, pois têm idades diferentes e os abrigos mais próximos estão no limite. Hoje, há crianças demais no sistema, e, sinceramente, para os menores terem chance de serem adotados, seria a melhor opção — ela começou a me explicar.

Mesmo não suportando a ideia de ter crianças em minha vida, não podia separá-los. Eu devia isso à minha irmã.

— Os vizinhos querem cuidar das crianças e...

— Senhorita Alcântara, você cresceu nesta comunidade. Quando sua mãe morreu, você era muito pequena. Nos laudos, não conseguimos encontrar a idade de vocês, mas essas pessoas ajudaram de alguma forma? — ela falou, como se soubesse de algo a mais.

Sinceramente, se eu fosse sem eles, estaria deixando essas criaturas à própria sorte.

— Se as crianças não ficarem com você, a única opção que terão é um abrigo. Vou entender se você não quiser cuidar dos quatro.

Tive que tomar uma decisão. Eu nem sabia que minha irmã tinha quatro filhos, e ainda estava em choque. Só me perguntava como seria agora. Ela não poderia ter tido um pingo de juízo antes de trazer tantas crianças ao mundo. Quatro filhos não são o mesmo que quatro peixinhos dourados.

— Crianças, agora vocês vão ficar com a tia Priscila. Ela será responsável por vocês — Samara explicou para eles, que me olhavam. Havia uma adolescente, um menino de oito anos chamado Ítalo, que me olhava como se esperasse algo, e a pequena Isabela, que me lembrava muito a Pilar. Faltava apenas a Nina. Eu teria que aprender esses nomes.

Naquele momento, ouvi um choro de bebê e só esperava que não fosse a sobrinha que faltava. Caminhei na direção do choro, mas parei na porta do quarto. Simplesmente não conseguia entrar. A assistente social pegou a bebê, que era linda e estava vermelha. Quando ela me viu, parou de chorar por um momento. Fiquei com medo, algo que não sentia há muito tempo. A assistente tentou fazer com que eu a pegasse no colo, mas não sou boa com bebês, e ela parecia tão frágil. Por fim, acabei segurando meio sem jeito, ela ainda era meio molinha, mas a Samara me ajudou, pois quase a deixei cair. Eu só tinha pego um bebê no colo uma vez, e isso já fazia muito tempo.

— É bom conversar com ela, isso a acalma — a assistente social disse, saindo e me deixando sozinha com aquele projeto de gente.

— Oi, eu sou sua tia. Sei que não nos conhecemos, só espero que tudo dê certo — falei para a bebê, que tentava pegar meu seio.

Samara voltou com uma mamadeira e me mostrou como dar o leite. Tentei alimentá-la, mas parecia uma tarefa impossível. Vi ali que não seria fácil.

Como eu morava longe e não pretendia passar a noite naquele lugar. Sinceramente, não queria passar nem mais um minuto ali.

— Crianças, vão arrumar suas coisas — foi a única coisa que disse para os três.

— Tia — a pequena disse baixinho, abraçada no irmão, enquanto eu tentava dar leite para o bebê no meu colo.

— Oi, vocês não sabem arrumar suas coisas? — perguntei a ela, já sem paciência para o choro do bebê.

— Para onde vamos? — o menino perguntou.

— Vamos para minha casa. Agora, arrumem suas coisas e sem mais perguntas. Isis, ajude seus irmãos.

— É Iris, tia.

— Tanto faz, só se apressem. Temos que pegar um voo. Tenho uma reunião importante amanhã que não posso adiar. Vocês têm dois minutos a partir de agora — falei, e eles correram para arrumar suas coisas.

Fiquei na sala com o bebê que não parava de chorar e não comia. Estava ficando louca. Não aguentava passar nem mais um minuto naquele lugar. Depois de dois minutos, comecei a chamá-los, e eles vieram correndo com suas mochilas. Isabela estava agarrada a uma boneca de pano.

— Pegaram tudo? — perguntei, questionando o tamanho das mochilas.

— Faltam só as coisas da Nina. Vou pegar, mas podemos nos despedir? — Barcella perguntou.

— Se for rápido, sim. Agora, vão logo — falei, e eles saíram.

E como era esperado foi aquele choro sem fim, se despedindo dos vizinhos, e não demorei para colocar a cadeirinha do bebê no carro, depois de ver um tutorial na internet e minha sorte era que a minha irmã tinha uma.

— Você não deveria levar eles assim — a Amanda falou pegando a bebê do meu colo e dando o próprio o seio, o que fez ela se acalmar.

— Então fique com eles cri os quatro que eu mando o dinheiro — falei e ela se espantou este povo acha mesmo que eu tô aqui feliz da vida fazendo isso, até parece que eu quero quatro âncoras na minha vida.

— Só não fico porque eu tenho cinco filhos e as coisas não tão fáceis, mas eles acabaram de perder os pais e você vai os levar para longe pensar neles você deveria...

— Eu não deveria nada, eu estou fazendo uma favor em levar eles, e não se preocupe quando eles tiverem idade e quiserem volta eles vão fazer isso, agora só me deixa em paz — falei e ela se afastou sentada com a menina em uma cadeira na porta de casa.

Levou o tempo até longo para eles se despedirem, mas não reclamei porque a bebê estava se alimentando e quando a Amanda terminou me entregou a menina dormindo e a coloquei no bebê conforto, os outros mesmo precisando de cadeirinhas eu não tinha e só estava torcendo para não ser parados.

Finalmente saímos daquela cidade, o caminho foi completamente em silêncio da minha parte, mesmo eles chorando, mas eu tentei ignorar isso, é bom chorar limpa a alma, quando chegamos em Teresina, e pode ver eles encantados com certeza nunca tinham conhecido a capital, e como eu precisava resolver umas questões aluguei um quarto de hotel.

Pedi o jantar enquanto tentava comprar as passagens já que si estava tendo voos com muitas escolas demoradas e precisava pegar os documentos então o jeito era dormi ali e ir no outro dia cedo.

Eu praticamente não dormi e sair muito cedo para onde precisava ir de acordo com a assistente social e depois de duas horas já estava com os documentos e a guarda provisória, comprei as passagens, e para a minha tristeza a bebê acordou e tive que ficar balançando ela, tentando fazer ela comer, mas não tive sucesso, fui até uma farmácia comprei outras mamadeiras e uma chupeta para ver se ajudava a calar a boca desta menina.

Precisei comprar uma roupa para mim, e fiz o mesmo trazendo uma roupa para cada e quando cheguei no aeroporto eu já estava louca com aquela menina chorando.

— Me de ela — a íris pediu e eu a entreguei, já não sabia o que fazer, mas pelo jeito ela também não obteve sucesso, e ela cansou e me devolveu, a pequena tentava a todo custo pegar o meu seio, e sinceramente não entendia como um ser tão pequeno podia ter uma garganta tão potente ela só tem dois meses não deveria ter tanta força nas cordas vocais.

Vinte minutos depois, entramos na sala de embarque e a menorzinha está agarrada nas minhas pernas com medo, eles nunca tinham viajado de avião e estão nervosos, eu realmente não tinha noção do que estava fazendo, só queria acorda desse pesadelo.

Segurei a mão da pequena com a bebê no colo, logo atrás está o Ítalo e a Iris, eles olham para tudo e para todos, dando as mãos bem apertadas.

Por fim entramos no avião, nunca pensei que fosse ser tão difícil viajar com crianças, e muito menos que ira receber tantos olhares tortos por causa do bebê que só parou de chorar quando dormiu que foi exatamente quando o avião pousou em Brasília onde ficamos por três horas esperando o próximo vôo, as maiores foram comer e a pequena não aceitava por nada a mamadeira. O segundo vôo foi ainda pior que o primeiro, ela não parava de chorar.

Já tinha avisado a Joyce a hora que ia chegar para mandar o meu motorista, já eram quase uma hora da manhã eles pareciam cansados, a Isabela mesmo entrou no carro e dormiu logo em seguida.

Demorou um pouco para chegarmos no edifício onde moro, pedi para o Sebastião (o motorista) levar a Isabela enquanto estou com a bebê no meu colo, ela finalmente tinha adormecido e não havia comido nada e estou preocupada, eu nunca quis filhos porque sempre soube que sou péssima com crianças, agora eu tenho que cuidar de quatro e não faço ideia do que fazer, como será daqui para frente.

— Onde coloco ela? — o Sebastião pergunta.

— No último quarto do corredor esquerdo — falei

— A Senhora quer que eu acorde a Josefa.

— Não de maneira nenhuma já está muito tarde, coloca a menina na cama e pode ir para sua casa e tira a manhã para descansar.

— Obrigado senhora Barcella.

— Você mora aqui? — o menino falou olhando pela janela, e depois correu se jogando no meu sofá. — Você não tem televisão, não — ele falou indo até a minha parede e tocou em um botão e a tela virou mudando a televisão apareceu. —Uau olha o tamanho desta televisão Iris.

— Por favor não toquem em nada, a maioria destas peças são mais cara que os rins de vocês e eu não suporto marca de dedinhos, e já está muito tarde já passou da hora de vocês irem dormir, e vamos deixar bem claro uma coisa você não pode de maneira nenhuma mexer em nada sem pedir autorização antes — falei para eles e o menino abraçou as pernas da irmã e parecia ter se assustado. — Vamos podem subir que vou mostrar onde você vai ficar.

Subi as escadas com as crianças, deixei eles no quarto de hóspedes, lá possui apenas uma cama de casal, mas para quem dormia naquele quarto minúsculo está de bom tamanho, e eles ainda têm sorte deu ter este quarto com móveis a maioria dos cômodos estão vazios eu não gosto de visitas.

— Já está tarde, vocês se ajeitem aqui, depois resolvemos como vai ficar. Eu tenho uma reunião importante, então vocês vão ficar com a Josefa, ela é minha governanta, quando chegar vou passar as regras da casa, espero que o tempo que vocês passem aqui seja calmo e sem nenhuma confusão — falei antes de sair do quarto e ir para o meu com aquele bebê.

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Continua...

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