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O Rei dos Ladrões
O Rei dos Ladrões
Por: NanaBOliver
Prólogo - parte 1

Avisos: Essa é a uma história de Ficção.

Conteúdo Adulto.

Créditos: Capa criada por Freepik

IDADE MÉDIA - INGLATERRA - FORWOOD

As nuvens encobriam o céu enquanto os gritos ecoavam pelos becos da Aldeia de Forwood. Um menino pulava sobre as tendas das barracas enquanto fugia, levando três maçãs em suas mãos. Atrás do pestinha estava a guarda real, e ele ouvia os gritos dos aldeões comerciantes – alguns reclamavam de sua ação, enquanto outros praguejavam contra os que o perseguiam.

O garoto saltou da última tenda, dando uma cambalhota ao alcançar o chão. As galinhas no caminho se espalharam, cacarejando e batendo as asas para sair da frente. Ele olhou para trás e viu os soldados sendo barrados pelos comerciantes. Um sorriso sapeca tomou conta de seu rosto.

— Corre, garoto! — exclamou um feirante. — Toma aqui. — Ele entregou mais uma fruta ao rapaz.

— Obrigado, senhor Eduardo — respondeu o menino.

Em um ato de ousadia e travessura, ele parou rapidamente, e, olhando para os guardas, fez uma saudação zombeteira antes de voltar a correr ao vê-los conseguindo passar pela multidão. Então, usando toda sua agilidade e esperteza, se escondeu em um beco estreito.

— Vamos te pegar, moleque! — os gritos dos soldados ecoaram pelos becos.

Segurando as frutas, ele pegou um atalho, subindo entre os telhados e pulando sobre eles. Uma parte do telhado de tijolos caiu no chão e, fazendo uma careta, ele olhou para trás, aliviado por não ter causado nenhum estrago. A feirinha da cidade já estava em caos por sua causa.

Ao chegar ao ponto de encontro perto do lago, desceu com cuidado e olhou para as três crianças pequenas que o esperavam.

— Ei, aqui está — disse, entregando as maçãs.

Os pequenos, famintos, começaram a comer, e ele suspirou. Estava cada vez mais difícil. A aldeia de Forwood era dominada por um rei tirano, que exigia impostos cada vez mais altos de seu povo. O que sobrava para eles mal dava para se alimentarem.

— Cadê a Annabeth?

— Está perto do lago.

Ele assentiu, fez um carinho no cabelo do garoto e seguiu em direção ao lago.

Observando a garota à beira d'água, ele se aproximou com cuidado, em passos lentos, segurando o riso. Era muito bom em surpreender os outros. Num movimento rápido, segurou-a pelos braços finos e a balançou, fazendo-a soltar um grito de susto antes de se virar para ele.

— Distraída! — acusou ele.

— Isso não tem graça, Keenan — respondeu ela, dando um tapa em seu braço e fazendo bico. — Seu magricela irritante, não faça mais isso!

— É sempre engraçado assustá-la, Annabeth — disse ele, rindo.

— Você demorou! Daqui a pouco vai escurecer, e minha mãe vai me matar! — reclamou ela.

— Não demorei tanto assim — disse Keenan, rindo.

Ele pegou a última maçã, fez uma brincadeira exibida e a jogou para a garota, que riu e deu uma mordida. Annabeth Riley era sua melhor amiga e filha do xerife de Forwood. Apesar da pequena diferença de idade, os dois cresceram juntos; a mãe dele trabalhava para a família Riley desde muito jovem.

Ele e Aninha, como gostava de chamá-la, brincavam por aí. Por estar sempre na mansão do xerife, ele tinha algumas regalias que outras crianças da aldeia não tinham. Sua educação foi exemplar; ele aprendeu a ler e escrever, embora Annabeth tivesse aulas melhores que as dele. Não era bem-visto que uma mulher soubesse ler e escrever, mas os pais de Annabeth sempre foram mais flexíveis.

Keenan olhou para a menina de cabelos flamejantes e ondulados, que caíam até a cintura, olhos azuis grandes e pequenas sardas que lhe salpicavam o nariz e abaixo dos olhos.

Ela lhe lembrava uma raposinha.

— Ken, preciso ir para casa. Está escurecendo, e minha mãe quer me ensinar a bordar — bufou.

— Que coisa mais chata! Ainda bem que lhe dou um pouco de emoção — zombou ele, puxando levemente um fio de cabelo dela.

— Para! — respondeu a menina, mostrando-lhe a língua e dando-lhe um chute no traseiro.

— Que modos são esses, senhorita Riley? — brincou Keenan, fingindo repreensão.

— Andar com você está me deixando assim. Papai diz que falta pouco para eu virar um menino, de tanto que fico com você.

Keenan riu e balançou a cabeça. Era bem o tipo de coisa que o xerife diria. Ele sabia que as implicâncias estavam para começar; fazia algum tempo que o senhor Riley o olhava de outra forma, talvez por ele sempre se meter em confusão e Annabeth estar junto.

Eles começaram a caminhar.

— Você não se parece nada com um menino, pode ficar tranquila.

— Espero que não — disse a menina, com um tom incerto.

— Nossos corpos são diferentes.

— Como assim? — Os olhos azuis se encheram de curiosidade.

— Ah, nada. Um dia você vai entender — comentou, tentando evitar o assunto.

Keenan sabia que sua melhor amiga não desistiria tão fácil. Ela odiava ficar por fora das coisas. Mas aquele assunto — especialmente aquele — não era para se discutir assim. Era algo para descobrir com a mãe ou sozinha, de preferência.

— O que você quer dizer com isso? — insistiu ela.

— Um dia você vai descobrir, quando estiver casada. Somos diferentes, é tudo o que precisa saber. Não se preocupe, você nem de longe vai virar um menino.

— Hum? Por que quando eu estiver casada? Conte-me agora! Temos quase a mesma idade, não é justo você saber mais do que eu.

Ele riu. Aquela era a sua garota: determinada e esperta.

— Aninha, quando você for mais velha, vai ter essa conversa — garantiu. — E eu sou três anos mais velho que você. Tenho 16, e você 13.

— Farei 14 em breve — retrucou ela.

— E continuará miúda.

Mais uma vez, a garota lhe mostrou a língua e o empurrou, iniciando uma guerrinha entre eles. Quando estavam próximos à mansão dos Riley, a ruiva parou de repente.

— O que foi? — perguntou ele, ao notar que ela desviava o olhar.

— Preciso lhe contar uma coisa — Annabeth mordeu os lábios, nervosa. — Meu pai quer que eu vá morar com meus tios por um tempo.

— Como é?

Ele recebeu a notícia como um golpe. Foi como se tivesse levado um soco no estômago, ficando sem ar por alguns instantes, tentando assimilar o que ela havia dito.

— Infelizmente, terei que ir embora — Annabeth soltou um muxoxo.

— Por quê?

— Quando eu fizer 15, acho que me farão debutar. É a idade para o casamento ou, pelo menos, para um noivado.

— Isso é um absurdo! — esbravejou ele. — Você não quer ir. Você não pode ir!

— Não quero, mas não tenho muita escolha.

Keenan suspirou, derrotado. Sabia que não poderia fazer nada. O que ele mais temia era perder sua melhor amiga. Desde bebês, eles estavam sempre juntos, e se separar agora seria doloroso.

Ao chegarem aos muros de pedra que separavam a mansão da rua, ela parou de repente na frente dele.

— Eu vou escrever para você. Isso não vai ser para sempre; será só por um tempo.

— Isso mesmo. Você não vai querer casar com um velho fedido.

Ela fez uma careta de nojo.

— Eca, não! Quero me casar por amor — disse ela, com um ar sonhador. — Com um homem moreno, alto, de olhos lindos e romântico...

— Oh! Oh! Oh! — Keenan estalou os dedos na frente dela.

Annabeth piscou algumas vezes.

— Que foi?

— Você estava cheia desses pensamentos femininos — provocou ele.

Os olhos azuis dela brilharam, e a tristeza pareceu desaparecer.

— Estou tendo mais um.

Após essa frase, a menina se aproximou e encostou seus lábios nos dele. Aquela colisão durou apenas alguns segundos, mas o deixou completamente sem reação.

— Tchau, Keenan.

E sem se explicar, a garota saiu correndo e entrou em casa, deixando-o estático, confuso, surpreso, com o coração acelerado e, o pior, com um sorriso bobo nos lábios.

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