Keenan sentiu a neblina fria tocar seu rosto, talvez aquilo ajudasse a acalmar seus pensamentos e trouxesse o sono. Hoje, seu alter ego estava em repouso; ele não tinha disposição para assumir outra identidade, ou corria o risco de cometer um deslize — e nenhuma daquelas pessoas merecia sofrer com um erro.Sua mente fervilhava, incapaz de escapar dos pensamentos sobre o que acontecera mais cedo. Por que Annabeth arriscara tanto, aventurando-se naquela estrada com um disfarce? Não que a escolha tivesse sido insensata; ela sempre fora esperta, talvez o disfarce fosse mesmo para proteger sua identidade. Ainda assim, o perigo era real.Por que, afinal, Annabeth havia retornado depois de ele ter se convencido de que isso jamais aconteceria?Era até tolice pensar tanto nela, ainda mais depois de todo o tempo que passara sem respostas às cartas que lhe escrevera. Mas lá estava ele, perturbado, preso à lembrança de sua amiga de infância, e incapaz de afastá-la dos pensamentos.Um som frustrad
Ao amanhecer, Keenan precisava descarregar sua raiva em algo. Passara o restante da noite no campo de treinamento, e, quando finalmente adormeceu, foi atormentado por sonhos com Annabeth: aqueles lábios carnudos e vermelhos, os olhos azuis brilhantes que o deixavam sem ar. Todos os seus instintos masculinos se acenderam, o desejo por ela quase insuportável ao acordar. Ele ansiava por tê-la, desejando desesperadamente tê-la em sua cama.Soltando um grito abafado, Keenan disparou flechas seguidas contra o alvo, até que o boneco de feno se desfez no chão.— Pode começar a falar. — A voz de Sinan soou firme atrás dele.— Me recuso a me sentir assim. — Keenan atirou mais uma flecha, sem nem olhar para o alvo, acertando em cheio.— Por isso estou pedindo: comece a falar. — Sinan insistiu.Keenan respirou fundo, olhando para o céu nublado. — Ela era minha melhor amiga de infância… é a filha do xerife.O amigo ficou em silêncio por alguns instantes, digerindo a revelação. — A mulher ruiva da
Annabeth tentou formular uma frase, mas sua voz sumiu. O homem diante dela era alto, lindo demais para ser verdade — uma beleza quase criminosa. Ela se esforçava para não deixar transparecer o nervosismo, embora suas mãos tremessem. O olhar dele continuava feroz e quente, cada vez mais intrigante.— Quem diria, senhorita Annabeth Riley, por aqui — ele disse com um sorriso de lado, charmoso. — Até apertaria sua mão, mas estou todo sujo — levantou as mãos sujas.Ao ouvir a voz grave de Keenan pela primeira vez, um arrepio percorreu seu corpo. A mente dela foi direto para um lado tentadoramente pecaminoso; não se importaria nem um pouco em se sujar com ele.— Você sabe que nunca me importei com isso — retrucou, estendendo a mão, esperando pelo contato dos dedos dele. Na verdade, queria mais que um aperto de mão; queria senti-lo, abraçá-lo, a respiração dele contra a dela.Sem escolha, ele apertou a mão dela, e um calor subiu pelos corpos dos dois, causando uma eletricidade excitante. Mas
Keenan parou na esquina da mansão do xerife e olhou para a garota.— Está entregue — disse, virando-se para sair.— Pensei que você ficaria feliz quando me visse.O som da voz embargada dela o pegou desprevenido. Ele se virou na direção dela, e o olhar dela o desarmou.— Annabeth… — suspirou derrotado, fechando os olhos com força. Quando os abriu, confessou: — Você não respondeu nenhuma das minhas cartas. Eu me esforcei bastante para conseguir escrevê-las.— Espera… Suas cartas?! — questionou, atônita.— Sim… Escrevi cartas para você, mandei para sua mãe. Eu não sabia o endereço do lugar onde estava. Mas, pelo jeito, ela não gosta de mim, assim como seu pai.— O quê? — exclamou, com a boca aberta. — Eu não recebi nenhuma carta, Keenan.— Por que não estou surpreso com isso? — Ele deu uma risada sarcástica. — Suponho que você tem muito o que conversar com seus pais.— Não posso acreditar que eles fizeram isso comigo — a ruiva balançou a cabeça, indignada. — Keenan, eu não recebi carta
Sinan segurou a corda do poço com força e foi puxando o balde com água para cima. Enquanto fazia o trabalho braçal, os pensamentos sobre seu passado o atormentavam.As mãos dele tremeram. Ele balançou a cabeça e se concentrou. Quando trouxe o balde de água à superfície, encheu o outro que estava vazio.Ao terminar, devolveu o balde ao poço e pegou um pouco de água, jogando sobre o rosto.— Então, o que vocês dois estão escondendo? — a voz veio por trás dele.— Tina — ele não se virou, já que reconheceu a voz dela. — De onde você tirou isso?— Olha, vocês homens subestimam a inteligência das mulheres — a loira se aproximou dele e riu. — Vocês dois estão escondendo algo de mim, e como sou do “bando”, preciso saber.Sinan sorriu de lado e olhou para ela. Percebeu a confiança nos olhos castanhos.— Acredito que a mocinha seja bastante desconfiada. Não estamos escondendo nada.— Sinan de Forwood — a garota se aproximou dele e ficou perto o suficiente para suas respirações se misturarem. El
Duas semanas se passaram desde a chegada de Annabeth. Ela ainda tentava se acostumar com sua rotina em casa, mas, diariamente, seu pai chegava furioso por causa do famoso ladrão. Vê-lo tão irritado a fazia se sentir um pouco melhor, afinal, ainda não o havia perdoado por nunca ter entregado as cartas de Keenan. E não o perdoaria, especialmente depois que o xerife confessou que as queimou uma por uma.Por isso, Annabeth até gostava da “surra” que o arqueiro mascarado dava em seu pai.O que Keenan havia escrito, ela nunca saberia, a menos que o perguntasse, mas o problema era que não o via desde o último encontro. Como não podia fazer nada e não sabia onde ele estava, teria que esperar até sua volta.Devido à sua ansiedade, teve um sonho na noite anterior, uma lembrança do passado. Ela e Keenan, mais novos, estavam brincando na cachoeira da floresta. Fora o próprio garoto quem encontrou aquele lugar, e ninguém se atrevia a ir lá por conta dos "espíritos". Então, aquele canto se tornou d
Annabeth ouviu o pai abrir a porta da sala como uma fera. Os olhos dele faiscavam de raiva. Só havia uma pessoa em toda Forwood que o deixava assim. Ele a olhou com as mãos na cintura, enquanto ela o ignorava, como vinha fazendo ultimamente.— De hoje em diante, você não irá mais sair desacompanhada — avisou o xerife. — Vou cuidar para que você fique sob a supervisão de um dos meus soldados.— O quê? — Annabeth se levantou da cadeira. — Não preciso disso, muito menos de um idiota fardado me seguindo por aí.— Ah! Agora está falando comigo? — Edward a encarou. — Pois terá, mesmo assim. O rei dos ladrões sabe que você é minha filha e não sairá mais sozinha. É para sua segurança, Annabeth.— Mamãe! — suplicou, voltando-se para a mãe.— Desculpe, meu amor, mas desta vez concordo com seu pai. Não sabemos o que esse homem poderia fazer se ele a encontrasse sozinha.— Ele não… — Ela se interrompeu, vendo os olhares alarmados dos pais.— Ele não o quê? — questionou o xerife.— O rei dos ladrõ
Quando Anna chegou à mansão, esperou até que o cocheiro partisse de volta para o castelo. Em seguida, foi ao celeiro, montou seu cavalo e seguiu em direção à floresta. Precisava ser rápida. Estava quase anoitecendo e ela pretendia voltar antes que seus pais retornassem.Ao se aproximar da estrada, amarrou as rédeas em uma árvore e seguiu a pé para dentro da floresta, torcendo para encontrar o rei dos ladrões ou algum de seus ajudantes. Seu coração batia tão forte que nem teve o cuidado de olhar onde pisava. Deu mais um passo e, de repente, uma rede oculta entre as folhas se fechou ao seu redor, formando uma bola que a ergueu no ar.— Mas que droga! — Anna gritou, balançando na rede. — FILHOS DA... — Ela respirou fundo, tentando manter a calma. — Tudo bem, preciso sair daqui... — Inspirou profundamente e tentou procurar algo para cortar a rede, mas não estava com nada afiado. — Droga! — exclamou de novo, e então ouviu uma risada que reconheceu de imediato.— Parece que capturei uma leo