OliviaDizem que o mundo é pequeno, mas acho que ninguém nunca me avisou que ele era tão estreito. Como se todo o universo tivesse se contraído, me forçando a orbitar novamente ao redor de Dante Salvatore – exatamente onde eu nunca quis estar.Após aquele primeiro encontro, eu tinha decidido que manteria uma distância segura. Não por medo, mas porque precisava me proteger. Ele já tinha me arrancado o chão uma vez, e eu não podia permitir que isso acontecesse de novo. Mas a vida tem um jeito cruel de testar nossa força de vontade, e o escritório da Landra era agora o palco desse novo tormento.Dante tinha se tornado uma figura constante na empresa, envolvido diretamente nas operações enquanto Ester se preparava para o nascimento do bebê. Com a barriga imensa e a elegância fria de sempre, ela desfilava pelos corredores como uma verdadeira rainha, com Dante ao seu lado. Ele a acompanhava em reuniões e almoços executivos, sempre ao alcance do olhar de todos – especialmente o meu. Era como
OliviaLucas estava sendo insistente quanto a voltarmos a ser amigos. E eu, bem, estava sozinha, em uma nova cidade. Por dentro, eu sabia que era uma péssima ideia. Eu sabia disso desde o momento em que Lucas sugeriu que eu o acompanhasse em um bar, e depois ele conseguiu me convencer a acompanhá-lo em um wallmart.– Vai ser rápido – ele insistiu, um sorriso genuíno no rosto enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento. – Além disso, você pode me ajudar a escolher. Eu sou terrível com essas coisas."Essas coisas", no caso, significavam presentes para o filho de Dante. O que, é claro, Lucas não tinha mencionado explicitamente, mas eu já sabia. Ele vinha tentando se aproximar do pai desde que Dante o procurou para resolverem as coisas, e embora não soubesse de toda a história entre Dante e eu, ele era bom em captar sinais. Ainda assim, eu tinha aceitado. Por quê? Talvez porque estivesse tentando me convencer de que poderia ser uma pessoa maior, melhor. Alguém capaz de encarar a
OliviaEu não sabia o que me irritava mais: a expressão de Dante ou o silêncio. Era como se ele estivesse procurando algo no meu rosto, uma resposta ou talvez uma confirmação de que eu ainda estava ferida – e, infelizmente, ele não precisava olhar muito para perceber. Porque eu estava. Toda aquela pose de força que eu vinha construindo parecia se despedaçar diante dele.– Olivia – ele disse de novo, o tom baixo e quase cauteloso.Ele falava o meu nome como se andasse sobre vidro. Como se cada sílaba pudesse me cortar mais fundo.– Não faz isso – cortei, minha voz firme, embora meu peito estivesse uma bagunça. – Não finge que se importa.Dante franziu o cenho, e aquela expressão familiar de frustração tomou conta dele.– Eu não estou fingindo.– Ah, não? – dei uma risada amarga. – Que conveniente, não acha? Você está aqui, agora, agindo como se o que aconteceu entre nós fosse um pequeno mal-entendido. Como se...Engoli o resto da frase porque dizer em voz alta faria tudo doer mais. O c
Olivia Era fácil, quase fácil demais, deixar Lucas se aproximar de mim.Ele era leve. Um solzinho no fim da tarde, daqueles que entram pela janela e te aquecem por um segundo antes de desaparecer. Nada como o incêndio que Dante sempre foi — quente demais, destruidor demais, doloroso demais. Lucas não tinha a força de um furacão. Ele era mais como uma brisa gentil. E talvez fosse exatamente isso o que eu precisava: alguém que não me consumisse.Não que fosse justo com ele.Lucas me fazia companhia quando o silêncio se tornava alto demais. Ele me fazia rir com piadas ruins, como aquela sobre tomates que eu já nem lembrava direito. A verdade é que a gente começou a funcionar de novo, como dois amigos que tentam pegar o ritmo depois de um longo período de desafinação.Ele acreditava que aquilo era real.E eu? Eu fingia que acreditava também.[...]A semana foi um inferno disfarçado de rotina. Eu passava os dias na Glass, tropeçando em Dante e Lucas com uma frequência que beirava o sadism
Dante SalvatoreA sala de reuniões estava em silêncio. Não o silêncio confortável que você aprecia depois de um longo dia, mas aquele pesado, cheio de subentendidos e palavras que ninguém quer dizer. Eu odiava aquele tipo de silêncio quase tanto quanto odiava a sensação que tinha agora: uma mistura de ciúme, culpa e raiva reprimida.Lucas tinha falado sobre Olivia. Ele sempre falava sobre ela, na verdade. Mas dessa vez foi diferente."Eu a beijei, pai."As palavras ecoaram na minha mente como uma maldita sentença. Ele disse aquilo com uma esperança que partiu meu coração e, ao mesmo tempo, incendiou algo sombrio dentro de mim. Lucas não sabia de nada. Não sabia sobre mim e Olivia. E, por Deus, ele não podia descobrir.Tentei manter a expressão neutra quando ele contou, mas foi difícil. "Vocês dois... resolveram as coisas, então?" perguntei, mantendo o tom casual, como se aquilo não fosse a bomba que era."Estamos nos entendendo," ele respondeu, e eu podia ver nos olhos dele algo que n
OliviaEstava tarde, e as luzes do prédio começavam a apagar, uma a uma, como um reflexo cruel de como eu me sentia por dentro. Todos os dias me forçava a ignorar a presença dele, a sufocar o que quer que ainda existisse dentro de mim, que gritava por ele. Mas hoje, não consegui.Eu o segui.Ele andava com passos firmes pelo corredor, as mãos nos bolsos do casaco, como se tentasse esconder mais do que o frio da noite. Passei pelos seguranças, que nem sequer me notaram. Quando saí do prédio, o ar frio da noite me atingiu, mas não hesitei."Dante!"Ele parou no meio do estacionamento, o ombro tenso e a cabeça inclinada para trás, como se estivesse respirando fundo antes de enfrentar mais um round. Ele se virou devagar, e o olhar que ele lançou para mim fez meu coração acelerar de um jeito que eu odeio admitir."Olivia, o que você quer?" A voz dele era cortante, mas havia algo mais ali, algo que ele não queria deixar transparecer.Eu me aproximei, e antes que ele pudesse escapar de novo,
OliviaEstar com Dante tão perto hoje foi como abrir uma gaveta que deveria permanecer trancada. Memórias que eu preferiria enterrar vieram à tona, e me deixaram exausta. As palavras dele ecoavam na minha cabeça como uma melodia dissonante: ele achava que estava me protegendo. Mas proteger do quê? Dele mesmo? De Ester? De uma realidade que, por mais complicada, nós poderíamos ter enfrentado juntos?Fechei os olhos por um instante, recostada no sofá da sala, a luz do abajur suave iluminando a penumbra ao meu redor. Eu não podia negar que entendia, em parte, por que ele fez o que fez. Mas isso não apagava a dor. A traição não estava em Ester, ou na gravidez. Estava em ele ter decidido sozinho o que era melhor para nós dois.E agora, lá estava ele, vivendo um falso conto de fadas, preso a uma mulher que não amava, movido apenas pelo dever com uma criança que não tinha culpa de nada.Minha mente flutuava entre ele e Lucas. Meu peito apertava ao pensar em como eu poderia ter dado falsas es
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor