Capítulo 3

Annabeth reprimiu a vontade de olhar pela janela pela trigésima vez. A carruagem avançava cada vez mais, e, da última vez que colocara a cabeça para fora, a estrada da floresta de Forwood ainda era visível. Ela estava ciente do que ocorria naquele lugar e sabia do risco que corria, mas não era exatamente isso que a deixava extremamente ansiosa — finalmente retornava para casa após longos seis anos.

Mordendo os lábios, pensou em como fora sua vida longe de sua aldeia natal.

Vivera com os tios e teve uma excelente educação, tornara-se uma dama; no entanto, também se tornou uma mulher forte, decidida, inteligente e prática. Aprendeu várias outras coisas na aldeia de seus tios. Mas, nem por um segundo, esquecia-se de sua vida na aldeia natal, e seu desejo de voltar para casa continuara vivo por todos esses anos.

Seus pais a visitavam poucas vezes e se comunicavam por pergaminhos. Sentia falta da família e — principalmente — falta dele, seu melhor amigo de infância.

Seu Keenan.

Deu uma risadinha baixa ao se lembrar das confusões em que os dois se metiam quando crianças e das broncas que levavam. Em vários momentos, ela tentou imaginar como ele estaria. Keenan sempre fora um garoto muito bonito, apesar de ser magrinho. Ela suspeitava que ele deveria ter se tornado um homem bonito e trabalhador, mas sem perder aquele ar birrento e brigão.

Será que ele estava casado?

Esse pensamento não a agradou. Annabeth se repreendeu; ele fora sua paixão platônica quando era pequena, e ela já deveria ter superado isso. Então, se de fato Keenan estivesse casado, agiria como sua melhor amiga, a mesma de sempre, e com certeza pediria para ser madrinha de seus filhos — e ele seria o padrinho dos seus.

E, se o moreno não estivesse casado, ela mesma faria o papel de cupido. Tinha quase certeza de que ele iria debochar dela e fazer o mesmo. Annabeth nunca se interessara por ninguém; sua tia tentou lhe arranjar pretendentes, mas não adiantava.

Seus pais iriam ficar bastante aborrecidos quando percebessem que ela continuava solteira. A ideia sempre foi que ela saísse da aldeia e fosse viver com os tios, na esperança de encontrar um bom casamento.

Não havia um homem que fizesse seu coração bater mais forte. Pensando bem, havia, sim, e toda vez que pensava nele seu coração começava a bater em disparada. Um sorriso se formou em seus lábios.

Seus pensamentos foram interrompidos com o aviso do cocheiro de que iriam entrar na floresta.

Annabeth ficou atenta e escolheu uma roupa que não chamasse tanta atenção, vestindo algo mais confortável, como uma calça e uma camisa larga que ia até a sua cintura. Se algo acontecesse, ninguém suspeitaria que ela era a filha do xerife. Fez uma trança nos cabelos ruivos e os escondeu no capuz da camisa, erguendo-o em seguida para cobrir a cabeça.

A carruagem avançou mais alguns metros e parou de repente. Annabeth já imaginava que aquilo pudesse acontecer; portanto, preparou-se e pegou a espada que estava ao seu lado. Mentalmente, torceu para que fossem amigáveis e a deixassem partir, porque ela não tinha ouro nenhum.

O som de algo caindo entre os galhos a fez ficar ainda mais alerta. Annabeth respirou profundamente e esperou. No momento em que a porta foi aberta, ela chutou o grande corpo para trás e saiu da carruagem. O homem caiu no chão, espantado, e a olhou, assim como todos os outros que estavam ao redor da carruagem. Eram cinco homens ao todo, todos encapuzados. Não demorou muito para ela avançar contra eles.

Seu corpo se movia rápido e com força, apesar de ser um pouco menor que seus adversários; isso, pelo menos, era uma excelente vantagem. Percebeu que os ladrões estavam impressionados com ela. Afinal, não era muito comum uma mulher saber lutar, ainda mais com tanta habilidade.

Ela aproveitou-se disso, girou o corpo e deu um chute com força na barriga de um dos homens, vendo-o cair no chão.

Outro tentava atacá-la por trás, então se abaixou rapidamente e lhe deu uma rasteira, chutando a espada dele para longe. Em seguida, ouviram um assobio, e logo todos desapareceram na floresta.

Quando Annabeth olhou para o cocheiro, ele estava pálido e com os olhos arregalados.

— C-como a senhorita fez isso? — ele perguntou, assustado.

Ela apenas deu de ombros.

— Fiz algumas aulas com meu tio no outro reino. Aprendi a me defender — sorriu. — Vamos sair daqui, antes que venham mais deles.

O senhor, ainda meio assustado, assentiu. Annabeth voltou para a carruagem e se ajeitou. O aprendizado com o tio valera a pena; ele a ensinou tudo direitinho. Fora o melhor guerreiro de todos os tempos e ficaria feliz com o resultado se a visse agora.

Ela detestava aquelas expressões de desdém que faziam só pelo fato de ser mulher. Agora, havia mostrado a força que tinha. Novamente, pensou no amigo de infância; seria engraçado contar a ele o que acabara de viver e até convidá-lo para uma luta. Tinha quase certeza de que agora ganharia dele.

Quando a carruagem parou novamente, ela sabia que havia chegado em casa. A porta ao seu lado se abriu, e ela viu o pai lhe estender a mão com um sorriso bobo nos lábios. Não pôde deixar de sentir seu coração apertar. Sentira tanta falta dele que seu corpo se moveu sozinho. Ignorou a mão estendida e pulou no colo do homem.

O xerife Edward Riley riu, segurou a filha no colo, girando-a e a abraçando, como sempre fazia quando ela era pequena.

— Minha filha, que saudades. — Ele parou de girá-la e deu um beijo na testa dela. — Olha só para você, está tão linda! — Seus olhos se encheram de emoção ao ver que sua garotinha havia se tornado uma mulher.

— Senti saudades também, papai — sorriu, sentindo os braços da mãe envolverem-na logo depois.

— Meu Deus! Minha menina está de volta! — Bozena deu vários beijos no rosto da filha e tocou seu rosto, analisando o corpo dela. Em seguida, franziu a testa. — Pode me explicar que roupas são essas?

Annabeth sorriu, tirou o capuz e revelou os fios ruivos.

— Como a estrada da floresta está perigosa, resolvi me disfarçar, com medo de que alguém notasse a semelhança entre nós — respondeu, esperando que essa resposta fosse suficiente. Felizmente, os pais concordaram.

— Sim, houve algum contratempo? Você encontrou... — perguntou o pai, preocupado. Ela balançou a cabeça, decidindo não contar nada sobre o que acontecera na floresta. Depois, com mais calma, resolveria a situação. — Graças a Deus! Venha, vamos entrar. Você deve estar cansada.

— E faminta.

— Ótimo! Mandei preparar um delicioso jantar.

— Hum! Tenho certeza de que está uma delícia. A senhora Bentley está na cozinha? — perguntou, planejando visitá-la mais tarde. Estranhou o silêncio do pai. Ah! Ele não fez isso. — Pai, o senhor demitiu a senhora Bentley?

— Ah, filha, faz anos que a família Bentley não trabalha mais para mim. Mas vamos esquecer isso, sim?

— E o Keenan? — questionou rapidamente, e toda sua fome desapareceu.

Agora, mais do que nunca, estava ansiosa para encontrá-lo de novo. Precisava saber o que havia acontecido.

Deus, será que eles estão bem? Precisam de algo?

— Não vejo esse rapaz há muito tempo. Ele deve ter se metido em algum lugar por aí no reino; sempre foi encrenqueiro. — Edward tentou se defender do olhar acusador da filha.

— Mas, pai, por que fez isso? Você sabe que a família deles precisava...

— Anna, por favor, você acabou de chegar; não vamos falar sobre isso agora! O importante é que tenho você de volta.

O xerife sorriu e a abraçou. Ela deixou o assunto para aquele momento, mas sabia que, se o pai não quisesse falar mais tarde, ela mesma procuraria os Bentley.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo