Olivia FernandesSaí da saída do campus completamente perdida. Minhas pernas andavam por conta própria, mas eu mal sabia para onde ir. A última coisa que queria era voltar para o dormitório. Sentir o silêncio esmagador, as paredes se fechando ao meu redor, sem nenhuma resposta para todas as perguntas que martelavam na minha cabeça."Foi melhor assim." As palavras de Dante ecoavam como uma faca afiada cortando meu peito. Como ele pôde simplesmente… terminar? Depois de tudo? Ele disse que me amava. Ele me beijou como se eu fosse a única coisa que o mantinha de pé. E agora, ele me descartou como se eu fosse nada.Senti o nó na garganta rasgando a cada passo que eu dava. As lágrimas vinham sem aviso, deslizando pelo meu rosto, quentes e desesperadas. Minha visão ficou turva, e minha respiração, pesada. Eu queria gritar, queria socar alguma coisa, queria perguntar a ele por quê. O que fiz de errado? Será que era porque eu demorei a dizer que o amava também? Será que ele nunca sentiu de ver
Olivia Fernandes A noite parecia ter se estendido por horas. A dor que começou rasgando meu peito aos poucos foi substituída por uma estranha sensação de entorpecimento. Talvez fosse o álcool ou simplesmente o fato de estar longe de Dante, longe de todos os lugares que me faziam pensar nele. Estar ali, com Natália e os outros, me deu um pequeno alívio, mesmo que temporário. A música tocava no fundo, e as risadas e vozes ao redor da fogueira se misturavam em um som indistinto. Eu me movia pelo espaço, sentindo a leveza do corpo, quase como se estivesse flutuando. Natália, como sempre, era o centro das atenções. Ela dançava, girando com a garrafa na mão, os cabelos soltos brilhando sob a luz fraca. Por um momento, eu quis fazer o mesmo. Quis me perder, esquecer de tudo, esquecer dele. Me vi rindo com Natália, meus pés seguindo a batida da música, sentindo a terra fria sob os meus sapatos. Eu precisava disso, precisava desse escape, por menor que fosse. Mas havia algo que quebrava o c
Olivia FernandesO vento cortava meu rosto, levando com ele o peso dos últimos acontecimentos. Sentia o movimento dos meus cabelos, úmidos e frios, chicoteando ao redor enquanto as roupas molhadas começavam a secar com o rajar do vento. Agarrada à cintura de Zayn, os pensamentos ainda giravam em torno de Dante, mas algo sobre estar ali, tão longe do campus, tão distante da minha realidade familiar, me trazia uma sensação quase estranha de segurança.Zayn fazia curvas mais acentuadas, acelerando em trechos retos, e eu me segurava nele com mais força do que gostaria de admitir.— Sabia que tava doida pra me tocar assim — ele provocou, a voz baixa e cheia de sarcasmo, contrastando com o rugido da moto.— Só tô com medo de cair — respondi, tentando desconversar, mas o calor subindo pelas minhas bochechas não me deixava mentir. Ele soltou uma risada seca, sem desacelerar.Quando paramos, desci da moto de forma tão abrupta que quase fui ao chão. Meus pés, ainda incertos, escorregaram na ter
Olivia FernandesO silêncio na casa era preenchido apenas pelos sons distantes dos animais e o farfalhar das árvores do lado de fora. O ar pesado carregava uma tensão que nenhum dos dois ousava admitir, mas que estava lá, gritante. Zayn sempre foi claro sobre o que sentia por mim. Desde o primeiro momento em que nos vimos, ele me deixou ciente do desejo que o atravessava, ainda que não fosse de se expressar com frequência. Talvez fosse o contraste entre a minha aparente fragilidade e a intensidade que eu guardava por dentro, que só saía em momentos de raiva ou desespero. Ele parecia gostar disso, de me provocar para ver até onde eu ia.Meus olhos encontraram os dele, e o fervor queimarava na nossa pele. O contato visual era prolongado, como se ambos estivéssemos esperando que o outro fizesse o primeiro movimentoEu não precisava dizer, porque ele sabia que, no fundo, tudo aquilo era só uma fuga. Não passaria de uma ou duas noites. Eu queria esquecer Dante, afogar a mágoa, e Zayn p
Olivia FernandesAcordei no sofá da casa de Zayn, com a cabeça latejando e uma sensação incômoda de quem sabia que tinha feito besteira, mas não se arrependia completamente. Zayn já estava na cozinha, um sorriso preguiçoso no rosto e aquele ar de quem não se leva a sério nunca.— Pensei que ia aproveitar e ir andando para casa, com essa cara — ele me disse, sarcástico, enquanto me entregava uma xícara de café com um sorriso divertido. O cheiro era bom, mas não o suficiente para amenizar o peso no meu estômago.Aceitei o café sem muita cerimônia, tentando ignorar o fato de que eu ainda estava com as roupas da noite anterior, o que definitivamente denunciava qualquer tentativa de fingir normalidade.O silêncio entre nós era confortável, mas diferente. Depois de ontem, parecia que ele entendia algo sobre mim que ninguém mais entendia. Ainda assim, não tocamos no assunto; ele apenas foi o Zayn de sempre, com aquele sarcasmo suave, mas teve a gentileza de me preparar um café rápido antes d
Dante SalvatoreSeis meses depoisÉ estranho como as coisas viram de cabeça para baixo quando você menos espera. Há seis meses, eu ainda me agarrava à ideia de que tinha algum controle sobre minha vida, mas hoje estou aqui, no corredor de fraldas do supermercado, com uma lista de coisas para o bebê que está a caminho. Cada pacote que eu escolho me lembra da confusão que se tornou minha rotina — e de como eu mesmo me meti nessa. É como se meu cérebro, insistente, repetisse: "Você fez isso consigo mesmo, Dante." Tentei fugir do pensamento tantas vezes que já nem adianta mais. Lucas, meu filho, mal fala comigo desde que descobriu sobre a gravidez de Ester, e a culpa é toda minha. Quer dizer, eu esperava que ele me entendesse? Ele já me via como o pai ausente, mas o escândalo que criei ao me envolver com Ester — a madrinha dele e minha antiga amante — só tornou as coisas piores. Sem dúvida, feri não só ele, mas também sua mãe, Beatriz. Como esperar que eles me perdoem? Eu mesmo luto par
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P