Priscila BarcellaMas nada me preparou para aquela cena. Assim que abri a porta, meu mundo caiu. Eu simplesmente não podia acreditar no estado em que aquele lugar estava. Havia manchas de tinta no meu carpete e várias penas. Mas o que me chocou foi o estado do babá: ele estava cheio de penas e com farinha na cabeça. Ele segurava a minha bebê no colo, e a Nina estava chorando e completamente suja, enquanto a Isabela agarrava a perna dele com medo e suja. Foi então que vi a própria imagem do caos: a Iris tentava pegar algo, e o Ítalo estava tendo um ataque de raiva no sofá, com farinha espalhada no tapete e nos móveis.Tudo estava completamente sujo, e eu nunca tinha visto minha casa daquela forma.Não podia acreditar no que estava presenciando. Senti meu rosto queimar e uma raiva começou a tomar conta de mim. Como era possível? Eu havia conseguido a melhor escola para eles, e eles não foram. Tinham tudo o que eu queria quando era criança e se comportavam daquele jeito. Minha irmã não s
Priscila Barcella Josefa veio rapidamente e pôde ver Ana tentando entender do que se tratava a conversa.Eu estava tentando me recompor a Iris precisa aprender que o mundo não gira as vontades deles.— Sim, senhora — ela respondeu, vindo até a sala e ficando de boca aberta ao ver o estado em que tudo estava. — Não se preocupe, senhora. Vou pedir para limparem.— Não, eu só te chamei para você entregar o material de limpeza para eles. Quero a casa brilhando, quero os três com shorts, com os joelhos no chão, escovando com uma escova. Não é só a sala, quero que limpem cada cantinho que sujaram, cada manchinha — falei olhando para os três. — Depois, separe para mim alguns livros relacionados à série da Íris. Ela fará a leitura e, em seguida, quero uma redação com no mínimo 15 páginas escritas à mão. Por fim, quero uma dissertação sobre como devo tratar os superiores. E você, Italo, quero que escreva 500 vezes: "Eu não vou maltratar o meu babá".— As crianças vão limpar? — perguntou Josef
William Rodrigues Não sei se foi reflexo ou sorte, mas ainda bem que consegui chegar até ela a tempo de segurá-la, caso contrário, a bebê teria se machucado. O que mais me chamou a atenção foi o olhar dela, além dos seus olhos azulados, havia algo indefinível neles. Ajudei-a a sentar no sofá e saí para tomar outro banho. Josefa me deu uma roupa de motorista para vestir, mas ficou muito grande e folgada. Fui para a sala com os cabelos ainda molhados, pensando que se não precisasse desse emprego, já teria ido embora. Ao chegar na sala, vi os três ajoelhados esfregando o chão com escovas, e a senhora Priscila não estava mais lá. Ajoelhei ao lado de Belinha, peguei a escovinha de sua mão e ela parecia prestes a chorar. Quando a ajudei a levantar, vi suas mãos e joelhos vermelhos. — Deixa eu te ajudar — falei, esfregando a mancha no tapete e estava muito difícil de sair. — Babá, por que você está me ajudando? Nós que fizemos isso e te machucamos — ela disse, com uma expressão triste,
Max Fos Eu voltei decidido a apagar a Priscila da minha vida, mas ao vê-la novamente, a dúvida me assombrou: estaria sendo um idiota ao querer excluí-la? Quando a vi com aquele bebê no colo, só tive uma certeza: sou pai, tenho uma filha linda. Conheço a Priscila, ela não vai admitir a verdade tão facilmente. Sempre foi meio egocêntrica e se achar que me afastar da nossa filha é o melhor para a Nina, jamais vai revelar a verdade. Sei que confrontá-la pode ser um tiro no meu pé, então preciso reconquistar a confiança dela aos poucos. Estava no apartamento da minha irmã, precisando desabafar. Cheguei da reunião na cafeteria e encontrei minha irmã sentada no sofá, assistindo televisão. — Chegou cedo — ela disse, e me joguei no outro sofá. — Reunião com a Frozen? — brincou. — Estava com a Priscila e dei mais uma mancada. Falei da mãe dela… — E o que tem demais em falar da mãe dela? Ou você xingou a mãe dela? — ela perguntou, se ajeitando e desligando a TV. — Nunca xingaria a mãe de
Wiliam Rodrigues Limpamos tudo calmamente, em meio a brincadeiras e risadas e foi até bom para conhecer o Italo e a Isabela.— Acabamos! — a Belinha anunciou, jogando-se em meus braços. Eu realmente tinha conquistado a menina, e ela, com seu jeito meigo, me conquistou também. Era diferente das outras crianças que já conheci. Eu sempre me dedicava a cuidar dos menores no orfanato, e com certeza faria o mesmo por eles. — Sim, acabamos — Ítalo concordou, se jogando no chão. — Mas temos que arrumar lá em cima ainda. A Cida está sempre com raiva da gente por causa da bagunça. — Viu que dá trabalho? — comentei, e nesse momento, a senhora Priscila surgiu descendo as escadas com a pequena Nina no colo. A bebê estava impecável em um macacão vermelho com um laço charmoso. Priscila, por sua vez, usava um vestido tubinho formal e chinelos. Era evidente que o salto alto estava a incomodando. Iris, logo atrás dela, revirou os olhos.— Pelo visto vocês conseguiram. Então vão já para o banho
Priscila Barcella Pedi para a Ana trazer a Nina para mamar antes de voltar para o trabalho. Queria evitar olhar para o babá. Não sei, mas algo naquele olhar me trouxe uma sensação que eu nunca senti, e não sei porquê isso me deixou aterrorizada. Sai para o trabalho sem nem me despedir das crianças. Só coloquei a Nina adormecida na cama. Eu até queria ficar lá com ela e dormir um pouquinho, mas tinha que trabalhar, e sinceramente, esta é a primeira vez que vou sem querer muito. Sai de casa e fui para a empresa. Foquei única e exclusivamente no trabalho. Pelo menos por duas horas tentei esquecer das crianças e do babá, e as horas se passaram tão rápido que eu nem senti. — Senhora, tem um senhor querendo te ver, disse ser sobre um bebê. — a nova secretária falou. — Certo, você pode trazer a minha bebê e a bolsa dela. — pedi, e ela assentiu, se retirando. Mas, quando ouvi o choro da Nina, me levantei e sai da minha sala o mais rápido possível. Assim que sai da sala, vi a nova secre
Priscila Barcella Nunca ninguém foi tão espontâneo perto de mim, não sei quando foi a última vez que alguém me abraçou assim como a Belinha, muito menos um beijo. A princípio não sabia o que fazer, mas logo a abracei de volta e dei um beijo na bochecha. A peguei no colo e coloquei ela sentada na cama, fui até o banheiro, peguei a Nina que estava na sua cadeirinha e as deixei na cama. — Fiquem aí às duas quietinhas que eu vou tomar banho — falei, e a Belinha sorriu para mim. Tomei banho rapidinho e me arrumei. Quando sai do banheiro, a Nina começou a reclamar. — Eu não fiz nada. — a Belinha falou levantando os braços como quem se rende. — Eu sei, né meu amor? Fala para a sua irmãzinha que você fica enjoadinha quando está longe dessa mamãe postiça — falei pegando a bebê no colo, que logo se calou. — Vamos, você tem que ir para a escola, meu amor. — Eu gostei disso — a Belinha falou me dando a mão. — Do que? — Meu amor, o babá estava certo, você não é uma bruxa malvada. — Você ac
Priscila Barcella O caminho foi tranquilo. A Nina chorou um pouco, mas logo parou quando comecei a conversar com ela. Chegamos ao shopping, e ele a tirou da cadeirinha, pegando também a bolsa dela. Peguei minha bolsa, e fomos andando juntos.— O que você quer fazer primeiro? — ele perguntou.Eu simplesmente odiava não ter um plano. Sempre gostei de ter tudo organizado para não perder muito tempo.— Eles precisam de roupas, e temos que ver tintas e papéis de parede. Você acha que vamos demorar quantos dias para terminar? — perguntei, pensativa.— Sinceramente, não sei. Mas acho que dois dias. Você vai contratar um pintor?— Não, pensei em fazermos isso nós mesmos. Mas, se eu ver que não vai dar certo, eu contrato.— Certo, então vamos primeiro nas roupas? — ele sugeriu. — Acho que é o mais urgente, principalmente porque o frio está chegando e eles não estão acostumados — ele disse, e não argumentei, afinal, estamos em abril.— Sim, depois os móveis e as tintas, papéis de parede, essas