OliviaSentei no chão frio do banheiro como se minhas pernas tivessem esquecido como funcionava o equilíbrio.O teste descansava sobre a pia, virado pra baixo. Como se evitar olhar fosse me dar algum tipo de controle sobre o que estava prestes a acontecer.Uma, duas, três linhas do tempo se desenrolavam na minha cabeça. Em uma, era tudo alarme falso. Em outra, eu criava um bebê com um cara que mal conhecia. Na última, Dante segurava minha mão e sorria… mas essa era só uma alucinação romântica alimentada por filmes bobos e instintos de sobrevivência.Respirei fundo. Virei o teste.Duas linhas. Nítidas. Inconfundíveis.Positivo.Meu estômago afundou como se alguém tivesse arrancado o chão sob mim e esquecido de avisar. E a única coisa que consegui fazer foi… nada.Nenhuma lágrima dramática, nenhum grito. Só um silêncio cortante que encheu o banheiro de perguntas que eu não queria responder.Minhas mãos tremiam. Meus olhos piscavam devagar, tentando absorver a realidade que estava bem al
Olivia Eu estava paralisada, ainda ali, debruçada contra a pia da cozinha, encarando o maldito teste positivo entre meus dedos trêmulos como vara de bambu. Foi nesse momento que escutei uma batida na porta. Não. Não agora. Por favor, agora não.Joguei o teste sobre a bancada, sem sequer ter forças pra olhar de novo aquelas duas linhas. Meu corpo ainda tremia. As palavras ainda ecoavam na minha mente como um sussurro encharcado de pânico: positivo. Eu estava grávida.Outra batida. Mais firme.Corri até a porta como se meu segredo estivesse prestes a escapar por baixo da soleira. Abri sem pensar, e lá estava ele. Dante. Encharcado de chuva e com os olhos queimando de alguma coisa que não era raiva, mas também não era paz.— Olivia... — disse baixo, como se me conhecesse bem o bastante pra ver tudo. — Você tá bem?Não, Dante. Eu não tô nem perto disso.— Tô... só um pouco cansada.Mentira. Mas minha voz não tremeu, então talvez ele acreditasse. Dei um passo pra trás, tentando sutilment
Dante SalvatoreA sala parecia menor hoje. Talvez não fosse o espaço, mas o clima. O jeito como todos estavam sentados, já me esperando, com olhares que pesavam mais do que palavras.Entrei com a postura certa, terno alinhado, pasta na mão. Não porque eu quisesse impressionar, mas porque sabia que qualquer sinal de hesitação podia ser usado contra mim. Já tinham decidido me testar antes mesmo de eu chegar.Então eu simplesmente coloquei meus sentimentos por Olivia e como ela reagiu esquisita em outro lugar por um tempo.— Bom dia — falei, direto.Ninguém respondeu de imediato. Só o silêncio me encarando. O típico jogo de poder. Tudo bem. Eu conheço esse jogo.O presidente do conselho ajeitou os óculos no rosto e pigarreou.— Agradecemos por vir com tão pouca antecedência, senhor Salvatore. A situação exige urgência.Assenti com um breve movimento de cabeça e me sentei.Eu sabia o que eles queriam dizer com “urgência”. Ester ainda estava em repouso desde o parto. E como ela é quem, tec
Olivia FernandesEu só queria respirar. Só isso.Um segundo de ar puro sem a sensação de que meu estômago ia se virar do avesso, sem o suor frio escorrendo pela nuca, sem os olhos pesando como se eu tivesse chorado a noite inteira — mesmo não tendo chorado. Ainda.Zayn insistiu pra que eu não viesse hoje. Falou que podia vir no meu lugar, resolver qualquer coisa, dizer que eu estava gripada, qualquer desculpa servia. Mas eu não quis. Não podia.Depois de dias escondendo tudo, eu precisava dar um passo. Nem que fosse pequeno. Ir até a empresa e conversar com o RH. Pedir uma licença. Sumir por um tempo, respirar longe daquele prédio, longe dele…Longe do risco de desabar se olhasse nos olhos de Dante e deixasse escapar a verdade.Entrei com passos cuidadosos. Vesti a roupa mais larga que encontrei, prendi o cabelo como sempre fazia antes e segurei a bolsa com força, como se isso pudesse me manter firme. Alguns colegas me cumprimentaram com acenos breves, outros nem isso. A verdade é qu
Olivia FernandesTudo parecia abafado.O som, a luz, os pensamentos, tudo junto num emaranhado confuso. Era como se eu estivesse submersa em alguma coisa que não sabia nomear. E quando abri os olhos, pela primeira vez, achei que ainda estava dormindo. .Meu corpo estava leve, como se flutuasse, mas minhas mãos estavam frias. O cobertor que cobria metade do meu corpo parecia grosso demais, e mesmo assim não aquecia.Eu pisquei devagar, tentando entender onde eu estava e por que. A garganta arranhava, os lábios estavam secos.Demorou uns bons segundos até tudo voltar com força: a empresa, o corredor, as pessoas falando alto, o chão gelado… e o rosto dele antes de eu desmaiar.Dante Salvatore. A imagem dele me veio como um sonho que eu tive há muito tempo. Ouvi com nitidez a voz dele gritando, perguntando o que estava acontecendo, o desespero na postura que geralmente é tão firme diante dos outros. E eu ainda meio tonta, ainda tentando me manter acordada, só consegui pensar que ele aind
Dante SalvatoreEra difícil ir embora, mesmo depois que a enfermeira sugeriu que ela descansasse. Mesmo depois de eu já ter dito tudo que precisava. Mesmo depois de Olivia me olhar daquele jeito — como se quisesse confiar, mas ainda estivesse com medo.Mas eu fui. Dei o espaço que ela merecia. Fechei a porta devagar. Encostei as costas na parede do corredor e respirei fundo.Só que algo não deixava meu corpo sair dali.Eu conheço essa mulher.Conheço cada uma das expressões que ela tenta esconder, cada respiro que ela solta como se ninguém fosse notar. Eu conheço aquele olhar vago e o modo como ela hesita quando vai falar alguma coisa. E conheço, também, o jeito que ela tem de esconder o que sente quando tá com medo de ser fraca.Voltei.Simples assim.Voltei e entrei de novo no quarto.— Achei que já tinha ido — ela disse, sem levantar os olhos.— Eu tentei — falei, me aproximando devagar. — Mas tem uma coisa que eu preciso perguntar.Ela franziu a testa, e notei como o corpo dela fi
Dante SalvatoreEu nunca fui bom com palavras bonitas fora da escrita, fora do momento onde eu fazia meus rascunhos que deixava escondidos a sete chaves, só pra eu mesmo me surpreender com a inspiração que surgia vez ou outra ao reencontrar aqueles documentos abandonados. Sempre achei mais fácil mostrar o que sinto com gestos. Mas, naquele quarto de hospital, vendo os olhos de Olivia arregalados diante do meu pedido, eu soube que precisava falar. Tinha que falar tudo que um dia achei não ter chance, quando achei que o tempo já havia passado e era tarde demais. Porque não era, ela estava aqui, seus olhos brilhantes pairando sobre mim enquanto eu me sentia tolo, mas muito feliz ao fazer aquele pedido. Eu nunca tive tanta certeza na vida.— Eu quero casar com você, Olivia.Ela me olhava como se não estivesse entendendo. Ou talvez entendesse bem demais, e fosse justamente isso que a assustava. Ainda assim, havia um brilho nos olhos dela que me fez sorrir.— Dante… você enlouqueceu.— Eu
[Durante o Dia]Olivia Dante tinha saído há pouco tempo para resolver pendências com a babá e ver Leo. Ele disse que voltaria rápido, mas cada minuto parecia mais longo desde que ele fechou a porta. Ficar sozinha ali, com as cortinas semifechadas e a televisão desligada, me deixava frente a frente com tudo que eu não queria pensar.Eu estava no sofá, as pernas cobertas pela manta que ele cuidadosamente ajeitou antes de sair, e o celular ao lado, sem notificações.O anel em meu dedo chamava mais atenção do que qualquer coisa. Refletindo o brilho discreto da luz amarelada da sala, e por alguns segundos eu fiquei só olhando.Aquilo tudo estava mesmo acontecendo?Um mês atrás, eu evitava até responder mensagens. Agora, estava grávida. Noiva.Olhei para minha barriga de sempre, gordinha, mas sem mudanças visíveis. E ainda assim… tão cheia. Estranhamente cheia.A campainha tocou pouco depois que Dante saiu, nem deu tempo de eu levantar pra abrir.— Tô entrando, se estiver indecente eu tô d