Dante estava escrevendo sem parar, usando fones de ouvido, sentado confortavelmente diante da mesa com seu notebook. Mesmo fingindo que ele não estava lá, tentando tornar tudo menos tortuoso, ainda era difícil lidar com sua presença.Por que simplesmente não consigo me desfazer dessa conexão incômoda? Esse pensamento era incessante em minha mente. Parecia que as tempestades não eram a única coisa incomum em Vale Dália agora, e talvez eu precisasse me acostumar com mudanças. Só não esperava que elas fossem tão avassaladoras.— Precisamos estudar, não mude meu foco. — disse ao ver Lucas passear pelo catálogo de filmes no streaming.— Por que não nos divertimos um pouco antes? — Lucas estava tão amoroso hoje que me perguntei o motivo.— Está agindo assim pelas fotos? — deixei escapar, e ele paralisou. — Estou bem, vai ficar tudo bem. — menti.Era fácil dizer isso ali, quando estava segura dos olhares daqueles que me julgavam naquele ambiente selvagem que era a faculdade. Logo teria de en
— Lucas pode acordar a qualquer momento. — minha respiração ofegante ecoou pelo cômodo silencioso. — Então faremos silêncio. — Dante finalmente se desprendeu da porta. Parecia querer se manter ali o tempo que conseguisse, como se dependesse de um autocontrole que não possuía. Como eu poderia julgá-lo? Sentia tudo tão intensamente que não sei como havia ficado tão plena até o momento. Quis gritar ao vê-lo caminhar lentamente em direção a mim, quase calculando cada passo dado para não fazer barulho algum. Já a alguns centímetros distante de mim, olhei para cima, buscando seu rosto. Sua respiração pesada atingiu minha pele, e vi o quanto ele estava ofegante, assim como eu. Ergui minha mão em um impulso, a apoiando na musculatura rígida de seu peitoral. Não entendi porque fiz aquilo, me deixei agir com as emoções a flor da pele. Permitir que eu seguisse de acordo com meus sentimentos seria arruinar tudo que tentei construir em meus pensamentos durante o dia que seguiu após nos conh
Recuperei minha tranquilidade no instante em que Dante abriu a porta. ㅡ Como pude esquecer disso? ㅡ falei, tentando conter o riso. — Ele é sonâmbulo desde criança. — Dante deixou Lucas, inconsciente, seguir o caminho que queria fazer até o quarto onde estávamos. Ele balbuciou algumas palavras que não conseguimos identificar, até que seguiu até sua cama e deitou, adormecendo por completo novamente.Seguimos para sala e o deixamos descansar, respeitando a regra de não quebrar o transe em que ele estava.Dante se serviu de uma xícara de café e me entregou outra, parecendo tão aliviado quanto eu. Se não tivéssemos sido interrompidos, eu não teria conseguido me controlar. Isso me faz ficar alerta. — Precisamos acabar com algo que nem começamos, não é? — Dante despejou tais palavras como se soubesse o que eu estava pensando.E eu odiei admitir, mas ele estava certo. Aquilo não podia continuar. Dois dias juntos e causamos mais estragos do que poderíamos imaginar. Não seria sábio causar
Olivia FernandesQuando Lucas acordou, não fui capaz de dar bom dia. Fiquei completamente cega pela noticia que vi em seu celular, e aquela mensagem continuava se repetindo em minha mente. Por que, de repente, Lucas começou a esconder tanto de mim? Pensava se era algum tipo de karma pelas ações que tive com Dante, mas não conseguia imaginar ser justo. Eu sequer sabia sobre a ligação entre ambos, e tudo isso não fazia sentido. Eu estava buscando desculpas, encontrando e fazendo malabarismos para justificar que Lucas não era completamente aberto comigo. E isso não era culpa totalmente dele. Eu fui mole, caí de cabeça naquele sorriso encantador e no jeito respeitoso. Fui consumida pelas palavras doces e ações gentis. Me deixei envolver, como uma adolescente tola, nas teias de alguém, que apesar das qualidades, era só mais um homem. Não era a primeira nem última vez que eu havia sido corrompida pelos charmes de um deles. — Por que está tão quieta? — Lucas estava parado no balcã
OliviaTer que me despedir de Lucas foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Em toda a minha trajetória de vida, nunca imaginei que iria me afeiçoar tanto a alguém, principalmente um cara, tão rápido. Ele acompanhou muitos momentos meus desde que nos conhecemos, bons e sombrios. E eu, apesar de assistir de perto alguns dias difíceis onde ele lutava contra a própria mente, me enganei ao pensar que ele era transparente sobre tudo que nós vivíamos. Lucas era extremamente gentil comigo, e eu por diversas vezes me questionei o motivo disso. Achei que fosse o comportamento que ele tinha com qualquer garota que conhecia, tentando chegar no objetivo óbvio de todos os homens, mas ele nunca sequer tocou no assunto de encostar um dedo em mim. Nenhuma piada, nenhuma sugestão. E o que acreditei ser respeito da parte dele, se transformou em algo pior quando descobri sobre aquela m*****a aposta.Lucas não agia assim por respeito ou algo do tipo, ele só não via possibilidade alguma de ter inte
Olivia FernandesPassei horas escolhendo uma roupa. Natália não aguentava mais ter de opinar sobre vestidos e sapatos, mas eu não podia evitar. Estava animada, pela primeira vez em alguns dias, desde que aquilo tudo aconteceu. Em poucos dias, minha vida virara de cabeça para baixo. E agora, eu tinha a chance de fazer as coisas de forma diferente. Havia feito um treinamento de uma semana, aprendendo as rotinas administrativas da reitoria. Ajudei com os documentos, papéis intermináveis que me dera sono. Elaborei atas e e-mail-s, enfim, fiz tudo que as pessoas com o cargo acima do meu evitavam fazer. Mas não me importei em momento algum, estava lá justamente para isso. Foi incrível experimentar uma rotina completamente diferente, fugindo da zona de conforto que eu estava inserida ao passar a maioria do tempo com Lucas e seus amigos idiotas. Falando nele, não sei como ele deve estar. Provavelmente bem, imagino eu, já que não deve ser muito sofrido fazer um tour pela Europa. Depois
Olivia Fernandes Não precisei olhá-lo para reconhecer essa voz, suave e imponente, carregada de um charme inegável. Eu o encarei, sentindo o choque da surpresa e a tensão subindo. Ele estava lá, elegante em um terno escuro que realçava ainda mais sua presença marcante. Havia algo inegavelmente magnetizante em sua postura, e a proximidade fazia meu coração acelerar. — Dante… — Minha voz saiu em um sussurro, quase inaudível. — Olivia. — Ele sorriu, um sorriso que misturava simpatia com uma pitada de malícia. — Não esperava te encontrar aqui. Antes que eu pudesse responder, Kamila apareceu ao meu lado, a postura já um pouco instável devido à bebida. Ela não tinha limites mesmo. — Olha quem eu encontrei! — Ela exclamou, os olhos brilhando com curiosidade. Vi como ela o olhou de cima a baixo, como um predador ao enxergar uma presa. Ela balançou a cabeça para Dante, como se esperasse uma apresentação formal. — Dante, esta é Kamila, uma colega da faculdade. — Apresentei rapidamente,
Olivia FernandesDante colocou a mão em minhas costas, um toque sutil e respeitoso enquanto me amparava ao passarmos em meio à multidão do bar. Seguimos até seu carro em silêncio. Nos acomodamos, e ele ligou o rádio, ajustando para uma estação que tocava baladas antigas, o som preenchendo o espaço entre nós.Gosto de sentir o vento em meu rosto enquanto a viagem segue, e não me incomodo com o silêncio enquanto ouvimos apenas o barulho do motor misturado com o chiado eventual do rádio, enquanto nos afastamos mais da cidade. A paisagem que passa pela janela parece um borrão, mas dentro do carro, o mundo parece desacelerar.Trocamos alguns olhares enquanto ele se mantém atento à estrada, e percebo o quanto ele está tenso diante da pressão que sua mão faz contra o couro do volante. As veias que saltam quando ele tensiona os músculos me chamam atenção. Desvio o olhar, tentando focar na paisagem lá fora para não me perder em devaneios. Aquele era um território desconhecido para mim, e o me