— Ora, Ivy, o que está a fazer? — disse eu, encarando-a enquanto ela sorria com aquele ar travesso.
— Sua atrevida, já está na hora de regressarmos a casa! Ela tomou minha mão e começou a puxar-me sem cerimônia. Olhei para trás e vi o senhor Hyun permanecendo imóvel, fitando-me com uma expressão impossível de decifrar. Quem Ivy pensa que é para interromper um momento tão mágico, tão intenso, tão maravilhoso? Agora, sinto um aperto no peito, quase como se fosse chorar. Céus, não devo estar em meu juízo perfeito! — Amiga, diga-me que estou a delirar! Você beijou o senhor Hyun! — exclamou Sophie, visivelmente escandalizada com a cena que acabara de presenciar. Eu apenas esbocei um sorriso débil, ainda sentindo os efeitos do vinho que havíamos tomado. Contudo, no fundo, eu queria chorar. Fiz um pequeno bico, olhando para elas com ar de desalento. — Perdoe-me, minha querida. — disse Sophie, ajeitando a luva de renda como quem tenta disfarçar a situação. — Desejava que nos divertíssemos mais, mas meu pai enviou-me uma dezena de bilhetes e já fez com que o cocheiro viesse me buscar. Não consegui responder devido ao burburinho do salão. — Não faz mal, querida. Tivemos uma noite memorável — respondi, tentando conter a emoção que insistia em transbordar. ♡♡♡♡♡♡♡ A noite estava fresca e silenciosa enquanto a carruagem avançava lentamente pelas ruas da cidade. Ivy sentou-se ao meu lado, ainda sorrindo como se nada tivesse acontecido. Sophie, por outro lado, estava inquieta, lançando olhares curiosos para mim e para Ivy, como se quisesse dizer algo, mas hesitava. — Bem, chegamos — anunciou o cocheiro, abrindo a porta da carruagem assim que paramos diante da elegante casa de Ivy e Hanna. Descemos, o som dos nossos sapatos ecoando na calçada de pedra. A luz tênue dos lampiões iluminava a fachada da casa, destacando as janelas ornamentadas com cortinas de renda. — Amanhã passo para buscar Hanna — disse Sophie, virando-se para Ivy. — Ainda que a carruagem dela esteja no conserto, não posso deixá-la caminhar até a escola. — Ótimo, Sophie — respondeu Ivy com um sorriso gentil. — Tenho certeza de que Hanna ficará grata. Fui bem próximo da Sophie e dei um beijo na sua bochecha sem cerimônias, éramos muito intumas , quase irmãs de coração, a Ivy nos olhou sem graça. — Espero que a senhorita Hyun durma bem .— murmurou Sophie com uma pitada de ironia, lançando-me um olhar divertido antes de subir novamente na carruagem. -Cala a boca ! -Falei sorrindo , mais com um calor estranho no meu corpo , com umas palpitações que eu ainda não havia sentido , me deu um calafrio na espinha . — Até amanhã! — acenou Ivy, puxando-me pela mão para dentro da casa. Já no interior, o aroma de chá recém-preparado e o calor da lareira tornaram a atmosfera acolhedora. Eu só desejava que o dia seguinte trouxesse menos reviravoltas... ou talvez ainda mais. ♡♡♡♡♡♡♡♡ Despertei sobressaltada, meu coração disparado enquanto olhava em volta. A luz da manhã já iluminava o pequeno quarto, e ao avistar o relógio na mesinha, meu peito apertou. Meia hora! Apenas meia hora até minha primeira aula começar. — Céus! — exclamei, pulando da cama. Vesti a primeira roupa que encontrei, um vestido simples que já havia usado inúmeras vezes, e corri para o pequeno lavatório. Mal tive tempo de prender o cabelo de forma adequada antes de escovar os dentes. Enquanto terminava de ajeitar-me às pressas, ouvi um som impaciente vindo lá de fora: a buzina da velha carruagem que Sophie chamara. No corredor estreito da casa, cruzei-me com Clara, a empregada, que carregava um balde de água para as tarefas matinais. Seus olhos arregalados e a expressão de reprovação eram evidentes. — Senhorita Hanna, o que houve? Não é de seu feitio levantar tão tarde! — disse ela, tentando manter a compostura. — Se fosse a senhorita Ivy, eu não estranharia, mas a senhora... — Não posso conversar agora, Clara, estou atrasada! — murmurei, já descendo os degraus às pressas. — Bem, o chá está esfriando! — gritou ela, mas eu já saía pela porta. Do lado de fora, Sophie me esperava na carruagem. — Hanna, você está um desastre! — disse ela, olhando-me de cima a baixo. — Vomitei três vezes — confessei, segurando a cabeça. — Estou me sentindo péssima. — Vamos nos atrasar — alertou ela. — Eu sei — respondi, suspirando. Chegamos à instituição de ensino e corremos pelos corredores frios e austeros, os ecos dos nossos sapatos denunciando nosso atraso. Ao entrar na sala de aula, todos os olhares recaíram sobre nós. O professor, um homem de meia-idade com expressão severa, observou-nos com a sobrancelha arqueada. — Estão atrasadas, senhoritas Young e Will — disse ele, fitando o relógio de bolso com um ar de absoluto desdém. — Mil desculpas, professor. Tivemos… problemas pessoais — gaguejei, sentindo o rubor subir às minhas bochechas. Ele nos olhou com uma expressão que misturava desaprovação e indignação, como se não pudesse conceber tamanha afronta. Não era comum mulheres atrasarem-se para algo tão importante, sobretudo em um ambiente onde a educação feminina era ainda tão rara e disputada. Tomamos nossos assentos no fundo, tentando não chamar mais atenção, mas cada olhar discreto dos colegas e o tom de voz rígido do professor nos lembravam do desagrado geral. Antes que a aula terminasse, a porta rangeu ao ser aberta pelo secretário da instituição. Ele entrou com passos apressados, o rosto sério, trazendo consigo uma tensão que pairou pelo ambiente. — Peço desculpas por interromper, professor. — Ele fez uma pequena reverência antes de continuar: — Senhorita Hanna Young, senhorita Sophie Will, senhor Christopher Parker, espero todos na minha sala assim que esta aula terminar. Os murmúrios começaram entre os alunos, mas o olhar austero do professor silenciou a sala rapidamente. Meu coração, que já estava acelerado, quase parou. O que poderia ser tão urgente? Trocamos olhares assustados, as palavras do secretário ecoando em nossas mentes. O que poderia ser? Seria por causa do atraso? Meu estômago revirava com uma mistura de ansiedade e medo, e minhas mãos começaram a tremer involuntariamente. Sophie segurou meu braço com firmeza, tentando acalmar-me, mas sua expressão era tão tensa quanto a minha. Eu estava pálida, sentindo cada batida acelerada do meu coração como se ele estivesse tentando escapar do meu peito. O restante da aula foi um borrão. Não conseguia me concentrar em nada que o professor dizia, as palavras se transformavam em um zumbido distante. Tudo que conseguia pensar era no tom severo do secretário e no peso de suas palavras. Quando o sinal da aula soou, levantamo-nos quase em uníssono. O silêncio dos colegas enquanto deixávamos a sala apenas aumentava minha aflição. Caminhamos pelos corredores sombrios, o som dos nossos passos ecoando como se fosse um prelúdio de algo terrível. — Hanna, o que acha que é? — murmurou Sophie, apertando os lábios. — Não sei — respondi, com a voz trêmula. — Talvez… talvez seja sobre o atraso… ou algo pior. Ao chegarmos à porta da sala do secretário, hesitamos por um breve instante. O ar parecia mais pesado, e o cheiro de madeira velha e tinta fresca invadia minhas narinas, intensificando minha náusea. Sophie ergueu a mão e bateu suavemente na porta. — Entrem — respondeu a voz grave do secretário do outro lado. Respirei fundo e troquei mais um olhar nervoso com Sophie antes de empurrarmos a porta. O interior da sala era austero, com poucas janelas e prateleiras abarrotadas de livros. O secretário, um homem de cabelos grisalhos e olhar severo, estava sentado atrás de uma grande escrivaninha de carvalho. Gregory já estava lá, de pé em um canto da sala, com uma expressão tão séria quanto a situação exigia. Ele nos lançou um olhar furtivo, mas manteve-se em silêncio. — Senhorita Young. Senhorita Will. Senhor Rodrigues , senhorita Leblanc e senhor Lee . — O secretário pausou, ajeitando os óculos enquanto nos observava. — Imagino que saibam por que estão aqui. A pressão em meu peito aumentou. Não, não sabíamos. E esse mistério, mais do que qualquer outra coisa, era o que me aterrorizava.Salão de Reuniões do Lorde HarringtonEntramos eu e Sophie, claramente ansiosa, retorcendo o lenço entre os dedos, acompanhadas de outros três jovens de distintas salas , exceto o Gregory que já estava lá. O ambiente era austero, decorado com cortinas de veludo verde e um imponente relógio de pêndulo que marcava cada segundo de nossa expectativa.— Senhores, por favor, tomem seus lugares. — anunciou o mordomo com voz firme e postura impecável, indicando as cadeiras dispostas ao redor da longa mesa de mogno.Ele abriu um pergaminho e começou a leitura dos nomes:— Heitor Lee.— Sophie Will.— Claire Leblanc.— Gregory Rodrigues.— Hanna Young.Meu coração acelerou quando ouvi meu nome, e Sophie apertou minha mão por baixo da mesa.O Lorde Harrington, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos perfeitamente alinhados, se levantou com uma postura imponente. Sua voz ecoou pelo salão:— Meus parabéns aos presentes. Vocês foram cuidadosamente selecionados pelo prestigiado senhor Hyun Cho
A Sophie veio me buscar e, nossa, como ela estava linda.— Você veio para causar uma boa impressão, não é? — comentei, analisando-a da cabeça aos pés.— Nem me fale. E você? Está deslumbrante como sempre.Sorri, olhando rapidamente para mim mesma. Eu usava um vestido preto de corte simples, mas elegante, com detalhes em renda que valorizavam a cintura. Havia combinado com um sapato de salto baixo, pois sabia que o dia seria longo. Hoje começaríamos uma nova etapa, e cada um de nós seria alocado em uma área específica dentro da Companhia Choi.O caminho até lá foi repleto de conversas animadas com Sophie. Mas, à medida que nos aproximávamos, meu coração começou a disparar — não apenas pela importância do momento, mas pela expectativa de reencontrar o senhor Hyun.Chegamos à entrada principal, e a grandiosidade da Companhia Choi já era evidente. As paredes de pedra cinza estavam impecáveis, e os vitrais coloridos davam ao edifício um ar majestoso. Uma senhora de postura impecável, vesti
Ele me apresentou formalmente aos meus colegas de trabalho, incluindo meu líder direto, o jovem e cortês senhor Gustavo. Com seu tom impecavelmente profissional, o senhor Hyun descreveu as responsabilidades que eu teria como estagiária e detalhou os processos com uma clareza que demonstrava domínio absoluto de tudo o que ocorria ali. Enquanto caminhávamos pela imponente sala de marketing, os sons de canetas rabiscando e folhas sendo folheadas ecoavam suavemente, complementando a atmosfera dinâmica do ambiente onde eu começaria a trabalhar.Quando concluímos o tour, ele pegou delicadamente minha mão enluvada, seus dedos exercendo uma pressão sutil, mas firme. Seu olhar, intenso e profundo, encontrou o meu, fazendo meu coração disparar com um misto de nervosismo e curiosidade. Era como se, naquele momento, apenas nós dois estivéssemos ali.— Agora é com você, Gustavo.A voz dele soou autoritária e precisa, como se não houvesse espaço para réplica. Sem sequer olhar para o senhor Gustavo,
Ao sair da empresa, notei que os corredores e o pátio estavam quase desertos. A maioria dos funcionários já havia partido, e o silêncio da noite começava a tomar conta do ambiente. O vento fresco da noite sussurrava através das árvores, balançando suavemente as folhas sob a luz amarelada dos postes de gás. Por um momento, hesitei ao passar pela entrada principal, dando uma última olhada em direção ao gabinete do senhor Hyun. Mas ele não estava mais lá.Respirei fundo, ajustando o tecido do meu vestido antes de seguir em direção à carruagem que me aguardava. A carruagem me levaria ao centro da cidade, onde eu buscaria minha montaria na oficina. O senhor Wicks, o responsável pela manutenção do meu cavalo, sempre fazia questão de manter tudo em perfeito estado. Confiante de que tudo estaria em ordem, minha preocupação diminuiu, e caminhei em direção à saída. Contudo, antes que eu pudesse seguir adiante, um grito ecoou pelo pátio quase vazio, fazendo-me sobressaltar.- Hanna !Virei-me ra
Cheguei em casa mais cedo do que o esperado, mesmo após uma breve passagem pela oficina. Ao atravessar a rua e enfim chegar em casa, sentia uma mistura de alívio e cansaço. O dia fora exaustivo, mas, ao menos, o primeiro passo em minha nova posição estava dado. Ainda assim, algo me incomodava: precisava contar a Ivy sobre meu novo trabalho e como isso alteraria nossa rotina. Na confeitaria onde trabalhava antes, meus horários eram mais flexíveis, mas agora, na Companhia Choi, precisaria de ordem e silêncio para estudar os materiais que o senhor Gustavo havia me recomendado , mas pelo menos chegaria mais cedo que quando estava trabalhando meio período no café.Assim que destranquei a porta e entrei na sala, fui recebida por uma cena tão inesperada que deixei cair minha bolsa no chão e precisei cobrir os olhos.— Ahhhh! Mas o que está acontecendo aqui?! — exclamei, em estado de choque.À minha frente, Ivy estava completamente nua, com o cabelo desgrenhado e as bochechas coradas, enquant
O café estava quieto e acolhedor, com poucas pessoas ao redor, mas a tensão no ar era palpável. Ryan e eu estávamos sentados em uma mesa próxima à janela, enquanto o calor da manhã ainda nos envolvia. O aroma do café fresco e do pão quentinho fazia o lugar se sentir como um abrigo seguro, mas eu não conseguia deixar de me sentir incomodada com o que tinha visto em casa.Ryan parecia mais relaxado do que nunca, mas eu, por outro lado, estava com a cabeça cheia de preocupações, principalmente sobre Ivy.— Ryan, sério... o que você vê naquela garota? — perguntei, tentando não soar mais nervosa do que realmente estava, gosto da Ivy , ela que me acolheu quando eu precisei de um lugar na cidade para morar , mais o comportamento dela , era totalmente inapropriado. — Você sabe como ela se comporta... E não estou falando só de hoje, você sabe o que quero dizer. A Ivy não tem o mínimo de decência. Ela se envolve com os cavalheiros sem o menor pudor. Não é assim que uma dama se comporta, e você
Ainda confusa com a situação toda ,Levantei-me quase que pedindo socorro , as bochechas coradas e suando frio . Ajeitando a saia desengonçada e com un olhar de desespero. -Então Sr. Choi , como eu ia falar ...Ele me interrompeu colocando o dedo levemente nos meus lábios. O que estava acontecendo naquele momento ? O meu coração acelerou freneticamente, a respiração começou a vacilar , por qual motivo ele estava tão próximo a mim ?Ele percebeu o meu desconcerto e deu um passo para trás .-Vamos Senhorita Young .-Mas ... o Sr. Wicks está me aguardando. Ele continuou caminhando enquanto eu ia atrás dele , sem conseguir alcançá-lo. Quando ele finalmente saiu do café, ele fez um gesto para eu entrar na carruagem luxuosa dele ..-Mas Sr. CHOI como falei ... Olhei de um lado para o outro procurando o Sr. Wicks , mais cadê ele , Ah não o Ryan não fez isso comigo ! Como ele me deixou aqui nesta situação. -Entre Srta. Young . -Ele falou num tom firme , o meu coração já estava tão a
Assim que descemos da carruagem, senti o frio do chão molhado sob meus pés. Havia acabado de chover, e o piso de pedra diante da entrada da Choi’s estava escorregadio. Eu dei um passo cuidadoso, mas, como sempre, a vida resolveu brincar comigo.Meu salto deslizou, e tudo aconteceu rápido demais. Antes que eu pudesse reagir, senti os braços do Sr. Choi me segurarem pela cintura, tentando me impedir de cair. O problema foi que, no processo, ele também perdeu o equilíbrio.— Ai! — exclamei, ao sentir meu corpo tombar sobre o dele, que agora estava estirado no chão com uma expressão entre o choque e a diversão.Tentei me levantar de imediato, completamente mortificada, mas escorreguei novamente, caindo mais uma vez sobre ele.— Você sempre arruma um jeito de cair sobre mim, não é, Srta. Young? — ele comentou com um sorriso travesso, referindo-se ao nosso primeiro encontro desajeitado na Lincoln Academy, quando eu cai da escada bem em cima dele.Meu rosto pegou fogo. Eu mal sabia onde enfi