Quando eu tomo coragem para voltar meu olhar para Hill ele ainda está olhando pra mim, mas agora com a testa um pouco franzida – problemas?
─ Minha amiga teve uma emergência. Ela não virá mais. De modo que eu vou apenas terminar minha cerveja e deixá-lo em paz.
─ Você é bem-vinda para ficar.
─ Mesmo? – eu digo sarcasticamente, já que, durante o pouco tempo que estamos sentados aqui ele mal falou comigo – Bem, de qualquer maneira, eu preciso mesmo ir.
─ Eu sinto muito. Não estou sendo uma companhia agradável não é mesmo? – Eu sinto vontade de dizer que realmente ele não tem sido uma boa companhia, mas me contenho – Deixe-me oferecer outra bebida – ele não espera a minha anuência e já sinaliza para o garçom pedindo mais uma dose de whisky e mais uma cerveja. Quando o garçom se afasta, ele volta a me olhar e eu me pergunto se vamos entrar em outra fase do jogo “encare o outro”, eu tenho minha resposta quando ele fala – Você não é daqui. – Não foi uma pergunta.
─ Não. Eu não sou?
─ De onde é esse sotaque?
─ Brasil.
─ Oh, eu nunca estive no Brasil. Mas sei que é um belo país. Eu conheço alguns brasileiros.
─ Sim. É um belo país. – Eu digo com orgulho explícito.
Nossas bebidas chegam e ele leva seu copo à boca sem desviar o olhar. Eu faço o mesmo – Embora tenha percebido o seu sotaque, seu inglês é fluente. Está aqui há muito tempo?
─ Cerca de dois anos. Mas estive aqui algumas vezes no passado, antes de ser transferida pra cá eu sempre pratiquei o inglês. Eu precisava estar afiada no idioma, pois participava de muitas videoconferências com a sede.
─ Diga-me algo na sua língua – seu pedido vem acompanhado por dois olhos fixos na minha boca.
Eu dou um sorriso diabólico e falo em português – Você é um idiota, mas isso não muda o fato de que você é um filho-da-puta bonito e eu adoraria fazer sexo com você. É uma pena que, assim como todas as outras vezes, não seria grande coisa e eu provavelmente ficaria frustrada.
─ O que você disse?
─ Eu acho que você não gostaria de saber.
Ele esboça um sorriso – Sério? Talvez eu deva dizer que entendi a palavra “sexo” e acho que você falou um palavrão.
Eu fico constrangida – Você disse que não falava minha língua.
─ Eu acertei?
─ Sim eu falei a palavra sexo e falei mal da sua mãe.
─ Honestamente, o “sexo” foi puro chute e quanto ao palavrão eu realmente já havia escutado ele antes. Eu sou uma espécie de usuário assíduo de palavrões em âmbito privado. E geralmente são as primeiras palavras, em outra língua, que eu aprendo. – Eu ri com a sua honestidade e pela tentativa em ser engraçado. Posso admitir que ele está se esforçando pra ser uma boa companhia.
─ Âmbito privado?
─ Sim. Eu sou um homem de negócios. Então tenho cuidado com o que eu falo em público. Mas, na minha privacidade eu recorro a eles com frequência.
─ Que coisa pra se orgulhar – eu penso alto.
Ele não responde. Mas, me faz outra pergunta – O que você está comemorando.
─ Eu não estou comemorando.
─ Eu ouvi você dizer a sua amiga, ao telefone, que vocês poderiam comemorar em outro momento.
Eu encolho os ombros – Ah! Nós iríamos comemorar a minha mudança de emprego.
─ O que você fazia e o que você faz agora?
─ Eu sou uma advogada especializada em direito empresarial internacional. Antes eu cuidava basicamente dos contratos. Hoje esse campo se ampliou porque estou num cargo de direção em outra empresa. Ela é bem maior que a anterior e com um ramo de atividades diversificado. Mas, estou há apenas uma semana nesse novo emprego.
─ Parabéns! – Ele ergue seu corpo eu um brinde e eu imito seu gesto. Mesmo agora depois da nossa conversa ter progredido bastante se comparada à maneira como começamos, eu ainda me sinto ligeiramente incomodada sob o seu olhar. Eu me pergunto como pode um rosto tão pacífico ser totalmente transformado pela intensidade dos seus olhos.
─ Obrigada. Mas e você?
─ Eu tenho uma empresa de Contabilidade. E paralelamente eu faço alguns investimentos. Eu tenho algumas ações nas empresas certas. Mas minha paixão são os números.
─ Você não se parece com um contador.
Eu sinto uma nota de divertimento em sua voz – Ah, não? Ninguém nunca me acusou disso. Então me diga como se parece um contador na sua visão?
Eu tomo mais um longo gole da minha cerveja antes de falar e percebo que ela apenas está no fim, talvez eu deva ser mais cuidadosa com a bebida. Eu não quero fazer nada que me arrependa depois. Em seguida eu fecho meus olhos e tento imaginar um contador. Mesmo com os olhos fechados eu posso sentir o seu olhar sobre mim e meu rosto se aquece. – Bem, – eu começo – o contador de uma empresa que eu trabalhei usava óculos de lentes grossas, ele suava muito e sua gravata estava sempre frouxa e amassada assim como o seu paletó estava sempre amassado também. Você sabe, esse povo que trabalha com números geralmente é muito desajeitado – eu o provoco e funciona. Antes de abrir os olhos eu ouço sua risada. Uma risada rouca e eu quis abrir os meus olhos para vê-lo sorrir. Eu abro e lá está o seu belo sorriso, mas a intensidade do seu olhar continua lá, me comendo com os olhos. Céus! Esse homem é quente.
─ Eu acho que o contador que você conheceu não causou uma boa impressão da nossa profissão. Eu poderia estar magoado, mas, uma vez que você disse que eu não me pareço com um contador, eu acho que posso tomar isso como um elogio. Então me diga com que eu não me pareço exatamente?
─ Não é óbvio? Se eu usar esse contador que eu acabei de descrever para comparar, você não se parece em absolutamente nada. Você se veste bem, seu terno é impecável e eu posso apostar que é obscenamente caro, embora não tenha ideia do quanto. Você não parece desajeitado, tem uma boa postura, se move com graça e, além disso, tem um belo rosto. O seu cabelo é um pouco bagunçado, mas de um jeito sexy. Ah e você não usa óculos. Eu diria mais que você se parece com um advogado.
─ Nossa! Como você é modesta. – Ele diz com sarcasmo – devo me sentir lisonjeado em me parecer com um advogado, já que me parecer com o seu modelo de contador não é uma boa coisa, no final das contas. Agora, se me permite uma observação, essa parte de se mover com graça me pareceu um pouco... delicado demais – eu ri dessa pequena demonstração de macheza ─ Eu não usaria “graciosidade” para me descrever. Mas eu vou tomar isso como um elogio também, apesar de tudo. Quanto ao restante, eu uso óculos, às vezes. Hoje uso bem menos, geralmente eu uso para leitura e, também, porque durante muito tempo estive habituado a eles. Mas as lentes não são grossas e, ultimamente eu tenho usado lentes de contato. Espero que isso não estrague o modelo de advogado que você criou na sua cabeça.
Ele sinaliza para o garçom e pede mais do mesmo ─ Então, você não tem um namorado ou algo assim?─ Uau! Isso foi uma guinada de 180 graus na nossa conversa – Ele está lá me olhando e esperando a resposta. Ele tem essa coisa que faz você falar o que ele quer saber. – Não. Eu não tenho um namorado.─ Nenhum cara com quem você está apenas saindo ou algo parecido ─ Eu balanço a cabeça lentamente, negando – Por quê?Eu encolho os ombros – Sei lá. Eu estava saindo com um cara recentemente. Alguém realmente legal. Mas, apenas não deu certo. Nunca dá, na verdade. E você? Não tem ninguém?─ Eu não tenho alguém. Eu tenho algumas parceiras para sexo – por mais que eu saiba que a maioria dos homens são adeptos do sexo casual, sem quaisquer relacionamentos. Parece mais feio do que é quando ele simplesmente admite.Minha testa franze – Uau!─ Choquei você?─ Bem, sim... e não – é a sua vez de franzir a testa. Eu tento explicar – Não me leve a mal. Eu não sou puritana. Mas quando você fala “eu tenho
Eu vejo seu peito subir e descer lentamente com sua respiração profunda e alguns minutos mais tarde eu estou entrando em uma casa elegante de cinco andares no Uper West side. Confesso que eu não consegui prestar atenção em mais nada, desde o momento que eu disse “sim” a essa proposta maluca até agora.Hill me levou através do hall até uma sala divinamente mobiliada. Tudo era de muito bom gosto e, embora eu não tenha reparado nos detalhes da fachada da casa, eu posso dizer que há um contraste imenso entre a fachada da casa e a decoração interna. A fachada é tradicional e o que eu vejo aqui dentro é extremamente moderno e luxuoso. Eu estou ainda de pé no meio da grande sala e percebo que ele acabou de me perguntar algo – Desculpe-me, eu não ouvi o que você disse.─ Eu perguntei se você gostaria de uma bebida.─ Não, obrigada. Sem mais bebidas por hoje. – Eu me pergunto se foi a bebida que me colocou nessa situação, mas eu chego à conclusão que não.Ele se aproxima de mim lentamente. Seu
Nós estamos tão grudados um no outro que eu não consigo discernir qual batida é do seu ou do meu coração. Estamos ofegantes, lutando por um pouco de ar. Repentinamente ele ergue minhas costas da parede no alto da escada e, sem quebrar nossa conexão e numa posição engraçada, ele caminha ao redor do corrimão da escada, entrado por uma porta dupla de madeira branca. Nosso pequeno percurso com ele dentro de mim faz reacender o meu desejo. Meu Deus! O que esse homem fez comigo? Eu suspeito que tive o mesmo efeito sobre ele, pois eu o sinto ainda duro dentro de mim, não tanto como antes, mas ainda duro. Eu não vejo, mas apenas sinto a maciez dos lençóis quando ele me deita sobre a cama sem separar o seu corpo de meu. Nossos corpos estão quentes e suados. Ele afasta uma mecha dos meus fios loiros do meu rosto prendendo atrás da minha orelha.─ Você é linda. Mas você fica bonita pra caralho toda suada e ruborizada deitada na minha cama. – Eu sinto seu pau pulsar dentro de mim, indicando que
Segunda-feira, 16 de setembro de 2013 ─ Alô? ─ Bom dia Senhorita Burgos, aqui é Nicole. ─ Olá, Nicole. Bom dia. Por favor, me chame de Carol. ─ Certo, Carol. Samanta gostaria de saber se você pode vir até a sala dela. ─ Claro. Estou indo. – Samanta é a minha melhor amiga. Mas é também a minha chefe. Ela também é brasileira e nós já éramos melhores amigas no Brasil. Nós estudamos juntas na Faculdade de Direito do Recife, fizemos especialização juntas, somos melhores amigas e confidentes. Falamos tudo uma pra outra. Bem, quase tudo. Ela não tem ideia do que eu já passei antes de conhecê-la. Mas. Eu não quero sujar a nossa amizade com uma coisa tão sórdida. Eu nunca contei isso pra ninguém e nunca vou contar. Eu sinto muita vergonha e me sinto suja. Curiosamente, eu também não quero entrar em detalhes sobre o que aconteceu na última sexta-feira. Eu não parei de pensar sobre isso durante todo o final de semana. Eu nunca me senti tão... tão... incrivelmente excitada com uma pessoa. Nu
Ele se levanta lentamente. Aquele andar, aquele mesmo andar que ele usou na sexta-feira à noite. Predador, vindo em minha direção. Mas ele não se aproxima demais. Ele para a uma distância segura. Seus olhos queimando sobre a minha pele. Minha boca abrindo e fechando como um peixe fora d’água, mas, puta merda, eu não tenho nada pra dizer.─ Senhorita Burgos? Caroline Burgos, Carol.─ Hill? Ou melhor, Harold Parker. Você mentiu o seu nome? – Eu acuso. Ok. De tanta coisa pra dizer, eu tinha que dizer isso em primeiro lugar? Mas, porra! Eu acusei. Processe-me.─ Não. Eu não menti meu nome. Sou Harold Hill Parker.─ Oh! Entendo. De dia você é Harold Parker e de noite você é Hill. Harold Parker seria sua identidade secreta? – eu alfineto.Ele franze a testa – Ora, ora. Suas garras estão afiadas. Mas, eu não entendo por que você está tão brava. Não foi você, a única a fugir da minha cama após receber os melhores orgasmos da sua vida?─ Presunçoso.─ Nossa! Como você é profissional.Isso é u
─ Ok – Eu pego minha pasta no chão e retiro algumas anotações e documentos. Meus cabelos ainda estão soltos caindo sobre os meus ombros e seios. – Bem, eu elaborei um resumo de todos os empreendimentos da GE para lhe dar uma visão geral. Diante dos últimos acontecimentos, Jake concluiu que não compensa manter um setor contábil que não tem a capacidade de unificar todas as informações da empresa de forma rápida, eficaz e eficiente. De alguma maneira ele acha possível e mais confiável que a sua empresa faça isso.─ Sim. Ele me disse essa parte – ele diz de forma ríspida como se ele estivesse perdendo seu tempo. – O que temos que nos ater aqui é a metodologia que vamos utilizar para implantar esse novo formato. O grande calcanhar de Aquiles da GE está na falta de um sistema eficiente de informações. Recentemente, quando eu fiz a auditoria solicitada por Jake, eu tive uma dificuldade imensa de reunir todas as informações necessárias. Isso porque cada estabelecimento de propriedade da GE t
Terça-feira, 17 de setembro de 2013 O som das chaves e em seguida a porta da sala batendo faz todos os cabelos pelos da minha nuca se eriçarem. Eu encolho meus joelhos contra os meus seios instintivamente. Ouço seus passos pela casa e em seguida o cheiro de cigarro lentamente toma conta do apartamento. São duas horas da tarde e ele não deveria estar aqui. Eu mal respiro, com medo de que ele perceba a minha presença. Mas isso é ridículo. É claro que ele sabe que eu estou aqui, é exatamente por minha causa que ele está aqui mais cedo. Desde que ele chegou em casa deve ter passado uns cinco minutos, mas no meu desespero o tempo parece se arrastar. Como se tudo tivesse parado. Eu ainda estou lá, na minha posição defensiva. Os passos começam novamente, um após o outro e eu assisto a maçaneta do meu quarto girar em câmera lenta e ele aparecer na porta do meu quarto. Ele não diz nada, absolutamente nada. Ele só para lá e fica me olhando e eu nem pisco, na esperança de que ele apen
Eu caminho até a sala de Samanta. Ela mandou me chamar e eu sei que ela quer saber mais detalhes sobre a reunião com Harold ontem. – Bom dia – eu digo quando ela me recebe e ela me dá um abraço.─ Bom dia, amiga. Como você está hoje?─ Eu estou bem.Nós nos sentamos – Eu fiquei preocupada com você ontem. Mas eu e Jake tivemos alguns problemas e acabei não entrando em contato com você pra saber como você estava.─ Esses problemas que vocês tiveram teve algo a ver com a nossa fugida ontem na hora do almoço?─ Totalmente. A coisa foi feia. Eu tentei argumentar que não foi grande coisa, que os seguranças chamam mais atenção do que quando estamos sozinhas. E disse que nada aconteceu. Mas, segundo ele fomos fotografadas...─ É verdade. Eu vi as fotos. Nada demais, é verdade. Mas dá uma sensação de insegurança. Sei lá, ser observada assim sem nem perceber...─ É verdade. Segundo Jake, do mesmo jeito que foi um fotógrafo discreto poderia ser um daqueles perseguidores que se excedem e tentam t