Eu devia saber que teria um dia difícil. Eu não parei um só minuto. Reuniões após reuniões, uma infinidade de relatórios para analisar e outros tantos para fazer. Eu sequer parei para almoçar e me senti grata por encontrar uma barra de cereal na minha bolsa. Se há uma coisa que eu valorizo é uma boa comida, então eu posso dizer que barrinha de cereal nunca me deixa feliz e eu nem sei por que tenho uma dessas na minha bolsa. Porém, excepcionalmente hoje eu fiquei feliz em encontrá-la. Quando o expediente chegou ao fim eu só conseguia pensar em tomar uma bebida e dançar. Mesmo cansada, a música sempre faz milagre na minha alma e depois dos pesadelos da noite passada eu preciso curar a minha alma. Eu não vejo nenhuma mensagem de Megan, então eu envio uma.
Carol: O que ouve com o nosso programa?
Megan: Eu sinto muito. Dia difícil. Mas está de pé. Tem um bar dançante chamado “Just Dance” na Lafayette Street. Ouvi dizer que é muito bom.
Carol: Nos vemos às 10?
Megan: Ok. Até mais.
O apartamento está vazio, pra variar. Eu jogo a minha pasta sobre o sofá e caminho até a cozinha. Pego uma cerveja na geladeira e volto para o sofá, onde me sento e retiro meus saltos absurdamente altos e coloco os meus pés sobre a mesa de centro. Eu ainda tenho cerca de quatro horas até me encontrar com Megan. Quatro horas... Eu alcanço minha pasta e retiro meu laptop de dentro. Eu o coloco sobre a mesa de centro e escorrego pelo sofá até me sentar no chão. Abro meu F******k e vejo um monte de mensagens e atualizações dos meus amigos. Essa tem sido a forma que eu me mantenho conectada a minha família e meus amigos no Brasil. Eu vejo alguns amigos se casando, tendo filhos, arrumando novos empregos, fazendo suas viagens de férias e, muitas vezes eu sinto falta de ter a minha família aqui. Mas, então eu me lembro do quanto minha vida era instável lá, de como minha mãe esteve tão ocupada vivendo sua vida e de como eu me senti só tantas e tantas vezes, mesmo morando sob o mesmo teto que ela. Como eu me senti sempre renegada pela família do meu pai. Que não se dá ao trabalho nem de mandar um cartão de natal, nem um e-mail, nada. Então eu vejo que estou melhor aqui, crescendo profissionalmente. Isso é o que conta na vida.
Claro que tenho amigos melhores aqui. Lá no Brasil, Samanta sempre foi minha melhor amiga e sua família praticamente me adotou. Eu sempre fui intimada a participar de todo e qualquer momento em família e nós fomos inseparáveis durante anos e anos. E uma vez que decidi vir trabalhar aqui em Nova York foi tudo o que eu mais senti falta. A saudade que eu sentia era deles. As mensagens, cartas, cartões de natal e e-mail que eu recebia eram deles. Da família Miller. Quando Sam chegou aqui eu me senti aliviada de tê-la por perto e ainda estou. Eu sei que eu só preciso chamar se eu precisar, mas ela tem enfrentado uma barra nos últimos dias e por mais amigas que nós sejamos, tem algumas coisas sobre mim que eu não tenho coragem de falar nem pra mim mesma.
Eu passo a próxima hora mandando mensagens e curtindo algumas bobagens. Tem uma mensagem de Christian, um carinha do meu antigo trabalho com quem eu andei saindo há poucos meses. Ele realmente é um cara do bem, mas não deu muito certo. Pra falar a verdade eu, ultimamente, tenho me perguntado se vai dar certo com alguém. Sexo é um fator importante do relacionamento, certo? Pra mim é. Eu não vejo como você pode passar toda a sua vida ao lado de alguém que não te satisfaz, ou melhor, com quem você não se satisfaz. Eu digo isso porque não estou muito certa de que o problema é dos rapazes. Eu acho, honestamente, que o problema é comigo.
Vamos tomar Christian como um exemplo: Ele era um bom amigo, divertido, carinhoso, me deu alguns orgasmos sim, mas mesmo depois de gozar eu sempre, e eu quero dizer sempre mesmo, ficava com a sensação de que ainda faltava algo. E um sentimento de frustração sempre se seguia a uma noite de sexo. Eu acho que estou muito quebrada depois de tudo que eu passei na vida e deve ser mesmo um milagre que eu ainda tenha alguma vida sexual, por mais insossa que ela seja. É realmente angustiante a sensação de que você nunca vai encontrar alguém que te dê o que você precisa e eu preciso dizer uma coisa: eu.não.sei.do.que.eu.preciso. Eu realmente não sei.
Eu fecho o laptop e vou para o quarto me arrumar. Depois de vasculhar meu guarda-roupa, por um longo tempo, em busca de algo que sirva para esta noite, eu decido por um vestido curto, tomara que caia, sua cor é apaixonante, um azul royal com um cinto largo, preto, preso logo abaixo dos seios e um salto alto preto. Eu escolho uma bolsa pequena preta com uma alça prateada.
Eu olho o meu reflexo no espelho e decido fazer uma maquiagem leve para incrementar o look. Depois de uma última olhada no espelho, eu estou satisfeita com o resultado.
Na cozinha, eu me sirvo de uma taça de vinho e interfono para o porteiro pedindo-lhe que me chame um táxi. Enquanto aguardo, tomo o meu vinho e após a confirmação da chegada do táxi, eu desço.
Quando o táxi para em frente ao bar eu pago a corrida e agradeço antes de sair do veículo. A fachada do prédio é impressionante. Toda de vidro, porém alguma película dificulta a visibilidade no interior do “Just dancing”. O local é composto por dois ambientes distintos. O subsolo, onde fica uma pista de dança imensa com um DJ e uma ilha onde funciona o grande bar, e no piso superior fica um salão com algumas poltronas confortáveis e mesas. Um imenso balcão, onde funciona um bar, fica de uma ponta a outra do salão com vários bancos altos feitos de madeira e assentos de couro branco. O lugar está lotado. No meio do salão, uma parte do piso é feita de um vidro grosso, permitindo visualizar parte do piso inferior, onde fica a pista de dança. Inusitadamente, não é possível ouvir os sons do andar de baixo. Sem dúvidas possui um excepcional isolamento acústico. Ao invés disso, uma música relaxante soa no ambiente.
Eu caminho através das pessoas, olhando atentamente em volta do bar, em busca de um lugar para ficar e tomar a minha bebida enquanto eu espero Megan. Mas, para minha tristeza, todos os bancos em volta do bar estão cheios,
Além do balcão há ainda algumas mesas cercadas por poltronas e puffs confortáveis. Eu olho em volta procurando alguma que ainda esteja disponível. Assim que eu vejo uma mesa desocupada em um canto, eu apresso meu passo até ela e chego ao mesmo tempo em que um homem se senta.Imediatamente ele percebe que eu pretendia ficar com essa mesa e ele parece desconcertado enquanto fica me olhando sem conseguir dizer nada. Eu faço um esforço para dizer algo – Eu sinto muito. Eu não vi que você pretendia...─ Oh, tudo bem. Eu sinto muito também. Talvez você queira dividi-la comigo. – Eu franzo a testa, confusa – Logo a maioria dessas pessoas vão lá pra baixo e deve surgir uma mesa vazia então eu posso mudar de mesa e deixar essa livre pra você quando isso acontecer. – ele explica.Eu hesito por um momento – Eu... bem, eu não quero atrapalhar. Eu estou esperando uma pessoa.─ Não atrapalha – Eu fico petrificada diante dele, enquanto estudo seu rosto, seus olhos castanhos e rosto perfeito, emoldur
Quando eu tomo coragem para voltar meu olhar para Hill ele ainda está olhando pra mim, mas agora com a testa um pouco franzida – problemas?─ Minha amiga teve uma emergência. Ela não virá mais. De modo que eu vou apenas terminar minha cerveja e deixá-lo em paz.─ Você é bem-vinda para ficar.─ Mesmo? – eu digo sarcasticamente, já que, durante o pouco tempo que estamos sentados aqui ele mal falou comigo – Bem, de qualquer maneira, eu preciso mesmo ir.─ Eu sinto muito. Não estou sendo uma companhia agradável não é mesmo? – Eu sinto vontade de dizer que realmente ele não tem sido uma boa companhia, mas me contenho – Deixe-me oferecer outra bebida – ele não espera a minha anuência e já sinaliza para o garçom pedindo mais uma dose de whisky e mais uma cerveja. Quando o garçom se afasta, ele volta a me olhar e eu me pergunto se vamos entrar em outra fase do jogo “encare o outro”, eu tenho minha resposta quando ele fala – Você não é daqui. – Não foi uma pergunta.─ Não. Eu não sou?─ De ond
Ele sinaliza para o garçom e pede mais do mesmo ─ Então, você não tem um namorado ou algo assim?─ Uau! Isso foi uma guinada de 180 graus na nossa conversa – Ele está lá me olhando e esperando a resposta. Ele tem essa coisa que faz você falar o que ele quer saber. – Não. Eu não tenho um namorado.─ Nenhum cara com quem você está apenas saindo ou algo parecido ─ Eu balanço a cabeça lentamente, negando – Por quê?Eu encolho os ombros – Sei lá. Eu estava saindo com um cara recentemente. Alguém realmente legal. Mas, apenas não deu certo. Nunca dá, na verdade. E você? Não tem ninguém?─ Eu não tenho alguém. Eu tenho algumas parceiras para sexo – por mais que eu saiba que a maioria dos homens são adeptos do sexo casual, sem quaisquer relacionamentos. Parece mais feio do que é quando ele simplesmente admite.Minha testa franze – Uau!─ Choquei você?─ Bem, sim... e não – é a sua vez de franzir a testa. Eu tento explicar – Não me leve a mal. Eu não sou puritana. Mas quando você fala “eu tenho
Eu vejo seu peito subir e descer lentamente com sua respiração profunda e alguns minutos mais tarde eu estou entrando em uma casa elegante de cinco andares no Uper West side. Confesso que eu não consegui prestar atenção em mais nada, desde o momento que eu disse “sim” a essa proposta maluca até agora.Hill me levou através do hall até uma sala divinamente mobiliada. Tudo era de muito bom gosto e, embora eu não tenha reparado nos detalhes da fachada da casa, eu posso dizer que há um contraste imenso entre a fachada da casa e a decoração interna. A fachada é tradicional e o que eu vejo aqui dentro é extremamente moderno e luxuoso. Eu estou ainda de pé no meio da grande sala e percebo que ele acabou de me perguntar algo – Desculpe-me, eu não ouvi o que você disse.─ Eu perguntei se você gostaria de uma bebida.─ Não, obrigada. Sem mais bebidas por hoje. – Eu me pergunto se foi a bebida que me colocou nessa situação, mas eu chego à conclusão que não.Ele se aproxima de mim lentamente. Seu
Nós estamos tão grudados um no outro que eu não consigo discernir qual batida é do seu ou do meu coração. Estamos ofegantes, lutando por um pouco de ar. Repentinamente ele ergue minhas costas da parede no alto da escada e, sem quebrar nossa conexão e numa posição engraçada, ele caminha ao redor do corrimão da escada, entrado por uma porta dupla de madeira branca. Nosso pequeno percurso com ele dentro de mim faz reacender o meu desejo. Meu Deus! O que esse homem fez comigo? Eu suspeito que tive o mesmo efeito sobre ele, pois eu o sinto ainda duro dentro de mim, não tanto como antes, mas ainda duro. Eu não vejo, mas apenas sinto a maciez dos lençóis quando ele me deita sobre a cama sem separar o seu corpo de meu. Nossos corpos estão quentes e suados. Ele afasta uma mecha dos meus fios loiros do meu rosto prendendo atrás da minha orelha.─ Você é linda. Mas você fica bonita pra caralho toda suada e ruborizada deitada na minha cama. – Eu sinto seu pau pulsar dentro de mim, indicando que
Segunda-feira, 16 de setembro de 2013 ─ Alô? ─ Bom dia Senhorita Burgos, aqui é Nicole. ─ Olá, Nicole. Bom dia. Por favor, me chame de Carol. ─ Certo, Carol. Samanta gostaria de saber se você pode vir até a sala dela. ─ Claro. Estou indo. – Samanta é a minha melhor amiga. Mas é também a minha chefe. Ela também é brasileira e nós já éramos melhores amigas no Brasil. Nós estudamos juntas na Faculdade de Direito do Recife, fizemos especialização juntas, somos melhores amigas e confidentes. Falamos tudo uma pra outra. Bem, quase tudo. Ela não tem ideia do que eu já passei antes de conhecê-la. Mas. Eu não quero sujar a nossa amizade com uma coisa tão sórdida. Eu nunca contei isso pra ninguém e nunca vou contar. Eu sinto muita vergonha e me sinto suja. Curiosamente, eu também não quero entrar em detalhes sobre o que aconteceu na última sexta-feira. Eu não parei de pensar sobre isso durante todo o final de semana. Eu nunca me senti tão... tão... incrivelmente excitada com uma pessoa. Nu
Ele se levanta lentamente. Aquele andar, aquele mesmo andar que ele usou na sexta-feira à noite. Predador, vindo em minha direção. Mas ele não se aproxima demais. Ele para a uma distância segura. Seus olhos queimando sobre a minha pele. Minha boca abrindo e fechando como um peixe fora d’água, mas, puta merda, eu não tenho nada pra dizer.─ Senhorita Burgos? Caroline Burgos, Carol.─ Hill? Ou melhor, Harold Parker. Você mentiu o seu nome? – Eu acuso. Ok. De tanta coisa pra dizer, eu tinha que dizer isso em primeiro lugar? Mas, porra! Eu acusei. Processe-me.─ Não. Eu não menti meu nome. Sou Harold Hill Parker.─ Oh! Entendo. De dia você é Harold Parker e de noite você é Hill. Harold Parker seria sua identidade secreta? – eu alfineto.Ele franze a testa – Ora, ora. Suas garras estão afiadas. Mas, eu não entendo por que você está tão brava. Não foi você, a única a fugir da minha cama após receber os melhores orgasmos da sua vida?─ Presunçoso.─ Nossa! Como você é profissional.Isso é u
─ Ok – Eu pego minha pasta no chão e retiro algumas anotações e documentos. Meus cabelos ainda estão soltos caindo sobre os meus ombros e seios. – Bem, eu elaborei um resumo de todos os empreendimentos da GE para lhe dar uma visão geral. Diante dos últimos acontecimentos, Jake concluiu que não compensa manter um setor contábil que não tem a capacidade de unificar todas as informações da empresa de forma rápida, eficaz e eficiente. De alguma maneira ele acha possível e mais confiável que a sua empresa faça isso.─ Sim. Ele me disse essa parte – ele diz de forma ríspida como se ele estivesse perdendo seu tempo. – O que temos que nos ater aqui é a metodologia que vamos utilizar para implantar esse novo formato. O grande calcanhar de Aquiles da GE está na falta de um sistema eficiente de informações. Recentemente, quando eu fiz a auditoria solicitada por Jake, eu tive uma dificuldade imensa de reunir todas as informações necessárias. Isso porque cada estabelecimento de propriedade da GE t