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Prólogo - Parte 2

Algumas semanas depois

— Eu não quero ir — Annabeth disse, abraçada a Keenan, com o rosto enterrado em seu peito. — Não quero que ninguém pegue o meu lugar.

E aquilo era pura verdade; o maior medo de Annabeth era ser esquecida ou substituída.

— Ei, ei... olhe para mim — ele pediu, tocando delicadamente o rosto dela. — Ninguém pode tomar o seu lugar. Ele é só seu. Você é única!

— Sou mesmo? — perguntou com a voz embargada.

Ele balançou a cabeça, concordando.

— Já podemos ir, Annabeth? — A voz impaciente de seu pai soava irritada.

Nem uma despedida decente eles poderiam ter. Annabeth apertou o abraço em Keenan, sem conseguir imaginar como seria sua vida sem ele. Era seu melhor amigo, e, em todas as confusões em que ele se metia, lá estavam eles juntos.

— Filha, precisamos ir — disse Bozena, a mãe dela.

— Não! — sussurrou Annabeth, enterrando o rosto mais fundo no peito dele.

— Aninha — murmurou Keenan, segurando o rosto dela e o erguendo devagar. — Isso vai ser rápido. Você voltará logo, e estarei aqui esperando por você.

— Promete?

— Sim. — Ele encostou a testa na dela.

— Não quero me casar com um velho fedido.

A risada de Keenan a fez rir também, e ela fechou os olhos ao sentir o nariz dele encostar no seu, em um ato de carinho.

— Não vai. Eu nunca deixaria — ele respondeu rindo e, então, rapidamente encostou os lábios nos dela.

Annabeth ouviu exclamações ao redor, mas não deu atenção. Apenas sentiu o formigamento bom que aquele beijo deixou em seus lábios.

— Annabeth, isso é... — esbravejou o pai, mas foi interrompido pela esposa.

Por alguns segundos, os dois permaneceram de testa colada, tentando entender o que aquele beijo inocente significava. Então, ela abriu os olhos.

— Espere por mim. Prometo não demorar. Voltarei para você! — Annabeth segurou as mãos dele e entregou-lhe seu lenço de cabelo. — Isso fica com você.

Keenan sorriu.

— Estarei aqui.

Annabeth se afastou dele a contragosto e entrou na carruagem, seguida de sua mãe.

— Quando voltarmos, você e eu teremos uma conversa, garoto! — Edward Riley avisou antes de entrar também.

Os pais dela a deixariam com os tios e retornariam para Forwood. Quando a carruagem partiu, Annabeth colocou a cabeça para fora da janela e viu a senhora Gweneth sussurrar algo ao filho enquanto o abraçava em consolo. Ela sorriu e ficou na janela até que seu melhor amigo sumisse de sua vista.

— Ela vai voltar, fique tranquilo. — Gweneth disse, consolando o garoto. — Preciso voltar ao trabalho. E, por favor, não se meta em confusão.

Ele riu e balançou a cabeça.

— Não estou com ânimo para confusões hoje — tranquilizou a mãe. — Vou para casa.

— Tudo bem, querido. — Ela sorriu e beijou a testa dele. — Mais tarde estarei lá.

Ao retornar para casa, Keenan se sentiu desanimado. Nada ali o distraía, e agora, sem sua Aninha, estava mais difícil. Ele pegou a máscara que o pai lhe dera no leito de morte. Seu pai havia morrido há cinco anos, vítima de uma praga que, por sorte, não atingiu ele e a mãe. Estar sozinho em casa sempre o deixava melancólico, e a ausência de Annabeth só piorava as coisas.

Keenan pegou o arco de madeira que havia feito junto com algumas flechas e saiu pelos fundos em direção à floresta. A casa deles era a mais próxima das árvores, então ele praticamente cresceu por ali. Ao chegar a um local onde costumava brincar com Annabeth, mirou em um alvo de madeira e atirou, acertando em cheio. Sorriu, seu pai sempre fora habilidoso com arco e flecha; ele devia ter herdado isso dele.

Continuou praticando, até que um barulho de galho chamou sua atenção, e ele olhou para cima, procurando entre as copas das árvores. Ninguém ia até ali além dele, então estranhou. Sua mãe sempre contava sobre os espíritos da floresta, que protegiam a natureza dos predadores humanos, mas ele não acreditava nessas histórias, pois nunca tinha visto um.

— Quem está aí? Por que está me espionando?

Tudo ficou quieto; só o canto dos pássaros preenchia o ambiente. Ele então se concentrou no vento e no movimento das árvores. Era astuto demais para ser pego de surpresa. Ouvindo outro ruído, retesou o arco, mantendo-se em concentração total.

— Quem está aí? — repetiu, erguendo uma sobrancelha.

Um homem então desceu de uma das árvores com facilidade, levantando as mãos em rendição e sorrindo.

— Peço desculpas se assustei você. Estava apenas observando, e vejo que você tem potencial — disse o estranho, rodeando-o por alguns instantes. — A propósito, meu nome é Apolo.

— Você é um dos espíritos da floresta? — ele perguntou impulsivamente, sem demonstrar medo, mas mantendo o arco apontado para o homem.

— Nossa, se é assim que nos chamam, está bem. — Sorrindo, o homem tirou o capuz, revelando cabelos grisalhos. — Mas não vou machucá-lo; só quero conversar.

— Conversar sobre o quê? — Keenan ergueu uma sobrancelha em desafio, mas abaixou o arco.

— Você tem causado bastante agitação por aí, garoto. Meu pessoal precisa de homens como você, e pelo que vejo, você quer ser um guerreiro, certo? — Apolo esperou uma resposta, mas Keenan ficou em silêncio, e ele entendeu isso como um sim. — Eu sei tudo sobre guerras, lutas, espadas e arco e flecha.

— Arco e flecha! — exclamou, sem conseguir conter a animação.

Agora o homem havia tocado exatamente no interesse dele.

— Interessante que você queira ser arqueiro. Se quiser, posso ensinar você, só precisa de mais prática. Que tal? — Apolo sorriu, mas Keenan permaneceu desconfiado. — Está tudo bem. Não vou lhe fazer mal.

— Não sei se devo confiar em estranhos — Keenan disse, mas foi surpreendido pelo homem, que, com uma velocidade impressionante, pegou uma faca pequena que estava presa à cintura e a arremessou, acertando uma folha que caía de uma árvore, pregando-a em um tronco.

— Como fez isso? — o garoto perguntou, admirado.

— Posso ensinar você, mas precisará manter segredo.

Keenan pensou por alguns instantes. Aquele velho era estranho, mas ele era bom em evitar problemas, então, por que não arriscar?

— Tudo bem. Quero aprender a fazer isso e também descer de árvores como você, além de aprender a usar espadas.

— Quanta exigência! — Apolo riu. — Exatamente o que eu esperava. Muito bem, garoto. Vou ensinar tudo o que quiser aprender. Amanhã, me encontre aqui bem cedo. — Apolo colocou o capuz novamente, escondendo o rosto. — Prepare-se, sua vida vai mudar — avisou antes de desaparecer na floresta.

Keenan respirou fundo; era exatamente disso que precisava — mudanças — e sentia que, ao escolher aquele caminho, nunca mais seria o mesmo. Segurou o lenço que Annabeth havia lhe dado e sorriu. Com certeza, quando ela voltasse, ele a surpreenderia.

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