A Sophie veio me buscar e, nossa, como ela estava linda.
— Você veio para causar uma boa impressão, não é? — comentei, analisando-a da cabeça aos pés. — Nem me fale. E você? Está deslumbrante como sempre. Sorri, olhando rapidamente para mim mesma. Eu usava um vestido preto de corte simples, mas elegante, com detalhes em renda que valorizavam a cintura. Havia combinado com um sapato de salto baixo, pois sabia que o dia seria longo. Hoje começaríamos uma nova etapa, e cada um de nós seria alocado em uma área específica dentro da Companhia Choi. O caminho até lá foi repleto de conversas animadas com Sophie. Mas, à medida que nos aproximávamos, meu coração começou a disparar — não apenas pela importância do momento, mas pela expectativa de reencontrar o senhor Hyun. Chegamos à entrada principal, e a grandiosidade da Companhia Choi já era evidente. As paredes de pedra cinza estavam impecáveis, e os vitrais coloridos davam ao edifício um ar majestoso. Uma senhora de postura impecável, vestindo um traje formal da época, estava à nossa espera na recepção. Logo, os outros três selecionados chegaram, e nos reunimos. A mulher, que se apresentou como Ligia, nos cumprimentou com um sorriso polido: — Bom dia a todos e sejam muito bem-vindos à Companhia Choi. Sou Ligia, secretária do senhor Hyun Choi. Estamos extremamente orgulhosos de recebê-los. Jovens tão promissores como vocês terão muito a contribuir aqui. Agora, vou acompanhá-los até o gabinete do senhor Hyun, onde ele lhes dará as boas-vindas. Em seguida, os líderes de cada setor virão buscá-los para apresentar seus novos postos de trabalho. A animação era visível entre nós. Sophie agarrou meu braço, radiante de felicidade, e senti-me igualmente animada, embora nervosa. Caminhamos por corredores amplos, adornados com tapeçarias e lustres de cristal que refletiam a luz suave das manhãs. Ao chegarmos ao gabinete do senhor Hyun, fui surpreendida pela imponência do ambiente. A sala era ampla, com uma grande janela de vidro que dava para um jardim perfeitamente aparado, com flores e árvores formando um cenário quase irreal. O interior refletia uma mistura de sofisticação e autoridade. Os móveis, de madeira escura e acabamentos refinados, davam ao ambiente um ar de solidez. Mas foi a figura do senhor Hyun que capturou completamente minha atenção. Ele estava de costas para nós, observando a paisagem do jardim através da janela. Sua postura era impecável, transmitindo calma e controle. O terno azul-escuro caía perfeitamente sobre seus ombros largos, e a gravata azul-clara era o único toque de suavidade em sua aparência austera. Por um instante, o tempo pareceu congelar. Meu coração acelerou de forma absurda enquanto o contemplava. Não sei se era sua presença ou a memória do beijo que compartilhamos, mas senti minhas mãos suarem levemente. Havia algo quase hipnotizante em sua postura: a forma como mantinha as mãos cruzadas atrás das costas, a linha de seu perfil enquanto inclinava levemente a cabeça para um lado, perdido em pensamentos. E então, ele se virou. Seus olhos, intensos e calculadores, encontraram os meus por um breve segundo, e uma expressão séria tomou conta de seu rosto. Ele parecia avaliar cada um de nós em silêncio antes de finalmente falar, sua voz firme preenchendo o ambiente: — Bem-vindos à Companhia Choi. Seu olhar pairou em mim por um instante mais longo, e meu coração pareceu parar. — Sejam todos muito bem-vindos. Estou genuinamente feliz com a presença de cada um de vocês. Saibam que a Companhia Choi está de braços abertos para receber o talento e a dedicação que cada um possui. A voz do senhor Hyun era firme e clara, preenchendo a sala com autoridade. Mas, enquanto ele falava, seus olhos encontraram os meus. Por um breve instante, algo em seu semblante mudou. Ele deu um sorriso largo, um gesto que parecia tão raro e pessoal que fez meu coração disparar. Sem perceber, retribuí o sorriso, sentindo o calor subir às minhas bochechas. Ele fez um gesto discreto com a mão, chamando a atenção de alguém atrás de nós. Logo, cinco pessoas elegantemente vestidas entraram na sala, todas com uma postura profissional e olhares atentos. — Estes são os líderes de cada setor onde vocês irão estagiar. A senhorita Ligia, minha secretária, anunciará os nomes de cada um, e vocês poderão seguir os respectivos líderes até seus departamentos. Sua voz era séria, quase protocolar, mas vez ou outra seu olhar recaía sobre mim, e seus lábios curvavam-se em um leve sorriso. Cada vez que isso acontecia, sentia um calor agradável no peito e uma leveza em meu estômago, como se borboletas ali dançassem. A Ligia começou a chamar os nomes, anunciando os setores de cada um. Um a um, os estagiários foram apresentados aos seus líderes e conduzidos para fora da sala. Quando chegou minha vez, restava apenas um jovem bem-apessoado, com um sorriso simpático e um ar de confiança. Ele parecia ansioso para me acompanhar, e, por um momento, imaginei como seria trabalhar sob sua supervisão. Contudo, antes que Ligia pudesse concluir: — Senhorita Young será acompanhada por mim — declarou o senhor Hyun de forma direta, interrompendo a secretária. O líder, que claramente esperava me conduzir, lançou um olhar confuso ao senhor Hyun antes de abaixar a cabeça em sinal de respeito. Ele parecia ligeiramente decepcionado ao deixar a sala, mas obedeceu sem questionar. Os outros estagiários também começaram a sair, acompanhados por seus respectivos líderes. Sophie me abraçou rapidamente antes de partir, sussurrando em meu ouvido: — Boa sorte, minha amiga! Que as energias positivas estejam com você! Fiquei ali, sozinha com o senhor Hyun, enquanto o silêncio pairava no ar, quase palpável. As janelas altas da sala de reuniões filtravam a luz cinzenta do final da tarde, iluminando delicadamente os detalhes do mobiliário de mogno. Ele me observava novamente, com aquele sorriso enigmático que parecia desarmar todas as minhas defesas. Meu coração, que já batia acelerado, agora parecia tamborilar como os cascos de cavalos em uma rua movimentada. Sem pressa, ele deu alguns passos na minha direção. Seus sapatos de couro reluziam contra o assoalho de madeira polida, e o som de seus passos parecia ecoar em um ritmo que correspondia ao meu coração. Quando finalmente parou à minha frente, ele tomou minha mão em suas luvas impecavelmente brancas. — Cuidarei de você — disse ele, sua voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma intensidade que fez minha respiração vacilar. Antes que eu pudesse responder, ele trouxe minha mão aos lábios e a beijou suavemente, o calor de sua boca contrastando com a frieza do tecido de suas luvas. O toque dele era como um raio de eletricidade, percorrendo meu corpo de maneira incontrolável. Quando sua mão se moveu delicadamente para tocar meu ombro, senti a firmeza de sua orientação enquanto ele me conduzia na direção do setor de correspondência, onde as novas campanhas publicitárias da empresa estavam sendo organizadas. Suas palavras chegaram baixinho, próximas ao meu ouvido, provocando um turbilhão de emoções que eu mal conseguia controlar. — Não fazia ideia de que estava na lista dos candidatos a estágio, Srta. Young — murmurou, sua voz suave como seda. Eu respirei fundo, tentando organizar os pensamentos e, principalmente, controlar a tremedeira na minha voz. — Foi uma surpresa para mim também, senhor Hyun. Estou muito grata pela oportunidade. Ele lançou-me um leve sorriso, desviando o olhar por um momento, antes de se virar novamente para mim. — Tampouco sabia que seria alocada no setor de marketing. — A senhorita Hanna Young — disse ele, pronunciando meu nome de maneira tão formal que parecia um presente — tem um currículo impressionante, com tudo que a Choi's necessita. Inclusive, seu talento para a área de marketing não passou despercebido. O calor subiu ao meu rosto, mas mantive a compostura, inclinando levemente a cabeça em agradecimento. — Sou imensamente grata, senhor Hyun. Dediquei-me aos meus estudos e essa oportunidade significa muito para mim. Ele me analisou por um instante, seu sorriso permanecendo, mas algo em seu olhar parecia mais profundo, quase como se estivesse decifrando cada um dos meus pensamentos. — Devo dizer, senhor Hyun... — comecei, hesitante. — Gostaria de abordar o que aconteceu entre nós... Antes que eu pudesse terminar a frase, ele ergueu a mão, seus dedos parando a centímetros dos meus lábios, em um gesto tão íntimo quanto ousado. — Shhh... Não diga nada, Srta. Young. Seu dedo roçou levemente meus lábios, e o simples contato pareceu incendiar minha pele, enviando ondas de calor por todo o meu corpo. O toque, embora breve, carregava um peso que quase me fez vacilar. Senti-me subitamente vulnerável, desejando um instante para me recompor longe de seu olhar penetrante. Eu precisava sair dali antes que meu coração decidisse abandonar de vez o ritmo natural e minha compostura cedesse por completo.Ele me apresentou formalmente aos meus colegas de trabalho, incluindo meu líder direto, o jovem e cortês senhor Gustavo. Com seu tom impecavelmente profissional, o senhor Hyun descreveu as responsabilidades que eu teria como estagiária e detalhou os processos com uma clareza que demonstrava domínio absoluto de tudo o que ocorria ali. Enquanto caminhávamos pela imponente sala de marketing, os sons de canetas rabiscando e folhas sendo folheadas ecoavam suavemente, complementando a atmosfera dinâmica do ambiente onde eu começaria a trabalhar.Quando concluímos o tour, ele pegou delicadamente minha mão enluvada, seus dedos exercendo uma pressão sutil, mas firme. Seu olhar, intenso e profundo, encontrou o meu, fazendo meu coração disparar com um misto de nervosismo e curiosidade. Era como se, naquele momento, apenas nós dois estivéssemos ali.— Agora é com você, Gustavo.A voz dele soou autoritária e precisa, como se não houvesse espaço para réplica. Sem sequer olhar para o senhor Gustavo,
Ao sair da empresa, notei que os corredores e o pátio estavam quase desertos. A maioria dos funcionários já havia partido, e o silêncio da noite começava a tomar conta do ambiente. O vento fresco da noite sussurrava através das árvores, balançando suavemente as folhas sob a luz amarelada dos postes de gás. Por um momento, hesitei ao passar pela entrada principal, dando uma última olhada em direção ao gabinete do senhor Hyun. Mas ele não estava mais lá.Respirei fundo, ajustando o tecido do meu vestido antes de seguir em direção à carruagem que me aguardava. A carruagem me levaria ao centro da cidade, onde eu buscaria minha montaria na oficina. O senhor Wicks, o responsável pela manutenção do meu cavalo, sempre fazia questão de manter tudo em perfeito estado. Confiante de que tudo estaria em ordem, minha preocupação diminuiu, e caminhei em direção à saída. Contudo, antes que eu pudesse seguir adiante, um grito ecoou pelo pátio quase vazio, fazendo-me sobressaltar.- Hanna !Virei-me ra
Cheguei em casa mais cedo do que o esperado, mesmo após uma breve passagem pela oficina. Ao atravessar a rua e enfim chegar em casa, sentia uma mistura de alívio e cansaço. O dia fora exaustivo, mas, ao menos, o primeiro passo em minha nova posição estava dado. Ainda assim, algo me incomodava: precisava contar a Ivy sobre meu novo trabalho e como isso alteraria nossa rotina. Na confeitaria onde trabalhava antes, meus horários eram mais flexíveis, mas agora, na Companhia Choi, precisaria de ordem e silêncio para estudar os materiais que o senhor Gustavo havia me recomendado , mas pelo menos chegaria mais cedo que quando estava trabalhando meio período no café.Assim que destranquei a porta e entrei na sala, fui recebida por uma cena tão inesperada que deixei cair minha bolsa no chão e precisei cobrir os olhos.— Ahhhh! Mas o que está acontecendo aqui?! — exclamei, em estado de choque.À minha frente, Ivy estava completamente nua, com o cabelo desgrenhado e as bochechas coradas, enquant
O café estava quieto e acolhedor, com poucas pessoas ao redor, mas a tensão no ar era palpável. Ryan e eu estávamos sentados em uma mesa próxima à janela, enquanto o calor da manhã ainda nos envolvia. O aroma do café fresco e do pão quentinho fazia o lugar se sentir como um abrigo seguro, mas eu não conseguia deixar de me sentir incomodada com o que tinha visto em casa.Ryan parecia mais relaxado do que nunca, mas eu, por outro lado, estava com a cabeça cheia de preocupações, principalmente sobre Ivy.— Ryan, sério... o que você vê naquela garota? — perguntei, tentando não soar mais nervosa do que realmente estava, gosto da Ivy , ela que me acolheu quando eu precisei de um lugar na cidade para morar , mais o comportamento dela , era totalmente inapropriado. — Você sabe como ela se comporta... E não estou falando só de hoje, você sabe o que quero dizer. A Ivy não tem o mínimo de decência. Ela se envolve com os cavalheiros sem o menor pudor. Não é assim que uma dama se comporta, e você
Ainda confusa com a situação toda ,Levantei-me quase que pedindo socorro , as bochechas coradas e suando frio . Ajeitando a saia desengonçada e com un olhar de desespero. -Então Sr. Choi , como eu ia falar ...Ele me interrompeu colocando o dedo levemente nos meus lábios. O que estava acontecendo naquele momento ? O meu coração acelerou freneticamente, a respiração começou a vacilar , por qual motivo ele estava tão próximo a mim ?Ele percebeu o meu desconcerto e deu um passo para trás .-Vamos Senhorita Young .-Mas ... o Sr. Wicks está me aguardando. Ele continuou caminhando enquanto eu ia atrás dele , sem conseguir alcançá-lo. Quando ele finalmente saiu do café, ele fez um gesto para eu entrar na carruagem luxuosa dele ..-Mas Sr. CHOI como falei ... Olhei de um lado para o outro procurando o Sr. Wicks , mais cadê ele , Ah não o Ryan não fez isso comigo ! Como ele me deixou aqui nesta situação. -Entre Srta. Young . -Ele falou num tom firme , o meu coração já estava tão a
Assim que descemos da carruagem, senti o frio do chão molhado sob meus pés. Havia acabado de chover, e o piso de pedra diante da entrada da Choi’s estava escorregadio. Eu dei um passo cuidadoso, mas, como sempre, a vida resolveu brincar comigo.Meu salto deslizou, e tudo aconteceu rápido demais. Antes que eu pudesse reagir, senti os braços do Sr. Choi me segurarem pela cintura, tentando me impedir de cair. O problema foi que, no processo, ele também perdeu o equilíbrio.— Ai! — exclamei, ao sentir meu corpo tombar sobre o dele, que agora estava estirado no chão com uma expressão entre o choque e a diversão.Tentei me levantar de imediato, completamente mortificada, mas escorreguei novamente, caindo mais uma vez sobre ele.— Você sempre arruma um jeito de cair sobre mim, não é, Srta. Young? — ele comentou com um sorriso travesso, referindo-se ao nosso primeiro encontro desajeitado na Lincoln Academy, quando eu cai da escada bem em cima dele.Meu rosto pegou fogo. Eu mal sabia onde enfi
O restante do dia foi mais tranquilo. Entre novos aprendizados e risadas gostosas, fui me adaptando ao ambiente e aos colegas de trabalho. Todos eram gentis e atenciosos, o que tornava aquele novo ciclo da minha vida bem mais leve.Ao final do expediente, despedi-me de todos e caminhei em direção à saída. Sophie veio rapidamente ao meu encontro e agarrou-se a mim daquele jeito tão característico dela. Andamos juntas pelos corredores de pedras escuras até o enorme portão da Chois. Lá fora, algumas carruagens já aguardavam seus respectivos donos. Olhei de um lado para o outro até avistar a minha, com o Sr. Wicks acenando. Acelerei o passo naquela direção, quando vi Ryan colocando a cabeça para fora e acenando com um sorriso impossível de ignorar. Corri para a carruagem e, assim que entrei, abracei-o.— Você não tem juízo, Ryan!Acenei para Sophie pela janela. Ela já estava entrando em sua carruagem.— Até logo, meu bem! — disse ela, mandando beijos e fazendo uma reverência teatral. Não
— Sr. Choi? O que…?Falei mais alto do que queria e levei a mão à boca para me impedir de soltar qualquer besteira. Mas como poderia me controlar? O que, exatamente, ele fazia no meu jardim?O Sr. Choi. Meu chefe. O homem que me beijou naquela festa aleatória, depois de um encontro inusitado naquela manhã – eu caindo sobre ele na Lincoln Academy e ele sendo absurdamente debochado. Depois, a carona inesperada até o café… Que loucura. Meu coração acelerou, e senti um arrepio percorrer minha pele.Ele levou o dedo aos lábios e fez um "shhh", sinalizando para que eu ficasse em silêncio, antes de apontar para que eu descesse até ele.Eu só podia estar sonhando. Isso não podia ser real. A brisa fria tocava meu rosto, balançando meus cabelos soltos, enquanto ele se aproximava lentamente, carregando uma escada.Ele só podia estar maluco.Sem pensar muito, joguei as pernas para fora da janela e comecei a descer. Cada degrau aumentava o frio no meu estômago. Será que eu realmente estava fazendo