Dante SalvatoreO hospital nunca foi um ambiente confortável para mim. O cheiro estéril, a luz branca e fria, o som dos monitores apitando ritmadamente—tudo contribuía para um incômodo persistente, como se o lugar sugasse qualquer sensação de vida real e substituísse por algo artificial e sem cor. Parecia com a minha vida. Era engraçado e trágico fazer esse comparativo, mas era a verdade, quando eu apenas sabia viver para servir aos propósitos do que achava que era o correto. Eu estava parado à porta do quarto de Ester há alguns minutos, sem saber se entrava ou se voltava pelo mesmo corredor sem olhar para trás. Mas não era uma escolha de verdade. Então respirei fundo e entrei. Ela estava desacordada, exausta pelo parto e pela cirurgia de emergência que salvou sua vida. Eu não sentia felicidade ou tristeza, mas um alívio. Ele não merecia uma história trágica sobre o seu nascimento. Olhando ao redor, a única coisa que se movia no quarto além dos monitores era o pequeno berço ao l
Dante SalvatoreO quarto de Ester era estranho. Eu não sabia identificar muito bem o que me transmitia, mas acho que ela conseguiu replicar bem sua frieza através das cores monótonas e frias.Era sempre gelado, muito frio, e isso me fez achar um pouco de graça levando em consideração o contexto.Os quadros com o rosto de Ester pintados enfeitavam o lado esquerdo da parede, próximo a cama. Alguns eu mesmo pintei em minha juventude, quando eu ela e Beatriz éramos amigos inseparáveis. Antes de eu entender que ela soube fazer de mim um fantoche em suas mãos. Um pouco de choro, beleza, um toque de bebida e uma amostra da vulnerabilidade que atrai homens tolos e voilá: a receita do caos.Não posso me eximir da responsabilidade, nunca fui resistente à mulheres ao meu redor. Sempre fui atraído pelo magnetismo, a voz doce e suave, toda a essência que evoca a feminilidade e me deixa hipnotizado. Mas como os mais velhos dizem: basta conviver para conhecer a verdadeira essência de alguém. Est
OliviaA rotina seguiu seu curso. As coisas na empresa não mudaram muito, mas eu mudei.O primeiro dia depois daquela discussão com Lucas foi o pior. A adrenalina ainda estava no meu sangue, e a ficha do que ele tinha dito demorou a cair de verdade. Mas depois vieram os dias seguintes, e aí sim eu comecei a sentir.A humilhação. A raiva. A culpa.O fato de Dante ter me tirado de lá não significava que ele me salvou. No fim das contas, era só mais uma coisa para alimentar aquele ciclo que a gente sempre teve. Ele entrava na minha vida, me arrastava para o caos dele e depois saía como se nunca tivesse me pedido para ficar.Dessa vez, no entanto, não foi ele quem se afastou.Fui eu.A decisão de cortar o contato não foi uma coisa repentina, mas eu sabia que precisava disso. Eu via Dante todos os dias, nos corredores da empresa, em reuniões rápidas, ou então ouvia o nome dele ser citado por alguém. Agora que ele estava oficialmente no comando, seu nome era falado mais do que nunca.E, par
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,