LIVRO 1 - CAPÍTULO 1.2

Eu devia saber que teria um dia difícil. Eu não parei um só minuto. Reuniões após reuniões, uma infinidade de relatórios para analisar e outros tantos para fazer. Eu sequer parei para almoçar e me senti grata por encontrar uma barra de cereal na minha bolsa. Se há uma coisa que eu valorizo é uma boa comida, então eu posso dizer que barrinha de cereal nunca me deixa feliz e eu nem sei por que tenho uma dessas na minha bolsa. Porém, excepcionalmente hoje eu fiquei feliz em encontrá-la. Quando o expediente chegou ao fim eu só conseguia pensar em tomar uma bebida e dançar. Mesmo cansada, a música sempre faz milagre na minha alma e depois dos pesadelos da noite passada eu preciso curar a minha alma. Eu não vejo nenhuma mensagem de Megan, então eu envio uma.

Carol: O que ouve com o nosso programa?

Megan: Eu sinto muito. Dia difícil. Mas está de pé. Tem um bar dançante chamado “Just Dance” na Lafayette Street. Ouvi dizer que é muito bom.

Carol: Nos vemos às 10?

Megan: Ok. Até mais.

        

O apartamento está vazio, pra variar. Eu jogo a minha pasta sobre o sofá e caminho até a cozinha. Pego uma cerveja na geladeira e volto para o sofá, onde me sento e retiro meus saltos absurdamente altos e coloco os meus pés sobre a mesa de centro. Eu ainda tenho cerca de quatro horas até me encontrar com Megan. Quatro horas... Eu alcanço minha pasta e retiro meu laptop de dentro. Eu o coloco sobre a mesa de centro e escorrego pelo sofá até me sentar no chão. Abro meu F******k e vejo um monte de mensagens e atualizações dos meus amigos. Essa tem sido a forma que eu me mantenho conectada a minha família e meus amigos no Brasil. Eu vejo alguns amigos se casando, tendo filhos, arrumando novos empregos, fazendo suas viagens de férias e, muitas vezes eu sinto falta de ter a minha família aqui. Mas, então eu me lembro do quanto minha vida era instável lá, de como minha mãe esteve tão ocupada vivendo sua vida e de como eu me senti só tantas e tantas vezes, mesmo morando sob o mesmo teto que ela. Como eu me senti sempre renegada pela família do meu pai. Que não se dá ao trabalho nem de mandar um cartão de natal, nem um e-mail, nada. Então eu vejo que estou melhor aqui, crescendo profissionalmente. Isso é o que conta na vida.

Claro que tenho amigos melhores aqui. Lá no Brasil, Samanta sempre foi minha melhor amiga e sua família praticamente me adotou. Eu sempre fui intimada a participar de todo e qualquer momento em família e nós fomos inseparáveis durante anos e anos. E uma vez que decidi vir trabalhar aqui em Nova York foi tudo o que eu mais senti falta. A saudade que eu sentia era deles. As mensagens, cartas, cartões de natal e e-mail que eu recebia eram deles. Da família Miller. Quando Sam chegou aqui eu me senti aliviada de tê-la por perto e ainda estou. Eu sei que eu só preciso chamar se eu precisar, mas ela tem enfrentado uma barra nos últimos dias e por mais amigas que nós sejamos, tem algumas coisas sobre mim que eu não tenho coragem de falar nem pra mim mesma.

Eu passo a próxima hora mandando mensagens e curtindo algumas bobagens. Tem uma mensagem de Christian, um carinha do meu antigo trabalho com quem eu andei saindo há poucos meses. Ele realmente é um cara do bem, mas não deu muito certo. Pra falar a verdade eu, ultimamente, tenho me perguntado se vai dar certo com alguém. Sexo é um fator importante do relacionamento, certo? Pra mim é. Eu não vejo como você pode passar toda a sua vida ao lado de alguém que não te satisfaz, ou melhor, com quem você não se satisfaz. Eu digo isso porque não estou muito certa de que o problema é dos rapazes. Eu acho, honestamente, que o problema é comigo.

Vamos tomar Christian como um exemplo: Ele era um bom amigo, divertido, carinhoso, me deu alguns orgasmos sim, mas mesmo depois de gozar eu sempre, e eu quero dizer sempre mesmo, ficava com a sensação de que ainda faltava algo. E um sentimento de frustração sempre se seguia a uma noite de sexo. Eu acho que estou muito quebrada depois de tudo que eu passei na vida e deve ser mesmo um milagre que eu ainda tenha alguma vida sexual, por mais insossa que ela seja. É realmente angustiante a sensação de que você nunca vai encontrar alguém que te dê o que você precisa e eu preciso dizer uma coisa: eu.não.sei.do.que.eu.preciso. Eu realmente não sei.

Eu fecho o laptop e vou para o quarto me arrumar. Depois de vasculhar meu guarda-roupa, por um longo tempo, em busca de algo que sirva para esta noite, eu decido por um vestido curto, tomara que caia, sua cor é apaixonante, um azul royal com um cinto largo, preto, preso logo abaixo dos seios e um salto alto preto. Eu escolho uma bolsa pequena preta com uma alça prateada.

Eu olho o meu reflexo no espelho e decido fazer uma maquiagem leve para incrementar o look. Depois de uma última olhada no espelho, eu estou satisfeita com o resultado.

Na cozinha, eu me sirvo de uma taça de vinho e interfono para o porteiro pedindo-lhe que me chame um táxi. Enquanto aguardo, tomo o meu vinho e após a confirmação da chegada do táxi, eu desço.

Quando o táxi para em frente ao bar eu pago a corrida e agradeço antes de sair do veículo. A fachada do prédio é impressionante. Toda de vidro, porém alguma película dificulta a visibilidade no interior do “Just dancing”.  O local é composto por dois ambientes distintos. O subsolo, onde fica uma pista de dança imensa com um DJ e uma ilha onde funciona o grande bar, e no piso superior fica um salão com algumas poltronas confortáveis e mesas. Um imenso balcão, onde funciona um bar, fica de uma ponta a outra do salão com vários bancos altos feitos de madeira e assentos de couro branco. O lugar está lotado. No meio do salão, uma parte do piso é feita de um vidro grosso, permitindo visualizar parte do piso inferior, onde fica a pista de dança. Inusitadamente, não é possível ouvir os sons do andar de baixo. Sem dúvidas possui um excepcional isolamento acústico. Ao invés disso, uma música relaxante soa no ambiente.  

Eu caminho através das pessoas, olhando atentamente em volta do bar, em busca de um lugar para ficar e tomar a minha bebida enquanto eu espero Megan. Mas, para minha tristeza, todos os bancos em volta do bar estão cheios,

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo