70: Correnteza
Olivia

Era fácil, quase fácil demais, deixar Lucas se aproximar de mim.

Ele era leve. Um solzinho no fim da tarde, daqueles que entram pela janela e te aquecem por um segundo antes de desaparecer. Nada como o incêndio que Dante sempre foi — quente demais, destruidor demais, doloroso demais. Lucas não tinha a força de um furacão. Ele era mais como uma brisa gentil. E talvez fosse exatamente isso o que eu precisava: alguém que não me consumisse.

Não que fosse justo com ele.

Lucas me fazia companhia quando o silêncio se tornava alto demais. Ele me fazia rir com piadas ruins, como aquela sobre tomates que eu já nem lembrava direito. A verdade é que a gente começou a funcionar de novo, como dois amigos que tentam pegar o ritmo depois de um longo período de desafinação.

Ele acreditava que aquilo era real.

E eu? Eu fingia que acreditava também.

[...]

A semana foi um inferno disfarçado de rotina. Eu passava os dias na Glass, tropeçando em Dante e Lucas com uma frequência que beirava o sadism
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