Dante SalvatoreSeis meses depoisÉ estranho como as coisas viram de cabeça para baixo quando você menos espera. Há seis meses, eu ainda me agarrava à ideia de que tinha algum controle sobre minha vida, mas hoje estou aqui, no corredor de fraldas do supermercado, com uma lista de coisas para o bebê que está a caminho. Cada pacote que eu escolho me lembra da confusão que se tornou minha rotina — e de como eu mesmo me meti nessa. É como se meu cérebro, insistente, repetisse: "Você fez isso consigo mesmo, Dante." Tentei fugir do pensamento tantas vezes que já nem adianta mais. Lucas, meu filho, mal fala comigo desde que descobriu sobre a gravidez de Ester, e a culpa é toda minha. Quer dizer, eu esperava que ele me entendesse? Ele já me via como o pai ausente, mas o escândalo que criei ao me envolver com Ester — a madrinha dele e minha antiga amante — só tornou as coisas piores. Sem dúvida, feri não só ele, mas também sua mãe, Beatriz. Como esperar que eles me perdoem? Eu mesmo luto par
OliviaOs últimos meses foram como um borrão. De alguma forma, entre despedidas e novos começos, consegui estabelecer uma rotina que me dava a sensação de controle – ou, pelo menos, a ilusão dele. Depois de um ano de intensas reviravoltas, eu estava pronta para algo mais previsível.Deixei a faculdade presencial e aceitei o estágio na Landra, fazendo o curso à distância. Parecia o passo lógico, o amadurecimento que tanto busquei. Kamila chorou horrores na minha despedida. Nathalia, sempre mais prática, me fez prometer que voltaria para as festas do campus quando fosse possível. E Zayn? Ah, ele.Zayn tentou ser casual, mas o brilho malicioso nos olhos dele não mentia. Antes que eu partisse, ele se aproximou e murmurou no meu ouvido: – Se algum dia precisar de companhia, você sabe onde me encontrar.Eu ri, tentando desviar a tensão que suas palavras carregavam. Não estava interessada em algo casual, mas, por um breve instante, me perguntei como seria. Ele era exatamente o tipo de distr
OliviaEu sabia que esse dia chegaria. Sabia que uma hora ou outra nos encontraríamos, mas nada poderia ter me preparado para o que senti quando os olhos de Dante encontraram os meus. Ainda podia sentir o peso daquele olhar, mesmo enquanto ele se dirigia a Lucas com uma expressão calculadamente neutra. Parecia que cada passo dele, cada gesto, era parte de um jogo que eu não queria jogar, mas que de alguma forma sempre me encontrava no tabuleiro. Respirei fundo. “Fique calma,” disse a mim mesma. “Ele não pode te afetar mais.” – Lucas – ele disse, com um aceno breve, profissional demais para um pai falando com o próprio filho. – Que bom que conseguiu se ajustar por aqui. Lucas respondeu algo que não captei. Minha mente estava longe, girando em torno da presença de Dante e do fato de que ele sequer havia dirigido uma palavra a mim. Não que eu quisesse que ele falasse. Não que eu precisasse ouvir nada vindo dele. E então, ele me olhou novamente. Por um instante, senti algo quase
OliviaDizem que o mundo é pequeno, mas acho que ninguém nunca me avisou que ele era tão estreito. Como se todo o universo tivesse se contraído, me forçando a orbitar novamente ao redor de Dante Salvatore – exatamente onde eu nunca quis estar.Após aquele primeiro encontro, eu tinha decidido que manteria uma distância segura. Não por medo, mas porque precisava me proteger. Ele já tinha me arrancado o chão uma vez, e eu não podia permitir que isso acontecesse de novo. Mas a vida tem um jeito cruel de testar nossa força de vontade, e o escritório da Landra era agora o palco desse novo tormento.Dante tinha se tornado uma figura constante na empresa, envolvido diretamente nas operações enquanto Ester se preparava para o nascimento do bebê. Com a barriga imensa e a elegância fria de sempre, ela desfilava pelos corredores como uma verdadeira rainha, com Dante ao seu lado. Ele a acompanhava em reuniões e almoços executivos, sempre ao alcance do olhar de todos – especialmente o meu. Era como
OliviaLucas estava sendo insistente quanto a voltarmos a ser amigos. E eu, bem, estava sozinha, em uma nova cidade. Por dentro, eu sabia que era uma péssima ideia. Eu sabia disso desde o momento em que Lucas sugeriu que eu o acompanhasse em um bar, e depois ele conseguiu me convencer a acompanhá-lo em um wallmart.– Vai ser rápido – ele insistiu, um sorriso genuíno no rosto enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento. – Além disso, você pode me ajudar a escolher. Eu sou terrível com essas coisas."Essas coisas", no caso, significavam presentes para o filho de Dante. O que, é claro, Lucas não tinha mencionado explicitamente, mas eu já sabia. Ele vinha tentando se aproximar do pai desde que Dante o procurou para resolverem as coisas, e embora não soubesse de toda a história entre Dante e eu, ele era bom em captar sinais. Ainda assim, eu tinha aceitado. Por quê? Talvez porque estivesse tentando me convencer de que poderia ser uma pessoa maior, melhor. Alguém capaz de encarar a
OliviaEu não sabia o que me irritava mais: a expressão de Dante ou o silêncio. Era como se ele estivesse procurando algo no meu rosto, uma resposta ou talvez uma confirmação de que eu ainda estava ferida – e, infelizmente, ele não precisava olhar muito para perceber. Porque eu estava. Toda aquela pose de força que eu vinha construindo parecia se despedaçar diante dele.– Olivia – ele disse de novo, o tom baixo e quase cauteloso.Ele falava o meu nome como se andasse sobre vidro. Como se cada sílaba pudesse me cortar mais fundo.– Não faz isso – cortei, minha voz firme, embora meu peito estivesse uma bagunça. – Não finge que se importa.Dante franziu o cenho, e aquela expressão familiar de frustração tomou conta dele.– Eu não estou fingindo.– Ah, não? – dei uma risada amarga. – Que conveniente, não acha? Você está aqui, agora, agindo como se o que aconteceu entre nós fosse um pequeno mal-entendido. Como se...Engoli o resto da frase porque dizer em voz alta faria tudo doer mais. O c
Olivia Era fácil, quase fácil demais, deixar Lucas se aproximar de mim.Ele era leve. Um solzinho no fim da tarde, daqueles que entram pela janela e te aquecem por um segundo antes de desaparecer. Nada como o incêndio que Dante sempre foi — quente demais, destruidor demais, doloroso demais. Lucas não tinha a força de um furacão. Ele era mais como uma brisa gentil. E talvez fosse exatamente isso o que eu precisava: alguém que não me consumisse.Não que fosse justo com ele.Lucas me fazia companhia quando o silêncio se tornava alto demais. Ele me fazia rir com piadas ruins, como aquela sobre tomates que eu já nem lembrava direito. A verdade é que a gente começou a funcionar de novo, como dois amigos que tentam pegar o ritmo depois de um longo período de desafinação.Ele acreditava que aquilo era real.E eu? Eu fingia que acreditava também.[...]A semana foi um inferno disfarçado de rotina. Eu passava os dias na Glass, tropeçando em Dante e Lucas com uma frequência que beirava o sadism
Dante SalvatoreA sala de reuniões estava em silêncio. Não o silêncio confortável que você aprecia depois de um longo dia, mas aquele pesado, cheio de subentendidos e palavras que ninguém quer dizer. Eu odiava aquele tipo de silêncio quase tanto quanto odiava a sensação que tinha agora: uma mistura de ciúme, culpa e raiva reprimida.Lucas tinha falado sobre Olivia. Ele sempre falava sobre ela, na verdade. Mas dessa vez foi diferente."Eu a beijei, pai."As palavras ecoaram na minha mente como uma maldita sentença. Ele disse aquilo com uma esperança que partiu meu coração e, ao mesmo tempo, incendiou algo sombrio dentro de mim. Lucas não sabia de nada. Não sabia sobre mim e Olivia. E, por Deus, ele não podia descobrir.Tentei manter a expressão neutra quando ele contou, mas foi difícil. "Vocês dois... resolveram as coisas, então?" perguntei, mantendo o tom casual, como se aquilo não fosse a bomba que era."Estamos nos entendendo," ele respondeu, e eu podia ver nos olhos dele algo que n