O Voto do CEO
O Voto do CEO
Por: Amanda Fernandes
01

Ulisses St Jhon não era de beber, mas a ocasião pedia altas doses de Bourbon para lhe encorajar.

O copo bateu na pia de mármore com força.

Em seguida encarou o próprio reflexo no espelho do banheiro. Observou seu cavanhaque ralo, passando a mão no queixo.

— Tão lindo assim e solteiro. Por que as mulheres não te amam, Ulisses?

Era uma pergunta real, difícil de fazer e sem resposta.

Suspirou e então tomou coragem.

— Eu, Ulisses St Jhon, o homem mais lindo de Nova York e que é um imã de mulheres interesseiras — tomou fôlego por um momento. — Juro a mim mesmo que não farei sexo até encontrar uma namorada que me ame!

Ao terminar tudo perdeu sentido e ele soltou o ar se apoiando na pia do banheiro. Pareceu certo virar o restante do Bourbon.

— Você precisa disso — tentou se convencer. — Se continuar na farra nunca vai conseguir o que tanto sonha. É... vai valer a pena.

E de um segundo para outro, o sentido voltou com tudo. Ele queria alguém para amar. Que o amasse de volta. Que envelhecessem junto mesmo com um alto índice de divórcio no país. Ele queria descobrir como era se apaixonar.

Talvez, todo esse melodrama seja resultado de muitos e muitos romances que lê. Secretamente.

O amor nas páginas é irreal e ficava cada vez mais distante de sua realidade de cafajeste que não sabe muito sobre flertar, mas que também não precisa saber, a grana fazia qualquer mulher cair aos seus pés e ir direto para sua cama.

Mesmo sendo um homem romântico, Ulisses não era idiota. A gandaia lhe pareceu uma boa fase da vida.

Mas fases acabam e agora era um homem de 32 anos de idade, lindo, musculoso, milionário e sem um amor.

Era exatamente isso que Ulisses queria mudar.

Só precisava cuidar de uma coisinha...

— É... Lauren?

Ulisses fez uma careta ao tentar lembrar da mulher seminua em sua casa. Já agia como se tudo por ali fosse dela.

— Laura? Droga. Será Leia? Lizzie...?

Ulisses negou com a cabeça, percebendo que nada daquilo importava.

— Então... Gata. Eu vou precisar sair. Tive um imprevisto no trabalho.

A belíssima modelo olhou para fora da geladeira que atacava, com uma bolota na bochecha.

— Ok. Nos vemos quando voltar — ela ameaçou voltar para a geladeira, mas levantou o corpo. — Aliás, quanto você pagou nessa casa?

E lá vem as perguntas....

— Não sei. Meu corretor quem sabe.

Ulisses colocou as mãos na cintura, pensando em como se livrar da mulher que já quis saber se ele tinha jatinho, quanto ganhava ou o quão rico era. Perguntou até se ele poderia dar um colar de diamantes para ela.

Aquela mulher, em pé na frente de sua geladeira, com calcinha e sutiã foi o estopim para decidir abandonar a farra e fazer o que vinha pensando há muito tempo.

Ela apenas resmungou um Hum, comendo um doce de chocolate com ouro em cima. Se sujara com o doce.

— Então... você quer que eu peça um taxi pra você?

— Já disse que estarei aqui quando você voltar — ela se aproximou como uma felina. — Não escapará de mim tão rápido.

Ela sorriu. Ele riu em nervosismo, a segurando pelos ombros.

— Vou sim...

— Não vai não...

Aquela brincadeira estava irritando ele.

— Eu vou ser mais claro. Não gosto que esteja interessada em tudo isso e não em mim — gesticulou o luxo de sua própria casa. — Já lidei com mulheres como você antes. Por isso, estou tentando ser legal.

A mulher que até gora ele não lembrou o nome abriu a boca em choque.

— Está me chutando?

— Estou te dizendo que comigo não vai rolar. Não caio nesse papo. Taxi?  

— Como sabe que não gosto de você? Nós nos divertimos ontem.

Ulisses a achou ousada. E cara-de-pau.

— Bom, eu contei a piada do pintinho caipira pra você e você caiu nos meus braços quando viu meu Rolex.

Ela deu de ombros chupando os dedos sujos de chocolate.

— Eu gosto de piadas.

As dele eram ridículas.

— Na boa, eu vou chamar um taxi e você vai pra casa.

— Mas eu gosto de você — ela pulou sobre o ombro dele como sua ultima tentativa de convencê-lo. — Gostei de você no primeiro instante. Por que nós não subimos e tomamos um banho? Ãn? E depois podemos... podemos ir para Las Vegas no seu jatinho e... casar!

Ulisses riu a afastando. É serio isso?

— Eu vou chamar um taxi.

E então deu as costas para a mulher, tendo ainda mais certeza que buscar um relacionamento sério foi sua melhor decisão.

A partida da interesseira — só mais uma entre todas que conheceu —, foi rápida. Ela não insistiu em mais nada. Apenas saiu da mansão de Ulisses com um bico emburrado dizendo estar se sentindo humilhada.

Parecia uma criança que lhe negaram doce. Um doce muito valioso.

Ulisses se arrumou para mais um dia de trabalho. Era sexta-feira e sua noite anterior foi uma excelente e cansativa despedida de sua vida de cafajeste.

Decidiu passar em uma cafeteria antes de seguir até a empresa, então jogou a gravata contra o pescoço e saiu da mansão St Jhon mexendo no celular.

Naquele dia, decidiu ir de Lamborghini. Destravou a porta da cinza e entrou, acelerando pelas ruas de Nova York.

Estacionou vinte minutos depois no estacionamento da empresa. St Tec, com toda a sua glória e prédio imenso com janelas espelhadas.

Ulisses olhou o céu nublado enquanto caminhava para a cafeteria há um quarteirão da empresa. Passou pela porta fazendo um sininho tocar. Rapidamente as atendentes lhe ofereceram sorrisos.

— Bom dia, meninas. Grace, está radiante hoje. Como vai o Máximo? — se debruçou no balcão esbanjando sua simpatia.

Grace se aproximou sorrindo. Era a dona no café. Era uns dez anos mais velha que Ulisses e por isso vivia dizendo a ele para tomar jeito e se casar.

Bom, é o que pretende a partir daquele dia.

— Ele esta bem. Mandei castrar e por isso não sai mais de casa. Meu sofá que aguente tanto pelo. Vai querer o mesmo, querido?

Ulisses sorriu e assentiu, pedindo também um igual, mas com chantily. Depois oferece um de seus sorrisos para uma das garçonetes, que suspira antes de ir servir as mesas.

— E a Fagulha? — ela pergunta.

— Irei buscar ela hoje. A levei para tomar as vacinas.

Estavam falando de seus gatos. Fagulha, no caso, era uma gatinha de rua toda preta que ele adotou assim que Grace a salvou de um atropelamento na rua.

O que dizer, o cara amoleceu quando viu as garrinhas e jeito feroz daquela coisinha. Seu coração não resistiu.

Eles conversaram um pouco mais até os café ficarem prontos.

Ulisses mexia no celular quando uma das garçonetes arrastou no balcão os dois copos para viagem.

Ulisses sorriu para ela e agradeceu depois de pagar.

Ao adentrar na empresa, sentiu-se um novo homem. Seu gingado estava mais decidido, seu sorriso mais largo. Passou pelos guardas fazendo um toque de mão, ouvindo um o chefe tá feliz hoje vindo deles.

Sua vida estava prestes a mudar. Ele faria essa mudança acontecer.

As mulheres com que já transou dali lhe ofereceu sorrisos e o chamou. Ele desviou de todas. As que nunca sequer trocou uma palavra também davam investidas. Claro, era assim todo dia, mas...

— Não hoje — disse antes de apertar o botão do elevador.

Entrou e depois subiu ao térreo. As portas metálicas revelaram seu andar.

Ulisses andou por ele assoviando.

Avistou sua secretária com um coque bagunçado e vidrada no notebook.

— Bom dia, Hazel. Pra você.

Ulisses estendeu um dos copos para ela.

Hazel se levantou, pegou o copo e devolveu a ele.

— Esse é seu.

Hazel virou e mostrou o número e um nome.

Ulisses sorriu.

— Isso sempre acontece.

— Eu sei — ela sorriu, levemente indignada.

Hazel e Ulisses se conheceram no ensino médio. Ambos abandonados por seus pares no baile, decidiram dançar juntos e se divertirem.

Aos dezessete anos, aquele foi um dia épico. Para ambos.

A faculdade os afastou e em uma das seleções para secretária quando Ulisses abriu a filial em Nova York, Hazel apareceu e se encaixou perfeitamente para o cargo.

Aquele foi um reencontro muito bom. Ele quase não a reconheceu. Mais velha e com seios maiores do que quando tinha dezessete. Usava óculos e roupas largas demais para seu corpo miúdo. Até hoje, Hazel não perde tempo com vaidades.

Ela bebeu um gole do café, resmungando um Hum e apontando para o pescoço de Ulisses.

Rapidamente ele olha para baixo. A gravata.

— Deixei pra você — ele deu de ombros.

— Sabe que eu não sou sua mãe. Nem sua namorada. Nem sua esposa. Então — ela falou essas coisas dando a volta na mesa. —, aprenda a dar o nó, homem.

Ulisses riu da amiga colocando seu copo de café sobre a mesa. Sabia que Hazel viria e daria um jeito em sua gravata. Ela sempre faz isso, mesmo que reclame.

Hazel parou na frente dele e começou a dar o nó.

Ulisses a ouviu falar algo sobre uma matéria de Lennon Kutcher, sua inspiração no mundo empresarial. Ele sorriu com a fala animada dela. Conhecia Lennon, seu irmão era melhor amigo de Ulisses.

— E ela confirmou que irá no evento em Los Angeles.

Hazel ergueu o olhar rapidamente, voltando a mexer na gravata.

Sua atitude tirou uma risada de Ulisses.

— O quê? — ela perguntou.

— Você não é nada sutil. Se quer ir no evento você só precisa pedir.

Hazel suspirou terminando de arrumar a gravata do chefe. Depois pegou seu café.

— Quero ir, mas não quero pedir. Penso que estaria poupando outra pessoa capaz só porque somos amigos. Não. Vou fazer por merecer.

Ulisses deu de ombros.

— Ótimo. Você faz a reunião com o presidente de Chicago, então?

Os olhos castanho claro de Hazel se arregalaram. Seu coração palpitou.

— Eu?

— Por que não? Eu acho que consegue. Sem falar que Edgard estará lá no evento e poderá te recomendar aos contatos dele — Ulisses lhe deu uma piscada. — Você só precisa entrar naquela sala mais tarde e arrasar.

— Ah, nossa, só isso? Pensei que eu teria que falar em frente um monte de pessoas importantes — Hazel deu as costas para Ulisses. Ele pirou.

Ela se sentou na cadeira e voltou a mexer no notebook. Ulisses parou na frente dela com uma das mãos no bolso. A outra segurando o café.

Hazel suspirou fechando os olhos.

— Ok. Eu sei o que vai dizer. Então vou te poupar com a tentativa de me convencer e vou fazer e reunião. Satisfeito?

Ulisses sorriu para ela quando Hazel ergueu os olhos o encarando.

Depois ele bebeu um gole de café.

— Na verdade eu ia dizer que você está com o zíper aberto.

— Em?

Hazel olhou para baixo rapidamente, vendo que nada estava aberto. Depois olhou Ulisses prestes a entrar em seus escritório. Rindo de sua cara.

— Você vai arrasar, baixinha!

E então a deixou para trás, mergulhada em ansiedade.

Essa era a sua chance!

(...)

— Parece que vai demorar pra passar a chuva.

— É — Hazel respondeu com um sorriso feliz nos lábios.

A reunião foi ótima. Ficou nervosa no começo, mas os olhares encorajadores de Ulisses a obrigou engolir o nervosismo e dar o melhor de si. No final, todos a cumprimentaram e renderam elogios à Ulisses por ter uma secretária como ela. Claro, também a elogiaram, mas depois que Ulisses confirmou a ida dela á Los Angeles, não quis mais ouvir ninguém.

Apenas queria correr pela empresa, gritando que veria Lennon Kutcher.

Seria engraçado. Ulisses disse para ela fazer isso, mas que não se responsabilizaria se o vídeo de seu surto fosse parar no YouTube.

O homem ao lado dela suspirou e descruzou os braços.

— Quer uma carona?

— Não. Tudo bem. Irei terminar uma documentação e depois peço um taxi. Obrigada.

Ele assentiu, ainda incerto, mas foi embora. No caminho fez um gesto de cumprimento a Ulisses, que vinha na direção de sua secretária.

Ulisses olhou para trás, parando em frente a mesa de Hazel com um sorriso.

— Quem é aquele? — perguntou.

— An? Ah, o Marcolino? É um dos responsáveis pelo almoxarifado. Por que?

Ulisses não se aguentou e riu.

— Marcolino?

— Esse é o nome dele.

— ... percebi — ele ainda ria. — Vem cá, eu  já vou embora e o céu está caindo. Quer que eu te leve pra casa?

— Não. Tenho que terminar de redigir um documento.

— Ei, você já provou seu valor. Não precisa se matar de trabalhar. Já estou impressionado com você.

A fala dele a fez sorrir feliz. Depois tocou o óculos acima do nariz.

— Eu sei. Provoco isso nos homens.

Ulisses assoviou.

— Que isso, em garota. Anda, vamos.

— Eu preciso...

— Vamos embora logo, Hazel. Tenho que buscar a Fagulha.

Hazel arregalou os olhos.

— Aquela gata é endemoninhada, você sabe, né?

Ulisses levou a mão ao peito.

— Que cruel, Hazel.

Ela riu em nervosismo antes de se colocar de pé e fechar o notebook.

— Estou falando sério. Ela me arranhou aquele dia.

— Foi sem querer.

— Ela me odeia, isso sim.

Hazel pegou a bolsa e a colocou contra o ombro. Depois pegou o notebook e o enfiou debaixo do braço.

Ulisses revirou os olhos.

— Larga isso aí, mulher.

Ele tentou tirar o notebook dela, mas Hazel ameaçou mordê-lo.

— Oh, e depois fica falando mal da minha filha. Que ela é agressiva.

— Tá falando da gata possuída?

— Sim. Quer dizer... ela não é nada disso. Vai ver é o tamanho. Você e ela são duas coisinhas pequenas e raivosas.

Ulisses pôs a mão sobre a cabeça de Hazel e ela recuou o mandando sair fora.

— Aliás, sua mãe te ligou quando saiu. Disse a ela que você irá na casa dela em breve. Ela estava brava, mas consegui acalmá-la.

Ele riu em alívio. Ainda bem que tinha Hazel na sua vida.

— Obrigada por isso. O que é do Ulisses sem a Hazel?

E então passou um braço sobre o ombro de Hazel durante o caminho até o estacionamento. E seu carro. E sua casa. E então sua vida solitária...

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