Olivia Fernandes O suor escorria pela minha testa enquanto eu encarava, incrédula, cada repost das minhas fotos nas redes sociais. Não conseguia processar que isso estava mesmo acontecendo. Como foi que deixei chegar nesse ponto?Pelo menos, as fotos não eram tão reveladoras... Eu estava de lingerie, sim, em poses provocantes, mas não era nada que ultrapassasse um certo limite. Isso, no entanto, não aliviava o aperto no meu peito ao imaginar a reação dos meus pais. E pior ainda, a do meu irmão, se eles descobrissem que eu tinha feito essas fotos.Esse pensamento me torturava, ao mesmo tempo em que sentia um gosto amargo de contradição na boca, como o sabor de um pomelo. Porque, mesmo sabendo que não podia, eu ainda queria prosseguir. Sabia da relação entre Lucas e Dante, e que isso tornava tudo errado. Mas o desejo de sentir o toque do Dante, o mais velho dos Salvatore, me consumia.E me sentia culpada. Culpada por ainda ter sentimentos tão fortes por Lucas, mesmo depois de tudo. Me
Olivia Fernandes— Planeja se esconder aqui por todo o período? — A voz de Lucas parecia distante, mesmo estando ao meu lado. Eu ainda estava perdida nos meus pensamentos, tentando processar tudo.Por um breve momento, senti-me aliviada por não precisar me envergonhar perto dele. Com Lucas, eu podia respirar, sem o medo de ser julgada. Ele era meu porto seguro, mas não para todos os meus segredos.Cheguei para o lado no banco do parque, abrindo espaço, e Lucas se acomodou ao meu lado. Ficamos em silêncio, o peso desse silêncio se acumulando entre nós, até que ele decidiu quebrá-lo.— Vamos descobrir quem fez isso, Liv — disse ele, sua voz acolhedora atingindo algo dentro de mim. Por um segundo, quis desabar. O peso que eu carregava já me sufocava como há anos não acontecia, a última vez que me senti assim foi em casa, com a minha família.— Não precisa se envolver nisso, Lucas — respondi, segurando o choro que parecia rasgar minha garganta. Passei a mão pelos cabelos, colocando-os atrá
Dante Salvatore O momento em que a toquei pela primeira vez, soube que tudo ia desmoronar.Não era nem mesmo para eu estar naquela festa. Fiz uma viagem de um mês para o Nepal, e, de repente, me vi em um lugar lotado de pessoas com a metade da minha idade. Pessoas cuja preocupação da maioria seria o quanto de doses iriam beber naquela noite, ou o quanto de bocas iriam beijar. Não sei dizer se eu estava preso em uma monotonia sutil até a conhecer, mas não via problema em me sentir em paz. E foi tranquilo, pelo menos até a tempestade começar. Como um homem que sempre teve as próprias responsabilidades e individualidade, lembrei que deixei todas as janelas do meu apartamento abertas. A chuva destruiria meus documentos sobre a mesa do escritório, assim como os desenhos e rascunhos de artes que eu queria pintar. Por isso, ao não encontrar Lucas, decidi que voltaria assim que a chuva abaixasse. Tinha acabado de me reconectar com ele, portanto, não iria simplesmente desaparecer de sua f
OliviaMeus olhos se fixaram em Dante no instante em que o vi parado majestosamente contra a luz do sol que atravessava a janela.— Como sou idiota, esqueci de te avisar que meu pai viria. — Lucas olhou em minha direção ao dizer, mantendo o braço ao redor do meu ombro. Dante me encarou enquanto meus olhos ainda seguiam em direção a ele e fez um sinal com o olhar que entendi mesmo sem o conhecer bem. Era para eu disfarçar, dentro do possível, para Lucas não perceber que nós não conhecíamos. Eu não fazia ideia se iria conseguir, mas precisava tentar.— Então esse é o seu pai? — falei com um pouco mais de surpresa na voz do que deveria. Acho que agir sobre pressão nunca foi o meu forte. Dante se virou para a janela rapidamente, e quase tive a impressão de que ele queria rir da minha falta de habilidade em atuar. Ou isso, ou ele queria chorar. Se for a segunda opção, eu entendo completamente. Antes de encontrá-lo aqui, ainda tinha dúvidas de como poderia contar isso a Lucas sem parti
OliviaAquele foi provavelmente o jantar mais constrangedor que participei. E o mais engraçado, é que foi uma das melhores comidas que já comi. Dante era um cozinheiro nato, e isso me surpreendeu. Acho que ele deveria ser talentoso em tudo o que fazia, e eu tinha visto pouco de suas habilidades. Mas, naquele ponto, não era algo que eu poderia me dar o luxo de imaginar. Estava decidida, teria que deixar domar minha imaginação em prol da minha amizade com Lucas. Eu só não imaginava que seria tão difícil. Enquanto jantávamos, dando fim aos raviolli recheados com queijo e camarões, eu mal conseguia olhar ambos nos olhos. Tentei evitar qualquer falha que demonstrasse o que sentia. Desde nova tenho essa percepção inconveniente de que, talvez, algumas pessoas possam advinhar o que penso através do olhar. Talvez eu seja reveladora demais em minha expressão corporal, ou talvez eu seja ansiosa. Acho a segunda opção mais provável diante dos fatos. Quando fui me servir de mais um pouco de
Dante estava escrevendo sem parar, usando fones de ouvido, sentado confortavelmente diante da mesa com seu notebook. Mesmo fingindo que ele não estava lá, tentando tornar tudo menos tortuoso, ainda era difícil lidar com sua presença.Por que simplesmente não consigo me desfazer dessa conexão incômoda? Esse pensamento era incessante em minha mente. Parecia que as tempestades não eram a única coisa incomum em Vale Dália agora, e talvez eu precisasse me acostumar com mudanças. Só não esperava que elas fossem tão avassaladoras.— Precisamos estudar, não mude meu foco. — disse ao ver Lucas passear pelo catálogo de filmes no streaming.— Por que não nos divertimos um pouco antes? — Lucas estava tão amoroso hoje que me perguntei o motivo.— Está agindo assim pelas fotos? — deixei escapar, e ele paralisou. — Estou bem, vai ficar tudo bem. — menti.Era fácil dizer isso ali, quando estava segura dos olhares daqueles que me julgavam naquele ambiente selvagem que era a faculdade. Logo teria de en
— Lucas pode acordar a qualquer momento. — minha respiração ofegante ecoou pelo cômodo silencioso. — Então faremos silêncio. — Dante finalmente se desprendeu da porta. Parecia querer se manter ali o tempo que conseguisse, como se dependesse de um autocontrole que não possuía. Como eu poderia julgá-lo? Sentia tudo tão intensamente que não sei como havia ficado tão plena até o momento. Quis gritar ao vê-lo caminhar lentamente em direção a mim, quase calculando cada passo dado para não fazer barulho algum. Já a alguns centímetros distante de mim, olhei para cima, buscando seu rosto. Sua respiração pesada atingiu minha pele, e vi o quanto ele estava ofegante, assim como eu. Ergui minha mão em um impulso, a apoiando na musculatura rígida de seu peitoral. Não entendi porque fiz aquilo, me deixei agir com as emoções a flor da pele. Permitir que eu seguisse de acordo com meus sentimentos seria arruinar tudo que tentei construir em meus pensamentos durante o dia que seguiu após nos conh
Recuperei minha tranquilidade no instante em que Dante abriu a porta. ㅡ Como pude esquecer disso? ㅡ falei, tentando conter o riso. — Ele é sonâmbulo desde criança. — Dante deixou Lucas, inconsciente, seguir o caminho que queria fazer até o quarto onde estávamos. Ele balbuciou algumas palavras que não conseguimos identificar, até que seguiu até sua cama e deitou, adormecendo por completo novamente.Seguimos para sala e o deixamos descansar, respeitando a regra de não quebrar o transe em que ele estava.Dante se serviu de uma xícara de café e me entregou outra, parecendo tão aliviado quanto eu. Se não tivéssemos sido interrompidos, eu não teria conseguido me controlar. Isso me faz ficar alerta. — Precisamos acabar com algo que nem começamos, não é? — Dante despejou tais palavras como se soubesse o que eu estava pensando.E eu odiei admitir, mas ele estava certo. Aquilo não podia continuar. Dois dias juntos e causamos mais estragos do que poderíamos imaginar. Não seria sábio causar