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Capítulo 4

Priscila Barcella

Não consegui falar nada, nem consegui tirá-la de perto de mim. Eu estava assustada, o bebê chorava ainda mais alto e eu a peguei no colo com medo de ela também ter se machucado. Os paramédicos fizeram os primeiros socorros, colocaram-na na maca e eu estava em choque ao vê-la naquele estado. A bebê parou de chorar e quando olhei, ela estava sugando o meu seio, mas não tinha chegado no bico do peito porque estava vestida. Apenas começou a me babar e acho que ouviu o meu coração.

Neste mesmo minuto, Josefa abriu os olhos e estava com uma expressão de dor.

— Meu braço está doendo — ela falou com a voz rouca.

— Vamos levá-la para o hospital — um dos socorristas falou, olhando para mim. — Você não deveria ter deixado sua mãe sozinha com seus filhos — ela continuou, e pude ver o julgamento em seu olhar.

E quem ela pensa que é para se meter na minha vida?

— Eu trabalho aqui — Josefa tentou se explicar como se quisesse me defender.

— Não fale, Josefa, sei que você está com muita dor — falei, ajeitando a Nina. — Eles não são meus filhos, e você deveria estar fazendo o seu trabalho. Só de olhar para o estado em que o braço dela está, sei que quebrou. Além disso, com a queda, ela ficou desacordada e precisa ir para o hospital. Ela tem plano de saúde, Joyce, por favor, pegue os documentos da Josefa — pedi, e ela foi sem nem pensar duas vezes.

— Nós sabemos qual é o nosso trabalho, mas ela é uma senhora de idade e nem deveria estar trabalhando...

— Você está me ofendendo, eu não sou tão velha assim — Josefa falou de forma curta e grossa. — E você quer que eu perca o emprego eu não sou aposentada não...

— Josefa, fique calma e tranquila, você não vai perder o emprego — falei, sabendo o quanto ela precisa do trabalho e mesmo a gente às vezes se desentendendo porque ela insiste em se meter na minha vida, eu gosto do trabalho dela e como ela cuida de mim. — Estamos perdendo nosso tempo. Ela precisa ir para o hospital — falei, pegando a mão da pequena. — Vamos logo, vocês dois. Quando a gente voltar, vou ter uma conversa séria com vocês — olhei para Ítalo, e o mesmo se levantou.

Não podia deixá-los sozinhos, então fomos todos. Levei-os para o meu carro e Joyce foi com Josefa na ambulância. A bebê não parava de chorar, Isabela também, já estava sem paciência para tudo aquilo e, no sinal vermelho, estourei.

— O QUE VOCÊS TÊM NA CABEÇA? A SENHORA JOSEFA PODERIA ESTAR MORTA...

— Foi um acidente — Iris falou em um sussurro.

— A mamãe não gritava — ouvi Isabela choramingando.

— MAS EU NÃO SOU A MÃE DE VOCÊS, E EU GRITO, E EU GRITO PORQUE ESTOU COM RAIVA, VOCÊS QUASE MATARAM A JOSEFA. — Tentei deixar bem claro que o que eles fizeram foi errado. Como eles puderam se comportar desta maneira com a bebê e a menor dá trabalho, eu até entendo, eles são praticamente dois bebês, bom, uma literalmente é a Nina, só tem dois meses. Agora a Iris é uma adolescente, com a idade dela eu já trabalhava.

— FOI UM ACIDENTE — a Iris gritou ainda mais alto.

— FOI UM ACIDENTE? VOCÊ ACHA QUE SOU IDIOTA? AQUELA BAGUNÇA NO MEU APARTAMENTO, FOI SEM QUERER JOGAR A COMIGO NO CHÃO FOI SEM QUERER? VOCÊS ESTÃO DE FAVOR NA MINHA CASA...

— Você nem perguntou se a gente queria vir, eu tenho uma vida lá, eu não quero ficar aqui — Iris falou cheia de raiva, totalmente revoltada.

— Sinto muito, mas a vida não é como queremos e eu não posso parar a minha vida, a minha carreira para que vocês voltem para aquele fim de mundo. Então ou vocês se comportam ou eu vou ter que...

— Vai fazer o que? Nos bater? Nos castigar? — a Isis falou com uma cara de deboche que me deu vontade de quebrar os dentes dela.

Respirei fundo, apertando o volante com toda minha força para não partir para a agressão física.

— Não me teste, mocinha. Se vocês não se comportarem, eu vou devolver vocês. Agora eu não quero ouvir nada...

— Então dá um jeito da Nina parar de chorar — a Iris falou.

— Você não acha que eu estou tentando, mas ela está com fome e não quer comer. Se não notou, eu não sei nada sobre bebês e vocês também não estão ajudando. E não me responda, mocinha, eu sou a tia de vocês. Não aprenderam a respeitar os mais velhos? — falei já histérica. — E o primeiro que abrir a boca vai entender por que eu sou tão odiada — falei olhando para a Iris e em seguida para o Ítalo.

O resto do caminho eles ficaram em silêncio a não ser pela Nina que não parava de chorar de forma alguma, só diminuiu o choro quando chegamos no hospital e peguei ela no colo.

Estava com as crianças e a Joyce, esperando notícias, e a bebê não parava de chorar. Já estava ficando louca a Joyce até tentou me ajudar, mas a potência daquela garganta de tornou insuportável.

— Nina Barcella — a secretária da pediatra a chamou, e me levantei, indo até onde ela estava. A Nina já estava vermelha de tanto chorar.

— A doutora já vai atender vocês — ela falou e olhou para a bebê. — O que foi, princesa? Por que você está chorando? — ela perguntou com aquela vozinha de bebê, e a Nina só chorava mais alto e começou a balançá-la.

— Posso entrar? — perguntei e sei que a minha expressão está exausta.

— Pode sim. Desculpa — nem terminei de ouvir e já fui entrando no consultório. A médica estava no computador, mas assim que ouviu o choro do bebê, olhou para a porta.

— Boa tarde — falei, e ela pediu para me sentar.

— O que aconteceu com essa pequena, mamãe? — ela falou se levantando.

Eu já ia dizer que ela não era minha filha, mas lembrei que a Natália disse que eles só atendiam as crianças com os pais então resolve dar um resumo antes.

— Ela está com fome, a mãe dela era a minha irmã gêmea, ela faleceu há menos de 48 horas em um acidente de carro com o marido. Desde esse momento, a Nina não come, ela só chora. Ela ainda mama no peito e não quer pegar a mamadeira. Eu já testei todos os bicos, ela não come nada e já estou desesperada, eu consegui dar um pouco em conta-gotas e em um copinho de remédio, mas não sei se o erro é na fórmula — comecei a tentar explicar.

— Se acalma. Eu vou examiná-la e vamos pensar no que vamos fazer. Coloque ela aqui para eu poder começar — e o choro só aumentou principalmente quando tive que tirar a roupinha dela.

Ela fez todos os exames, e tentei acalmá-la e expliquei um pouco melhor a situação, já que eu não sabia responder nenhuma pergunta sobre a Nina, eu realmente não sabia nada sobre ela.

— Ela está um pouco abaixo do peso, mas como você mesma falou, ela não está se alimentando. Eu sou especialista em lactação, então preciso saber até onde você está disposta — ela perguntou, e ajeitei a bebê no meu colo e ela começou a babar o meu seio procurando o bico do peito.

— Para ser bem sincera, estou disposta a fazer qualquer coisa para ela parar de chorar. Estou ficando louca e ainda tenho mais três sobrinhos para me deixar maluca de vez — falei, e a bebê começou a puxar minha blusa, e ela sorriu observando a cena.

— A senhora já ouviu falar em relactação? — ela perguntou, e a minha cara com certeza respondeu por mim. — Como ela não pega o bico da mamadeira, este procedimento é feito com uma sonda no seu mamilo — ela começou a me mostrar o procedimento para eu saber como seria. Ela também me explicou que se eu quisesse amamentar, ela poderia começar o tratamento. Fiquei pensando, mas resolvi testar. Eu precisava que ela se acalmasse, se não a minha vida não vai andar.

Assim que acabou a consulta, fui ver como a Josefa estava. Por sorte, ela só quebrou o braço esquerdo. Já vi que agora, mais do que nunca, preciso de uma babá ou melhor de uma equipe de babás.

— Joyce, você pode ir para o meu apartamento com o motorista. Você leva a Josefa e as crianças.

— Mas não dá para todos irem. Você pode ficar com os menores? — ela perguntou, receosa.

— Certo, vem Isabela. Eu vou na farmácia, tenho que comprar umas coisas para a Nina e os da Josefa.

Fui para o meu carro, coloquei a Nina no bebê conforto e, como sempre, aquele choro. Coloquei a Isabela na cadeirinha e, antes dela chorar, dei a chupeta. Pelo menos uma não vai ficar chorando. Fui para a farmácia mais próxima, e foi outro sacrifício tirar as duas do carro para entrar na farmácia, porque não dava para deixar as duas lá. Assim que entrei, comprei tudo o que os médicos pediram. Quando me dei conta, não estava vendo a Isabela, ela tem quatro anos, às vezes parece um bebê.

— Isabela, Isabela — chamei, procurando por ela, e olhei para o farmacêutico à minha frente.

— Sua filha está ali — ele falou, olhando mais à frente.

— Obrigada. Quanto deu tudo? — perguntei, já pegando a carteira. — Isabela, vem para cá agora — chamei ela, que veio com um pacote de M&M.

— Eu quero doce — ela pediu.

— Tudo bem, mas não saia de perto de mim. Estou ficando louca. Por favor, Nina, pare de chorar um pouco. Paguei a conta e fui para casa com as duas a Isabela foi comendo o doce e ficou quieta e a Nina finalmente dormiu.

Quando cheguei, coloquei a Nina na cama, e deixei as crianças com a Joyce para verem o que iam comer e fui até o andar abaixo do meu no apartamento que comprei para os meus funcionários, o que os outros moradores acham uma loucura.

Assim que entrei vi Josefa no sofá com a televisão ligada.

— Senhora, se quiser eu volto, sei que a senhora tem muito trabalho — ela falou e ia se levantar.

— Fica quietinha, vai Josefa, eu vim trazer os seus remédios e ver como você estava e desculpa, você sabe como o meu trabalho é importante e eu não sou boa com crianças — falei ajeitando a almofada e vendo os horários dos remédios para dar a ela.

— Eu vou voltar a trabalhar e você pode voltar para a empresa, sei que você é ocupada — ela falou e fui pegar um copo de água.

— Eu não vou trabalhar, hoje eu não tenho mais nada...

— Até parece que você não vai trabalhar — ela falou e entreguei o medicamento para ela.

— O Max cancelou a reunião, vou analisar as coisas quando os monstrinhos dormirem — falei e ela olhou para mim preocupada.

— O que você fez com ele, Priscila? Ele está fugindo de você há quase um ano — ela falou e era um assunto que me deixava completamente armada. — Entendi, invadi o seu espaço. Mas já que você está aqui, não puna as crianças, eles estão sofrendo e não sabem como agir — ela falou.

— Eu sei, eu sei que não é fácil para eles lidarem com a situação da perda dos pais. Mas também não posso deixar que isso afete o meu trabalho e a minha vida. Eu realmente não sei o que fazer, Josefa. Estou completamente perdida.

Ela suspirou, olhando para mim com compaixão.

— Eu sei, Priscila. Mas você precisa ter paciência e compreensão. Eles estão precisando de você agora mais do que nunca. E tenho certeza de que você vai conseguir ajudá-los a superar essa fase difícil. — ela falou e sei que tenho que dar conta, pela Pilar.

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Continua....

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