Olivia FernandesO vento quente da tarde tocava minha pele, e o sol se punha devagar no horizonte. Era um dia bonito. Tranquilo. Um daqueles momentos em que eu deveria me sentir bem. Mas não conseguia. Talvez porque eu ainda sentisse os resquícios do caos que Dante sempre deixava para trás. Talvez porque Lucas estivesse se tornando uma presença cada vez mais confusa, e o fato daquelas malditas fotos terem aparecido na minha porta. Eu estava calma demais para aquilo, acho que a ficha ainda não tinha caído de que alguém sabia que Dante e eu estávamos juntos. Mas, naquele ponto, eu não tinha nada a perder.Ele sim, mas eu sinceramente queria ver ele e Ester separados, simplesmente porque eu sabia que nada daquilo era real. Talvez assim ele acordasse. Estava sendo maldosa, eu sei. Mas queria ser egoísta, por mim, por nós. Pelo que restava da gente.Mas, infelizmente eu era trouxa demais. Estava com tudo planejado na minha cabeça, iria procurar Dante e mostrar aquelas fotos. Ele iria
Olivia Se eu soubesse o que me esperava, nunca teria vindo. Mas eu fui. Porque no fundo, uma parte de mim precisava ver com os próprios olhos. Precisava ouvir da boca dele que tudo aquilo era verdade, que ele nunca foi o amigo que eu achava que era. O hospital era gelado e impessoal, e o cheiro forte de antisséptico me enjoava. Caminhei pelos corredores, sentindo o peso daquela visita em cada passo. Quando parei em frente ao quarto de Lucas, respirei fundo antes de entrar. Ele estava sentado na cama, relaxado demais para alguém que tinha batido o carro dias atrás. Parecia confortável, como se essa fosse só mais uma tarde qualquer e não o momento onde sua máscara ia cair de vez. — Você veio — ele sorriu, satisfeito. Não respondi. Fechei a porta, ficando de pé perto dela. Eu não tinha intenção de me acomodar ali. — O que você queria dizer com eu estar tomando decisões ruins? — fui direto ao ponto. Minha voz estava firme, mas dentro de mim, o sangue fervia. Lucas ergueu as
OliviaDante segurou minha mão com firmeza, seus dedos quentes envolvendo os meus, e me puxou para fora do quarto. Meus passos tropeçavam ao tentar acompanhá-lo, minha mente ainda atordoada pelo que havia acabado de acontecer.Eu não olhei para trás. Não queria ver Lucas, não queria registrar a expressão no rosto dele, o reflexo do ódio que finalmente havia sido revelado. Não havia mais nada ali para mim.Dante andava rápido, sua respiração pesada. O ar ao redor dele parecia vibrar de raiva, como se estivesse segurando cada músculo do corpo para não voltar lá e terminar o que começou.Eu nunca o vi assim.Ele sempre foi intenso, mas dessa vez, havia algo diferente. Um tipo de fúria que ia além de apenas o momento.Quando chegamos ao estacionamento, ele abriu a porta do carro e praticamente me empurrou para dentro. Eu entrei sem questionar, sem hesitar.O silêncio dentro do carro era ensurdecedor.Eu o observava de soslaio, tentando encontrar alguma brecha, alguma abertura para falar,
DanteHospitais sempre me deram nos nervos. O cheiro de desinfetante, a frieza das paredes brancas, o som constante de máquinas apitando ao fundo. Eu odiava aquele ambiente. Sempre odiei. Mas lá estava eu, andando pelos corredores como se estivesse carregando um peso que nunca mais conseguiria soltar.Lucas tinha sofrido um acidente. E eu não estava lá. Quando fui visitá-lo pela primeira vez, ele estava distante. Parecia saber de algo que eu não queria descobrir o que era.Dessa vez, quando cheguei, a enfermeira me disse que ele estava acordado e que havia uma amiga com ele.Achei estranho. Lucas não era exatamente o tipo de cara que fazia amizades profundas.Mas quando parei na porta, entendi tudo.Olivia.Meu peito apertou no mesmo instante. Ela estava de pé ao lado da cama dele, e pela expressão dela, algo estava muito errado.Lucas não parecia o mesmo.Eu conhecia aquele olhar. Frio, cínico. Eu já tinha visto antes.O problema é que eu nunca quis admitir que ele era assim.Desde p
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos