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O Magnata e  a Estagiária
O Magnata e a Estagiária
Por: Miruska
Capítulo 1— Escada, 1 - Hanna, 0

Estava sentada no que só poderia ser descrito como uma cadeira de tortura medieval — aquelas cadeiras rígidas de madeira que parecem feitas especialmente para esmagar a alma de quem ousa encostar. O preceptor falava, ou melhor, declamava, uma ladainha sobre balanços e lucros, com a empolgação de quem narra o crescimento de uma planta.

Eu tentava prestar atenção, juro. Mas, como sempre, minha mente vagava. O relógio dourado na parede, relíquia da escola, parecia mover seus ponteiros em câmera lenta, quase de propósito, como se conspirasse contra minha liberdade. Ao mesmo tempo, minha amiga Sophie, do lado de fora da janela, gesticulava freneticamente. Ela parecia uma mistura de pássaro desengonçado e bailarina em apuros, e eu me perguntava se aquilo era um sinal. Talvez o universo estivesse tentando me dizer algo.

Finalmente, o relógio badalou. O som ecoou pelos corredores da escola como um hino à liberdade. Levantei-me tão rápido que derrubei minha pena (sim, ainda usamos penas aqui, porque a escola é ridiculamente tradicional) e metade dos meus papéis no chão.

— Hanna! — Sophie apareceu no corredor como um furacão, tentando ajustar suas saias e ao mesmo tempo me chamar.

A Lincoln Academy era um espetáculo à parte. Imagine uma mansão vitoriana, com janelas góticas que pareciam olhar dentro da sua alma, e um jardim tão florido que parecia ter saído de um quadro. Claro, todo esse esplendor vinha com o preço de corredores frios o suficiente para você precisar de um cobertor. Algumas salas ainda tinham candelabros, e os pisos de madeira rangiam como se estivessem reclamando de cada passo. Resumindo: era um lugar perfeito para aprender ou, no meu caso, perder totalmente a concentração.

— Hanna! Espere! Não pode ir embora agora! — Sophie gritou, correndo atrás de mim.

— Sophie, o que foi dessa vez? — perguntei, ajustando minha bolsa de livros enquanto respirava o ar fresco do jardim. — Um eclipse solar? O Lorde Fitzroy pediu sua mão em casamento? O salão de chá está servindo biscoitos de graça?

— Não brinque, é sério! Ele está aqui!

Parei no meio do caminho.

— Ele quem? — perguntei, olhando para ela com uma sobrancelha arqueada.

— Ele, Hanna! O Hyun Choi.

Se o nome soou como trovões para Sophie, para mim soou mais como um vento ligeiro. Claro, eu já ouvira falar dele. O magnata jovem, brilhante e incrivelmente bonito da Choi’s Manufactures, a maior empresa têxtil da região. Ele estava na escola porque, como em todos os anos, vinha recrutar alunos para um estágio na empresa. O que ninguém mencionou é que ele era um pedaço de mau caminho.

Mas antes que eu pudesse responder algo espirituoso, meu destino se manifestou. Tropecei.

Não foi um tropeço qualquer, daqueles que você consegue disfarçar com elegância. Foi um tropeço cinematográfico. Meu pé encontrou o degrau errado da escada, e, em segundos, lá estava eu, rolando escada abaixo com a graça de um saco de batatas. O universo, sempre com seu senso de humor peculiar, decidiu que eu não cairia sozinha. Não, eu precisava levar alguém comigo.

Quando finalmente parei, estava estatelada no chão, e, para meu horror, quase esmaguei um homem que subia as escadas. Um homem alto, com um casaco que parecia mais caro do que minha vida inteira.

Levantei o olhar, ainda tonta, e o encontrei. Ele não era apenas bonito; era perfeito. Seus olhos escuros brilhavam como carvão em brasa, e seu rosto tinha aquela simetria irritante que só existe em pinturas. E então percebi que ele estava me encarando com uma mistura de irritação e confusão.

— Perdão! Perdão! — gaguejei, tentando me recompor enquanto ainda estava semi-deitada no chão.

Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas seu olhar parecia dizer: “Será que devo ajudar, ou deixo essa criatura aprender uma lição?”

— Está bem? — ele perguntou, finalmente, com uma voz rouca que fez minha mente divagar por dois segundos sobre o alinhamento astral dele. (Provavelmente um Escorpião, pensei.)

Segurei sua mão e me levantei, tentando recuperar minha dignidade.

— Sempre estou bem! — declarei, com um sorriso que esperava parecer confiante, mas que provavelmente saiu mais como um “socorro”.

Sophie, que assistia à cena de longe, correu até mim, os olhos arregalados como pires.

— Hanna, ele é o Hyun Choi! — sussurrou, como se o próprio rei da Inglaterra estivesse diante de nós.

Se minha mente já estava bagunçada antes, agora era um pandemônio completo. Hyun Choi. O homem que poderia decidir meu futuro em um piscar de olhos. O homem que eu acabara de quase matar com minha habilidade única de ser um desastre ambulante.

Ele, por sua vez, olhou para mim como quem avalia uma peça rara em um leilão.

— Na próxima vez, senhorita, tente ser mais cuidadosa.

E com isso, ele se virou e começou a subir as escadas. Mas, claro, não sem antes lançar um sorriso levemente sarcástico por cima do ombro.

— Ah, e senhorita... cuidado para não fazer da escada sua residência permanente.

Se o universo tivesse um rosto, eu o socaria naquele momento.

— Sophie, você ouviu isso? Ele é insuportável! — exclamei, apertando os punhos.

— Hanna, você acabou de arruinar sua única chance de entrar na Choi’s.

— Arruinar? Ele que é um grosseirão!

Sophie balançou a cabeça, claramente sem esperanças.

— Hanna, você acredita em energia, certo? Então respire fundo e pense: O que o universo está tentando te ensinar?

Respirei fundo.

— Que eu preciso mostrar a ele quem eu realmente sou. Ele ainda vai me ver na Choi’s, Sophie. Vou provar que sou mais do que uma senhorita desastrada!

Sophie soltou um suspiro exasperado.

— Vamos começar com: não tropece mais.

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