OliviaEstava tarde, e as luzes do prédio começavam a apagar, uma a uma, como um reflexo cruel de como eu me sentia por dentro. Todos os dias me forçava a ignorar a presença dele, a sufocar o que quer que ainda existisse dentro de mim, que gritava por ele. Mas hoje, não consegui.Eu o segui.Ele andava com passos firmes pelo corredor, as mãos nos bolsos do casaco, como se tentasse esconder mais do que o frio da noite. Passei pelos seguranças, que nem sequer me notaram. Quando saí do prédio, o ar frio da noite me atingiu, mas não hesitei."Dante!"Ele parou no meio do estacionamento, o ombro tenso e a cabeça inclinada para trás, como se estivesse respirando fundo antes de enfrentar mais um round. Ele se virou devagar, e o olhar que ele lançou para mim fez meu coração acelerar de um jeito que eu odeio admitir."Olivia, o que você quer?" A voz dele era cortante, mas havia algo mais ali, algo que ele não queria deixar transparecer.Eu me aproximei, e antes que ele pudesse escapar de novo,
OliviaEstar com Dante tão perto hoje foi como abrir uma gaveta que deveria permanecer trancada. Memórias que eu preferiria enterrar vieram à tona, e me deixaram exausta. As palavras dele ecoavam na minha cabeça como uma melodia dissonante: ele achava que estava me protegendo. Mas proteger do quê? Dele mesmo? De Ester? De uma realidade que, por mais complicada, nós poderíamos ter enfrentado juntos?Fechei os olhos por um instante, recostada no sofá da sala, a luz do abajur suave iluminando a penumbra ao meu redor. Eu não podia negar que entendia, em parte, por que ele fez o que fez. Mas isso não apagava a dor. A traição não estava em Ester, ou na gravidez. Estava em ele ter decidido sozinho o que era melhor para nós dois.E agora, lá estava ele, vivendo um falso conto de fadas, preso a uma mulher que não amava, movido apenas pelo dever com uma criança que não tinha culpa de nada.Minha mente flutuava entre ele e Lucas. Meu peito apertava ao pensar em como eu poderia ter dado falsas es
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,
Olivia FernandesSe me perguntassem para me definir em uma única palavra, eu provavelmente responderia: controle. Desde muito cedo, fui ensinada a controlar todos os aspectos da minha vida. Dos detalhes mais bobos até os mais importantes. E esses, os que impactariam meu futuro, eram os que mais exigiam cautela ao tomar qualquer decisão.Eu fiz tudo certo até aqui. Fui uma boa filha, obediente, submissa, quase perfeita demais para as expectativas dos meus pais. Mas todo esse controle, essa busca pela perfeição, me custaram algo que talvez nunca consiga reparar.Qualquer um que me observasse de fora perceberia o quanto eu sofria ao tentar tomar decisões por conta própria. No meio de toda essa criação rígida e desgastante, eu perdi a capacidade de pensar por mim mesma, de saber o que realmente quero, ao invés de sempre me preocupar com o que eu deveria fazer, de acordo com meus pais ou meu irmão.Então, aos 24 anos, tomei a decisão mais importante da minha vida: me entregar a um homem.Po