06

Hazel entrou sem bater no escritório de Ulisses, já no fim do expediente. Encontrou ele fazendo flexões. Sem camisa e com suor formado entre os músculos das costas.

Ela desviou o olhar para a porta atrás de si e empurrou com o pé fazendo um baque ecoar.

— Trouxe café — disse.

Hazel andou até a mesa dele e deixou um copo de café, se encostando na mesma para beber seu prazer líquido.

— Já estou acabando.

Ela não falou mais nada. Apenas ficou ali vendo ele terminar a série de flexões e se jogar no chão de barriga para cima. Estava ofegante.

— Pelo visto está chateado — Hazel falou se aproximando dele.

Ulisses sempre se exercita fora de hora  quando está irritado ou chateado com algo.

Ela puxa uma cadeira e se senta ao lado do chefe largado no chão.

— Um pouco.

— Vim para fazermos uma declaração sua nas redes sociais. Você precisa dar um parecer.

Ulisses a encarou serio e depois desviou o olhar. Não consigo olhar pra ela.

— Não estou a fim de fazer isso — respondeu e começou a fazer abdominais.

A ideia de Hazel pensar o pior dele o devastava. Encará-la parecia ser um ato difícil demais agora e não sabia se conseguiria.

— Mas precisa. Ao menos uma nota de esclarecimento sobre esse boato do A.A.

— Eu não ligo se espalham mentiras sobre mim. Provavelmente acreditarão mesmo que eu fale que nunca fiz parte de um grupo de alcoólicos.

Hazel esperou alguns segundos, até levar a mão no peitoral dele quando subiu em um dos abdominais.

Ulisses a olhou imediatamente.

Hazel recolheu a mão se achando ridícula no mesmo momento. Já se abraçaram, já brincaram de t***s e coisas parecidas. Tocar em Ulisses nunca foi um problema.

Depois ela encarou o copo em sua mão.

— Está falando isso por causa do que aconteceu?

— Talvez.

E ele voltou a fazer os abdominais.

Hazel se irritou e repetiu o ato, mas sem tirar a mão dessa vez.

— Não é da minha conta com quem você se envolve. Ela parecia querer, então...

— Eu já disse que não era o que parecia. Ela me atacou.

— Bom, você estava pelado, então é difícil de pensar qualquer outra hipótese.

Ulisses maneou a cabeça. Faz sentido.

— Eu entendo. Mas acredite, eu não iria ficar com aquela tal de Joice. Ela me atacou. Queria meu corpo nu a qualquer custo.

Hazel revirou os olhos rindo.

Ulisses apontou o dedo para ela.

— Não revire os olhos para mim, coisa pequena.

E então ela agarra o dedo dele o encarando nos olhos.

— E você não aponte o dedo pra mim, coisa grande — logo travou. — Espera, isso pegou mal, né?

Hazel foi ficando cada vez mais vermelha.

Ulisses gargalhou com a cabeça para trás.

— Ai, meu pai amado. Por essa eu não esperava. Obrigada pelo elogio, Haze.

Ela lhe deu um tapa no ombro, melando a mão de suor. Então fez uma careta.

— Eca.

— Bem que eu vi você olhando para ...

— Cale a boca, seu idiota. Eu quis revidar sua provocação. E eu não vi nada demais aí!

Mentiu e se levantou da cadeira indo até o café de Ulisses.

Quando notou que os copos eram do café da Grace, ele se levantou rapidamente e foi até ela.

— Ei, desculpa. Sabe que eu perco a amizade, mas não perco a piada — tentou parecer carinhoso. — Me desculpa. E obrigada.

Tomou o café da mão dela, mas ela pegou de volta.

— Primeiro me conta o que aconteceu naquele elevador — ela exigiu.

Hazel se lembrou depois que reviu Joice na sala de descanso, que era a mesma que ficou encarando Ulisses no dia que foi atrás dela para falar mal de Brenda e da tortura matrimonial que ela o colocara. Joice não é flor que se cheire e não merece o amigo. Mesmo que Ulisses seja um galinha.

Ulisses assentiu e pegou o copo, caminhando em direção aos sofás ao lado esquerdo de sua mesa de trabalho, ouvindo Hazel mandar ele devolver o copo. Se jogou no sofá de três lugares e bebeu o café.

Depois olhou o copo.

— Esse é o seu.

Ela se aproxima emburrada e toma bruscamente o copo dele estendendo o outro.

— Aqui o seu, seu abusado.

— Obrigada. Então, eu estava vindo para cá quando ela me atacou no elevador. Foi isso — disse simplesmente e bebeu o café, fazendo uma expressão de prazer. Grace, você arrasa.

Era com toda certeza o melhor café de Nova York.

— Tá — Hazel se sentou na mesinha de centro de frente para ele. — Quer que eu acredite que ela simplesmente pulou em você?

Ulisses foi para frente apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Sim. Foi isso que aconteceu. E acontece muito, se quer saber.

— Ulisses?!

— O quê?

— Não quer me dizer?

— Já disse, mulher. A tal Joice lá ficou falando que eu precisava relaxar e quis ajudar. Mesmo eu falando que não queria, a danada insistiu. Elas são assim, Haze.

Hazel arqueou uma sobrancelha.

— Elas? Elas quem?

— Todas as mulheres. Querem, meu corpo nu de qualquer jeito!

Hazel riu de incredulidade. Seu amigo estava ultrapassando todos os níveis de ego inflado.

Todas as mulheres — ela repetiu. — Ulisses, você nem é tão bonito assim para que todas as mulheres se joguem em cima de você como está dizendo.

A boca de Ulisses se abriu devagar enquanto seu ego se esvaziava feito uma bexiga furada. A mão do ceo foi para o peito, seu coração chegou a doer.

— Haze...

— O que?

— Você acabou de dizer que eu não sou tão bonito assim? Mulher, aumente o grau do seu óculos — ele apontou para o objeto pendurado na gola da camisa dela. — Eu sou lindo, Haze. Como pode me dizer isso?

Hazel ergue a cabeça quando o viu por a mão trêmula contra a boca.

— Ai, como você é dramático...

— Me magoou.

— Tá supera. Dá próxima você inventa que tem uma namorada ou que cortou a pistola fora.

— Haze!

Ulisses cobriu a virilha. A cada frase dela ele perdia mais sua masculinidade. Ela é insana.

A Parker começou a rir do amigo.

— É jeito de dizer para você inventar uma desculpa, por mais maluca que seja. Pode acabar com um processo de assédio nas costas. Já te disse isso.

Ulisses assentiu, bebendo mais um gole de café.

Inventar que tem uma namorada o deixaria deprimido, pois, desejaria que essa mentira fosse verdade. Dizer que cortou a pistola fora seria doentio demais. Sequer consegue pensar na ideia sem fazer uma careta. Preciso inventar algo, caso Joice ou outra me ataque novamente.

— Eu vou pensar em algo.

— Ótimo — Hazel se levantou em direção a mesa dele.

Ulisses observou que ela estava a mesma Hazel de sempre. Coque, roupas largas, sem maquiagem...

Quando ela se virou de volta ele desviou o olhar do corpo dela para beber mais um gole de café. Ela é linda de qualquer jeito.

— Aqui. Entre no seu Twitter. Irei te ajudar a escrever uma nota decente.

Ulisses se deu por vencido e pegou o celular. Ele desbloqueou a tela na frente dela.

Hazel conseguiu ver mensagens de mulheres que Ulisses ignorou e por isso suspirou.

Os olhos dele a encararam.

— O que foi? — ele perguntou.

— Nada.

Ulisses deitou a cabeça ainda a olhando. Estava curioso.

— Por que não veio maquiada como naquele dia?

— Por que eu viria?

Hazel chegou a fazer uma careta como se aquilo fosse um absurdo.

— Ah, sei lá — Ulisses encarou a tela entrando no aplicativo. — Só gostei de olhar pra você daquele jeito.

Hazel não soube explicar o porquê de ter gostado de ouvir aquilo. Mas gostou. Gostou muito.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo