LIVRO 1 - CAPÍTULO 2.3

─ Ok – Eu pego minha pasta no chão e retiro algumas anotações e documentos. Meus cabelos ainda estão soltos caindo sobre os meus ombros e seios. – Bem, eu elaborei um resumo de todos os empreendimentos da GE para lhe dar uma visão geral. Diante dos últimos acontecimentos, Jake concluiu que não compensa manter um setor contábil que não tem a capacidade de unificar todas as informações da empresa de forma rápida, eficaz e eficiente. De alguma maneira ele acha possível e mais confiável que a sua empresa faça isso.

─ Sim. Ele me disse essa parte – ele diz de forma ríspida como se ele estivesse perdendo seu tempo. – O que temos que nos ater aqui é a metodologia que vamos utilizar para implantar esse novo formato. O grande calcanhar de Aquiles da GE está na falta de um sistema eficiente de informações. Recentemente, quando eu fiz a auditoria solicitada por Jake, eu tive uma dificuldade imensa de reunir todas as informações necessárias. Isso porque cada estabelecimento de propriedade da GE tem a sua própria maneira de armazenar e gerir as informações e documentos. Honestamente, eu só consegui realizar meu trabalho em tempo recorde, porque Samanta já vinha reunindo as informações.

Eu aproveito a pausa para falar – Mas a GE já possui um sistema de dados.

─ Sim. Mas esse sistema funciona mais como um informativo. Não há uma responsabilidade na inserção de dados. São como pequenos relatórios que são enviados sem um tempo predeterminado. Não há, sequer, uma exigibilidade no uso desse sistema. Prova disso é que se você o consultar agora, vai encontrá-lo desatualizado.

─ Entendo. A questão é: Os hotéis, restaurantes, discotecas e outros empreendimentos da GE possuem natureza diversa e estão localizados em países diferentes, com legislações diferentes e métodos distintos. Padronizar os procedimentos é uma decisão de gestão e não pode ser feita em curto prazo. A padronização que o nosso setor tem feito até agora abrange apenas os procedimentos relacionados aos assuntos jurídicos.

Harold dá a volta em sua mesa e senta-se na enorme cadeira de couro giratória, descansando no encosto e cruzando os dedos sobre o seu abdômen – Eu não estou aqui para ensinar a missa ao padre. Jake não chegaria aonde chegou se ele não tivesse uma excelente capacidade gestora. O que ocorre é que a GE cresceu absurdamente nos últimos anos e ele precisa reajustar a rota. Não pode gerir do mesmo jeito que fazia quando a GE se resumia a dois ou três hotéis. Não sou eu quem está dizendo isso. Isso foi uma avaliação do próprio Jake, que ele me passou na nossa única conversa. Por tanto, o momento é o ideal para proceder aos ajustes necessários para que a minha empresa assuma a tarefa.

Ele faz uma breve pausa. Tempo no qual ele estuda meu rosto. Seu olhar pousa nos meus lábios e num gesto nervoso eu lambo – Eu tenho meu próprio meio de trabalhar. Eu preciso que a GE adote um sistema, interligado ao nosso, para que assim que as informações forem lançadas em qualquer um dos seus estabelecimentos, em qualquer lugar do mundo, a minha empresa tenha acesso a elas imediatamente. Assim, não temos que ir chafurdar em papéis toda vez que a GE precisar de alguma coisa de nós. Isso proporciona também maior controle, pois o sistema salva, inclusive, alterações. De modo que, se houver uma tentativa de adulteração de dados nós vamos saber.

─ Certo, então deixe ver se entendi: A GE adotaria um sistema informatizado que seria usado apenas para as informações contábeis. Você só teria acesso a essas informações. É isso?

─ Sim. É exatamente isso. Eu não tenho interesse em nada que não seja necessário a execução do meu trabalho, Senhorita Burgos. – Ele se levanta e caminha até o meu lado ─ Eu vou fazer uma apresentação rápida do sistema agora, mas eu pretendo enviar uma apresentação oficial para a GE. – Ele abre o notebook e passa a próxima meia-hora mostrando os pontos mais importantes do sistema.

─ É um sistema bastante prático.

─ Sim. As equipes não terão dificuldade em se familiarizar com ele. Além disso, nós enviamos técnicos para fazer o treinamento daqueles que irão operar o sistema.

─ Eu vou sugerir a Jake que a nossa empresa mantenha uma espécie de central de dados contábeis. Claro que não seria um departamento tão grande como é hoje, mas ele seria responsável por gerir todo o processo e não apenas a partir do sistema. Mas também fisicamente. Teria também a atribuição de garantir o lançamento dos dados, dar fé às informações, documentar, cobrar prazos, além de outras funções. Eu entendo que a sua empresa vai fazer muito disso. Mas a sua empresa é outra empresa. Pode estar hoje, mas não amanhã.

─ Eu faria isso se a empresa fosse minha. Manteria uma central. É uma decisão inteligente. – Ele estreitou os olhos e sua boca se curvou em um sorriso sarcástico. – Estou surpreso.

─ Surpreso?

─ Sim. Que você teve uma boa ideia.

Na minha cabeça passou um flash, no qual eu o mandava ir à merda. Mas, eu não fiz isso. Eu sabia que ele estava me provocando, tentando tirar de mim alguma reação que não fosse profissional e então ele teria a sua desculpa para agir do mesmo modo ou pior. – E pensar que você me cobrou profissionalismo quando eu cheguei aqui. – Eu esperei sua resposta desaforada, as ofensas, mas, ao invés disso, um Harold constrangido me olha, pensativo – Harold, isso não está sendo fácil pra mim. Eu não costumo fazer o que eu fiz aquela noite, mas, ainda que fosse um hábito meu foder com caras estranhos, isso não tem nada a ver com o meu trabalho na GE. Você me propôs isso de forma madura, me mostrando que não tem nada de errado em uma mulher exercer a sua liberdade sexual, se divertir com alguém de forma consensual e seguir em frente. Eu... eu não consigo entender por que você está se comportando dessa maneira.

Ele se aproximou mais de mim e segurou minha mão na sua. – Eu sinto muito. Eu estou sendo um idiota. Você está certa.

─ Desculpas aceitas. Agora, nós podemos, por favor, fingir que nada disso aconteceu, que nunca nos vimos antes e apenas ter esse vínculo profissional, fazer um bom trabalho e seguir em frente? – ele acena quase imperceptivelmente – Harold, eu vim para o seu país para trabalhar, obter uma experiência a nível internacional. Eu não estou pronta ainda para voltar para o Brasil em caráter definitivo. Eu acabei de abandonar um emprego estável para agarrar esse novo desafio, não me prejudique. Ao contrário de você, que visivelmente é o dono do seu próprio negócio, eu tenho que trabalhar duro pra me manter aqui longe das... Enfim, esse emprego é uma oportunidade de melhorar de vida. Ter uma reserva financeira. Fique fora do meu caminho, por favor.

─ Claro. Vamos fazer isso – Ele parece culpado. Mas eu não acredito muito que ele irá se comportar. Eu decido, então, que não importa como ele se comporte. Eu preciso fazer a minha parte. Fazer o que é certo.

Eu guardo alguns papéis e a minha agenda em seguida me levanto – Ótimo. Eu preciso ir agora. Acho que por hoje é o suficiente. Nós vamos ter que nos ver novamente. Eu ainda não tenho uma assistente, então eu mesma tenho que marcar meus compromissos. Deixe-me saber quando você poderá me encontrar novamente.

─ Esse contrato com a GE não foi planejado e como é algo muito grande eu prefiro tomar conta de tudo pessoalmente, pelo menos no início da transição. Depois eu posso delegar. O problema é que, como não foi algo planejado, eu estou com a minha agenda um pouco apertada. Então talvez tenhamos que nos encontrar em momentos alternativos. Como em jantares e almoços. Isso é um problema pra você?

─ Não é um problema.

─ Então, eu vou me reunir com a minha equipe e já tenho algo pra você amanhã. Durante o jantar.

Eu não acho que um jantar com ele seja uma boa ideia, mas, o que eu posso fazer – Ok. – Eu digo, simplesmente e em seguida estendo a mão para cumprimentá-lo e esse aceita, segurando mais do que deveria – Eu vou acompanhá-la até em casa.

─ Oh, isso não é necessário. Eu vou de táxi.

─ Eu faço questão. – Enquanto eu continuo tagarelando que não é necessário, que eu não quero isso, que eu vou de taxi... blá, blá, blá... ele me ignora totalmente e telefona para o seu motorista. – Clark, tenha o carro na saída principal. Eu estou descendo com a Senhorita Burgos. Vamos deixá-la em casa.

─ Harold? Você não ouviu nada do que eu disse?

─ Caroline, eu vou acompanhá-la até a sua casa.

Eu começo a argumentar como se eu estivesse explicando o óbvio a uma criança – Hill, sua casa está há poucas quadras daqui e eu moro bem mais distante. Isso não faz sentido.

Ele rosna irritado e em um piscar de olhos eu estou novamente presa à sua mesa com ele me pressionando – Céus, como você é irritante. – Antes que eu consiga dizer qualquer coisa ele cola sua boca na minha em um beijo urgente. Um gemido involuntário escapa da minha boca quando sua mão direita belisca o meu mamilo através do tecido fino da minha blusa. Quando ele se afasta um pouco em busca de ar eu aproveito para afastá-lo.

─ Você precisa parar de fazer isso.

─ É que você é tão... irritante às vezes.

─ Ah, e você tem o hábito de beijar todas as mulheres irritantes que você conhece?

Ele gemeu em frustração, mas não respondeu. – Vamos – ele me conduziu pra fora do seu escritório e nós entramos no elevador privativo. Mil ideias pervertidas passaram pela minha cabeça e, olhando pra Harold pelo canto do meu olho, eu percebi que ele provavelmente estava pensando o mesmo. Mas cedo demais o elevador parou e nós atravessamos o grande salão em direção à saída. Um carro preto elegante estava parado na entrada com um motorista de pé ao seu lado com a porta aberta. Imediatamente atrás desse carro tinha outro com dois homens de terno escuro com cara de seguranças. Um estava sentado ao volante e o outro de pé observando em volta. Eu achei aquilo o cúmulo do exagero, mas decidi não fazer nenhum comentário. Ele sinalizou para que eu entrasse primeiro no veículo e entrou depois, sentando-se ao meu lado.

─ Qual o destino, Senhor? – Perguntou o motorista depois de se acomodar ao volante. Harold olhou pra mim interrogativamente e eu disse o meu endereço para o tal do Clark. Nós seguimos quase todo o percurso em silêncio.

Quando o carro parou em frente ao meu apartamento, Harold saiu do carro e ofereceu a sua mão, que eu segurei para sair do veículo – Obrigada pela carona – Eu agradeci, uma vez que estava de pé na calçada. Nós estávamos de frente um para o outro e por um momento eu achei que ele me beijaria de novo. Seu olhar pra mim era de pura luxúria e seu beijo era tudo que eu queria agora, mas eu sei que não devo, que não posso. Eu preciso manter uma distância segura dele.

─ Foi um prazer pra mim.

─ Bem, eu vou indo. Vemo-nos amanhã então.

Eu entro no prédio e Harold vai embora. Assim que entro no meu apartamento, vou até a geladeira e pego uma cerveja. Como sempre o apartamento está deserto. Abby continua na casa de Mike. Eu acho que ela vai morar com ele em definitivo e me pergunto se ela ainda não fez isso apenas por minha causa. Eu realmente espero que não.

Eu decido enviar uma mensagem pra Sam sobre a reunião com Harold:

Carol: Deus! Achei que você tinha dito que Harold era um cara legal.

Sam: Ele é. O que houve?

Carol: Presunçoso dos infernos. E ele ainda acha que é o Bill Gates da contabilidade.

Sam: Ele é.

Carol: Você só tem essa resposta: “ele é.”?

Sam: Rá! Acho que algo não foi muito bem. Ele parece tão legal. Você sabe, os carinhas inteligentes de óculos sempre são legais.

Carol: ele não estava usando óculos.

Sam: Sim. Ele usa.

Carol: Ele não usou hoje.

Sam: Às vezes que estivemos juntos ele estava usando.

Carol: Bem, ele não estava hoje.

Sam: Vocês não se deram bem?

Carol: Conseguimos produzir no trabalho. Você acredita que ele subestimou a inteligência. Eu quis matá-lo. Eu ainda quero.

Sam: Não faça isso. Precisamos dele vivo. Além disso, ele é um gato amiga.

Carol: Ele não faz o meu tipo. E ainda anda com uns seguranças atrás dele. Arrogante.

Sam: Puxa, obrigada pela parte que me toca.

Carol: Oh, meu Deus. Eu não quis dizer isso. Bem, você é noiva de um bilionário e está em perigo e tal. Mas, o que pode haver de perigoso na vida de um... contador.

Sam: Amiga, você não faz ideia. Eu também achava que era uma vida monótona, mas estava enganada. Ele descobre muitas falcatruas em suas auditorias, além disso, ele é muito rico. Segundo Jake me contou a família dele é podre de rica. E a empresa dele só lida com grandes empresas.

Carol: Que seja... eu só não queria que fosse ele.

Sam: como assim?

Carol: deixa pra lá.

Sam:  Preciso ir agora.

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