LIVRO 1 - CAPÍTULO 1.3

Além do balcão há ainda algumas mesas cercadas por poltronas e puffs confortáveis. Eu olho em volta procurando alguma que ainda esteja disponível. Assim que eu vejo uma mesa desocupada em um canto, eu apresso meu passo até ela e chego ao mesmo tempo em que um homem se senta.

Imediatamente ele percebe que eu pretendia ficar com essa mesa e ele parece desconcertado enquanto fica me olhando sem conseguir dizer nada. Eu faço um esforço para dizer algo – Eu sinto muito. Eu não vi que você pretendia...

─ Oh, tudo bem. Eu sinto muito também. Talvez você queira dividi-la comigo. – Eu franzo a testa, confusa – Logo a maioria dessas pessoas vão lá pra baixo e deve surgir uma mesa vazia então eu posso mudar de mesa e deixar essa livre pra você quando isso acontecer. – ele explica.

Eu hesito por um momento – Eu... bem, eu não quero atrapalhar. Eu estou esperando uma pessoa.

─ Não atrapalha – Eu fico petrificada diante dele, enquanto estudo seu rosto, seus olhos castanhos e rosto perfeito, emoldurado por cabelos da mesma cor. Seu olhar se estreita ainda mais me observando, sua testa franzida, esperando – e então? – ele pergunta me tirando do meu transe.

Eu desperto – Oh, sim. Eu vou aceitar. Obrigada.

Nós nos sentamos. Mas depois que eu me acomodo, um silêncio constrangedor se instaura entre nós. Eu tenho certeza de que ele não planejava ter que dividir a mesa com uma estranha e esse também não era o meu plano. Silenciosamente, eu imploro para que um garçom se aproxime para pegar nossos pedidos, pois eu preciso urgentemente de uma bebida. Finalmente minhas preces são atendidas e um jovem surge. O estranho a minha frente pede uma dose de whisky, sem tirar os olhos de mim nem por um instante desde o momento que nos encontramos e eu, desviando meu olhar do seu, peço uma cerveja.

O garçom sai nos deixando sozinhos novamente. – Quem você está esperando? – Sua voz é rouca e gentil, mas em um tom que faz com que você tenha necessidade de responder-lhe.

─ Uma amiga. Por falar nisso, ela está bem atrasada – Ele continua com seu olhar-scanner pra mim e eu me sinto diminuir. Eu tento amenizar o clima difícil, estendendo minha mão por cima da mesa – Eu sou Carol.

Ele segura minha mão firmemente – Hill – eu mantenho a sua mão. Senti-me confortável com o contato.

─ É um prazer conhecê-lo, Hill – Ele mantém sua mão na minha por um tempo sutilmente superior do que o normal e percebendo minha expressão, ele, finalmente, solta a minha mão, lentamente. – Você também está esperando alguém? – eu pergunto.

─ Não. Eu apenas precisava de uma bebida.

─ Dia difícil?

─ Todos eles são. – Não sei o que dizer sobre isso. Então, quando o garçom retorna trazendo nossas bebidas eu me sinto aliviada. Eu dou um longo gole na minha cerveja e coloco sobre a mesa entre nós. Ele faz o mesmo com a sua bebida.

         Eu olho novamente para o relógio, já são mais de onze horas da noite e até agora, nenhum sinal de Megan. O que será que aconteceu? Já era para ela estar aqui. Eu decido ligar pra ela e faço, mas ela não atende.

         Fico impaciente e preocupada. Isso não combina com ela. O homem a minha frente continua me olhando em silêncio e isso está me deixando ainda mais nervosa. Tudo bem que quando você conhece alguém numa situação como a nossa, é natural ter algum momento em branco, alguns instantes nos quais você fica sem assunto, mas em seguida você faz um comentário e a outra parte dá seguimento à conversa e quando você vê, estão em uma conversa agradável. Bem, isso não está acontecendo agora. Ele continua me olhando enquanto eu olho para todos os lugares menos pra ele e, quando seu olhar intenso atrai o meu, me obrigando a olhá-lo, nesses momentos eu me sinto nua, completamente exposta e se esse chão se abrisse e me tragasse agora, seria ótimo.

Eu não acho que alguém já tenha me olhado dessa maneira antes. Ele é um belo homem, realmente muito bonito. Seu terno requintado deixa claro que ele tem dinheiro. Eu jamais rotularia esse homem como perigoso. Não, nenhuma pessoa que olhasse pra ele uma primeira vez diria que ele oferece qualquer perigo. Pelo contrário. Diria ser uma pessoa confiável e que exala segurança. Então, por que ele parece tão poderoso pra mim? Quando eu olho pra ele, apenas uma palavra vem a minha mente: “sim”. Tenho vontade de dizer sim pra ele para qualquer coisa que, porventura, ele me pergunte. Eu acho que eu jamais conseguiria lhe dizer não. Ele é um homem de “sins”. “Sim, eu faço o que você quer”, “Sim, eu deixo você me foder sobre essa mesa na frente de todas essas pessoas”. Sim, sim, mil vezes sim. Eu não sei quanto tempo ficamos estudando um ao outro sem dizer absolutamente nenhuma palavra. Até que a vibração do meu celular em minha mão me tira do meu transe. É Megan.

─ Ei, onde está você?

─ Oh, meu Deus, eu sinto muito Carol. Eu estava saindo para encontrá-la quando ligaram do hospital. Minha mãe sentiu-se mal e foi hospitalizada.

─ Oh, meu Deus! Como ela está?

─ Agora ela está fora de perigo. Eu fiquei tão desnorteada que por um momento esqueci pra onde eu estava indo e corri para o hospital. Depois que a vi, me acalmei e só então lembrei que precisava telefonar pra você.

─ Não se preocupe. Eu entendo perfeitamente. Tem algo que eu possa fazer pra ajudar.

─ Eu, sei que deve ser horrível ser deixada sozinha em um bar, mas, se você puder, eu me sentiria melhor se você se divertisse. Fui eu que inventei essa comemoração e agora eu me sinto péssima por deixá-la sozinha.

─ Tudo bem, não é grande coisa. Ainda podemos comemorar outro dia. Descanse e deixe-me saber se eu puder ajudar em alguma coisa. Qualquer coisa.

Despedimo-nos e ela encerra a chamada.

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