Capítulo 2

∆ ×

A carruagem passava lentamente pela floresta. Todos os guardas presentes estavam tensos, levando aquele ouro para o rei. Seus olhos treinados percorriam o lugar todo à medida em que avançavam. Sabiam da fama que aquela floresta tinha e esperava que a ideia do rei desse certo desta vez.

— Será mesmo que ele é um espírito? — o jovem guarda indagou, tentando disfarçar o nervosismo na voz.

— O único espírito que vai ter aqui vai ser o seu se não calar a boca — respondeu o outro soldado, mais à frente disse.

Eles continuaram andando, atentos a qualquer movimento suspeito. Estavam em um total de dez homens, os guardas mais fortes e habilidosos do reino; não podiam falhar com o rei. Ouviram o barulho de um piado que parecia de coruja, e pararam assustados.

— O que foi isso?

Ouviram outro barulho; eram assobios que ecoavam por toda a floresta. Os guardas olharam para todos os lados, ouvindo, desta vez, sons de passos e vultos passando por várias partes.

— Eles estão aqui! — exclamou o jovem.

Ouviram outro assobio bem próximo a eles. As espadas se ergueram, ficando em posição de ataque, enquanto procuravam por todos os lados. Ouviram novamente o assovio.

— Aqui em cima! — a voz rouca e abafada veio diretamente de cima da carruagem.

Os olhos dos soldados se arregalaram em espanto e surpresa. Pela primeira vez, viram o mascarado que estava fazendo algazarra em todo o reino. O desenho que faziam dele não era nada comparado ao que viam agora. Ele era muito mais intimidante do que aquilo. Como diziam, era impossível descobrir quem era o homem por trás da máscara, e o fato de ele usar um capuz não ajudava muito. O arqueiro segurava sua arma com a mão direita e tinha uma espada presa à cintura, mas o que eles queriam saber era como aquele homem havia ido parar ali em cima sem que eles vissem.

Quando olharam, o cocheiro estava caído no chão.

Ouviram a risada do homem mascarado. Ele fez um movimento com as mãos e todos ergueram a espada na direção dele.

— Calma, eu pensei que nós pudéssemos conversar sobre essa situação. — Ele cruzou os braços e sua voz era carregada de um sarcasmo arrogante. — Sabe como é, mas vai ser o seguinte: vocês me dão o ouro aqui e podem voltar ao serviço de vocês. Está vendo como é simple?!

— Seu desgraçado, filho da…

— Opa! Ofender a mãe é jogo sujo.

— Desça daí e lute como homem, seu covarde! — O outro guarda rosnou. Keenan olhou para todos eles e um deles chamou sua atenção. O rapaz parecia não ter mais de 18 anos; com certeza era o mais novo entre eles. Deu um sorriso torto.

— Está bem, já que insistem. — Ele deu um giro no ar e caiu no chão; em um piscar de olhos, já estava lutando e atirando flechas em todos eles.

O rei dos ladrões era tão rápido que quase nenhum deles teve a chance de revidar. Enquanto lutavam, seus homens já estavam retirando o ouro de toda a carruagem. Ele lutava bravamente, desviando dos golpes com a espada e desarmando alguns facilmente. Deu golpes para desmaiá-los, tendo que ferir alguns. O último ainda estava no chão; era o garoto novo. Ele se aproximou, e o menino ergueu as mãos.

— Por favor, não me machuque! — o garoto exclamou em desespero.

Ele parou e fitou o menino por um instante.

— Está tudo bem, filho — sua voz foi gentil. — Apenas dê minhas condolências ao rei pelo ouro, e caia fora disso, rapaz, ou vai acabar sendo morto. — avisou, reparando que nos olhos do garoto havia um pouco de admiração.

Em um movimento rápido, tirou da aljava uma flecha e sorriu, estendendo-a para o menino, que aceitou e ficou admirando. Quando o jovem ia se preparar para agradecer, o arqueiro havia sumido no ar.

Ele era mesmo um fantasma, como diziam.

× ∆ ×

Keenan mirou a flecha em direção à janela da penúltima casa. A sacola com as moedas de ouro não foi afetadas. Atirou a flecha, acertando o ponto certinho. Já era de madrugada e, amanhã, quando aquela família acordasse, seriam um pouco mais felizes. Seu coração se apertou ao saber que acabavam de ter um bebê e não tinham dinheiro para se alimentar.

Sorriu e se virou, pulando entre os telhados, indo para a última casa, a que fazia seu coração se aquecer. Olhou para a janela e a lamparina ainda estava acessa, significava que sua mãe ainda estava acordada. Sorrindo, mirou a flecha em um dos cantos da parede. Ele atirou e acertou de primeira.

Observou Gweneth se assustar e olhar para a janela de cima de outra casa. Caramba! Se ela soubesse que era ele, iria ganhar um belo puxão de orelha. Mesmo que já tivesse idade para construir sua própria família, sabia que para aquela mulher ele sempre seria apenas um garotinho.

Quando saiu de casa, já era um rapaz e seu corpo estava mudando. Com muita luta, ele teve que deixar Gweneth para viver na floresta. Claro que ocasionalmente a visitava rapidamente, mas ela sempre lhe perguntava sobre o trabalho, e ele apenas desconversava, dizendo que trabalhava como ferreiro em outro reino. E quando ia embora, sua mãe ainda insistia para que ficasse, mas aquele não era o seu lugar. Não mais! Ele agora pertencia à floresta, contudo, isso não significava que não sentiria uma saudade enorme daquela mulher.

Talvez amanhã fizesse uma visitinha a ela; estava com muitas saudades.

Keenan a observou vir até a janela, fez uma reverência respeitosa e pulou entre os telhados, indo de volta em direção à floresta. O pessoal já devia estar comemorando. Tudo havia dado certo; toda aldeia tinha comida e dinheiro, e, por mais incrível que pareça, ele próprio não se importa com aquilo tudo, sempre ficava com uma porcentagem menor que a do povo, pois era o suficiente, já que vivia sozinho.

Assim que chegou na aldeia da floresta, foi direto para casa e escutou de longe o barulho da festa ainda rolando: música, conversa e bebida. Tomou um banho rápido, colocou roupas confortáveis e saiu na direção da fogueira.

— Eis que surge o homem! — Dino disse, enrolando um pouco a língua. Ele estava tão bêbado que mal se aguentava em pé. O vigia da aldeia era um homem estranho e não tinha nenhuma namorada.

Deu uma pequena risada e apenas balançou a cabeça, servindo-se de um pouco de cerveja. Levantou o copo para seus companheiros de lutas, observando as mulheres de alguns sentadas em seus colos.

— Parabéns senhores! Mais uma etapa concluída para a nossa conquista. — Eles gritaram em resposta, erguendo os seus copos também, sorrindo e bebendo a cerveja.

Olhou para o lado e viu Sinan aos beijos com uma morena. Balançou a cabeça e riu; parecia que todos estavam se divertindo.

Outra mulher chegou perto, mas ele se adiantou, balançando a cabeça, como se mandasse o recado ''hoje não, docinho''. Sexo não era um dos seus planos para aquela noite.

Keenan se afastou e sentou-se de frente para a fogueira. Tocou no bolso novamente, sentindo algo dentro, franzindo a testa, e tirou o objeto para fora; era um paninho vermelho.

Suas sobrancelhas se ergueram; ele havia se esquecido completamente de que o pano estava em sua calça. Apertou com força nas mãos e olhou para o fogo. Um brilho raivoso tomou conta de seus olhos. Tentou saber notícias de Annabeth por quatro anos seguidos desde que ela foi embora, e o xerife sempre falava meias-palavras que soavama "fique longe da minha filha'' ou ''ela está muito bem e não se lembra mais de você''.

Com o passar dos anos, realmente acreditou naquilo. Sua ruivinha não iria mais voltar e nem nunca mais soube dela. Estendeu o pano para o fogo e, por um momento, pensou em jogá-lo nas chamas. No entanto, algo dentro dele não o deixava fazer isso; se irritou e colocou o pano de volta no bolso. Fez um pequeno esforço para se lembrar do rosto dela, mas não recordava muita coisa. Afinal, tinham se passado sete anos, ela deveria estar com uns vinte anos. A única coisa que não conseguia esquecer eram dos cabelos de fogo. Aquilo era impossível de se esquecer nunca encontrou uma menina com o cabelo tão lindo quanto os da sua pequena.

Sua pequena?

— Para o inferno! — Ele disse irritado, nem sabia ao menos por que estava pensando naquilo; fazia anos que nem se lembrava dela. Tomou a cerveja e soube que realmente precisava de sexo.

Olhou para a mulher loira, a mesma com quem passara a noite anterior, levantou-se e sorriu malicioso, indo até ela.

— Mudança de plano, docinho, vamos nos divertir.

A mulher pulou no colo dele, enlaçando as pernas em sua cintura, enquanto ele a carregava para sua casa.

Chega de pensar em cabelos ruivos! Pensou.

E realmente aquilo funcionou por um momento durante o tempo que esteve com a loira, até que uma mulher de cabelos ruivos e completamente linda invadiu seus sonhos.

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