Priscila Barcella Ficamos sozinhos, e ao olhá-lo, uma risada escapou de meus lábios. Era impossível não me sentir leve com a presença dele. Mas, por dentro, um turbilhão de emoções se misturava, e eu sentia algo mais profundo, algo que eu não sabia como lidar. — Que tal irmos para o quarto e aproveitarmos um pouco só nós dois? — Liam disse com a voz baixa, quase como um segredo, seus lábios se aproximando do meu pescoço, enviando uma onda de calor por todo o meu corpo. Sorri, sentindo meu coração acelerar. Sua proximidade, nos últimos dias, tem me feito sentir segura, mas, ao mesmo tempo, ela me fazia desejar mais dele. O problema é que esse desejo não era apenas físico. Havia tanto mais por trás disso. Eu sabia o que eu queria, mas uma parte de mim estava completamente assustada, travada. E, apesar de dormirmos juntos todas as noites, esses quase dois meses ao seu lado nunca tinham ido além de beijos. Eu sabia que estava pronta para dar um passo a mais, mas o medo ainda me dom
Priscila Barcella Nossa primeira vez juntos foi perfeita. Tão perfeita que, pela primeira vez, acabei dormindo nos braços de alguém. Isso nunca havia acontecido antes. Sempre que me deitava ao lado de alguém, o peso do desconforto e do desgosto tomava conta. Mas ali, nos braços dele, tudo parecia tão certo, tão seguro. Pela primeira vez, acordei sem me sentir culpada, mas sim feliz.Quando abri os olhos, senti os braços dele firmemente ao meu redor, quentes e protetores. Sorri ao perceber que ele ainda estava dormindo. Passei os dedos suavemente pelo seu braço, desenhando pequenos círculos, sentindo o calor e a textura da sua pele. Meu coração parecia bater em sincronia com o dele.Ele se mexeu ligeiramente, apertando-me mais contra ele antes de murmurar:— Já acordou, meu amor? — A voz rouca de sono me arrepiou, como sempre fazia.Sorri, aconchegando-me ainda mais. — Já, coração. Eu nunca tinha dormido assim antes... tão tranquila.Ele abriu um sorriso preguiçoso e me puxou para cim
Priscila Barcella Assim que desliguei a ligação, suspirei profundamente e caminhei até a mala para pegar uma roupa. Liam me observava com um semblante preocupado, os olhos carregados de culpa.— O que foi, meu amor? — ele perguntou, a voz suave, mas tensa.— Nossa bebê está se acabando de chorar de fome. — Respondi enquanto vestia o maiô com certa pressa, ajeitando as alças nos ombros.Ele esfregou a nuca, desviando o olhar para o chão. — Nossa pequenininha... isso é culpa minha.Parei por um momento e me aproximei dele, tocando seu rosto com delicadeza. — Não, coração. Eu deveria ter ido assim que senti meu seio cheio desse jeito. É algo que eu preciso me atentar. Agora vá se vestir. — Dei um sorriso encorajador, ajustando o vestido leve sobre o maiô.Liam hesitou, o olhar ainda carregado. — Eu já vou... é que eu...Inclinei-me e depositei um beijo em seus lábios, tentando dissipar sua preocupação. — Eu vou cuidar da minha filha e te encontro no restaurante, tá bom? — Disse enquanto
Priscila Barcella Depois que Nina mamou, ficou me olhando, com aqueles olhinhos cheios de curiosidade e afeto. Ela não queria me largar, suas mãozinhas pequenas acariciando meu rosto enquanto eu a embalava suavemente para acalmá-la.— Meu pai vai cansar de esperar — Belinha comentou, cruzando os braços com um olhar impaciente.Soltei uma risada baixa e balancei a cabeça.— Não se preocupe, filha. Deixa sua irmãzinha se acalmar. O papai vai entender — falei, lançando-lhe um sorriso tranquilizador.Enquanto isso, do outro lado do espaço, percebi Filipe resmungando algo com três crianças, que tinham traços parecidos com os dele, deixando claro que eram seus filhos. Meu estômago se apertou quando vi Filipe se aproximando do Ítalo, seu tom visivelmente alterado.— Ítalo! — chamei, minha voz saindo um pouco mais alta do que pretendia. — Venha para cá agora, filho!Ítalo correu na minha direção, confuso, e Filipe veio logo atrás, sua expressão cheia de raiva.— Tome conta do seu pestinha! —
Priscila Barcella O sol já começava a baixar, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto a brisa suave da tarde trazia o cheiro salgado do mar. Era o momento perfeito para finalmente nos aventurarmos na praia. Belinha não parava de pular de um lado para o outro, a areia quente grudando em seus pezinhos pequenos. Ela estava empolgada para entrar no mar, mas a cada passo mais próximo da água, dava para notar o medo crescendo em seus olhinhos brilhantes. — Vamos, mamãe! — gritou, com um sorriso ansioso. Deixei Nina com Liam, que estava sentado sob o guarda-sol, distraído em brincar com um baldinho e uma pazinha que Ítalo havia esquecido ali. Ele me lançou um sorriso cúmplice enquanto eu corria até o mar com as crianças. Quando chegamos à beira da água, Belinha travou de repente, agarrando minha perna com força. O barulho das ondas parecia enorme para ela, e seus bracinhos me seguravam como se eu fosse sua âncora. — Mamãe... tem muita água — murmurou, a voz trêmula.
Priscila Barcella Era mais um dia normal. Como sempre, acordo às 6:23 da manhã, levo aproximadamente 20 minutos para me arrumar e escolho roupas que transmitam o quanto sou poderosa.Saio do meu quarto preparada para enfrentar o mundo machista das torres de metal.Assim que chego no andar inferior, vejo a minha governanta terminando de organizar o meu café da manhã na mesa da sala de jantar, junto com duas funcionárias. Gosto das coisas sempre perfeitamente alinhadas, e ela me conhece muito bem.Antes de chegar à mesa, olho pela grande janela de vidro da minha cobertura, de onde posso ver a enorme cidade cinza. Assim como lá fora, dentro do meu apartamento a decoração é toda em tons frios, pois tenho um amor pelo tom cinza e não queria nada convidativo.Quem gosta e tem peso morto é a minha irmã. Eu nunca a entendi, a Barcella sempre se contentou com pouco. Diferente de mim, ela não foi para a faculdade e muito menos quis sair daquele lugar no meio do nada. Na primeira oportunidade q
Priscila Barcella Depois de um voo de três horas e meia, aluguei um carro e dirigi por mais cinco horas, finalmente chegando em um pequeno povoado do município de Santo Antônio dos Milagres. A estrada era de terra e parecia que o tempo naquele lugar passava em câmera lenta e pouquíssimas coisas tinham mudado em 16 anos. As casas eram simples e a única diferença era nos fios de energia e novas construções, mas mesmo assim parecia existir apenas uma rua e uma praça como novidade.Fui devagar pela estrada de terra batida até chegar na casinha onde crescemos. Pouquíssimas coisas tinham mudado, mas a única diferença era que, além do reboco, a pequena casa estava pintada de branco, que já estava amarelada, com dois quartos. Apesar de ser bem diferente da minha cobertura, estar naquele lugar me causava arrepios, como se as paredes pudessem falar ou apenas de ver sentir os arrepios pelo meu corpo me pedindo para fugir daquele lugar.A casa estava cheia, e respirei fundo antes de sair do carr
Priscila Barcella — O que eu faço com o bebê? — perguntei a mim mesma, sem saber o que fazer. Assim que entrei no quarto, coloquei-a na cama e a cercou de travesseiros, pois precisava tomar um banho. Fui para o banheiro e deixei a água tirar o suor e, junto com ele, as lágrimas. Eu precisava manter uma postura firme, mas minha irmã era toda a família que eu tinha. Enquanto começava a me ensaboar, ouvi um chorinho que se intensificava a cada minuto. Sem saber o que fazer, parei o banho, coloquei uma toalha rapidamente e peguei o bebê no colo, mesmo ainda estando molhada. — Eu não sou a mamãe — falei quando ela tentou pegar meus seios desesperadamente. Ela estava com fome e eu não tinha o que ela queria. Mesmo sendo uma e meia da manhã, decidi ligar para Natália, minha única amiga que sempre me ajudava. Embora não nos víssemos muito desde que ela se casou, teve filhos e se mudou para o litoral, ela sempre arranjava tempo para se envolver na minha vida, principalmente na parte am