Olivia Se eu soubesse o que me esperava, nunca teria vindo. Mas eu fui. Porque no fundo, uma parte de mim precisava ver com os próprios olhos. Precisava ouvir da boca dele que tudo aquilo era verdade, que ele nunca foi o amigo que eu achava que era. O hospital era gelado e impessoal, e o cheiro forte de antisséptico me enjoava. Caminhei pelos corredores, sentindo o peso daquela visita em cada passo. Quando parei em frente ao quarto de Lucas, respirei fundo antes de entrar. Ele estava sentado na cama, relaxado demais para alguém que tinha batido o carro dias atrás. Parecia confortável, como se essa fosse só mais uma tarde qualquer e não o momento onde sua máscara ia cair de vez. — Você veio — ele sorriu, satisfeito. Não respondi. Fechei a porta, ficando de pé perto dela. Eu não tinha intenção de me acomodar ali. — O que você queria dizer com eu estar tomando decisões ruins? — fui direto ao ponto. Minha voz estava firme, mas dentro de mim, o sangue fervia. Lucas ergueu as
OliviaDante segurou minha mão com firmeza, seus dedos quentes envolvendo os meus, e me puxou para fora do quarto. Meus passos tropeçavam ao tentar acompanhá-lo, minha mente ainda atordoada pelo que havia acabado de acontecer.Eu não olhei para trás. Não queria ver Lucas, não queria registrar a expressão no rosto dele, o reflexo do ódio que finalmente havia sido revelado. Não havia mais nada ali para mim.Dante andava rápido, sua respiração pesada. O ar ao redor dele parecia vibrar de raiva, como se estivesse segurando cada músculo do corpo para não voltar lá e terminar o que começou.Eu nunca o vi assim.Ele sempre foi intenso, mas dessa vez, havia algo diferente. Um tipo de fúria que ia além de apenas o momento.Quando chegamos ao estacionamento, ele abriu a porta do carro e praticamente me empurrou para dentro. Eu entrei sem questionar, sem hesitar.O silêncio dentro do carro era ensurdecedor.Eu o observava de soslaio, tentando encontrar alguma brecha, alguma abertura para falar,
DanteHospitais sempre me deram nos nervos. O cheiro de desinfetante, a frieza das paredes brancas, o som constante de máquinas apitando ao fundo. Eu odiava aquele ambiente. Sempre odiei. Mas lá estava eu, andando pelos corredores como se estivesse carregando um peso que nunca mais conseguiria soltar.Lucas tinha sofrido um acidente. E eu não estava lá. Quando fui visitá-lo pela primeira vez, ele estava distante. Parecia saber de algo que eu não queria descobrir o que era.Dessa vez, quando cheguei, a enfermeira me disse que ele estava acordado e que havia uma amiga com ele.Achei estranho. Lucas não era exatamente o tipo de cara que fazia amizades profundas.Mas quando parei na porta, entendi tudo.Olivia.Meu peito apertou no mesmo instante. Ela estava de pé ao lado da cama dele, e pela expressão dela, algo estava muito errado.Lucas não parecia o mesmo.Eu conhecia aquele olhar. Frio, cínico. Eu já tinha visto antes.O problema é que eu nunca quis admitir que ele era assim.Desde p
Dante SalvatoreO hospital nunca foi um ambiente confortável para mim. O cheiro estéril, a luz branca e fria, o som dos monitores apitando ritmadamente—tudo contribuía para um incômodo persistente, como se o lugar sugasse qualquer sensação de vida real e substituísse por algo artificial e sem cor. Parecia com a minha vida. Era engraçado e trágico fazer esse comparativo, mas era a verdade, quando eu apenas sabia viver para servir aos propósitos do que achava que era o correto. Eu estava parado à porta do quarto de Ester há alguns minutos, sem saber se entrava ou se voltava pelo mesmo corredor sem olhar para trás. Mas não era uma escolha de verdade. Então respirei fundo e entrei. Ela estava desacordada, exausta pelo parto e pela cirurgia de emergência que salvou sua vida. Eu não sentia felicidade ou tristeza, mas um alívio. Ele não merecia uma história trágica sobre o seu nascimento. Olhando ao redor, a única coisa que se movia no quarto além dos monitores era o pequeno berço ao l
Dante SalvatoreO quarto de Ester era estranho. Eu não sabia identificar muito bem o que me transmitia, mas acho que ela conseguiu replicar bem sua frieza através das cores monótonas e frias.Era sempre gelado, muito frio, e isso me fez achar um pouco de graça levando em consideração o contexto.Os quadros com o rosto de Ester pintados enfeitavam o lado esquerdo da parede, próximo a cama. Alguns eu mesmo pintei em minha juventude, quando eu ela e Beatriz éramos amigos inseparáveis. Antes de eu entender que ela soube fazer de mim um fantoche em suas mãos. Um pouco de choro, beleza, um toque de bebida e uma amostra da vulnerabilidade que atrai homens tolos e voilá: a receita do caos.Não posso me eximir da responsabilidade, nunca fui resistente à mulheres ao meu redor. Sempre fui atraído pelo magnetismo, a voz doce e suave, toda a essência que evoca a feminilidade e me deixa hipnotizado. Mas como os mais velhos dizem: basta conviver para conhecer a verdadeira essência de alguém. Est
OliviaA rotina seguiu seu curso. As coisas na empresa não mudaram muito, mas eu mudei.O primeiro dia depois daquela discussão com Lucas foi o pior. A adrenalina ainda estava no meu sangue, e a ficha do que ele tinha dito demorou a cair de verdade. Mas depois vieram os dias seguintes, e aí sim eu comecei a sentir.A humilhação. A raiva. A culpa.O fato de Dante ter me tirado de lá não significava que ele me salvou. No fim das contas, era só mais uma coisa para alimentar aquele ciclo que a gente sempre teve. Ele entrava na minha vida, me arrastava para o caos dele e depois saía como se nunca tivesse me pedido para ficar.Dessa vez, no entanto, não foi ele quem se afastou.Fui eu.A decisão de cortar o contato não foi uma coisa repentina, mas eu sabia que precisava disso. Eu via Dante todos os dias, nos corredores da empresa, em reuniões rápidas, ou então ouvia o nome dele ser citado por alguém. Agora que ele estava oficialmente no comando, seu nome era falado mais do que nunca.E, par
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P