OliviaO silêncio que se seguiu após a saída de Beatriz foi mais ensurdecedor do que qualquer discussão que Dante e eu já tivemos. Mesmo depois que ele foi embora, depois que a porta se fechou atrás dele, eu ainda podia sentir o peso daquela conversa pairando no ar.Eu não dormi. Me revirava na cama, encarando o teto, sentindo cada parte do meu corpo ainda impregnada do toque de Dante, mas, pela primeira vez, isso não era reconfortante. Era sufocante.Beatriz tinha razão.Eu e Dante nos jogávamos um no outro como se o resto do mundo simplesmente não existisse, como se estivéssemos presos em um ciclo vicioso que só terminaria quando não sobrasse mais nada de nós. Mas sempre sobrava. Sempre havia algo que nos fazia voltar.Mas até quando?Levantei da cama quando o sol começou a nascer. Não havia motivo para continuar fingindo que conseguiria dormir. Tomei um banho longo, tentando me livrar da sensação de culpa grudada na minha pele, mas não adiantou.Na empresa, Dante evitou qualquer in
Dante SalvatoreA noite com Olivia ainda queimava na minha pele, mas agora, era uma brasa incômoda. Um lembrete do que eu nunca consegui deixar para trás. O cheiro dela, a sensação do seu corpo no meu, os sussurros entrecortados entre o desejo e a necessidade. Tudo isso ainda estava impresso em mim enquanto eu dirigia para o hospital. Mas havia algo maior que me sufocava agora. Algo mais urgente.Lucas.Meu celular estava desligado desde que cheguei no apartamento de Olivia. Eu me desliguei do mundo por horas, preso naquele transe viciante que sempre foi estar com ela. E, nesse meio-tempo, meu filho sofreu um acidente. Eu não estava lá quando ele precisou de mim.Cada quilômetro percorrido até o hospital era um golpe no meu peito. Minha mente girava em torno da mensagem que Beatriz me entregou. O que Lucas queria me dizer? O que era tão importante que ele se distraiu o suficiente para perder o controle?Cheguei na recepção do hospital e perguntei por ele, meu coração martelando contra
Olivia FernandesO vento quente da tarde tocava minha pele, e o sol se punha devagar no horizonte. Era um dia bonito. Tranquilo. Um daqueles momentos em que eu deveria me sentir bem. Mas não conseguia. Talvez porque eu ainda sentisse os resquícios do caos que Dante sempre deixava para trás. Talvez porque Lucas estivesse se tornando uma presença cada vez mais confusa, e o fato daquelas malditas fotos terem aparecido na minha porta. Eu estava calma demais para aquilo, acho que a ficha ainda não tinha caído de que alguém sabia que Dante e eu estávamos juntos. Mas, naquele ponto, eu não tinha nada a perder.Ele sim, mas eu sinceramente queria ver ele e Ester separados, simplesmente porque eu sabia que nada daquilo era real. Talvez assim ele acordasse. Estava sendo maldosa, eu sei. Mas queria ser egoísta, por mim, por nós. Pelo que restava da gente.Mas, infelizmente eu era trouxa demais. Estava com tudo planejado na minha cabeça, iria procurar Dante e mostrar aquelas fotos. Ele iria
Olivia Se eu soubesse o que me esperava, nunca teria vindo. Mas eu fui. Porque no fundo, uma parte de mim precisava ver com os próprios olhos. Precisava ouvir da boca dele que tudo aquilo era verdade, que ele nunca foi o amigo que eu achava que era. O hospital era gelado e impessoal, e o cheiro forte de antisséptico me enjoava. Caminhei pelos corredores, sentindo o peso daquela visita em cada passo. Quando parei em frente ao quarto de Lucas, respirei fundo antes de entrar. Ele estava sentado na cama, relaxado demais para alguém que tinha batido o carro dias atrás. Parecia confortável, como se essa fosse só mais uma tarde qualquer e não o momento onde sua máscara ia cair de vez. — Você veio — ele sorriu, satisfeito. Não respondi. Fechei a porta, ficando de pé perto dela. Eu não tinha intenção de me acomodar ali. — O que você queria dizer com eu estar tomando decisões ruins? — fui direto ao ponto. Minha voz estava firme, mas dentro de mim, o sangue fervia. Lucas ergueu as
OliviaDante segurou minha mão com firmeza, seus dedos quentes envolvendo os meus, e me puxou para fora do quarto. Meus passos tropeçavam ao tentar acompanhá-lo, minha mente ainda atordoada pelo que havia acabado de acontecer.Eu não olhei para trás. Não queria ver Lucas, não queria registrar a expressão no rosto dele, o reflexo do ódio que finalmente havia sido revelado. Não havia mais nada ali para mim.Dante andava rápido, sua respiração pesada. O ar ao redor dele parecia vibrar de raiva, como se estivesse segurando cada músculo do corpo para não voltar lá e terminar o que começou.Eu nunca o vi assim.Ele sempre foi intenso, mas dessa vez, havia algo diferente. Um tipo de fúria que ia além de apenas o momento.Quando chegamos ao estacionamento, ele abriu a porta do carro e praticamente me empurrou para dentro. Eu entrei sem questionar, sem hesitar.O silêncio dentro do carro era ensurdecedor.Eu o observava de soslaio, tentando encontrar alguma brecha, alguma abertura para falar,
DanteHospitais sempre me deram nos nervos. O cheiro de desinfetante, a frieza das paredes brancas, o som constante de máquinas apitando ao fundo. Eu odiava aquele ambiente. Sempre odiei. Mas lá estava eu, andando pelos corredores como se estivesse carregando um peso que nunca mais conseguiria soltar.Lucas tinha sofrido um acidente. E eu não estava lá. Quando fui visitá-lo pela primeira vez, ele estava distante. Parecia saber de algo que eu não queria descobrir o que era.Dessa vez, quando cheguei, a enfermeira me disse que ele estava acordado e que havia uma amiga com ele.Achei estranho. Lucas não era exatamente o tipo de cara que fazia amizades profundas.Mas quando parei na porta, entendi tudo.Olivia.Meu peito apertou no mesmo instante. Ela estava de pé ao lado da cama dele, e pela expressão dela, algo estava muito errado.Lucas não parecia o mesmo.Eu conhecia aquele olhar. Frio, cínico. Eu já tinha visto antes.O problema é que eu nunca quis admitir que ele era assim.Desde p
Dante SalvatoreO hospital nunca foi um ambiente confortável para mim. O cheiro estéril, a luz branca e fria, o som dos monitores apitando ritmadamente—tudo contribuía para um incômodo persistente, como se o lugar sugasse qualquer sensação de vida real e substituísse por algo artificial e sem cor. Parecia com a minha vida. Era engraçado e trágico fazer esse comparativo, mas era a verdade, quando eu apenas sabia viver para servir aos propósitos do que achava que era o correto. Eu estava parado à porta do quarto de Ester há alguns minutos, sem saber se entrava ou se voltava pelo mesmo corredor sem olhar para trás. Mas não era uma escolha de verdade. Então respirei fundo e entrei. Ela estava desacordada, exausta pelo parto e pela cirurgia de emergência que salvou sua vida. Eu não sentia felicidade ou tristeza, mas um alívio. Ele não merecia uma história trágica sobre o seu nascimento. Olhando ao redor, a única coisa que se movia no quarto além dos monitores era o pequeno berço ao l
Dante SalvatoreO quarto de Ester era estranho. Eu não sabia identificar muito bem o que me transmitia, mas acho que ela conseguiu replicar bem sua frieza através das cores monótonas e frias.Era sempre gelado, muito frio, e isso me fez achar um pouco de graça levando em consideração o contexto.Os quadros com o rosto de Ester pintados enfeitavam o lado esquerdo da parede, próximo a cama. Alguns eu mesmo pintei em minha juventude, quando eu ela e Beatriz éramos amigos inseparáveis. Antes de eu entender que ela soube fazer de mim um fantoche em suas mãos. Um pouco de choro, beleza, um toque de bebida e uma amostra da vulnerabilidade que atrai homens tolos e voilá: a receita do caos.Não posso me eximir da responsabilidade, nunca fui resistente à mulheres ao meu redor. Sempre fui atraído pelo magnetismo, a voz doce e suave, toda a essência que evoca a feminilidade e me deixa hipnotizado. Mas como os mais velhos dizem: basta conviver para conhecer a verdadeira essência de alguém. Est