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Capítulo 3Bobs, Máscaras e Cavalheiros

— Ah, Hanna, pensando aqui , a sua amiga Ivy é uma criatura impossível! Ela sempre se interessa por todos os cavalheiros que cruzam o nosso caminho. Uma verdadeira víbora! — Sophie disse, com um tom de brincadeira, mas com um olhar preocupado.

A verdade era que Ivy tinha um comportamento inusitado para a época. Conheci-a através do meu irmão, Ryan. Ela havia estado com ele, mas logo deixou-o de lado, envolvida com outros cavalheiros, sem se prender a ninguém.

Quando Ivy se ofereceu para dividir a residência comigo, eu aceitei com certo receio, mas sabia que não teria outra escolha, pois a ajuda era necessária para lidar com as despesas. Viver em uma cidade pequena como Porto do Vale, onde nasci, não oferecia muitas oportunidades para uma moça como eu, que desejava se formar em uma disciplina prática, voltada para a administração de recursos, incluindo o estudo de economia doméstica e gestão de contas de família. A única instituição de ensino mais próxima era a Academia de Lincoln, onde tanto damas quanto cavalheiros se formavam para seguir carreiras de tutoria ou educação. O curso que eu fazia envolvia, entre outras matérias, o aprendizado de como administrar as finanças de uma casa e equilibrar orçamentos, uma habilidade essencial para qualquer pessoa que desejasse uma vida mais independente e bem organizada.

Assim, a oferta de Ivy para dividirmos uma casa de campo na cidade de Lincoln foi um alívio. Com as escolas na cidade já bastante concorridas, a possibilidade de encontrar um lugar para viver ali se mostrava cada vez mais difícil. As famílias das senhoras e dos cavalheiros que frequentavam a academia também passavam por desafios semelhantes. A ideia de dividir uma residência parecia ser a solução prática para que nós duas pudéssemos continuar nossos estudos sem o fardo de depender de nossos pais ou tutores para as despesas.

A verdade era que Sophie não gostava nada de Ivy, e eu sabia disso. Elas tinham uma história complicada, e, mesmo sem querer, isso refletia nas nossas saídas. Ivy sempre foi muito impulsiva, e seus flertes com os rapazes não tinham limites, o que a fazia ser vista por muitas pessoas como fútil e volúvel. Para Sophie, que valorizava a amizade e a lealdade, esse comportamento a incomodava profundamente.

Eu mesma, embora não tenha gostado das atitudes de Ivy desde o início, fui mais cautelosa. Nunca consegui confiar nela completamente, sabia que a presença dela no meu círculo de amigos nunca seria fácil. Ela sempre agia de forma irreverente, como se não houvesse regras, o que fazia com que eu me sentisse desconfortável, especialmente quando ela se aproximava dos mesmos rapazes que eu começava a me interessar. Como se isso não fosse o suficiente, era óbvio que Ivy tinha um efeito peculiar sobre Sophie: sua natureza despreocupada e um tanto egoísta a fazia se distanciar ainda mais de Ivy, o que tornava nossas interações ainda mais tensas.

Apesar de toda a animosidade que Sophie nutria em relação a Ivy, algo me dizia que, mesmo contra sua vontade, ela aceitaria ir ao chá com ela e comigo. Talvez fosse por conta da nossa amizade de longa data ou por não querer me deixar enfrentar aquela situação sozinha. Sophie sempre demonstrou um cuidado sincero por mim, e, apesar de sua antipatia por Ivy, sabia que ela jamais me deixaria em apuros, especialmente quando se tratava de algo que, no fundo, eu mesma não sabia bem o que esperar.

Embora Sophie tivesse aceitado ir ao chá, eu sabia que a tarde com Ivy não seria tão simples quanto um agradável encontro social. As duas tinham suas diferenças, e a tensão entre elas, embora disfarçada de brincadeiras, era palpável. Mas, por agora, o que importava era que tínhamos, ao menos, a promessa de uma tarde de risadas e histórias divertidas. Não importava que o chá se tornasse mais uma batalha de olhares e risos disfarçados. Com Sophie ao meu lado, eu sabia que a diversão seria garantida, mesmo com as inseguranças que, por um momento, se escondiam atrás de um sorriso.

Aos poucos, fui percebendo o tipo de pessoa que Ivy realmente era. Sempre em busca de diversão sem compromisso, ela sabia como conquistar a atenção dos homens. Ivy era linda, alta, com cabelos longos e dourados, olhos verdes que pareciam penetrar a alma, e uma atitude descontraída que fazia os rapazes suspirarem. No entanto, suas atitudes começaram a me incomodar, especialmente quando ela se aproximava dos cavalheiros que eu começava a conhecer. Eu sabia que ela não tinha intenções sérias com eles, mas, mesmo assim, havia algo na forma como ela se aproximava que me fazia revirar os olhos.

— Sophie, vamos aproveitar! Vamos nos divertir sem pensar em nenhum cavalheiro! Só por hoje, sem preocupação com o futuro. Vai ser ótimo, confie no meu mapa astral! — Eu sorri, jogando minha fé no poder dos astros, como se isso fosse realmente mudar a nossa noite.

— Está bem, está bem. Só porque você me pediu, e porque você sempre tem esses mantras místicos para convencer as pessoas! Não consigo dizer não para você. — Sophie fez uma careta engraçada, como se estivesse sucumbindo ao poder dos astros e das minhas teorias do além.

— Isso mesmo, confia nas estrelas! Elas nunca falham! — Brinquei, com um sorriso travesso, sabendo que ela não conseguiria resistir. Se eu dissesse que a Lua estava favorável para a diversão, ela provavelmente me seguiria até o fim do mundo.

A verdade é que, com toda a minha superstição e crenças místicas, eu realmente acreditava que a noite poderia ser melhor com um pouco de boa energia e pensamento positivo. E se isso significava convencer Sophie a se juntar à diversão, então eu estava disposta a usar todos os truques astrológicos ao meu alcance.

Hanna e Sophie chegaram ao escurecer, entrando na casa silenciosa. Subiram as escadas e encontraram Ivy no quarto, ainda com bobs no cabelo e máscara de argila no rosto, ajustando nervosamente os babados de seu vestido. Hanna não conseguiu segurar uma risada ao vê-la naquela situação, enquanto Sophie cruzou os braços, claramente tentando não comentar algo provocador.

Hanna: (rindo) "Ivy, essa é a sua versão de ‘preparada para o chá’?"

Ivy: (bufando, sem se virar) "Algumas de nós têm padrões. Não que todos entendam isso."

Sophie: (arqueando a sobrancelha) "Ah, sim, padrões... os cavalheiros certamente estão ansiosos para ver você assim."

Hanna: (tentando conter o riso) "Por favor, parem. Ivy, você está adorável... de um jeito único."

Ivy lançou um olhar severo para Hanna pelo espelho, enquanto Sophie apenas deu um meio sorriso, se divertindo com a situação.

Após o banho, subimos para nossos quartos para nos arrumarmos. A preparação para uma noite social era sempre um ritual divertido e cheio de pequenos caprichos. Enquanto eu me ajeitava em frente ao espelho de moldura dourada, Sophie já estava experimentando seus acessórios, como luvas de cetim e uma tiara de pérolas que realçava seus cachos negros bem modelados.

— Hanna, espero que você tenha tirado aquele pó de arroz decente da gaveta. O último que você comprou parecia mais um talco de bebê. — Sophie brincou, enquanto ajeitava os grampos no coque elaborado que moldava perfeitamente seu rosto.

— Oh, que exigente! Vou te mostrar como ele dá um brilho natural. — Respondi com uma risada, tentando conter a ansiedade enquanto me concentrava em ajustar a cintura do meu vestido azul de seda.

Ivy entrou no quarto, impecável como sempre, vestindo um traje de cetim vermelho com mangas bufantes e um corpete decorado com rendas e pequenas flores bordadas. Seus cabelos dourados estavam cuidadosamente trançados, com algumas mechas soltas adornadas por um pente de prata.

— Você está deslumbrante, Ivy. — Admiti, porque, mesmo com nossa relação conturbada, eu não podia negar sua beleza.

— Você não acha que é exagero para um chá social? — Sophie questionou, ajustando sua fita de veludo ao redor do pescoço.

— Querida, não há exagero quando o objetivo é ser notada. — Ivy respondeu com um sorriso confiante, lançando um olhar rápido para Sophie.

Já vestida, optei por um vestido lilás com mangas de renda delicada, que deixava meus ombros cobertos, mas destacava minha postura. Amarrei meu cabelo em um coque baixo, com pequenas flores de tecido presas estrategicamente. Era simples, mas elegante, o suficiente para uma jovem como eu que preferia não chamar muita atenção.

Depois de prontas, nos olhamos no espelho de corpo inteiro no quarto.

— Você está divina, Hanna. — Sophie comentou, enquanto ajustava as dobras da saia de seu vestido em um tom de esmeralda que realçava seus olhos escuros.

— E você parece uma princesa! — Respondi, admirando-a com sinceridade.

Ivy sorriu ao fundo, observando-nos como se fosse a matriarca de um grupo que ela considerava indispensável.

— Estamos prontas? — Ivy perguntou, pegando sua pequena bolsa de mão de couro e ajustando suas luvas brancas.

— Sim. — Respondi, enquanto Sophie e eu nos entreolhávamos, já prevendo que a noite seria memorável, de uma forma ou de outra.

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