Avisos: Essa é a uma história de Ficção.
Conteúdo Adulto. Créditos: Capa criada por Freepik IDADE MÉDIA - INGLATERRA - FORWOOD As nuvens encobriam o céu enquanto os gritos ecoavam pelos becos da Aldeia de Forwood. Um menino pulava sobre as tendas das barracas enquanto fugia, levando três maçãs em suas mãos. Atrás do pestinha estava a guarda real, e ele ouvia os gritos dos aldeões comerciantes – alguns reclamavam de sua ação, enquanto outros praguejavam contra os que o perseguiam. O garoto saltou da última tenda, dando uma cambalhota ao alcançar o chão. As galinhas no caminho se espalharam, cacarejando e batendo as asas para sair da frente. Ele olhou para trás e viu os soldados sendo barrados pelos comerciantes. Um sorriso sapeca tomou conta de seu rosto. — Corre, garoto! — exclamou um feirante. — Toma aqui. — Ele entregou mais uma fruta ao rapaz. — Obrigado, senhor Eduardo — respondeu o menino. Em um ato de ousadia e travessura, ele parou rapidamente, e, olhando para os guardas, fez uma saudação zombeteira antes de voltar a correr ao vê-los conseguindo passar pela multidão. Então, usando toda sua agilidade e esperteza, se escondeu em um beco estreito. — Vamos te pegar, moleque! — os gritos dos soldados ecoaram pelos becos. Segurando as frutas, ele pegou um atalho, subindo entre os telhados e pulando sobre eles. Uma parte do telhado de tijolos caiu no chão e, fazendo uma careta, ele olhou para trás, aliviado por não ter causado nenhum estrago. A feirinha da cidade já estava em caos por sua causa. Ao chegar ao ponto de encontro perto do lago, desceu com cuidado e olhou para as três crianças pequenas que o esperavam. — Ei, aqui está — disse, entregando as maçãs. Os pequenos, famintos, começaram a comer, e ele suspirou. Estava cada vez mais difícil. A aldeia de Forwood era dominada por um rei tirano, que exigia impostos cada vez mais altos de seu povo. O que sobrava para eles mal dava para se alimentarem. — Cadê a Annabeth? — Está perto do lago. Ele assentiu, fez um carinho no cabelo do garoto e seguiu em direção ao lago. Observando a garota à beira d'água, ele se aproximou com cuidado, em passos lentos, segurando o riso. Era muito bom em surpreender os outros. Num movimento rápido, segurou-a pelos braços finos e a balançou, fazendo-a soltar um grito de susto antes de se virar para ele. — Distraída! — acusou ele. — Isso não tem graça, Keenan — respondeu ela, dando um tapa em seu braço e fazendo bico. — Seu magricela irritante, não faça mais isso! — É sempre engraçado assustá-la, Annabeth — disse ele, rindo. — Você demorou! Daqui a pouco vai escurecer, e minha mãe vai me matar! — reclamou ela. — Não demorei tanto assim — disse Keenan, rindo. Ele pegou a última maçã, fez uma brincadeira exibida e a jogou para a garota, que riu e deu uma mordida. Annabeth Riley era sua melhor amiga e filha do xerife de Forwood. Apesar da pequena diferença de idade, os dois cresceram juntos; a mãe dele trabalhava para a família Riley desde muito jovem. Ele e Aninha, como gostava de chamá-la, brincavam por aí. Por estar sempre na mansão do xerife, ele tinha algumas regalias que outras crianças da aldeia não tinham. Sua educação foi exemplar; ele aprendeu a ler e escrever, embora Annabeth tivesse aulas melhores que as dele. Não era bem-visto que uma mulher soubesse ler e escrever, mas os pais de Annabeth sempre foram mais flexíveis. Keenan olhou para a menina de cabelos flamejantes e ondulados, que caíam até a cintura, olhos azuis grandes e pequenas sardas que lhe salpicavam o nariz e abaixo dos olhos. Ela lhe lembrava uma raposinha. — Ken, preciso ir para casa. Está escurecendo, e minha mãe quer me ensinar a bordar — bufou. — Que coisa mais chata! Ainda bem que lhe dou um pouco de emoção — zombou ele, puxando levemente um fio de cabelo dela. — Para! — respondeu a menina, mostrando-lhe a língua e dando-lhe um chute no traseiro. — Que modos são esses, senhorita Riley? — brincou Keenan, fingindo repreensão. — Andar com você está me deixando assim. Papai diz que falta pouco para eu virar um menino, de tanto que fico com você. Keenan riu e balançou a cabeça. Era bem o tipo de coisa que o xerife diria. Ele sabia que as implicâncias estavam para começar; fazia algum tempo que o senhor Riley o olhava de outra forma, talvez por ele sempre se meter em confusão e Annabeth estar junto. Eles começaram a caminhar. — Você não se parece nada com um menino, pode ficar tranquila. — Espero que não — disse a menina, com um tom incerto. — Nossos corpos são diferentes. — Como assim? — Os olhos azuis se encheram de curiosidade. — Ah, nada. Um dia você vai entender — comentou, tentando evitar o assunto. Keenan sabia que sua melhor amiga não desistiria tão fácil. Ela odiava ficar por fora das coisas. Mas aquele assunto — especialmente aquele — não era para se discutir assim. Era algo para descobrir com a mãe ou sozinha, de preferência. — O que você quer dizer com isso? — insistiu ela. — Um dia você vai descobrir, quando estiver casada. Somos diferentes, é tudo o que precisa saber. Não se preocupe, você nem de longe vai virar um menino. — Hum? Por que quando eu estiver casada? Conte-me agora! Temos quase a mesma idade, não é justo você saber mais do que eu. Ele riu. Aquela era a sua garota: determinada e esperta. — Aninha, quando você for mais velha, vai ter essa conversa — garantiu. — E eu sou três anos mais velho que você. Tenho 16, e você 13. — Farei 14 em breve — retrucou ela. — E continuará miúda. Mais uma vez, a garota lhe mostrou a língua e o empurrou, iniciando uma guerrinha entre eles. Quando estavam próximos à mansão dos Riley, a ruiva parou de repente. — O que foi? — perguntou ele, ao notar que ela desviava o olhar. — Preciso lhe contar uma coisa — Annabeth mordeu os lábios, nervosa. — Meu pai quer que eu vá morar com meus tios por um tempo. — Como é? Ele recebeu a notícia como um golpe. Foi como se tivesse levado um soco no estômago, ficando sem ar por alguns instantes, tentando assimilar o que ela havia dito. — Infelizmente, terei que ir embora — Annabeth soltou um muxoxo. — Por quê? — Quando eu fizer 15, acho que me farão debutar. É a idade para o casamento ou, pelo menos, para um noivado. — Isso é um absurdo! — esbravejou ele. — Você não quer ir. Você não pode ir! — Não quero, mas não tenho muita escolha. Keenan suspirou, derrotado. Sabia que não poderia fazer nada. O que ele mais temia era perder sua melhor amiga. Desde bebês, eles estavam sempre juntos, e se separar agora seria doloroso. Ao chegarem aos muros de pedra que separavam a mansão da rua, ela parou de repente na frente dele. — Eu vou escrever para você. Isso não vai ser para sempre; será só por um tempo. — Isso mesmo. Você não vai querer casar com um velho fedido. Ela fez uma careta de nojo. — Eca, não! Quero me casar por amor — disse ela, com um ar sonhador. — Com um homem moreno, alto, de olhos lindos e romântico... — Oh! Oh! Oh! — Keenan estalou os dedos na frente dela. Annabeth piscou algumas vezes. — Que foi? — Você estava cheia desses pensamentos femininos — provocou ele. Os olhos azuis dela brilharam, e a tristeza pareceu desaparecer. — Estou tendo mais um. Após essa frase, a menina se aproximou e encostou seus lábios nos dele. Aquela colisão durou apenas alguns segundos, mas o deixou completamente sem reação. — Tchau, Keenan. E sem se explicar, a garota saiu correndo e entrou em casa, deixando-o estático, confuso, surpreso, com o coração acelerado e, o pior, com um sorriso bobo nos lábios.Algumas semanas depois— Eu não quero ir — Annabeth disse, abraçada a Keenan, com o rosto enterrado em seu peito. — Não quero que ninguém pegue o meu lugar.E aquilo era pura verdade; o maior medo de Annabeth era ser esquecida ou substituída.— Ei, ei... olhe para mim — ele pediu, tocando delicadamente o rosto dela. — Ninguém pode tomar o seu lugar. Ele é só seu. Você é única!— Sou mesmo? — perguntou com a voz embargada.Ele balançou a cabeça, concordando.— Já podemos ir, Annabeth? — A voz impaciente de seu pai soava irritada.Nem uma despedida decente eles poderiam ter. Annabeth apertou o abraço em Keenan, sem conseguir imaginar como seria sua vida sem ele. Era seu melhor amigo, e, em todas as confusões em que ele se metia, lá estavam eles juntos.— Filha, precisamos ir — disse Bozena, a mãe dela.— Não! — sussurrou Annabeth, enterrando o rosto mais fundo no peito dele.— Aninha — murmurou Keenan, segurando o rosto dela e o erguendo devagar. — Isso vai ser rápido. Você voltará logo
7 anos depoisKeenan Bentley segurava a espada com firmeza, e todo o seu corpo estava em alerta; olhou ao redor e percebeu seis homens ao seu redor. Um sorriso perigoso e ladino surgiu em seus lábios. Ele levantou uma sobrancelha, aguardando calmamente o ataque, já prevendo cada movimento de seus adversários. Inclinou a cabeça para o lado, ouvindo um leve estalo no pescoço, enquanto dois homens se aproximavam ao mesmo tempo, um pela lateral e outro por trás.Com o pesado treinamento que enfrentou, Keenan havia adquirido uma destreza ímpar. No momento certo, abaixou-se, desviando dos golpes, mas, de repente, todos os homens começaram a atacar juntos. Os gritos de guerra ecoaram pela arena, enquanto ele se movia como um deus: veloz, implacável e furioso. Seus golpes, sempre certeiros, carregavam uma originalidade inigualável, tornando impossível para seus oponentes tanto acertá-lo quanto escaparem de seus ataques. Não havia ninguém que lutasse como ele, mas seus adversários não desistir
∆ ×A carruagem passava lentamente pela floresta. Todos os guardas presentes estavam tensos, levando aquele ouro para o rei. Seus olhos treinados percorriam o lugar todo à medida em que avançavam. Sabiam da fama que aquela floresta tinha e esperava que a ideia do rei desse certo desta vez.— Será mesmo que ele é um espírito? — o jovem guarda indagou, tentando disfarçar o nervosismo na voz.— O único espírito que vai ter aqui vai ser o seu se não calar a boca — respondeu o outro soldado, mais à frente disse.Eles continuaram andando, atentos a qualquer movimento suspeito. Estavam em um total de dez homens, os guardas mais fortes e habilidosos do reino; não podiam falhar com o rei. Ouviram o barulho de um piado que parecia de coruja, e pararam assustados. — O que foi isso?Ouviram outro barulho; eram assobios que ecoavam por toda a floresta. Os guardas olharam para todos os lados, ouvindo, desta vez, sons de passos e vultos passando por várias partes.— Eles estão aqui! — exclamou o j
Annabeth reprimiu a vontade de olhar pela janela pela trigésima vez. A carruagem avançava cada vez mais, e, da última vez que colocara a cabeça para fora, a estrada da floresta de Forwood ainda era visível. Ela estava ciente do que ocorria naquele lugar e sabia do risco que corria, mas não era exatamente isso que a deixava extremamente ansiosa — finalmente retornava para casa após longos seis anos.Mordendo os lábios, pensou em como fora sua vida longe de sua aldeia natal.Vivera com os tios e teve uma excelente educação, tornara-se uma dama; no entanto, também se tornou uma mulher forte, decidida, inteligente e prática. Aprendeu várias outras coisas na aldeia de seus tios. Mas, nem por um segundo, esquecia-se de sua vida na aldeia natal, e seu desejo de voltar para casa continuara vivo por todos esses anos.Seus pais a visitavam poucas vezes e se comunicavam por pergaminhos. Sentia falta da família e — principalmente — falta dele, seu melhor amigo de infância.Seu Keenan.Deu uma ris
Keenan bateu na porta da casa e aguardou. Quando ela se abriu, uma senhora morena apareceu e, ao vê-lo, seus olhos se encheram de alegria. Ela abraçou o corpo grande e forte do filho. Um sorriso carinhoso surgiu no rosto dele, que beijou a cabeça da mãe e a envolveu com seus braços.— Ah, meu Deus! Quer me matar do coração? Não me deixe sem notícias, garoto! Não importa a sua idade, se sumir desse jeito, vou dar uns tapas nessa sua bunda grande — reclamou, olhando nos olhos escuros do filho, fazendo-o sorrir de lado. — Nossa, você parece cada vez mais forte — disse, apertando um braço musculoso e duro. Seu menino havia se tornado um homem. — O que você anda comendo, garoto?Ele soltou uma risada baixa e gostosa, adentrou a casa abaixando a cabeça ao passar pela porta e observou o ambiente ao redor. Tudo continuava igual: uma pequena sala, a cozinha ao lado e um corredor que levava aos quartos. Inspirou profundamente, sentindo o cheiro de sopa no ar.— Não acredito! — exclamou, com os
— Mãe, vou dar uma volta pela cidade! — Annabeth avisou, apressando-se para sair da mansão.O dia estava agradável, apesar do céu escuro e carregado de nuvens sombrias. Ao entrar no vilarejo, ela observou tudo ao redor. Os preços do mercado haviam aumentado, e as pessoas trabalhavam sem ânimo, com expressões cansadas.Em várias partes do vilarejo, estavam pendurados cartazes com a foto do tal "Rei dos Ladrões", oferecendo uma generosa recompensa para quem o entregasse. Ela se aproximou de um dos cartazes e o analisou: a imagem mostrava o homem com capuz e máscara, cobrindo grande parte do rosto.— Legal, não é mesmo? — uma voz infantil disse, surpreendendo-a. Ao seu lado, estava um pequeno garoto. — Tomara que ninguém o pegue — sussurrou ele, lançando um olhar cuidadoso ao redor.— É mesmo?— Sim, ele é o nosso herói — suspirou o menino, com olhos escuros cheios de admiração. — Quando eu crescer, quero ser igual a ele. — A criança olhou para o cartaz, e Annabeth percebeu o brilho de a
Não! Aquela era a Anna? A sua Aninha estava de volta?Keenan ainda estava olhando para a mulher, totalmente sem ação. Aquela era uma surpresa e tanto. Apesar do assombro em seu rosto, nada se comparava à tempestade que se formava dentro dele. Era uma explosão de sentimentos: alegria, raiva, saudade, e havia algo maior, mais quente, que fazia seu coração disparar — um sentimento que ele não conseguiu identificar. Seus olhos ainda estavam conectados aos dela. Tentou abrir a boca, mas não saiu nenhum som.Os olhos azuis dela o encaravam com curiosidade, mas quando seus homens começaram a se aproximar, Annabeth desviou o olhar e ergueu a capa rapidamente, saindo correndo pela floresta, deixando a espada no chão e indo em disparada para a aldeia de Forwood.— Vamos atrás dela, antes que ela chegue na entrada da aldeia! — um dos rapazes gritou.— Não! — A voz dele soou como um trovão. — Ninguém vai atrás dela, deixem-na ir. — Keenan pegou a espada dela. Sua sorte era que ele usava luvas, as
Keenan sentiu a neblina fria tocar seu rosto, talvez aquilo ajudasse a acalmar seus pensamentos e trouxesse o sono. Hoje, seu alter ego estava em repouso; ele não tinha disposição para assumir outra identidade, ou corria o risco de cometer um deslize — e nenhuma daquelas pessoas merecia sofrer com um erro. Sua mente fervilhava, incapaz de escapar dos pensamentos sobre o que acontecera mais cedo. Por que Annabeth arriscara tanto, aventurando-se naquela estrada com um disfarce? Não que a escolha tivesse sido insensata; ela sempre fora esperta, talvez o disfarce fosse mesmo para proteger sua identidade. Ainda assim, o perigo era real. Por que, afinal, Annabeth havia retornado depois de ele ter se convencido de que isso jamais aconteceria? Era até tolice pensar tanto nela, ainda mais depois de todo o tempo que passara sem respostas às cartas que lhe escrevera. Mas lá estava ele, perturbado, preso à lembrança de sua amiga de infância, e incapaz de afastá-la dos pensamentos. Um som f