A manhã avançava enquanto Ivy terminava os últimos retoques no penteado diante do espelho dourado de sua penteadeira. Seus cabelos loiros estavam presos em um penteado ousado para a época: um coque alto, adornado com pequenas pérolas entre os fios entrelaçados. Vestia um vestido azul-petróleo de tecido brilhante, com mangas bufantes e decote quadrado, exibindo mais pele do que era considerado apropriado para uma dama respeitável. O corpete justo realçava sua silhueta, e a saia volumosa arrastava-se levemente pelo chão.— Está olhando tanto porque acha que estou linda ou porque quer me dizer que pareço indecente? — Ivy perguntou, encarando Hanna pelo espelho com um sorriso travesso.Hanna, já vestida e pronta, cruzou os braços. Seu vestido era muito mais discreto: um elegante tom de vinho, com mangas longas e gola alta rendada, perfeitamente adequado para a ocasião. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque baixo, com algumas mechas soltas moldando seu rosto.— Acho que se eu d
O parque estava em seu auge. O burburinho das conversas, o som das crianças brincando e o cheiro doce de açúcar caramelizado tornavam o ambiente ainda mais animado. Ivy, como sempre, se destacava entre as três, tanto pela forma desinibida como andava quanto pelo vestido chamativo — de um tom azul vibrante, com detalhes em renda creme e um decote um pouco mais ousado do que o esperado para damas respeitáveis.Hanna e Sophie já estavam acostumadas com os olhares que Ivy atraía, mas ainda assim, não deixavam de se impressionar quando dois cavalheiros distintos acenaram para ela de longe.— Ah, mas vejam só quem está aqui... — Ivy sorriu, jogando os cachos dourados para trás.— Você os conhece? — Hanna perguntou, desconfiada.— Digamos que já compartilhamos algumas conversas divertidas em um baile ou dois — Ivy respondeu, já caminhando em direção a eles.— Claro que sim — Sophie murmurou, cruzando os braços.Hanna suspirou.— Não quero ficar aqui assistindo isso. Vamos até a sorveteira?S
Assim que Ivy nos encontrou, ela apareceu radiante, de braços dados com um cavalheiro alto e muito bem-apessoado, enquanto outro, um pouco mais baixo, caminhava logo atrás, claramente encantado com sua companhia.— Ah, aqui estão vocês! — disse, sorrindo. — Espero que tenham aproveitado sem mim, mas duvido que tenham se divertido tanto quanto eu!Troquei um olhar com Sophie.— Tenho certeza de que a senhorita encontrou formas bem interessantes de se entreter — respondi, arqueando uma sobrancelha.— Oh, Hanna, não seja tão séria! — Ivy revirou os olhos, soltando-se dos cavalheiros com um sorriso. — Mas agora, podemos ir? Estou exausta de tanto ser cortejada.— Exausta, é? — Sophie riu. — Que sofrimento o seu.Ivy piscou para nós, divertida, antes de se despedir de seus admiradores com uma leve inclinação de cabeça. Logo depois, voltamos para a carruagem, onde o cocheiro nos aguardava pacientemente.O caminho de volta foi tranquilo, mas Sophie, como sempre, não perdeu a oportunidade de
Estava sentada no que só poderia ser descrito como uma cadeira de tortura medieval — aquelas cadeiras rígidas de madeira que parecem feitas especialmente para esmagar a alma de quem ousa encostar. O preceptor falava, ou melhor, declamava, uma ladainha sobre balanços e lucros, com a empolgação de quem narra o crescimento de uma planta.Eu tentava prestar atenção, juro. Mas, como sempre, minha mente vagava. O relógio dourado na parede, relíquia da escola, parecia mover seus ponteiros em câmera lenta, quase de propósito, como se conspirasse contra minha liberdade. Ao mesmo tempo, minha amiga Sophie, do lado de fora da janela, gesticulava freneticamente. Ela parecia uma mistura de pássaro desengonçado e bailarina em apuros, e eu me perguntava se aquilo era um sinal. Talvez o universo estivesse tentando me dizer algo.Finalmente, o relógio badalou. O som ecoou pelos corredores da escola como um hino à liberdade. Levantei-me tão rápido que derrubei minha pena (sim, ainda usamos penas aqui,
Capítulo 2 ✦✦✦ Depois da confusão na escola, Sophie e eu nos dirigimos para minha carruagem. Não era a mais moderna da época, mas servia bem para minhas necessidades. Meu pai a comprara de segunda mão, mas os estofados de veludo e o brasão discreto da nossa família na lateral ainda mantinham um ar de dignidade. — Finalmente, algo que não vai me decepcionar hoje, — murmurei, ajudando Sophie a subir. O cocheiro, um senhor idoso chamado Sr. Wicks, que trabalhava conosco há anos, ajeitou o chapéu e pegou as rédeas. — Para onde, senhoritas? — ele perguntou. — Para a confeitaria da Sra. Marley, por favor, — respondi, enquanto me acomodava no assento e fechava a porta da carruagem. A viagem começou tranquila, com o som das rodas nos paralelepípedos ecoando pelas ruas. Porém, a poucos quarteirões de distância, senti um solavanco estranho. — O que foi isso? — perguntei, inclinando-me para a janela. — Parece que uma das rodas não está em boa forma, senhorita, — disse o Sr. Wicks, para
— Ah, Hanna, pensando aqui , a sua amiga Ivy é uma criatura impossível! Ela sempre se interessa por todos os cavalheiros que cruzam o nosso caminho. Uma verdadeira víbora! — Sophie disse, com um tom de brincadeira, mas com um olhar preocupado.A verdade era que Ivy tinha um comportamento inusitado para a época. Conheci-a através do meu irmão, Ryan. Ela havia estado com ele, mas logo deixou-o de lado, envolvida com outros cavalheiros, sem se prender a ninguém.Quando Ivy se ofereceu para dividir a residência comigo, eu aceitei com certo receio, mas sabia que não teria outra escolha, pois a ajuda era necessária para lidar com as despesas. Viver em uma cidade pequena como Porto do Vale, onde nasci, não oferecia muitas oportunidades para uma moça como eu, que desejava se formar em uma disciplina prática, voltada para a administração de recursos, incluindo o estudo de economia doméstica e gestão de contas de família. A única instituição de ensino mais próxima era a Academia de Lincoln, ond
Ivy, como sempre, estava determinada a transformar a noite em um evento cheio de emoção e, como ela dizia com um sorriso travesso, "aventuras que desafiariam as convenções". Eu, por outro lado, só queria desfrutar de uma noite tranquila de chá e boas risadas, longe de complicações.Chegamos à sala de chá, um lugar frequentado por jovens damas e cavalheiros da cidade, onde conversas educadas e música de salão preenchiam o ambiente. As cadeiras estofadas e as porcelanas finas contrastavam com a agitação que eu sabia que Ivy carregava em seu coração.— Três xícaras de chá de jasmim, por favor. — Ivy pediu, dirigindo um sorriso encantador ao garçom, um jovem de aparência respeitável.— Meninas, lembrem-se, esta deve ser uma noite tranquila. Nada de aventuras hoje. — Sophie disse com um olhar sério, mas sempre gentil.— Oh, não se preocupe, Sophie. Estamos aqui para relaxar e desfrutar de um bom chá. — Respondi, tentando alinhar minha disposição com a dela.No entanto, Ivy parecia inquieta
Aquela voz grave e profunda me fez estremecer da cabeça aos pés. Olhei lentamente para o audaz cavalheiro à minha frente, que parecia estar convencido demais, acusando-me de estar procurando por ele? Ora, na verdade, estava, mas ele não deveria ter a audácia de perceber isso.Quando meus olhos se encontraram com os dele, quase duvidei de meus próprios sentidos.— Senhor Hyun Choi?— Olá outra vez, senhorita desastrada.Que impertinente! Ele estava a me seguir? Seria o destino que o colocava em meu caminho? Não sabia, mas uma vontade repentina de me levantar e fugir dele tomou conta de mim. Contudo, a quantidade de licor em meu sistema só me fez soltar uma gargalhada diante do "Oláoutra vez , senhorita desastrada". Dei-lhe um leve empurrão no ombro e, pela primeira vez, vi seu sorriso completo, tão encantador, tão perfeito... Ah, licor.Ele ficou ali, observando-me com um olhar travesso, mordendo o lábio. De repente, tive a irresistível vontade de morder aquele lábio. Será que o licor