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Capítulo 139

Priscila Barcella

Assim que entramos, Liam cuidadosamente colocou Ramona no sofá. Eu corri para pegar uma toalha molhada, tentando organizar meus pensamentos que se misturavam com o pânico. Ramon apareceu logo depois, parando abruptamente ao ver a cena.

— O que aconteceu? — ele perguntou, alarmado, os olhos perdidos.

Minha voz saiu trêmula, mas firme.

— Ramona chegou desacordada, Ramon. Cheirando a bebida e... outras coisas. — Eu não consegui dizer o que era, apesar de reconhecer bem aquele cheiro, e o medo tomou conta de mim: o que fizeram com ela?

Ele ficou pálido, os olhos arregalados de choque, incapaz de acreditar.

— Não pode ser... Não pode...

Antes que ele terminasse, Liam se virou para ele, visivelmente irritado.

— Ramon, quando você vai perceber que sua filha está gritando por ajuda? Isso não é normal!

Ramon balançou a cabeça, parecendo perdido.

— Eu só... Não sabia que estava tão fora de controle.

— Então é melhor começar a perceber — Liam rebateu, o tom firme, quase como um grito abafado.

Nesse momento, Natália entrou na sala. Sua expressão era uma mistura de raiva e cansaço, mas ela foi direta.

— Parem com isso agora! — disse, a voz cortante. — Precisamos cuidar dela e entender o que aconteceu.

Me ajoelhei ao lado de Ramona e passei a toalha em seu rosto. Ela começou a se mexer lentamente, gemendo baixinho, até finalmente abrir os olhos. Sua expressão era confusa, assustada.

— Ramona, consegue me ouvir? — perguntei suavemente, tentando acalmá-la.

Ela piscou algumas vezes, ainda desorientada, antes de murmurar, quase inaudível:

— Minha cabeça... meu corpo...

Meu coração apertou com aquelas palavras. As lágrimas começaram a preencher meus olhos, mas eu me forcei a não fraquejar. Algo muito errado havia acontecido, e Ramona precisava de ajuda.

Liam me olhou, sério, a determinação em seu olhar.

— Vamos levá-la ao hospital. Isso não pode ficar assim.

Assenti, já decidida. Ramona podia ter seus defeitos, mas ninguém, absolutamente ninguém, merecia passar por isso.

Natália correu até a mala dela, apressada.

— Melhor dar um banho nela. Não quero que vejam minha filha assim. — Ramon falou, com um tom de preocupação, mas algo em sua voz me fez revirar os olhos.

— Não podemos fazer isso agora, Ramon. Tudo isso são provas. Temos que levá-la assim, e rápido. Não sabemos o que ela bebeu ou o que aconteceu. — falei, enquanto Natália voltava com a bolsa.

Avisei a Josefa que íamos ao hospital e partimos o mais rápido possível.

O caminho foi envolto em um silêncio pesado, cruel. Todos estavam imersos na preocupação, com a mente cheia de perguntas não respondidas. Quando chegamos, não demorou para Ramona ser atendida. Liam e eu ficamos com Ramon do lado de fora, aguardando, esperando, em minutos que pareciam uma eternidade.

Assim que entramos no quarto, Natália acomodou Ramona em uma poltrona ao lado da cama. Apesar da expressão cansada, não hesitou em segurar a enteada com cuidado, passando a mão em seus cabelos, oferecendo-lhe um gesto silencioso de amor e proteção.

Ramon estava encostado na porta, mantendo uma distância desconfortável, como se não conseguisse suportar a cena. Eu me perguntava se aquilo era culpa ou covardia.

— Ramona, precisamos entender o que aconteceu — falei, me ajoelhando ao lado de Natália.

Eu sabia, mais do que ninguém naquele lugar, o que era ser abusada.

Ramona fungou, desviando o olhar, mas permaneceu em silêncio.

— Você lembra de alguma coisa? — insisti, tentando soar calma, controlada.

Ela demorou, mas finalmente falou, sua voz tão baixa que quase não consegui ouvir.

— Eu saí com o Felipe... — O nome dele soou como um peso pesado, e eu senti meu estômago se revirar. Felipe. O cara que sempre me pareceu problema. Agora, tudo fazia sentido.

— E depois? — Liam perguntou, sua voz firme, mas sem julgamento.

Ramona apertou os olhos, as lágrimas começaram a escorrer.

— Ele... Ele queria que eu usasse alguma coisa... Uma droga, eu acho. Disse que ia me fazer "relaxar". Quando eu disse que não, ele ficou irritado. Então, eu saí.

Natália respirou fundo, como se tentasse se controlar, suas mãos apertando os ombros de Ramona em um gesto de conforto, enquanto tentava manter a calma.

— E para onde você foi? — ela perguntou, tentando soar tranquila, mas eu sabia que ela estava se segurando.

— Com os amigos dele... Eles estavam bebendo, rindo... Eu só queria me divertir, só isso! — Ramona soluçou, parecendo perdida e desesperada. — Mas depois disso... Eu não lembro de nada. Só que meu corpo dói. Tudo dói.

As palavras dela caíram como uma bomba na sala, e a dor ficou palpável, sufocante. Natália endureceu, mas sua voz saiu firme e inabalável:

— Você está segura agora, Ramona. Vamos cuidar de você, e isso vai passar.

Ramon finalmente quebrou o silêncio, sua voz trêmula e cheia de culpa.

— Eu deveria ter sido mais firme... Se eu não tivesse dado tanta liberdade...

Olhei para ele, a raiva borbulhando dentro de mim, mas tentei me controlar.

— Sim, Ramon, deveria! Mas agora não é sobre o que você deixou de fazer. É sobre o que precisamos fazer agora. Por ela.

Ele parecia prestes a protestar, mas se calou, olhando para o chão. Natália lhe lançou um olhar afiado antes de se voltar novamente para Ramona.

— Meu amor, sei que não somos tão próximas como deveríamos, mas eu estou aqui. E vou continuar aqui até isso passar, entendeu? — A voz de Natália suavizou, e vi o impacto das palavras dela em Ramona. Ela assentiu lentamente.

Liam observou os hematomas no corpo de Ramona e falou, sério:

— O médico falou alguma coisa?

Ramona foi examinada, e os hematomas em seu corpo nos deixaram com o coração apertado. Ela segurava a mão de Natália com força, como se fosse sua única âncora.

O médico entrou na sala com um semblante sério, segurando uma prancheta.

— Srta. Ramona, fizemos os exames necessários e... preciso dizer que há sinais claros de agressão física. — Ele hesitou antes de continuar, com a expressão grave. — Além disso, o exame de sangue e outros testes indicam que você contraiu clamídia.

Ramona ficou estática, seu rosto perdendo toda a cor.

— O quê? — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro de desespero.

Natália apertou sua mão com mais força, tentando confortá-la.

— Isso significa que alguém a expôs a uma infecção sexualmente transmissível, Ramona. Vamos iniciar o tratamento imediatamente.

Ramona balançou a cabeça, as lágrimas caindo em torrentes.

— Eu... Eu nem lembro de nada depois que saí com os amigos dele. Não sei o que aconteceu! — Ela soluçava, desesperada.

Liam cruzou os braços, o olhar sombrio, mas não menos firme.

— Isso confirma que algo muito grave aconteceu. Ramona, não é sua culpa. Nada disso é.

Ramon, que estava sentado no canto da sala, finalmente se manifestou, mas sua voz era quase inaudível.

— Eles... Eles fizeram isso com minha filha...

— Ramon, agora não é hora de lamentar o que você deveria ter feito — Natália disparou, cortante. — É hora de ser o pai que ela precisa e ajudar a garantir que os responsáveis paguem por isso!

Ramona olhou para mim, desesperada.

— E se ninguém acreditar em mim? O que eu faço?

Ajoelhei-me ao lado dela, segurando sua mão com carinho, tentando passar toda a força que eu tinha.

— Nós acreditamos em você. E isso é o que importa agora. Vamos lutar por você, Ramona. Até o fim.

O médico interrompeu, gentil, mas com um tom grave.

— Já avisei à assistência social do hospital. Eles podem ajudar com as próximas etapas, incluindo a denúncia e o apoio psicológico necessário.

Ramona fechou os olhos, as lágrimas ainda rolando, mas sua respiração parecia começar a desacelerar, como se ela estivesse encontrando algum tipo de paz no meio da tormenta. Natália passou os dedos pelos cabelos dela, com um carinho que parecia querer proteger a ela de todas as dores.

— Estamos aqui, querida. E vamos enfrentar isso juntos.

Quando o médico saiu, Liam fez um gesto com a cabeça, indicando que era hora de ir embora. Nós deixamos o hospital em silêncio. O que mais poderia ser dito? Sabíamos que o caminho de Ramona ainda seria longo, mas, ao menos, ela não estava mais sozinha. Ela tinha um suporte agora, e isso era o que mais importava.

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Continua...

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