— Planeja se esconder aqui por todo o período? — A voz de Lucas ecoou como um som distante para Olivia, ainda perdida em seus pensamentos. Podia se sentir aliviada ao não sentir tanta vergonha perto de Lucas, assim, podia respirar livremente, sem o medo de qualquer julgamento. Sabia que ele era um lugar seguro para que ela se abrisse, embora não sobre tudo. Ela chegou para o lado no banco do parque, e Lucas logo se acomodou ao seu lado. Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que ele tomou a iniciativa de quebrar o peso que aquele silêncio entoava entre ambos. — Vamos descobrir quem fez isso, Liv. — O tom acolhedor em sua voz foi o suficiente para fazer Olivia querer desabar. Estava sobrecarregada como não se sentia há anos, e isso apenas podia ser comparado com o peso de viver com sua família. — Não precisa se envolver nisso, Lucas. — Ela segurou o choro que parecia rasgar sua garganta. Levou a mão até os cabelos, os colocando atrás da orelha. Observou a paisagem a sua fre
Olivia acordou assustada. Sentou-se sobre a cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o próprio rosto, tentando livrar-se dos pensamentos torturantes que a consumiam. Por sete dias consecutivos ela acordou desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e muito calor. Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que havia tido quase todos os dias por uma semana. Lembrava-se da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que a consumiam ao permitir-se ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa. Era assim que se sentia toda vez que o via. Lucas, seu melhor amigo da faculdade. O menino popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheceu durante a época do colégio, era bonito, gentil, e inteligente. Por isso, Olivia acreditava que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Majestosamente posicionado em meio as luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que Olivia reconheceu da faculdade, ele sorria, evidentemente feliz e confortável em sua própria pele, como sempre demonstrava ser. Até mesmo o jeito como se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que Olivia achava. Tudo em Lucas era encantador. E sob o intenso olhar de sua amiga, ele se virou e a viu, retribuindo a intensidade da qual era observado ao fitá-la. Franziu as sobrancelhas, seguido de uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em direção a ela. Olivia sentiu seu corpo todo estremecer, parecia estar prestes a colapsar a qualquer momento. Suas mãos tensas pressionando a pequena bolsa que carregava, ao mesmo tempo que sentia o suor tornando o material escorregadio quando em contato com suas digitais. Ela respirou fundo e tentou se manter sã ao vê-lo caminhar tão belo quanto uma miragem, quase andando em câmera lenta em sua direção. — Olivia Fernandes! — Ele segurou a mão dela com deli
A frustração que sentiu durou menos de um milésimo de segundo, tempo o suficiente para processar a imagem estática diante de seus olhos. E, pela segunda vez naquela a noite, Olivia se encontrou sem palavras. Seus olhos percorreram por todo o corpo dele, passando pelo braço estendido com as mãos segurando o volante em um toque firme e quase palpável. As veias salientes e marcadas em todo o antebraço, subindo para o bíceps visivelmente definido sob a manga da blusa levemente úmida.Viu o peitoral marcado com a camisa branca social igualmente molhada, algumas gotas marcando sua clavícula, e os óculos um tanto embaçados. A barba por fazer e o cabelo preto molhado, com alguns poucos fios grisalhos indicando sua maturidade. Olivia pensou que ele facilmente poderia ter saído de um filme. Durante os primeiros segundos, só conseguiu observá-lo. Queria de alguma forma gravar a imagem do homem a sua frente, como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento. Precisava se lembrar daquele ros
Dante acelerou o carro, exibindo um sorriso em seu rosto. Parecia se divertir ao fazer manobras arriscadas, utilizando a estrada vazia como seu parque de diversões ao ar livre. Era um mix de sensações confusas e inquietantes que se misturavam dentro de Olivia, e acreditando que essa seria sua maior loucura e permitindo-se ser imprudente pela primeira vez na vida, ela decidiu confiar na sensação curiosa que surgiu no pouco tempo em que esteve na presença dele. Olivia não saberia descrever, afinal, nunca tinha sentido nada parecido. Mas, o que a tomou ao sentir as digitais de Dante sobre sua pele, definitivamente não parecia como uma sensação ruim. — Desistiu de resistir? — Ele perguntou, curioso ao notar sua tranquilidade diante da situação. — Seria uma perda de energia, não é mesmo? — Olivia afirmou.— Certamente. — Ele sorriu ladino, ajeitando os óculos novamente, antes de pegar mais um chiclete. — Acho que não vai se importar em fazer uma pequena viagem, então. Olivia arregalou
Dante não a respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que a fez vacilar no primeiro instante em que se conheceram. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas. — Olivia disparou, o pegando de surpresa. — Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas. — Ele ajeitou uma mecha do cabelo de Olivia, a colocando atrás da orelha. Aproveitou para perdurar o toque ao alisar seu lóbulo da orelha, deslizando o dedo até seu pescoço, seguindo até a nuca.Olivia ficou surpresa de muitas formas ao sentir o toque de Dante sobre si novamente, agora, de forma mais íntima. — O que você viu em mim? — Ela deixou o pensamento escapar. Odiava se sentir assim, insuficiente. Mas basta ver o próprio reflexo em alguma superfície para essa sensação retornar. Lidar com o próprio peso nunca foi nada fácil para Olivia, e agora, na vida adulta, sentia essa insegurança respi
Caso Olivia fosse perguntada sobre como se representar em uma única palavra, ela muito provavelmente responderia: controle. Desde muito jovem, foi ensinada a controlar todos os aspectos de sua vida. Desde os detalhes mais bobos, quanto aos mais relevantes. E esses, os que teriam impacto em sua vida em um futuro distante, eram os que mais exigiam de si algum tipo de cautela sobre quais decisões tomar. Olivia fez tudo certo durante sua vida. Foi uma boa filha, obediente, submissa, quase perfeita demais ao que se entende sobre atender as expectativas dos outros. Porém, todo esse controle e perfeição durante seu crescimento, exigiam algo de si que, talvez, fosse irreparável. Não era difícil para quem a visse de fora enxergar o quanto a universitária sofria ao precisar tomar decisões importantes por conta própria. Olivia perdeu, durante a criação dura e desgastante, a habilidade de pensar com a própria cabeça. Saber analisar o que queria, quando queria, diferente do que achava que prec
Iluminados pela luz da lua etérea, criando um ambiente lúdico e quase surreal, Dante e Olivia permaneciam parados na varanda, encarando um ao outro com um olhar de devoção em seus rostos. Dante aguardava um sinal de Olivia. Agora, mais do que nunca, queria ter certeza de que o que estavam prestes a fazer era o correto. E Olivia, em um silêncio torturante, guardava para si todos os pensamentos que a encurralavam naquela situação. Ela queria, com todo o corpo e alma, prosseguir. Queria ser a menina destemida e ousada que sempre sonhou — e invejou. Só não sabia se conseguiria evitar a culpa excessiva após ao enfrentar as consequências de seus atos. Porém, ainda que hesitante sobre um todo, sua mente analítica passou a pensar em possibilidades. — Podemos nos conhecer melhor essa noite, sem muita pressão… — Dante disse, quase como se pudesse ler os pensamentos de Olivia. Ela sorriu com antecipação, sem ainda dizer todos os pensamentos sórdidos que a entorpeceram no instante em