Ivy, como sempre, estava determinada a transformar a noite em um evento cheio de emoção e, como ela dizia com um sorriso travesso, "aventuras que desafiariam as convenções". Eu, por outro lado, só queria desfrutar de uma noite tranquila de chá e boas risadas, longe de complicações.
Chegamos à sala de chá, um lugar frequentado por jovens damas e cavalheiros da cidade, onde conversas educadas e música de salão preenchiam o ambiente. As cadeiras estofadas e as porcelanas finas contrastavam com a agitação que eu sabia que Ivy carregava em seu coração. — Três xícaras de chá de jasmim, por favor. — Ivy pediu, dirigindo um sorriso encantador ao garçom, um jovem de aparência respeitável. — Meninas, lembrem-se, esta deve ser uma noite tranquila. Nada de aventuras hoje. — Sophie disse com um olhar sério, mas sempre gentil. — Oh, não se preocupe, Sophie. Estamos aqui para relaxar e desfrutar de um bom chá. — Respondi, tentando alinhar minha disposição com a dela. No entanto, Ivy parecia inquieta, e quando a segunda xícara de chá foi servida, ela se inclinou para frente, os olhos brilhando de excitação. — Meninas, vocês sabiam que há um lugar onde as pessoas vão para... beber coisas muito mais fortes do que chá? — Ela sussurrou, como se até mesmo a menção disso pudesse atrair olhares de reprovação. — Ivy, nem pense nisso! — Sophie exclamou, chocada. — Isso é impróprio para damas. Totalmente inadequado. — Concordei, sentindo minhas bochechas corarem com a ideia. — Mas quem saberá? — Ivy insistiu. — Uma vez na vida! Imagine o que dirão de nós no futuro... aventureiras, ousadas, pioneiras! — Dirão que somos desonradas e sem moral. — Sophie rebateu, mas seu tom já começava a ceder. Após muito debate e, claro, a irresistível persuasão de Ivy, acabamos concordando. Antes que percebêssemos, estávamos diante de um local de reputação duvidosa. A entrada era discreta, mas lá dentro, o cheiro de bebidas fortes e o som abafado de conversas animadas tornavam evidente que não estávamos mais no mundo educado das salas de chá. Hesitantes, entramos. Sophie e eu nos encolhemos à medida que os olhares curiosos dos homens presentes recaíam sobre nós. Ivy, no entanto, parecia em casa. — Duas taças de vinho... ou talvez de porto? — Ivy pediu, como se fosse algo rotineiro, enquanto lançava um sorriso desafiador para o atendente. — Ivy, pare com isso! — Sussurrei, puxando-a pelo braço. — Se alguém nos reconhecer, estaremos arruinadas! — Relaxem! — Ela respondeu com um aceno de mão, já aceitando a primeira taça e entregando outra a mim. Sophie, com relutância, segurou a sua, mas parecia que estava prestes a desmaiar. — Apenas um gole, meninas. Não é o fim do mundo. — Ivy insistiu, levantando sua taça como se estivesse brindando ao próprio escândalo. Depois de alguns goles tímidos, Ivy nos arrastou para um canto onde a conversa fluía mais animadamente. Eu me sentia como uma criança fora de lugar, mas algo na energia do ambiente começou a me distrair. Foi então que o senti: um par de olhos observando-me à distância. Tentei ignorar, mas a sensação persistia. Na extremidade oposta da sala, um homem estava inclinado contra a parede, segurando um cálice. Seus olhos eram penetrantes, e sua postura, descontraída, mas cheia de intenção. — Sophie, olhe para ele... — Murmurei, tentando parecer desinteressada. — Quem? — Sophie seguiu meu olhar, mas logo franziu o cenho, confusa. — Hanna, de quem está falando? Não vejo ninguém. Engoli em seco, hesitando. Eu sabia que havia alguém. O peso daquele olhar ainda queimava em minha pele. Sophie olhou em volta mais uma vez, mas parecia não ter visto o mesmo que eu. — Deve ser sua imaginação... ou o nervosismo por estarmos aqui. — Ela sorriu, tentando me tranquilizar. Mas eu sabia que não era isso. Meu coração batia forte demais para ser apenas imaginação. Reuni coragem, disfarçando enquanto buscava novamente o homem que tinha me encarado. Olhei para a extremidade da sala onde ele estivera, mas o lugar agora estava vazio. O cálice que ele segurava também não estava mais ali. “Estou vendo coisas?”, pensei, sentindo uma mistura de alívio e frustração. Foi então que ouvi. — Procurando alguém, senhorita? A voz era baixa e rouca, quase como um sussurro, mas com uma confiança tão desarmante que me arrepiou até a ponta dos dedos. Virei-me rapidamente, meu coração quase saindo pela boca. E ali estava ele. — Senhor Hyun Choi?! — As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las. Era ele, o mesmo homem para quem eu quase caí em cima na escada da Lincoln Academy. Agora, de perto, ele parecia ainda mais impressionante. Seu rosto era uma obra-prima, com traços que beiravam a perfeição. Ele tinha aquele olhar profundo e calculista, como se enxergasse algo além do que eu mesma podia ver. — Surpresa em me ver? — Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso irônico surgindo em seus lábios. — De forma alguma. — Respondi, esforçando-me para soar confiante, mas minha voz saiu hesitante. Hyun Choi parecia absorver cada detalhe da minha reação, e o brilho divertido em seus olhos denunciava que ele se lembrava perfeitamente de nosso encontro anterior. — Nos encontramos novamente. — Ele disse, com aquele tom de casualidade que me irritava mais do que deveria. Eu senti o calor tomar conta do meu rosto, mas me esforcei para parecer indiferente. — Parece que sim. Ele cruzou os braços, como se me analisasse por completo. — Curioso... Achei que não era o tipo de lugar que uma dama como você frequentaria. Hesitei por um momento, sem saber se ele estava sendo sarcástico ou apenas fazendo uma observação. — E o senhor também não parece exatamente pertencente a um lugar como este. — Retruquei, tentando parecer confiante. Ele riu, um som breve e baixo, mas que soou mais como um elogio do que uma provocação. — De fato. Mas, às vezes, os caminhos nos levam a encontros inesperados, não acha? Eu não sabia se ele estava falando daquele momento ou do nosso encontro desastroso anterior, mas antes que pudesse responder, ele continuou: O sorriso dele se ampliou, como se apreciasse minha tentativa de manter a compostura. — Entendo. — Ele inclinou levemente a cabeça. — Mas, da próxima vez, espero que evite escadas. Seria uma pena se mais alguém precisasse “salvá-la”. Eu queria dizer algo espirituoso, mas as palavras fugiram antes que eu pudesse formá-las. Ele era irritantemente encantador, e isso me deixava ainda mais frustrada. — Agora, se me der licença. — Ele deu um pequeno aceno, aquele sorriso ainda brincando em seus lábios, antes de desaparecer na multidão como uma sombra. — Quem era? — Sophie sussurrou ao meu lado, mas, ao erguer o olhar, ficou paralisada. Seus olhos se arregalaram, e ela segurou meu braço com força. — É o Sr. Hyun Choi... — murmurou, quase inaudível. Sua voz carregava um misto de surpresa e medo. Virei-me para ela, confusa com sua reação. — E daí? — E daí? — Sophie me olhou como se eu tivesse perdido o juízo. — Ele já escolheu quem vai trabalhar na Choi’s, Hanna! O resultado deve sair a qualquer momento, e... — Ela engoliu em seco. — Será que isso vai influenciar? Eu não sabia o que dizer. Parte de mim queria garantir que aquilo não mudaria nada, mas outra parte, aquela que ainda sentia o olhar intenso dele, sabia que nossa interação não seria esquecida tão facilmente. Sophie respirou fundo, tentando manter a calma. — Só... cuidado, Hanna. Ele não é alguém com quem se pode brincar. Balancei a cabeça, mas não disse nada. No fundo, uma sensação inquietante me dizia que esse encontro ainda teria desdobramentos inesperados. Após aquela tensão toda acabar , me esqueci dos modos de uma dama e comecei a tomar um licor adocicado que a Ivy nos trouxe , aquilo estava estranhamente bom , bebemos um copo , dois , e no terceiro estava me achando esquisita demais , estava leve como uma pluma e tudo era engraçado naquele lugar . Ate que comecei a ouvir aquela voz novamente miito próximo a mim , não pode ser ...Aquela voz grave e profunda me fez estremecer da cabeça aos pés. Olhei lentamente para o audaz cavalheiro à minha frente, que parecia estar convencido demais, acusando-me de estar procurando por ele? Ora, na verdade, estava, mas ele não deveria ter a audácia de perceber isso.Quando meus olhos se encontraram com os dele, quase duvidei de meus próprios sentidos.— Senhor Hyun Choi?— Olá outra vez, senhorita desastrada.Que impertinente! Ele estava a me seguir? Seria o destino que o colocava em meu caminho? Não sabia, mas uma vontade repentina de me levantar e fugir dele tomou conta de mim. Contudo, a quantidade de licor em meu sistema só me fez soltar uma gargalhada diante do "Oláoutra vez , senhorita desastrada". Dei-lhe um leve empurrão no ombro e, pela primeira vez, vi seu sorriso completo, tão encantador, tão perfeito... Ah, licor.Ele ficou ali, observando-me com um olhar travesso, mordendo o lábio. De repente, tive a irresistível vontade de morder aquele lábio. Será que o licor
— Ora, Ivy, o que está a fazer? — disse eu, encarando-a enquanto ela sorria com aquele ar travesso.— Sua atrevida, já está na hora de regressarmos a casa!Ela tomou minha mão e começou a puxar-me sem cerimônia. Olhei para trás e vi o senhor Hyun permanecendo imóvel, fitando-me com uma expressão impossível de decifrar.Quem Ivy pensa que é para interromper um momento tão mágico, tão intenso, tão maravilhoso? Agora, sinto um aperto no peito, quase como se fosse chorar. Céus, não devo estar em meu juízo perfeito!— Amiga, diga-me que estou a delirar! Você beijou o senhor Hyun! — exclamou Sophie, visivelmente escandalizada com a cena que acabara de presenciar.Eu apenas esbocei um sorriso débil, ainda sentindo os efeitos do vinho que havíamos tomado. Contudo, no fundo, eu queria chorar. Fiz um pequeno bico, olhando para elas com ar de desalento.— Perdoe-me, minha querida. — disse Sophie, ajeitando a luva de renda como quem tenta disfarçar a situação. — Desejava que nos divertíssemos mai
Salão de Reuniões do Lorde HarringtonEntramos eu e Sophie, claramente ansiosa, retorcendo o lenço entre os dedos, acompanhadas de outros três jovens de distintas salas , exceto o Gregory que já estava lá. O ambiente era austero, decorado com cortinas de veludo verde e um imponente relógio de pêndulo que marcava cada segundo de nossa expectativa.— Senhores, por favor, tomem seus lugares. — anunciou o mordomo com voz firme e postura impecável, indicando as cadeiras dispostas ao redor da longa mesa de mogno.Ele abriu um pergaminho e começou a leitura dos nomes:— Heitor Lee.— Sophie Will.— Claire Leblanc.— Gregory Rodrigues.— Hanna Young.Meu coração acelerou quando ouvi meu nome, e Sophie apertou minha mão por baixo da mesa.O Lorde Harrington, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos perfeitamente alinhados, se levantou com uma postura imponente. Sua voz ecoou pelo salão:— Meus parabéns aos presentes. Vocês foram cuidadosamente selecionados pelo prestigiado senhor Hyun Cho
A Sophie veio me buscar e, nossa, como ela estava linda.— Você veio para causar uma boa impressão, não é? — comentei, analisando-a da cabeça aos pés.— Nem me fale. E você? Está deslumbrante como sempre.Sorri, olhando rapidamente para mim mesma. Eu usava um vestido preto de corte simples, mas elegante, com detalhes em renda que valorizavam a cintura. Havia combinado com um sapato de salto baixo, pois sabia que o dia seria longo. Hoje começaríamos uma nova etapa, e cada um de nós seria alocado em uma área específica dentro da Companhia Choi.O caminho até lá foi repleto de conversas animadas com Sophie. Mas, à medida que nos aproximávamos, meu coração começou a disparar — não apenas pela importância do momento, mas pela expectativa de reencontrar o senhor Hyun.Chegamos à entrada principal, e a grandiosidade da Companhia Choi já era evidente. As paredes de pedra cinza estavam impecáveis, e os vitrais coloridos davam ao edifício um ar majestoso. Uma senhora de postura impecável, vesti
Ele me apresentou formalmente aos meus colegas de trabalho, incluindo meu líder direto, o jovem e cortês senhor Gustavo. Com seu tom impecavelmente profissional, o senhor Hyun descreveu as responsabilidades que eu teria como estagiária e detalhou os processos com uma clareza que demonstrava domínio absoluto de tudo o que ocorria ali. Enquanto caminhávamos pela imponente sala de marketing, os sons de canetas rabiscando e folhas sendo folheadas ecoavam suavemente, complementando a atmosfera dinâmica do ambiente onde eu começaria a trabalhar.Quando concluímos o tour, ele pegou delicadamente minha mão enluvada, seus dedos exercendo uma pressão sutil, mas firme. Seu olhar, intenso e profundo, encontrou o meu, fazendo meu coração disparar com um misto de nervosismo e curiosidade. Era como se, naquele momento, apenas nós dois estivéssemos ali.— Agora é com você, Gustavo.A voz dele soou autoritária e precisa, como se não houvesse espaço para réplica. Sem sequer olhar para o senhor Gustavo,
Ao sair da empresa, notei que os corredores e o pátio estavam quase desertos. A maioria dos funcionários já havia partido, e o silêncio da noite começava a tomar conta do ambiente. O vento fresco da noite sussurrava através das árvores, balançando suavemente as folhas sob a luz amarelada dos postes de gás. Por um momento, hesitei ao passar pela entrada principal, dando uma última olhada em direção ao gabinete do senhor Hyun. Mas ele não estava mais lá.Respirei fundo, ajustando o tecido do meu vestido antes de seguir em direção à carruagem que me aguardava. A carruagem me levaria ao centro da cidade, onde eu buscaria minha montaria na oficina. O senhor Wicks, o responsável pela manutenção do meu cavalo, sempre fazia questão de manter tudo em perfeito estado. Confiante de que tudo estaria em ordem, minha preocupação diminuiu, e caminhei em direção à saída. Contudo, antes que eu pudesse seguir adiante, um grito ecoou pelo pátio quase vazio, fazendo-me sobressaltar.- Hanna !Virei-me ra
Cheguei em casa mais cedo do que o esperado, mesmo após uma breve passagem pela oficina. Ao atravessar a rua e enfim chegar em casa, sentia uma mistura de alívio e cansaço. O dia fora exaustivo, mas, ao menos, o primeiro passo em minha nova posição estava dado. Ainda assim, algo me incomodava: precisava contar a Ivy sobre meu novo trabalho e como isso alteraria nossa rotina. Na confeitaria onde trabalhava antes, meus horários eram mais flexíveis, mas agora, na Companhia Choi, precisaria de ordem e silêncio para estudar os materiais que o senhor Gustavo havia me recomendado , mas pelo menos chegaria mais cedo que quando estava trabalhando meio período no café.Assim que destranquei a porta e entrei na sala, fui recebida por uma cena tão inesperada que deixei cair minha bolsa no chão e precisei cobrir os olhos.— Ahhhh! Mas o que está acontecendo aqui?! — exclamei, em estado de choque.À minha frente, Ivy estava completamente nua, com o cabelo desgrenhado e as bochechas coradas, enquant
O café estava quieto e acolhedor, com poucas pessoas ao redor, mas a tensão no ar era palpável. Ryan e eu estávamos sentados em uma mesa próxima à janela, enquanto o calor da manhã ainda nos envolvia. O aroma do café fresco e do pão quentinho fazia o lugar se sentir como um abrigo seguro, mas eu não conseguia deixar de me sentir incomodada com o que tinha visto em casa.Ryan parecia mais relaxado do que nunca, mas eu, por outro lado, estava com a cabeça cheia de preocupações, principalmente sobre Ivy.— Ryan, sério... o que você vê naquela garota? — perguntei, tentando não soar mais nervosa do que realmente estava, gosto da Ivy , ela que me acolheu quando eu precisei de um lugar na cidade para morar , mais o comportamento dela , era totalmente inapropriado. — Você sabe como ela se comporta... E não estou falando só de hoje, você sabe o que quero dizer. A Ivy não tem o mínimo de decência. Ela se envolve com os cavalheiros sem o menor pudor. Não é assim que uma dama se comporta, e você