Olivia FernandesO vento cortava meu rosto, levando com ele o peso dos últimos acontecimentos. Sentia o movimento dos meus cabelos, úmidos e frios, chicoteando ao redor enquanto as roupas molhadas começavam a secar com o rajar do vento. Agarrada à cintura de Zayn, os pensamentos ainda giravam em torno de Dante, mas algo sobre estar ali, tão longe do campus, tão distante da minha realidade familiar, me trazia uma sensação quase estranha de segurança.Zayn fazia curvas mais acentuadas, acelerando em trechos retos, e eu me segurava nele com mais força do que gostaria de admitir.— Sabia que tava doida pra me tocar assim — ele provocou, a voz baixa e cheia de sarcasmo, contrastando com o rugido da moto.— Só tô com medo de cair — respondi, tentando desconversar, mas o calor subindo pelas minhas bochechas não me deixava mentir. Ele soltou uma risada seca, sem desacelerar.Quando paramos, desci da moto de forma tão abrupta que quase fui ao chão. Meus pés, ainda incertos, escorregaram na ter
Olivia FernandesO silêncio na casa era preenchido apenas pelos sons distantes dos animais e o farfalhar das árvores do lado de fora. O ar pesado carregava uma tensão que nenhum dos dois ousava admitir, mas que estava lá, gritante. Zayn sempre foi claro sobre o que sentia por mim. Desde o primeiro momento em que nos vimos, ele me deixou ciente do desejo que o atravessava, ainda que não fosse de se expressar com frequência. Talvez fosse o contraste entre a minha aparente fragilidade e a intensidade que eu guardava por dentro, que só saía em momentos de raiva ou desespero. Ele parecia gostar disso, de me provocar para ver até onde eu ia.Meus olhos encontraram os dele, e o fervor queimarava na nossa pele. O contato visual era prolongado, como se ambos estivéssemos esperando que o outro fizesse o primeiro movimentoEu não precisava dizer, porque ele sabia que, no fundo, tudo aquilo era só uma fuga. Não passaria de uma ou duas noites. Eu queria esquecer Dante, afogar a mágoa, e Zayn p
Olivia FernandesAcordei no sofá da casa de Zayn, com a cabeça latejando e uma sensação incômoda de quem sabia que tinha feito besteira, mas não se arrependia completamente. Zayn já estava na cozinha, um sorriso preguiçoso no rosto e aquele ar de quem não se leva a sério nunca.— Pensei que ia aproveitar e ir andando para casa, com essa cara — ele me disse, sarcástico, enquanto me entregava uma xícara de café com um sorriso divertido. O cheiro era bom, mas não o suficiente para amenizar o peso no meu estômago.Aceitei o café sem muita cerimônia, tentando ignorar o fato de que eu ainda estava com as roupas da noite anterior, o que definitivamente denunciava qualquer tentativa de fingir normalidade.O silêncio entre nós era confortável, mas diferente. Depois de ontem, parecia que ele entendia algo sobre mim que ninguém mais entendia. Ainda assim, não tocamos no assunto; ele apenas foi o Zayn de sempre, com aquele sarcasmo suave, mas teve a gentileza de me preparar um café rápido antes d
Dante SalvatoreSeis meses depoisÉ estranho como as coisas viram de cabeça para baixo quando você menos espera. Há seis meses, eu ainda me agarrava à ideia de que tinha algum controle sobre minha vida, mas hoje estou aqui, no corredor de fraldas do supermercado, com uma lista de coisas para o bebê que está a caminho. Cada pacote que eu escolho me lembra da confusão que se tornou minha rotina — e de como eu mesmo me meti nessa. É como se meu cérebro, insistente, repetisse: "Você fez isso consigo mesmo, Dante." Tentei fugir do pensamento tantas vezes que já nem adianta mais. Lucas, meu filho, mal fala comigo desde que descobriu sobre a gravidez de Ester, e a culpa é toda minha. Quer dizer, eu esperava que ele me entendesse? Ele já me via como o pai ausente, mas o escândalo que criei ao me envolver com Ester — a madrinha dele e minha antiga amante — só tornou as coisas piores. Sem dúvida, feri não só ele, mas também sua mãe, Beatriz. Como esperar que eles me perdoem? Eu mesmo luto par
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos