Sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Eu acordo abruptamente e me sento na cama tateando pelo interruptor da pequena luminária na mesa lateral. Eu preciso da luz para observar em volta e ver que eu não estou mais lá. Eu estou bem. Estou segura. Estou há anos de distância daqueles dias. Estou no agora e o agora é seguro.
Quando finalmente a luz invade o meu quarto eu olho em volta e solto um suspiro de alívio. Eu estou realmente bem. A luz sempre me ajuda a me sentir segura, mas não me esconde da vergonha que eu sinto cada vez que eu sou obrigada a me lembrar do que aconteceu. As lágrimas sempre vêm. Elas são quase que automáticas. Eu nem sinto que estou chorando. Eu não soluço. Eu não grito. Elas apenas escorrem pelo meu rosto. Mas ver onde estou é sempre bem-vindo, por isso eu preciso da luz.
Há muito tempo que eu não sonhava e, embora eu nunca tenha me esquecido, sonhar é sempre pior do que apenas lembrar. Por que sonhar é reviver. Não tem botão de desligar. Você não consegue desviar sua atenção. Não dá pra dizer: “Não quero sonhar com isso, quero sonhar com aquilo”. No sonho não há outra opção. E isso me lembra de que na época eu também me sentia assim: sem opção.
Eu saio da cama e vou até o banheiro. Um bom banho sempre ajuda. Eu tiro a minha velha camiseta e minha calcinha e jogo no cesto de roupas. Ao ligar o chuveiro, eu não espero a água esquentar. A água gelada é bem-vinda para afugentar os demônios do passado. Quando finalmente a água começa a aquecer eu sinto a normalidade retornando lentamente pra mim. Eu ensaboo meu corpo e quando me sinto limpa eu saio e me seco.
São apenas cinco horas da manhã e não há nenhuma possibilidade de eu voltar pra cama. Eu não me sinto disposta a me exercitar. Então, eu decido trabalhar. Aliás, trabalhar é o que eu faço de melhor. Nos últimos anos eu me preparei para ser uma profissional de sucesso. Eu estudei, me formei com honras, me especializei, trabalhei, trabalhei, trabalhei. Ousei.
Aliás, eu descobri que vale a pena ousar. Foi ousando que vim parar aqui em Nova York. Apesar de todos os apelos da minha família, sobretudo da minha mãe, eu ousei e aceitei um convite para trabalhar fora do Brasil. Foi ousando que eu cheguei a um bom cargo na antiga empresa que eu trabalhei. Foi ousando que eu abri mão desse cargo e aceitei um convite da minha melhor amiga para trabalhar com ela na empresa do seu obscenamente rico noivo. Rico é um eufemismo, ele é bilionário mesmo. Eu hesitei a princípio com medo que as coisas não dessem certo entre os dois e de alguma forma isso influenciasse na minha relação profissional com Jake, o noivo. Mas, eu decidi que essa situação é muito mais uma motivação para que eu prove minha competência do que realmente um problema. E foi por isso que eu disse “sim” ao seu convite.
Essa primeira semana foi difícil. Porque ela não pode me acompanhar na empresa nos primeiros dias. Eu não fui apresentada oficialmente à equipe por ela. Não ainda. E tive que ir até o apartamento que ela mora com Jake para me colocar a par dos negócios e ela também deixou a sua assistente pessoal a minha disposição. Mas a empresa está enfrentando um momento de mudanças abruptas o que faz com que a minha adaptação seja mais complicada. Apesar disso, eu nunca corri de desafios. Eles me fascinam. Isso faz com que eu me sinta no controle de tudo. Eu tenho feito isso há muito tempo. Eu preciso que tudo esteja sob o meu controle. É cansativo às vezes, mas é só assim que eu sei ser.
Eu visto um terninho grafite com uma blusa branca de gola jabô. Prendo meu cabelo em um coque tradicional e vou pra cozinha preparar meu café da manhã. Abby, minha colega de quarto não está em casa. Aliás, isso não é nenhuma novidade. Ela praticamente se mudou pra casa do seu namorado e, por mais que eu negue, eu me sinto sozinha, às vezes, nesse apartamento imenso. Outras vezes eu gosto de ficar sozinha.
Eu preparo um café bem forte, como de costume, pego um pacote de biscoitos e me sento na bancada da cozinha com meu laptop para trabalhar. É muito cedo, mas eu preciso disso. Sobretudo hoje. Eu trabalho initerruptamente por mais de duas horas até que o meu telefone toca.
─ Megan?
─ Olá, Carol. Como você está hoje?
─ Bem e você?
─ Bem e a caminho da Foster. Eu estou ligando pra saber como foi a sua primeira semana na Green Enterprises.
Eu me levanto e caminho até a cafeteira para pegar mais uma xícara de café – Até agora está indo bem. Uma semana é muito pouco pra avaliar, mas o ambiente é excepcional. Eu tenho uma sala de verdade e muito espaçosa. As pessoas são agradáveis. E eu gosto muito do trabalho. Tenho uma boa impressão até agora.
─ Você tem visto Samanta?
─ Apenas na casa dela. Ela ainda está presa em casa por causa do que ela sofreu. A imprensa não tem lhe dado trégua. Além disso, eu estou na sua antiga sala e ela está se mudando para uma sala ao lado da de Jake, no último andar. Ela está aguardando que a sala dela fique pronta e que ela possa ocupá-la. Enquanto isso, ela trabalha em casa e eu tenho ido lá alguns dias para que ela me passe algumas coisas.
─ Entendo. Você tem planos pra hoje à noite?
─ Agora sim.
─ Eu pensei que podíamos comemorar seu novo emprego.
─ De acordo. É só dizer onde e quando.
Ela ri – Você é das minhas. Eu envio uma mensagem mais tarde, combinando? Tenha um bom dia no seu novo emprego.
─ Um bom dia pra você também.
Eu termino a chamada e lavo a louça. Depois de escovar os dentes e me maquiar eu pego minha pasta e saio de casa.
***
Eu devia saber que teria um dia difícil. Eu não parei um só minuto. Reuniões após reuniões, uma infinidade de relatórios para analisar e outros tantos para fazer. Eu sequer parei para almoçar e me senti grata por encontrar uma barra de cereal na minha bolsa. Se há uma coisa que eu valorizo é uma boa comida, então eu posso dizer que barrinha de cereal nunca me deixa feliz e eu nem sei por que tenho uma dessas na minha bolsa. Porém, excepcionalmente hoje eu fiquei feliz em encontrá-la. Quando o expediente chegou ao fim eu só conseguia pensar em tomar uma bebida e dançar. Mesmo cansada, a música sempre faz milagre na minha alma e depois dos pesadelos da noite passada eu preciso curar a minha alma. Eu não vejo nenhuma mensagem de Megan, então eu envio uma.Carol: O que ouve com o nosso programa?Megan: Eu sinto muito. Dia difícil. Mas está de pé. Tem um bar dançante chamado “Just Dance” na Lafayette Street. Ouvi dizer que é muito bom.Carol: Nos vemos às 10?Megan: Ok. Até mais.
Além do balcão há ainda algumas mesas cercadas por poltronas e puffs confortáveis. Eu olho em volta procurando alguma que ainda esteja disponível. Assim que eu vejo uma mesa desocupada em um canto, eu apresso meu passo até ela e chego ao mesmo tempo em que um homem se senta.Imediatamente ele percebe que eu pretendia ficar com essa mesa e ele parece desconcertado enquanto fica me olhando sem conseguir dizer nada. Eu faço um esforço para dizer algo – Eu sinto muito. Eu não vi que você pretendia...─ Oh, tudo bem. Eu sinto muito também. Talvez você queira dividi-la comigo. – Eu franzo a testa, confusa – Logo a maioria dessas pessoas vão lá pra baixo e deve surgir uma mesa vazia então eu posso mudar de mesa e deixar essa livre pra você quando isso acontecer. – ele explica.Eu hesito por um momento – Eu... bem, eu não quero atrapalhar. Eu estou esperando uma pessoa.─ Não atrapalha – Eu fico petrificada diante dele, enquanto estudo seu rosto, seus olhos castanhos e rosto perfeito, emoldur
Quando eu tomo coragem para voltar meu olhar para Hill ele ainda está olhando pra mim, mas agora com a testa um pouco franzida – problemas?─ Minha amiga teve uma emergência. Ela não virá mais. De modo que eu vou apenas terminar minha cerveja e deixá-lo em paz.─ Você é bem-vinda para ficar.─ Mesmo? – eu digo sarcasticamente, já que, durante o pouco tempo que estamos sentados aqui ele mal falou comigo – Bem, de qualquer maneira, eu preciso mesmo ir.─ Eu sinto muito. Não estou sendo uma companhia agradável não é mesmo? – Eu sinto vontade de dizer que realmente ele não tem sido uma boa companhia, mas me contenho – Deixe-me oferecer outra bebida – ele não espera a minha anuência e já sinaliza para o garçom pedindo mais uma dose de whisky e mais uma cerveja. Quando o garçom se afasta, ele volta a me olhar e eu me pergunto se vamos entrar em outra fase do jogo “encare o outro”, eu tenho minha resposta quando ele fala – Você não é daqui. – Não foi uma pergunta.─ Não. Eu não sou?─ De ond
Ele sinaliza para o garçom e pede mais do mesmo ─ Então, você não tem um namorado ou algo assim?─ Uau! Isso foi uma guinada de 180 graus na nossa conversa – Ele está lá me olhando e esperando a resposta. Ele tem essa coisa que faz você falar o que ele quer saber. – Não. Eu não tenho um namorado.─ Nenhum cara com quem você está apenas saindo ou algo parecido ─ Eu balanço a cabeça lentamente, negando – Por quê?Eu encolho os ombros – Sei lá. Eu estava saindo com um cara recentemente. Alguém realmente legal. Mas, apenas não deu certo. Nunca dá, na verdade. E você? Não tem ninguém?─ Eu não tenho alguém. Eu tenho algumas parceiras para sexo – por mais que eu saiba que a maioria dos homens são adeptos do sexo casual, sem quaisquer relacionamentos. Parece mais feio do que é quando ele simplesmente admite.Minha testa franze – Uau!─ Choquei você?─ Bem, sim... e não – é a sua vez de franzir a testa. Eu tento explicar – Não me leve a mal. Eu não sou puritana. Mas quando você fala “eu tenho
Eu vejo seu peito subir e descer lentamente com sua respiração profunda e alguns minutos mais tarde eu estou entrando em uma casa elegante de cinco andares no Uper West side. Confesso que eu não consegui prestar atenção em mais nada, desde o momento que eu disse “sim” a essa proposta maluca até agora.Hill me levou através do hall até uma sala divinamente mobiliada. Tudo era de muito bom gosto e, embora eu não tenha reparado nos detalhes da fachada da casa, eu posso dizer que há um contraste imenso entre a fachada da casa e a decoração interna. A fachada é tradicional e o que eu vejo aqui dentro é extremamente moderno e luxuoso. Eu estou ainda de pé no meio da grande sala e percebo que ele acabou de me perguntar algo – Desculpe-me, eu não ouvi o que você disse.─ Eu perguntei se você gostaria de uma bebida.─ Não, obrigada. Sem mais bebidas por hoje. – Eu me pergunto se foi a bebida que me colocou nessa situação, mas eu chego à conclusão que não.Ele se aproxima de mim lentamente. Seu
Nós estamos tão grudados um no outro que eu não consigo discernir qual batida é do seu ou do meu coração. Estamos ofegantes, lutando por um pouco de ar. Repentinamente ele ergue minhas costas da parede no alto da escada e, sem quebrar nossa conexão e numa posição engraçada, ele caminha ao redor do corrimão da escada, entrado por uma porta dupla de madeira branca. Nosso pequeno percurso com ele dentro de mim faz reacender o meu desejo. Meu Deus! O que esse homem fez comigo? Eu suspeito que tive o mesmo efeito sobre ele, pois eu o sinto ainda duro dentro de mim, não tanto como antes, mas ainda duro. Eu não vejo, mas apenas sinto a maciez dos lençóis quando ele me deita sobre a cama sem separar o seu corpo de meu. Nossos corpos estão quentes e suados. Ele afasta uma mecha dos meus fios loiros do meu rosto prendendo atrás da minha orelha.─ Você é linda. Mas você fica bonita pra caralho toda suada e ruborizada deitada na minha cama. – Eu sinto seu pau pulsar dentro de mim, indicando que
Segunda-feira, 16 de setembro de 2013 ─ Alô? ─ Bom dia Senhorita Burgos, aqui é Nicole. ─ Olá, Nicole. Bom dia. Por favor, me chame de Carol. ─ Certo, Carol. Samanta gostaria de saber se você pode vir até a sala dela. ─ Claro. Estou indo. – Samanta é a minha melhor amiga. Mas é também a minha chefe. Ela também é brasileira e nós já éramos melhores amigas no Brasil. Nós estudamos juntas na Faculdade de Direito do Recife, fizemos especialização juntas, somos melhores amigas e confidentes. Falamos tudo uma pra outra. Bem, quase tudo. Ela não tem ideia do que eu já passei antes de conhecê-la. Mas. Eu não quero sujar a nossa amizade com uma coisa tão sórdida. Eu nunca contei isso pra ninguém e nunca vou contar. Eu sinto muita vergonha e me sinto suja. Curiosamente, eu também não quero entrar em detalhes sobre o que aconteceu na última sexta-feira. Eu não parei de pensar sobre isso durante todo o final de semana. Eu nunca me senti tão... tão... incrivelmente excitada com uma pessoa. Nu
Ele se levanta lentamente. Aquele andar, aquele mesmo andar que ele usou na sexta-feira à noite. Predador, vindo em minha direção. Mas ele não se aproxima demais. Ele para a uma distância segura. Seus olhos queimando sobre a minha pele. Minha boca abrindo e fechando como um peixe fora d’água, mas, puta merda, eu não tenho nada pra dizer.─ Senhorita Burgos? Caroline Burgos, Carol.─ Hill? Ou melhor, Harold Parker. Você mentiu o seu nome? – Eu acuso. Ok. De tanta coisa pra dizer, eu tinha que dizer isso em primeiro lugar? Mas, porra! Eu acusei. Processe-me.─ Não. Eu não menti meu nome. Sou Harold Hill Parker.─ Oh! Entendo. De dia você é Harold Parker e de noite você é Hill. Harold Parker seria sua identidade secreta? – eu alfineto.Ele franze a testa – Ora, ora. Suas garras estão afiadas. Mas, eu não entendo por que você está tão brava. Não foi você, a única a fugir da minha cama após receber os melhores orgasmos da sua vida?─ Presunçoso.─ Nossa! Como você é profissional.Isso é u