LucasEu não gostava de ir à casa do meu pai e de Ester, mas havia momentos em que a obrigação falava mais alto. Hoje era um desses dias. Comprei um presente para o bebê, um gesto pequeno e, se eu fosse honesto, completamente forçado. Mas eu estava tentando. Tentando porque, no fundo, havia uma parte de mim que ainda queria acreditar que poderia existir alguma harmonia entre nós.Dirigir até a casa deles era sempre desconfortável. A cada quilômetro, a mágoa que eu sentia pelo meu pai parecia crescer. Não era só o fato de ele ter se envolvido com Ester enquanto ainda era casado com a minha mãe, Beatriz. Era todo o histórico. Ele sempre foi o tipo de homem que atraía atenção, que conquistava as pessoas sem precisar fazer esforço. E, ainda assim, ele falhou em ser o pai que eu precisava.Minha mãe, por outro lado, era a fortaleza. Forte, exigente, impecável. Crescer com Beatriz significava viver sob um padrão inatingível. Eu tinha que ser perfeito, porque, aos olhos dela, eu era o reflex
LucasO motor do carro rugia baixo enquanto eu dirigia sem rumo, os pensamentos girando em minha cabeça como um furacão impossível de controlar. A casa de Ester sempre me deixava inquieto. Não era apenas a lembrança constante do que ela havia feito com minha mãe, mas também a sensação sufocante de que eu nunca fui importante o suficiente para ninguém ali.Dante nunca pediu desculpas. Ele seguiu em frente como se as escolhas dele não tivessem causado danos irreparáveis. E Ester... bom, ela era um capítulo à parte. Toda vez que tentava forçar uma simpatia falsa, usando o título de madrinha que um dia teve na minha vida, eu só conseguia sentir desprezo.Hoje, ela foi além."Você e Olivia são tão próximos," ela comentou casualmente, enquanto eu colocava o presente que comprei para o bebê sobre a mesa. "É bonito de ver.""Ela é incrível," respondi, com uma sinceridade que não consegui esconder. "Apesar de ter algumas questões com meu pai, claro."Foi aí que a semente foi plantada."Ah, sim
OliviaEnquanto aquele silêncio ensurdecedor se fazia presente, preenchendo o espaço físico entre nós, eu vi algo nos olhos de Dante que ultrapassava o desejo e a luxúria. Sabia que aquilo não era a decisão mais sábia a se tomar, mas aquele ponto, eu já não sabia sequer o que estava fazendo da minha vida. Deixei tudo chegar a um ponto onde já parecia tarde demais recomeçar, embora fosse esse meu objetivo ao vir trabalhar nessa empresa, deixando meus amigos para trás. Parecia que Dante sempre voltava a ser o centro de tudo. Eu apenas orbitava ao redor dele, assim como a lua e a terra. A gravidade era o amor que eu sentia por ele, me fazendo ficar presa ao chão sem conseguir voar para onde quisesse. Me perguntei, naquele instante, se um dia eu seria capaz de superar esse sentimento avassalador e ser livre. Mas, ao mesmo tempo, eu me perguntei: quando me senti mais livre do que no dia em que senti o desejo que ele me causou? Até então, eu apenas existia. Vivia uma vida cronometr
Dante SalvatoreA chuva batia com força contra as janelas, um som rítmico e quase hipnotizante que só fazia aumentar o peso no meu peito. Estar na casa de Olivia, nesse momento, parecia uma ironia do destino. Eu nunca deveria ter vindo. Sabia que isso era um erro desde o instante em que ela me mandou aquela mensagem dizendo que se sentia insegura. Mas algo dentro de mim — algo que eu tentava ignorar há meses — não me deixou hesitar. Eu precisava vê-la. Precisava garantir que ela estava bem.E agora, aqui estávamos.Eu deveria ter ido embora logo depois de me certificar de que estava tudo em ordem, mas a verdade é que não consegui. Havia algo nela, algo na maneira como me olhava, que fazia com que toda a lógica desaparecesse. Eu sabia que estava jogando com fogo, mas também sabia que não conseguia me afastar.Eu me movi pela casa em passos curtos, tentando conter a tensão crescente. A lavanderia parecia o único lugar onde eu poderia respirar. Abri a porta e me apoiei contra a parede, t
Olivia Fernandes Aquela noite se estendeu como se fossem meses, mas ao mesmo tempo, sinto que tudo foi rápido demais. Dante e eu nunca estivemos tão conectados, explodindo em uma intensidade que me fez ir próximo ao nirvana. Ele me faz entrar em um transe que é difícil de despertar. E eu sempre, sempre quero mais. Era engraçado estar ali, parada em cima da secadora enquanto ela fazia seu trabalho, se sacudindo enquanto eu estava presa nos braços dele. Minhas pernas ao redor dele, o agarrando com uma força que poderia fazê-lo grudar em mim para sempre.Aquele momento parecia existencialmente irônico. Eu, no lugar mais mundano da casa, imersa na intensidade de Dante Salvatore. Uma noite que se esticava como o elástico do tempo, prestes a romper. O barulho suave da secadora preenchia o ambiente, mas tudo parecia surdo diante do som abafado de nossas respirações. Eu sentia cada movimento dele enquanto meus pensamentos gritavam para que o mundo lá fora desaparecesse. Não havia certo ou
OliviaNinguém nunca vai ter uma explicação perfeita sobre o que acontece quando dois corpos se conectam. Quando duas mentes se entendem e formam um vínculo inexplicável. Explicações cientificas podem exemplificar como ocorrem algumas sensações, mas o que pode definir um encontro de Almas? A chance de nunca conhecer alguém é muito maior do que a de conhecer, e me pergunto, dentre tantas pessoas e tantos caminhos que eu poderia trilhar, porque a vida me encaminhou para o destino de Dante? Me perguntaria isso por toda a eternidade, simplesmente porque nada para mim conseguiria explicar o que eu sinto quando ele me toca. É quase desumano que uma sensação vinda de outro seja tão acolhedora e reconfortante, tão necessária. Eu não sei lidar com o quanto peciso tê-lo perto de mim, em mim. É torturante quando estamos separados. Mas quando estamos juntos, é como se tudo tivesse se alinhado justamente para isso acontecer. Os toques fazem sentido, tudo se encaixa perfeitamente bem. O beijo é
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P