Priscila Barcella Assim que entramos, Liam cuidadosamente colocou Ramona no sofá. Eu corri para pegar uma toalha molhada, tentando organizar meus pensamentos que se misturavam com o pânico. Ramon apareceu logo depois, parando abruptamente ao ver a cena. — O que aconteceu? — ele perguntou, alarmado, os olhos perdidos. Minha voz saiu trêmula, mas firme. — Ramona chegou desacordada, Ramon. Cheirando a bebida e... outras coisas. — Eu não consegui dizer o que era, apesar de reconhecer bem aquele cheiro, e o medo tomou conta de mim: o que fizeram com ela? Ele ficou pálido, os olhos arregalados de choque, incapaz de acreditar. — Não pode ser... Não pode... Antes que ele terminasse, Liam se virou para ele, visivelmente irritado. — Ramon, quando você vai perceber que sua filha está gritando por ajuda? Isso não é normal! Ramon balançou a cabeça, parecendo perdido. — Eu só... Não sabia que estava tão fora de controle. — Então é melhor começar a perceber — Liam rebateu, o tom firme, qua
PRISCILA BARCELLADIAS DEPOISNatália estava se desdobrando para ajudar Ramona. Depois da briga com o marido – que insistia em ser um pai omisso ele realmente acho que seria de bom ton fingir que nada tivesse acontecido – ela manteve sua decisão: se era para cuidar dos filhos sozinha, ele que saísse de casa. Natália estava firme, mas não conseguia deixar de se preocupar com a Ramona. Ligava todos os dias, garantindo que ela e as crianças estivessem bem. Ramona, no entanto, parecia forte, determinada a seguir em frente e fazendo o tratamento certinho.Enquanto isso, a polícia ainda não tinha encontrado Felipe. Quando o pai de Fernando forneceu o endereço do cunhado – pai de Felipe – já era tarde demais. Ele havia tirado o filho do país.Minha rotina, por sua vez, estava caótica. O trabalho consumia meu tempo e energia, mas eu contava os segundos para voltar para casa e ver meus filhos. Mesmo quando levava minha bebê comigo ao trabalho, ainda sentia saudade.Hoje era sexta-feira, mas, a
Priscila Barcella Assim que fechamos a porta do quarto, deixamos as crianças sob os cuidados da dona Josefa e da minha sogra. Liam e eu praticamente corremos pelo corredor do hotel. Estávamos atrasados para a reunião com o senhor Gustavo Lucchese, dono de uma das maiores redes hoteleiras do mundo. Este contrato significava mais do que sucesso profissional; ele me colocaria à frente no mercado.Liam ajeitava a gravata enquanto caminhávamos apressados. Ele estava visivelmente nervoso, o que era compreensível, já que não estava acostumado a lidar diretamente com clientes.— Respira, Liam. Você só precisa ser você mesmo. — Toquei levemente o braço dele, tentando transmitir confiança.— Fácil pra você falar. Você nasceu pra isso, Pri. — Ele respondeu com um sorriso nervoso, mas seus olhos demonstravam que confiava em mim.Entramos na sala de reuniões e, para minha surpresa, Felipe já estava lá, sentado de forma relaxada na cadeira, com aquele sorriso sarcástico estampado no rosto.— Prisc
Priscila Barcella Ficamos sozinhos, e ao olhá-lo, uma risada escapou de meus lábios. Era impossível não me sentir leve com a presença dele. Mas, por dentro, um turbilhão de emoções se misturava, e eu sentia algo mais profundo, algo que eu não sabia como lidar. — Que tal irmos para o quarto e aproveitarmos um pouco só nós dois? — Liam disse com a voz baixa, quase como um segredo, seus lábios se aproximando do meu pescoço, enviando uma onda de calor por todo o meu corpo. Sorri, sentindo meu coração acelerar. Sua proximidade, nos últimos dias, tem me feito sentir segura, mas, ao mesmo tempo, ela me fazia desejar mais dele. O problema é que esse desejo não era apenas físico. Havia tanto mais por trás disso. Eu sabia o que eu queria, mas uma parte de mim estava completamente assustada, travada. E, apesar de dormirmos juntos todas as noites, esses quase dois meses ao seu lado nunca tinham ido além de beijos. Eu sabia que estava pronta para dar um passo a mais, mas o medo ainda me dom
Priscila Barcella Nossa primeira vez juntos foi perfeita. Tão perfeita que, pela primeira vez, acabei dormindo nos braços de alguém. Isso nunca havia acontecido antes. Sempre que me deitava ao lado de alguém, o peso do desconforto e do desgosto tomava conta. Mas ali, nos braços dele, tudo parecia tão certo, tão seguro. Pela primeira vez, acordei sem me sentir culpada, mas sim feliz.Quando abri os olhos, senti os braços dele firmemente ao meu redor, quentes e protetores. Sorri ao perceber que ele ainda estava dormindo. Passei os dedos suavemente pelo seu braço, desenhando pequenos círculos, sentindo o calor e a textura da sua pele. Meu coração parecia bater em sincronia com o dele.Ele se mexeu ligeiramente, apertando-me mais contra ele antes de murmurar:— Já acordou, meu amor? — A voz rouca de sono me arrepiou, como sempre fazia.Sorri, aconchegando-me ainda mais. — Já, coração. Eu nunca tinha dormido assim antes... tão tranquila.Ele abriu um sorriso preguiçoso e me puxou para cim
Priscila Barcella Assim que desliguei a ligação, suspirei profundamente e caminhei até a mala para pegar uma roupa. Liam me observava com um semblante preocupado, os olhos carregados de culpa.— O que foi, meu amor? — ele perguntou, a voz suave, mas tensa.— Nossa bebê está se acabando de chorar de fome. — Respondi enquanto vestia o maiô com certa pressa, ajeitando as alças nos ombros.Ele esfregou a nuca, desviando o olhar para o chão. — Nossa pequenininha... isso é culpa minha.Parei por um momento e me aproximei dele, tocando seu rosto com delicadeza. — Não, coração. Eu deveria ter ido assim que senti meu seio cheio desse jeito. É algo que eu preciso me atentar. Agora vá se vestir. — Dei um sorriso encorajador, ajustando o vestido leve sobre o maiô.Liam hesitou, o olhar ainda carregado. — Eu já vou... é que eu...Inclinei-me e depositei um beijo em seus lábios, tentando dissipar sua preocupação. — Eu vou cuidar da minha filha e te encontro no restaurante, tá bom? — Disse enquanto
Priscila Barcella Depois que Nina mamou, ficou me olhando, com aqueles olhinhos cheios de curiosidade e afeto. Ela não queria me largar, suas mãozinhas pequenas acariciando meu rosto enquanto eu a embalava suavemente para acalmá-la.— Meu pai vai cansar de esperar — Belinha comentou, cruzando os braços com um olhar impaciente.Soltei uma risada baixa e balancei a cabeça.— Não se preocupe, filha. Deixa sua irmãzinha se acalmar. O papai vai entender — falei, lançando-lhe um sorriso tranquilizador.Enquanto isso, do outro lado do espaço, percebi Filipe resmungando algo com três crianças, que tinham traços parecidos com os dele, deixando claro que eram seus filhos. Meu estômago se apertou quando vi Filipe se aproximando do Ítalo, seu tom visivelmente alterado.— Ítalo! — chamei, minha voz saindo um pouco mais alta do que pretendia. — Venha para cá agora, filho!Ítalo correu na minha direção, confuso, e Filipe veio logo atrás, sua expressão cheia de raiva.— Tome conta do seu pestinha! —
Priscila Barcella O sol já começava a baixar, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto a brisa suave da tarde trazia o cheiro salgado do mar. Era o momento perfeito para finalmente nos aventurarmos na praia. Belinha não parava de pular de um lado para o outro, a areia quente grudando em seus pezinhos pequenos. Ela estava empolgada para entrar no mar, mas a cada passo mais próximo da água, dava para notar o medo crescendo em seus olhinhos brilhantes. — Vamos, mamãe! — gritou, com um sorriso ansioso. Deixei Nina com Liam, que estava sentado sob o guarda-sol, distraído em brincar com um baldinho e uma pazinha que Ítalo havia esquecido ali. Ele me lançou um sorriso cúmplice enquanto eu corria até o mar com as crianças. Quando chegamos à beira da água, Belinha travou de repente, agarrando minha perna com força. O barulho das ondas parecia enorme para ela, e seus bracinhos me seguravam como se eu fosse sua âncora. — Mamãe... tem muita água — murmurou, a voz trêmula.